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Terceira Parte – Sheol
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"Bom dia, luv..." ele disse carinhosamente, inclinando-se para beijá-la. Aquela era a primeira vez em que ele passava a noite com ela numa cama de verdade. A noite inteira, na verdade e ele não podia acreditar na sorte que tinha por ter uma garota como aquela. Só para ele, pelo menos naquela noite. Se fosse possível, seu coração estaria pulando em seu peito de pura felicidade.
Buffy, por outro lado, estava em choque. Ela se lembrara que, naquela noite, chorara até dormir. Lembrava-se também que, quando finalmente conseguira dominá-lo novamente, o expulsara de sua casa, de sua vida, para sempre. Como podia ser, que ele estivesse ali com ela novamente? Ela não sabia
Por fim, a jovem Caça-Vampiros encontrou a própria voz: "Seu filho da mãe! O que você ainda está fazendo aqui?" ela sibilou furiosa e jogou-o para fora da cama.
Spike olhou assustado para ela. "O que? O que aconteceu? Eu... Eu machuquei você? O que eu fiz de errado? Eu pensei que eu podia ficar. Você me disse que eu podia..." ele gaguejou, desesperadamente tentando descobrir o que havia de errado, mas ela estava muito fora de si para sequer ouvi-lo.
"Você pensou que podia ficar? Você tentou me violentar! De novo! Como pôde? Eu estava tentando ajudar você e você me violentou," ela alteou a voz.
"Não, Buffy, não pode ser. Algo deve estar errado. Eu não iria... Eu não faria. Por favor, me diga... me diga que eu não te feri de novo," ele implorou, tão chocado que não encontrou forças para se reerguer.
"Seu monstro! Pegue suas roupas e deixe a minha casa, nunca mais volte aqui. Eu já lhe disse isso! Você é surdo ou o quê?"
"Buffy, o que aconteceu? Você não se lembra que me convidou para ficar?"
"Nunca mais, entendeu? Deixe minha casa, deixe a cidade, porque se eu te encontrar de novo, eu juro por Deus que vou matar você," ela disse friamente, jogando as roupas nele.
"Luv, está claro lá fora. Se você me disser o que aconteceu, o que quer que seja. Se você, pelo menos, me explicasse o que eu fiz de errado..." ele ainda insistiu.
"Saia daqui agora. Ou eu posso ainda mudar de idéia."
"Buffy, eu..." ele começou, mas vendo a expressão no rosto dela, se interrompeu. "Está bem. Eu sinto muito por qualquer coisa que eu tenha feito. Talvez, algum dia, você possa me dizer o que eu fiz de errado. Nunca se esqueça que eu te amo," Spike disse tristemente e saiu, ainda nu, do quarto, carregando suas roupas. Ela bateu a porta em sua cara e ele vestiu a calça ali mesmo, no corredor. Descendo as escadas, vestiu a camisa e encontrou suas botas na sala, onde as deixara.
"Você não me ama! Você não sabe o que é amor, não passa de um monstro! Um monstro na coleira," ele ainda a ouviu dizer do pavimento superior.
Pensando que ninguém iria se importar, Spike pegou um cobertor que estava sendo usando por Andrew, mas que agora estava jogado em um canto, cobriu-se e deixou a casa pela porta de trás. Não seria nada bom se os vizinhos o vissem saindo pela porta da frente com a manta cobrindo sua cabeça. No passado, ele sempre tomara aquela saída e estava bem certo que aquela seria a última vez.
Buffy não o amava, estava claro, o espectro que o atormentava não havia mentido sobre aquilo, mas o que o feria era saber que ela pensava o mesmo dele.
Sem olhar para trás, ele correu para os esgotos antes que seu cobertor pegasse fogo por causa do sol e apanhou a passagem que levava ao Sunnydale High.
Ele não tinha outro lugar para ir.
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Buffy ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido. Mas jurou que não ia chorar. Talvez mesmo aquilo fora o melhor. Uma lição para lhe mostrar que tipo de monstro o vampiro era. Tinha que ter sido mesmo muito ingênua para acreditar na encenação dele e que ela caíra. Ela não ia chorar, não ia...
Ela chorou.
