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Quarta Parte – Damphyr

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"OK, o que eu faço agora?" ela perguntou, olhando de uma amiga para outra e, finalmente, pousando os olhos aflitos em sua irmã.

"Xixi no bastão. É bem simples, eu prometo. Pelo menos, é o que diz na caixa," Willow releu as instruções.

"E depois, o quê?"

"Depois, nós esperamos um minuto. Se aparecer azul, você está grávida. Se não aparecer nada, significa que você não está."

"Tem certeza que não é azul se for menino, rosa se for menina? Eu acho que li algo sobre isso em algum lugar..." Anya tentou se lembrar.

"É claro que não! Além disso, é muito cedo para saber o sexo da criança. Quer dizer, se ela estiver grávida..."

Um momento de silêncio desconfortável se passou entre as mulheres e Willow resolveu completar seu pensamento: "Olha, eu estou dizendo um grande se aqui. Um enorme se..."

"Então... todas mentalizando não azul, OK?" Dawn tentou desviar a atenção, simulando animação.

"Certo," Willow confirmou.

"Wow, isso é tão excitante!" Anya exclamou, genuinamente animada, mas vendo que as outras não compartilhavam de seus sentimentos, tentou consertar: "Mas é sim! Vocês sabem uma coisa? No meu tempo como humana...", ela viu que as expressões das outras não se alteraram e, ainda assim, continuou a tagarelar: "Na primeira vez como humana, quero dizer, costumavam cortar o pescoço de uma galinha. Se ela morresse, significava que você estava grávida. Se ela saísse correndo, você não estava."

"Yuck! Sério!" Dawn disse fazendo cara de nojo.

"Sim. Mas, então, os métodos contraceptivos também não eram grande coisa. Assim, se a sua menstruação estava atrasada, você provavelmente estava grávida mesmo," a ex-demônio completou sorrindo, completamente alheia ao olhar de asco das outras por causa de sua história.

"Mesmo assim, é nojento," a jovem Summers não estava ainda convencida.

"Sorte minha que eu não tenho que fazer xixi numa galinha ou algo do tipo. Mas não pode ser. Quer dizer, deve ser algum tipo de vírus. E eu só estou atrasada vinte dias, não é grande coisa."

"Você já esteve atrasada antes?" Dawn perguntou.

"Não, nunca," Buffy respondeu baixinho.

"Mas você quer saber com certeza ou não?" Willow perguntou. Buffy acenou afirmativamente e ela completou, "Então, faça."

"Fazer o que?" Willow levantou a sobrancelha para ela. Buffy arregalou os olhos. "Quer dizer, agora! Eu não vou fazer xixi num bastão na frente de vocês!", exclamou.

"Sim, porque esse é o problema de verdade aqui..." Dawn cruzou os braços e levantou a sobrancelha para a irmã.

"Eu estou falando sério. Saiam todas! Eu e o meu bastão sairemos daqui a um minuto, porque eu estou a ponto de explodir," Buffy disse e começou a empurrar as outras garotas para fora do banheiro.

"Está bem, está bem, não precisa usar sua super-força na gente, estamos saindo. Nós estaremos esperando aqui, está bem?", Willow afirmou sorrindo, já do lado de fora.

Buffy trancou a porta e andou até o vaso, carregando o bastão de teste com ela. "OK, coisinha, aqui vamos nós. Não se assuste, porque eu já estou assustada que chega..." ela disse suspirando.

Cinco minutos de passaram. As garotas já estavam começando a ficar realmente nervosas do lado de fora.

"Bem, talvez ela esteja comemorando lá dentro, quem sabe..." Willow disse. As outras olharam para ela significativamente. "Comemorando muito, muito silenciosamente... É uma possibilidade...", completou miseravelmente.

"É, tá bom..." Dawn disse nervosa, mordendo o lado de dentro da bochecha.

"OK. Vamos bater? Ela não pode demorar tanto só para derramar um pouco de urina num pedaço de plástico, não é? Ela pode ter tido um troço lá dentro, batido a cabeça no lavatório ou algo assim..." Anya acrescentou seu cenário de terror às possibilidades do que estava retendo Buffy por tanto tempo, sinceramente tentando ajudar.

"Eu chamo," Dawn propôs e bateu na porta. "Buffy! Buffy, você está bem?"

Após um momento, sua irmã abriu lentamente a porta.

"Então?" as três perguntaram ao mesmo tempo se acotovelando no batente, ansiosas.

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Naquele dia, na bandeja do café da manhã, veio apenas a refeição de Alexia. Tanto vampiro como caçadora ficaram um tanto curiosos quanto ao fato, mas nada comentaram entre si. Ela comeu, ele até mesmo roubou uma fatia de pão, despreocupado.

Na segunda refeição, a mesma coisa aconteceu. Na outra, também.

"O que você acha que está acontecendo, Spike?" perguntou Alexia, servindo-se de um pedaço de carne do jantar.

"O estoque de sangue deles deve ter acabado, mas acho que não deve ser nada. Eles não iriam ter todo o trabalho de nos prender aqui só para depois me matar de fome," o vampiro comentou, dando de ombros.

Mas, quando a mesma situação se repetiu no dia seguinte, Spike viu que seu novo tratamento era mesmo intencional. Parecia que ele já não era mais necessário para o plano deles. Frustrado, o vampiro chutou a porta de aço, gritando para o lado de fora:

"Hey, vampiro faminto, aqui dentro!"

Chutou a porta novamente, só para dar mais ênfase às palavras.

Alguns momentos depois a pequena abertura que existia do outro lado do quarto, no ângulo entre o chão e a parede, abriu-se, e uma nova bandeja deslizou para dentro. Finalmente! ele pensou, aliviado, e foi buscá-la. Só que não havia uma bolsa de sangue lá dentro, como ele imaginou mas, somente, um bilhete. BEBA DELA, estava escrito no pedaço de papel.

Spike começou a rir, pensando que deveria ter imaginado aquilo.

"O que era?" Alex perguntou, aproximando.

"Parece que eu acabei de entrar em um regime forçado," ele tentou brincar.

"Me deixe ler, então..." ela pediu, tentando alcançar o pedaço de papel, mas Spike foi mais rápido e o amassou, escorregando-o para dentro do bolso, para impedi-la de ver o que estava escrito.

"Isso? Só diz que meu rango vai voltar amanhã, Bit. Já acabou de comer? Ele disse, imprimindo seu melhor tom de calma à voz.

"Já. Tudo bem se eu tirar uma soneca antes de treinar um pouco?"

"Tudo bem por mim."

Porém, quando a mesma coisa aconteceu no dia seguinte, Alexia ficou desconfiada.

"Não era bem aquilo que estava escrito no bilhete, não é?" ela acusou, sem tocar na própria comida. Spike atravessou o quarto e deitou-se em seu canto no chão.

"Eles devem mesmo estar com dificuldade para encontrar sangue de porco," ele mentiu mas, sem aviso, Alexia atravessou como um raio o pequeno cubículo que dividiam e já estava sobre ele, com suas mãos enfiadas nos bolsos das calças do vampiro, revirando seu conteúdo, à procura do bilhete. O vampiro nem ao menos tentou impedi-la, sabendo ser inútil. Além disso, precisaria guardar todas suas forças, já que seu suprimento de alimento havia sido cortado. Ela logo encontrou o pedaço de papel, leu-o e olhou para Spike, confusa:

"Este é algum tipo de brincadeira?"

"Se for, não fui quem inventou," ele respondeu com pouco caso, trançando as mãos atrás da cabeça e se preparando para dormir um pouco. Porém, Alexia decidiu que ele não escaparia daquela conversa assim, tão fácil. Num segundo, agarrou-lhe os braços e puxou as mãos dele para frente. Com isso, Spike bateu a cabeça na parede e sentou-se, mal-humorado.

"Ele está dizendo para você me matar, não é? Você vai?" ela perguntou, sabendo que não conseguiria se forçar a lutar contra ele pela própria vida.

"Eu não vou beber de você," Spike respondeu, fechando a cara.

"Está bem, se você vai bancar o difícil... Vamos supor; se você bebesse o meu sangue, você me mataria fazendo isso?" ela conjeturou uma saída para o problema.

"Eu não vou beber de você," Spike repetiu.

"Então, você decidiu desistir de tudo e morrer, me deixando aqui sozinha?"

"Eu também não vou morrer. Sou um vampiro, esqueceu?"

A verdade é que Spike nunca havia ficado muito tempo sem beber, excluindo-se sua temporada no porão da escola, de forma que, embora não soubesse muito bem quanto tempo suportaria a sede sem enlouquecer, não queria que ela soubesse daquilo.

"Ah, tá bem, faça o que achar melhor," Alexia disse, chutando a bandeja para fora do quarto, através da abertura, e indo para a cama.

O gesto não passou despercebido ao vampiro. "Não vai jantar?"

"Perdi o apetite."