Ainda limpando as lágrimas que teimavam em escorrer, Buffy colocou seu robe e desceu para a cozinha. Era ainda muito cedo e Dawn e Willow deveriam ficar no quentinho de suas camas até tarde.
Não foi o que aconteceu. Cinco minutos depois, Willow também desceu. "Hey, bom dia! Eu pensei que vocês dois iam ainda ficar na cama, sabe? Fazendo as pazes e tal..." ela disse sorrindo e deu uma piscadinha para a amiga.
"Você pensou o quê?" Buffy disse alarmada.
"O quê o que?" Willow repetiu, desatenta, sem entender o que sua melhor amiga estava dizendo.
"Você quer dizer que ouviu tudo e não tentou impedir!"
"Buffy, tem algo que você queira me dizer? O que eu deveria ter tentado impedir? Isso está muito confuso, aconteceu alguma coisa?"
"Eu estou falando do fato de acordar durante a noite com ele tentando me estuprar, é o que eu estou falando. De eu ter lutado com ele e depois tê-lo expulsado daqui."
"Oh, Deus, Buffy, eu sinto muito. Mas nada do que eu ouvi daqui de cima pareceu que você estava lutando com ele. Se eu soubesse, eu... eu...", Willow começou a dizer mortificada, mas algo no que Buffy havia dito chamou sua atenção: "Espere. Você disse meio da noite? Esta noite?"
"Sim, claro que esta noite. Agora você se lembra? Você bebeu no Bronze?"
"Não. Apenas refrigerante. Mas não pode ser, Buffy! Quando nós voltamos, vocês dois estavam fazendo barulho de beijo, vocês estavam rindo e... bem, nós não queríamos ouvir, mas meio que ouvimos... Mas ouvimos isso do porão, não do seu quarto."
"Willow, você acha que... que seria possível se alguém tivesse colocado um feitiço para que vocês não ouvissem o que estava acontecendo? Ou que vocês ouvissem algo inteiramente diferente?"
"Bem, não seria impossível de se fazer... e então Spike a atacaria e ninguém saberia disso," Willow disse pensativa e, depois de um momento de hesitação, resolveu perguntar: "Você o matou?"
"Não. E, na verdade, pensando sobre isso agora, eu não consigo entender, porque eu jurei que se isso acontecesse de novo, eu o faria."
"Você não parece machucada... Provavelmente por causa da sua cura super-rápida."
"Acho que sim. Eu deveria tê-lo matado, não deveria?"
"Mas não fez," Willow murmurou para si mesma, sem saber o que aquilo poderia significar. "Isso é realmente estranho. A gente pode tentar descobrir, mas eu não estou me sentindo muito firme para um feitiço agora."
"Chamamos a Anya?"
"Sim, eu acho... Quer dizer, espere, você já fez esse feitiço sozinha, lembra?"
"Eu fiz?"
"Sim, quando você queria saber o que estava causando a doença da sua mãe e acabou descobrindo que sua irmã não era exatamente sua irmã."
"Aquele feitiço de calças de seda? Da meditação."
"Calças de seda? Ah, sim, o feitiço de Mounsier Cloutier... Esse mesmo. Você ainda se lembra como se faz?"
"Eu só tenho que sentar, acender um incenso e meditar, não é?"
"Exato... Quer dizer, há um pouco mais que isso, mas em resumo é só isso mesmo."
"OK. Então eu acho que eu posso."
"Ótimo! Então eu vou reunir os ingredientes que você vai precisar e..." ela se preparou para deixar a cozinha, quando se lembrou do que a trouxera até ali tão cedo e interrompeu seus passos: "Oh, eu quase esqueci, Riley respondeu o e-mail. Ele disse que lhe mandaria o endereço de um dos médicos da Iniciativa, mas que queria conversar com você antes. Deixou um número de telefone."
"Bem, eu acho que a operação para tirar o chip fica permanentemente cancelada, agora," ela respondeu suspirando de cansaço. "Eu acho que foi o melhor descobrir agora que... bem, deixa prá lá," ela concluiu, decidindo não pensar mais no assunto. Seria o melhor.