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Giles desembarcou na Califórnia, ironicamente, bem diferente de seus companheiros de viagem. Havia tido o melhor sono dos últimos tempos e, enquanto dormia, seu corpo havia terminado de se regenerar. Bem disposto, tomou um táxi para a casa de Buffy. Por todo o trajeto, foi pensando no que dizer, as explicações que deveria dar, sabendo que era muito tarde para fabricar qualquer mentira.

Dawn atendeu à campainha porta e deu um gritinho de satisfação quando viu Giles. O grito atraiu a atenção de Willow e Buffy, que estavam na cozinha e logo as três estavam pulando à volta do Sentinela.

"Giles! Nós pensávamos que você estava morto," disse Buffy, sentindo um alívio extremo, apertando-o num abraço.

"Eu estou bem, estou bem," Giles respondeu, meio atordoado, feliz pela viagem ter dado a oportunidade a suas costelas de se reconstituírem.

"Nós temos muito o que conversar. Essa coisa que estamos enfrentando é muito forte e não temos idéia de como contra-atacar," Buffy começou as explicações, na porta mesmo.

"Haverá tempo para isso também. Enquanto eu estava em Londres, o Primeiro e seus acólitos também vieram me atacar. Consegui escapar, mas aqueles que estavam no prédio do Conselho não tiveram a mesma sorte. Mas, primeiro, eu tenho algo a revelar a vocês."

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"OK, Bittlet, me mostre o seu melhor," Spike disse tentando parecer animado e assumiu posição de luta.

"Você tem mesmo que me chamar usando esses apelidos infantis? Que tal se você me chamar de Alex, sabe, só pra variar?" Alexia perguntou, fazendo beicinho.

"Bem, pet... olhando daqui, você com esse bico, parece bem infantil pra mim," ele disse rindo do número que ela estava fazendo. "Agora, venha."

"Eu estou cansada! Que tal se você me contasse uma de suas histórias? Me conte de novo quando você me matou aquela Caça-Vampiros chinesa," pediu ela.

"Eu já lhe contei essa história dúzias de vezes!" ele viu que o beicinho dela aumentando ainda mais, porém se manteve irredutível. "Sinto muito, Caça-Vampiros, mas apenas depois do seu treinamento. E pode parar de fazer beicinho, porque não vai chegar a lugar nenhum com essa atitude, mocinha."

"Na verdade, nós não vamos chegar a lugar nenhum, ponto final..." ela reclamou, olhando desanimada para a porta de aço.

"Eu sei," ele suspirou, seguindo o olhar dela. "Mas você quer me ajudar a chutar a bunda do Mal que está mantendo a gente preso aqui, não quer?", ele perguntou e ela assentiu resolvida. "Então, aí está. Você tem que mostrar de que material é feita, quando surgir a oportunidade, Bittlet."

Ela finalmente levantou-se de um pulo da cama da cama. "Está bem. Mas, enquanto isso, eu ainda posso chutar a sua bunda," ela disse e também assumiu sua posição.

"Essa é a minha garota!" o vampiro exclamou, satisfeito.

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Xander sentou-se numa banqueta do balcão com seu café. Ficou olhando-o em silêncio até que ele esfriasse totalmente, sem tomar um único gole, pensando no beijo que trocara com a ex-noiva na noite anterior. Tudo acontecera muito rápido e, mesmo naquela hora, não sabia se significara para ela, a mesma coisa que para ele. Mas desejava ardentemente que sim.

"Hey, Xan... O que foi?" disse Willow, aproximando-se e percebendo a postura melancólica do amigo.

"Nada, Will, nada."

"E também não tem nada a ver com o fato de você e Anya estarem se evitando o dia inteiro, certo?", a amiga perguntou, sentando-se ao lado dele.

"Então, você notou."

"Meio difícil de não notar. Vocês não são exatamente as pessoas mais discretas da face da Terra."

"Eu sei."

"Vocês brigaram? De novo?" Willow perguntou, levemente preocupada.

"Não. Quero dizer, sim, mas isso foi antes de... OK, me deixe contar. Ontem à noite, quando saímos para patrulhar, nós encontramos três vampiros. Lutamos com eles e os vencemos. Então nos abraçamos para comemorar e um beijo meio que surgiu no meio do abraço," o rapaz contou.

"Isso é maravilhoso!" ela exclamou feliz. "É maravilhoso, certo?" complementou já sem tanta certeza, ao perceber a expressão menos que animada de Xander.

"Deveria ser... Mas, eu não sei. Ela fugiu depois."

"Você deve tê-la assustado."

"Eu fiquei assustado e sem ação depois também. Quando percebi, ela havia desaparecido."

"Você sabe que precisa conversar com ela, certo?"

"Eu sei. E eu quero, mas ela não. Eu acho que não passou de um engano, para ela."

"Não, eu acho que não. Eu acho que ela deve estar imaginando a mesma coisa que você agora. Encontre-a e diga o que está sentindo," ela aconselhou. "Você está sentindo coisas boas, não é?" Ela olhou direto nos olhos dele.

"Eu estou. Estou, é claro."

"Então, vá correndo atrás dela. E conte a ela! Tudo vai dar certo. Não é como se a Anya fosse a pessoa que melhor sabe esconder os sentimentos por aqui. Ela, com certeza, está tão confusa quanto você, agora."

"Você acha?" Disse ele, ainda meio na dúvida.

"Eu tenho certeza! Agora, anda, encontre-a!"

E assim ele fez. Como qualquer homem que ainda está profundamente apaixonado pela ex-noiva e quer fazer as coisas do modo certo desta vez, Xander a caçou por toda Sunnydale. Por fim, foi encontrá-la sentada sozinha em um bar.

"Esse lugar está vazio?" Xander perguntou, aproximando-se.

Ela levantou os olhos de seu drink e viu quem estava ao seu lado. "E esse aqui também vai ficar, se você se sentar aí."

"Anya, uma hora nós vamos ter que sentar e conversar." Xander olhou para a ex-noiva, sério.

"E, então, você resolveu que deveria ser hoje? E agora. Mesmo que a gente tenha se encontrado muitas vezes na casa da Buffy," Anya levantou uma sobrancelha para ele.

"Não é nada disso. Foi você que fugiu dia inteiro! Como eu poderia..." ele começou a acusá-la, exaltado mas, percebendo que aquela não era a melhor estratégia, respirou fundo e recomeçou: "Olha, nós nos beijamos. Isso muda tudo."

"Muda, nada. Nós costumávamos nos beijar bastante, antes de você me deixar..." ela disse, tentando aparentar uma indiferença que, de fato, não estava sentindo.

"Eu sei. E eu sinto muito."

"Sente? Eu sabia. Você não gostou de ter me beijado. Por isso você está aqui, para me dizer que tudo não passou de um engano, como tudo antes," ela desviou o olhar, para não mostrar o quanto aquilo a machucaria.

"Não! Baby... docinho, eu amei ter beijado você. Foi o ponto alto da minha vida nesses últimos meses!"

"Mas não vai mudar nada, não é? Por isso você está aqui..." ela tentou, novamente, antecipar o que ele iria dizer, para evitar de se magoar ainda mais.

"Não, é claro que não! Eu acabei de lhe dizer... Olha, será que eu posso sentar aqui?"

"Eu já lhe disse que não."

"An, por favor... todo mundo está olhando...", ele disse, sentindo-se desconfortável com os olhares de meio bar sobre eles.

"Então senta," ela concordou finalmente. "E cale a boca. Eu preciso pensar no que você acabou de me dizer. Eu não quero que você fale comigo ou mesmo respire do meu lado."

"Sem respirar, sem falar. Anotado," ele respondeu sorrindo e sentou-se ao lado dela.

Por um longo tempo, Xander ficou entretido com sua vodka, enquanto Anya olhava para o outro lado, mexendo seu hi-fi com o guarda-chuvinha. Ela adorava aquelas coisinhas coloridas, gostaria de saber como eram feitas, mas geralmente era Xander quem explicava essas coisas para ela e agora não mais sentia vontade de perguntar o que quer que fosse para ele.

Um grandalhão se aproximou de Anya, colocando-se entre os dois. Um forte cheiro de bebida exalou de sua boca, quando ele agarrou o braço dela e tentou puxá-la, dizendo:

"Venha, benzinho, vamos dançar!"

Anya tentou se desvencilhar. "Não, não, me solta ou eu te transformo numa... numa lagartixa!" ela gritou.

Ao invés de soltá-la, o homem riu ainda mais e continuou puxando-a para a pista de dança.

"Largue a moça, amigo. Não está vendo que ela está acompanhada?" Xander bateu no ombro do grandão.

"Não, eu não estou!" Anya contradisse, indignada, antes de perceber que Xander estava tentando ajudá-la. Então, acrescentou: "Quer dizer, eu estou sim. Eu estou com o meu... com o meu marido!"

"Maridinho? O maridinho não vai se importar de uma dança com a mulherzinha dele..." o grandalhão perguntou para Xander, ameaçador.