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"Respire, apenas respire. Para dentro. Para fora. Para dentro..." ela disse baixinho para si mesma ao encher e esvaziar os pulmões, numa tentativa de relaxar, mas os eventos daquela noite continuavam a voltar para assaltá-la e ela estava ficando cada vez mais agitada. Não, a coisa não ia funcionar daquele jeito...
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"Spoike, você está de volta. Não deveria ter me deixado... não devia ter nunca me deixado.", disse o Primeiro personificando Drusilla, com o objetivo de atrair o vampiro para sua armadilha.
"Você não é ela! Tudo está mais claro, agora. Você não é Dru, ou Buffy ou Angel ou quem quer que seja. Eu sei disso agora e não faço mais parte de seus joguinhos."
"Mas eu posso ser, se você quiser. Eu sempre posso ser e nós podemos sempre brincar. Mas, agora venha. Venha escolher uma bonequinha prá você."
"Saia daqui. Me deixe em paz... O que quer que você seja, me deixe em paz."
"Eu não te disse? Não te disse, meu amado Spoike, que ela nunca o quis..." ela disse falsamente pesarosa, referindo-se a Buffy.
Ele olhou para ela cheio de raiva, mas sem dizer nada. Ela o ignorou, continuando a tagarelar alegremente: "Mas tem uma regra, você só pode ter uma bonequinha. E você poderá fazer chá para ela. E tortas. E pães... Pães quentinhos no forno," ela riu insanamente. "Venha, pet. Venha desembrulhar o seu presente," ela o chamou docemente, incentivando-o através de gestos a se deslocar até o outro compartimento do escuro porão.
Spike não queria ter nada a ver com aquilo, mas um gemido fraco chamou sua atenção. Havia garotas lá dentro, mais de uma e elas estavam sofrendo. Ao perceber aquilo, ele a olhou num misto de surpresa e terror ao compreender o que ela queria dizer com bonequinhas.
"Sim, pet," ela disse, confirmando suas suspeitas. "Mas você precisa ser rápido. Elas se desgastam bem rápido aqui bem baixo..." ela riu de novo.
Spike correu até a outra sala, escolheu uma das garotas aleatoriamente e tentou desamarrá-la, mas então alguém veio por trás e o golpeou na cabeça com um objeto pesado. O vampiro caiu desacordado sobre Alexia. A menina emitiu um grito de surpresa.
"Bem..." disse o Primeiro, agora sob a forma de Buffy. "Me parece que você já escolheu sua bonequinha, Spike..." olhou para seus acólitos, "O levantem. Levem os dois para o lugarzinho espacial que preparamos. E depois matem as outras."
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Sob o brilho das velas, Buffy cerrou os olhos. Fazendo um grande esforço, finalmente conseguiu limpar sua mente de qualquer interferência. E então se lembrou.
Naquela noite, Buffy voltou para casa sozinha. Willow, e Anya , depois da pesquisa no porão do colégio, que não havia rendido nada, na realidade, haviam ido se divertir no Bronze. Xander e Anya foram patrulhar no cemitério. Convidaram Buffy para se juntar a eles mas ela, lembrada da promessa que fizera a Spike, não aceitou o convite. Nem ao menos regulamentou um horário para que a irmã mais nova voltasse para casa, para a felicidade da adolescente.
Quando chegou em casa, Buffy encontrou Andrew dormindo em um canto. Era bem tarde e o último integrante da Troika roncava irritantemente, ainda acorrentado. Foi até a cozinha no escuro e desceu as escadas para o porão. Spike estava lá sentado em seu catre, acordado, esperando por ela como prometera que faria. Sorriu para ele. Ele sorriu de volta.
"Você está bem? Ele não voltou, não é?" ela perguntou e tocou seu rosto, para que ele tivesse certeza que era ela mesma e não o Primeiro. Soltou-o das algemas.
"Ele veio. Ele sempre vem, quando você não está aqui. Mas não disse nada, apenas ficou me olhando das sombras. Ela... ele veio como Drusilla desta vez e parecia furioso."
"Estamos trabalhando nisso, Spike, não se preocupe. Logo, o controle dele não vai mais ter efeito em você. Já temos o número de telefone do médico que vai tirar esse chip da sua cabeça."
"E então o quê? Estarei livre pra matar de novo, Buffy."
"Mas não irá matar, não é? Quer dizer, você tem sua alma agora!"
"Apenas uma alma. Assassinatos são cometidos em todas as partes do mundo por gente com alma! Você sabe disso."
"Você está diferente agora. Eu sei que você não quer mais matar. Nós já passamos por isso tantas vezes, Spike! Quando vai ter confiança em si mesmo? Deveria aprender a ser mais como o Angel..." completou exasperada.
"Eu nunca vou ser como aquele cretino, Buffy! Em vez de uma cópia daquele ponce, porque não vai atrás do original?" Spike rebateu prontamente, começando a sentir seu sangue ferver. Os olhos do vampiro brilharam furiosamente no ambiente mal iluminado do porão.
"Porque é você quem eu quero!" Buffy respondeu gritando também, irritada por ele não perceber o que ela queria dizer e, para demonstrar isso sem sombra de dúvida, colou impulsivamente seus lábios aos dele e forçou-o para trás, para a cama. Obediente, o vampiro não expressou nenhuma resistência, correspondendo ao beijo.
No momento em que seus lábios finalmente se separaram, Spike abriu os olhos e olhou para ela, tentando encontrar um sinal e preparado para se afastar, preparado para mais uma rejeição na eterna dança entre os dois, que ela sempre iniciava e interrompia quando bem queria, mas Buffy o impediu sacudindo a cabeça e tomando as mãos dele entre as suas, guiou-as para a frente de sua blusa, enquanto tentava ao mesmo tempo desabotoar a camisa dele. Ele suspirou, quase sonhador e até mesmo fechou os olhos por um momento, soltando botão a botão a blusa fina dela. Então retirou a saia de Buffy, sua própria calça e deitou-se ao seu lado, sem saber ao certo o que fazer. Sem saber o que ela pretendia dele.
Buffy, percebendo essa hesitação, pegou a mão do vampiro entre as suas e guiou-as para seu próprio corpo, ajudando-o na exploração, numa forma de fazê-lo compreender que estava tudo bem, que tudo o que acontecesse entre os dois naquela noite era consentido por ela. Ele compreendeu isso e beijou cada centímetro do corpo dela, enquanto a afagava com seus dedos experientes. Então rolou para cima dela e olhou para dentro de seus olhos verdes. Seu desviar seu olhar, Buffy envolveu os quadris do vampiro com suas longas e macias pernas.
Após o sexo, ficaram em silêncio, apenas se tocando, sorrindo um nos braços do outro, como se aquela fosse a primeira vez que fizessem amor. De certa forma, era mesmo.
"Acha que eles já chegaram?" ela perguntou depois de alguns momentos, quebrando subitamente o silêncio.
"Parece bem tarde. Está preocupada com a Little Bit?"
"Não, ela está com a Willow. Estava só pensando em uma forma de subir ao meu quarto sem ser vista."
"Entendo," ele se limitou a responder de forma neutra. Então aquela era a forma que as coisas iriam se encerrar, lhe parecia. Esticou o pescoço e ouviu atentamente, "Eu ouço três respirações adormecidas lá em cima. Xander deve ter vindo pra cá, ou a ruiva tem companhia..."
"Não, não é o Xander, mas eu te conto mais sobre o nosso visitante amanhã. Vem, vamos subir," Buffy levantou-se agilmente e puxou-o pela mão.
Spike levantou-se e olhou-a surpreso. "O que quer dizer?"
"Como assim? Vamos subir, vamos dormir lá em cima. Vem!" repetiu, enquanto se enrolava despreocupadamente num lençol e estendia outro para ele.
"Você quer dizer... você me quer lá em cima, com você?" ele perguntou e estendeu a mão para alcançar o lençol, mas ainda sem entender inteiramente o que ela pretendia.
"É claro! Você deve estar cansado de dormir nessa cama de armar, não é?"
Spike então a seguiu. Na sala, ele viu Andrew dormindo amarrado num canto e levantou uma sobrancelha inquisitiva para Buffy.
"Conversamos sobre isso pela manhã," sussurrou ela. Ele concordou com a cabeça e subiram as escadas.
No quarto de Buffy, fizeram amor mais uma vez e dormiram juntos, com Buffy abraçada firmemente ao corpo branco do vampiro. O último pensamento dela antes de dormir fora de que nunca mais o deixaria ir embora.
Buffy abriu os olhos. Se lembrava de tudo agora, tudo como realmente acontecera. Desta vez, o feitiço fora tão forte, que conseguira até mesmo ouvir os ecos do pensamento de Spike, coisas das quais não fazia nem idéia, como todo aquele medo de que o rejeitasse. Aquilo a fez ter vontade de chorar novamente, mas ela não podia. Não havia tempo. Apagou as velas e correu para o quarto de Willow.
"Precisamos encontrá-lo. Precisamos encontrar Spike imediatamente."
"Decidiu finalmente matá-lo?" Willow respondeu, abaixando o livro que estava lendo.
"Não. Mas alguma coisa quer que eu queira e precisamos descobrir o por que."
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Faith acordou em sua cela, na penitenciária de Los Angeles, com alguém em cima dela. Sonolenta, não teve nenhuma chance quando uma faca muito afiada rasgou seu ventre de lado a lado. Começou a se sentir desfalecer por causa da perda de sangue maciça e viu sua mãe e sua antiga sentinela sorrindo e a chamando para fora das barras. Não teve medo, apesar da dor, que também logo desapareceu quando sua alma deixou o corpo. Juntou-se às duas mulheres, que a abraçaram e a levaram dali.
Ao mesmo tempo, em algum canto de Sunnydale, Alexia acordou. Ela estava finalmente solta, mas não compreendia como. Logo percebeu que o que a acordara era uma estranha sensação na base do pescoço, quase uma cócega. Aquilo estava começando a enervá-la. Esquadrinhou o quarto e deu com o rapaz louro desacordado e encostado na única cama do lugar. Quando se aproximou dele, as cócegas ficaram ainda mais fortes. Indecisa, resolveu estender a mão e tocá-lo, para ver se estava vivo, mas ele subitamente agarrou sua mão como se estivesse acordado o tempo todo. Os olhos dele se arregalaram e emitiram um brilho amarelado.
"Caça-Vampiros!" ele exclamou surpreso, arremessando-a para o outro lado do aposento. Depois, com seus sentidos em alerta, agachou-se como um animal selvagem.
"Vampiro!", ela rosnou pra ele, compreendendo instantaneamente, como se um conhecimento ancestral estivesse tomando conta de seu corpo.
Alexia acabara de receber seu chamado. Nascera para aquilo. Sorriu ferozmente e lançou-se sobre sua presa.
Spike estava esperando o ataque. Seu esporte favorito era matar Caça-Vampiros. Aquela não iria lhe decepcionar, ele sabia.
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"Desculpe, Buffy, mas o rastro dele termina aqui..." Willow disse desolada, encolhendo os ombros.
Buffy ainda esquadrinhou o porão vazio do Sunnydale High com os olhos mais uma vez. Podia sentir o cheiro de Spike ali. O cheiro dele ainda misturado ao dela própria naquele lugar.
"Você acha que foi ele que fez... isso?" Willow abriu os braços, abrangendo os corpos de todas aquelas meninas mortas no chão. "Furioso depois que você... hum... o expulsou?"
Buffy aproximou-se de um dos corpos. Os olhos da garota, vidrados, olhavam para o espaço. Afastou delicadamente os cabelos do pescoço do cadáver. Nada ali. Nenhuma marca de mordida.
"Não, não foi ele. O que quer que tenha matado essas meninas, apenas quebrou seus pescoços."
"E o que a gente faz agora?"
"Eu não sei, Will. Queria poder saber," ela disse, olhando para o lugar vazio no chão onde estava anteriormente o selo de Danzathar.
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Após ter ouvido atentamente tudo o que o espectro de Quentin Travis e de tê-lo observado desvanecer-se no ar, o sentinela discou um número em seu telefone.
"Preciso de uma passagem para a América...Sim... Sunnydale, Califórnia, por favor... Para amanhã está ótimo. Sim, obrigado, eu aguardo na linha."
Afastou uns livros que estavam ali jogados e sentou-se em seu sofá, sozinho. Mas, ultimamente ele não estava mais realmente sozinho, estava? Não, nunca mais ficara sozinho desde aquela noite em que achara que o melhor era terminar o trabalho de Buffy para ela, um ano e meio atrás.
Estivera enganado na ocasião e não queria repetir o erro. Quentin ou qualquer que fosse seu nome real queria que ele interviesse na vida de Buffy, mas Giles sentia que o melhor seria apenas acompanhar atentamente o curso dos acontecimentos.
Ele também precisava pensar em uma boa explicação para a companhia que estava levando para a casa de sua Caça-Vampiros. Uma de suas inimigas mortais, aquela que causara sua morte. Sua segunda morte, de qualquer forma.
Rupert Giles deixou seu apartamento, para tentar ligar novamente para Sunnydale.
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Eles dançaram e dançaram, exatamente como o vampiro gostava, até Spike estar por cima de Alexia, segurando firmemente o corpo dela contra o chão. Ela ainda se debatia, tentando se desvencilhar e Spike sentia-se furioso, porque a presença daquela garota com os poderes de Caça-Vampiros ali com ele naquela sala, só podia significar que Buffy havia morrido e ele não pudera fazer nada para impedir isso.
"Sinto muito, pet," disse ele, sorrindo para demonstrar que, na verdade, não sentia nada, "Que o seu primeiro vampiro será também o seu último," completou, assumindo seu rosto de vampiro e com seus caninos compridos, aproximou-se do pescoço dela para matá-la.
Mas algo aconteceu. Como um raio que tivesse atingido seu cérebro, o chip implantado ali disparou.
"Porra!" ele gritou com a dor e soltou-a, segurando a cabeça.
Alexia não perdeu tempo. Enquanto ele rolava no chão, com as mãos pressionando a cabeça, ela esquadrinhou freneticamente o quarto a procura de algum objeto de madeira para poder fazer uma estaca, mas não encontrou nada que pudesse ser útil. A única coisa além dos dois era uma cama, mas sua estrutura era de aço. Havia um box de vidro transparente fazendo as vezes de banheiro, com um chuveiro e um toilete, os dois de metal. Chutou fortemente a outra porta para ao menos poder escapar dali mas, como previa, esta nem se mexeu. Ficou, então, do outro lado do quarto, de costas para a parede, vigiando-o se retorcer sobre si mesmo.
Ela não sabia o que estava acontecendo com o sanguessuga. Talvez vampiros pudessem ser atingidos por derrames cerebrais fatais, afinal?
Por sobre a dor em sua cabeça, a verdade de que nunca mais veria Buffy atingiu Spike. Ele se enrolou sobre si mesmo e ficou esperando a Nova Caça-Vampiros fazer seu serviço. Ele não se importaria se ela o pulverizasse logo.
Sob a forma de Buffy, o Primeiro Mal se materializou na sala. "Então..." disse ela, "Estou interrompendo alguma coisa?"
Conhecedor dos truques do Primeiro. Spike apenas levantou a cabeça e olhou apaticamente para ela. Doía-lhe que ele estivesse usando a forma da mulher que amara e que agora estava irremediavelmente morta, mas procurou fazer com que ele não percebesse o quanto isso o afetava. Mas aquela era primeira vez que Alexia o via. Ela correu para junto da conselheira do colégio e acabou atravessando-a.
"Senhorita Summers!" Alexia gritou, confusa.
"Poupe seu fôlego, Caçadora, ela não é real," Spike disse apaticamente.
Ignorando a jovem, o Primeiro sorriu cruelmente para Spike: "Você sentiu, Spike? Sentiu quando ela morreu? Sem você lá para atrapalhar, foi realmente muito fácil."
"Você está mentindo. Não nem é mesmo real," o vampiro repetiu.
"Mas eu sou, sim," contrapôs o Primeiro e colocou os olhos sobre Alexia, que olhava de um para o outro sem entender sobre o que estavam falando. "E como o Spikey aqui não pode matar você e nem você a ele, ele terá tempo todo o tempo do mundo para lhe explicar algumas coisas. Espero que vocês dois logo se tornem muito bons amigos," completou, sumindo novamente.
Alexia olhou para Spike. Ele lhe correspondeu o olhar. "Bem, Pet, parece que você é o meu único passaporte para sairmos daqui. O que acha de uma trégua?"
(continua...)