"Ah, mas ele vai se importar sim," Xander respondeu e o esmurrou no rosto. Surpreendido por Xander, o grandalhão caiu no chão gemendo e, antes que conseguisse se levantar, o rapaz agarrou a mão de Anya e a puxou pela porta do bar. Lá fora, a chuva caia muito forte.

"Puta merda, acho que a cara dele quebrou minha mão..." ele comentou, beijando sua própria mão, numa tentativa de fazer a dor ir embora.

"Hey, espera, eu paguei por aquele drink!" Anya protestou, já do lado de fora.

"Eu te pago um outro, vamos para um lugar diferente."

"Depois, eu não preciso de você para me defender. Eu posso perfeitamente me defender sozinha."

"Eu vi isso..." ele disse reticente.

"E eu não quero ir, eu não quero sair com você."

"Você não vai sair comigo. Eu te levo até o lugar, pago sua bebida e caio fora," Ele abriu a porta de seu carro para ela.

"Está bem, então," Anya suspirou, aceitando o convite.

"Porque você não vai querer fazer desfeita para mim... seu marido..." ele entrou pela outra porta e ligou o carro. "Eu não sabia que você pensava desse jeito sobre mim," disse ele, olhando sério para ela.

"E não penso, mas foi a primeira coisa que veio à minha cabeça. E, além disso, é o que você seria, se não tivesse fugido como uma galinha assustada..." ela olhou longamente pela janela, magoada e os dois fizeram o resto do trajeto em silêncio.

Xander parou o carro na frente do Bronze e tentou pegar na mão dela, mas ela o evitou.

"Eu sinto muito, meu bem. Se eu pudesse... você sabe que se eu pudesse fazer qualquer coisa..."

"É, eu sei, você teria me avisado antes. Você já me disse isso antes, lembra?" ela disse sarcástica e abriu a porta para sair. "Adeus, Xander Harris."

"Não, você não entendeu. Eu estive pensando muito sobre isso. Se eu pudesse, eu teria feito as coisas muito diferentes e não seria te avisando. Eu quero... eu quero..." ele começou. "Espere aí," ele também desceu do carro e deu a volta. "Eu quero fazer as coisas do jeito certo. Eu te amo, Anya."

"Não, você não me ama! Você só quer alguém para esquentar os seus pés," ela começou a chorar.

"Não chore, docinho, você sabe que eu te amo muito. E quem tem os pés gelados é você... e seus dedos são meio peludos... E eu os amo, do jeitinho que eles são," ele a abraçou e ela ficou chorando em seu peito.

"Eu não amo você, Xander, eu te odeio, te odeio. Por que você sempre acaba me fazendo chorar?" ela disse furiosa por ter-se exposto para ele e o esmurrou com toda a força no peito.

"Primeiro: ouch, isso doeu! Segundo, porque você fica linda assim chorando... Anya, você quer..." ele começou a dizer. "Espere, eu tenho que fazer isso do jeito certo," ele disse, ao se ajoelhar aos pés dela e tomar suas mãos. "Anya, quer se casar comigo?"

A garota olhou para ele ali ajoelhado aos seus pés. "O quê?" disse ela, por fim, como se não tivesse ouvido direito.

"Eu perguntei se você quer se casar comigo. Você sabe, enquanto você ainda está chorando e não tem tempo de pensar em algum jeito pra me rejeitar..." ele tentou brincar.

"Você quer se casar comigo... agora?" ela perguntou, ainda sem conseguir acreditar.

"Não, agora eu quero pagar uma bebida para você e ver você brincar com o guarda-chuvinha dela do jeito sexy que só você sabe fazer. Depois eu quero ver você rolar a cereja do seu drink na sua língua e pensar como seria bom estar te beijando. Depois eu vou te raptar e te levar para uma capela vinte e quatro horas. Daí eu vou me casar com você," ele explicou, enquanto a conduzia para dentro do Bronze.

"Você quer se casar comigo..." ela disse, como se fosse um sonho, enquanto os dois dançavam lentamente na pista de dança. Eram o último casal na boate, que logo iria fechar.

"Sim, eu quero me casar com você," ele concordou e depositou um beijo nos cabelos dela. "Eu quero ter filhos com você, mesmo que um deles tenha orelhas de fadinha, nós podemos pagar uma operação para ela, depois. Eu quero voltar todo dia para casa e dormir com você e acordar com você até o fim da minha vida. Mas eu não tenho nenhum anel agora..."

"Espere," ela disse afastando-se dele e alcançando o fecho de sua correntinha que estava usando e, retirando a jóia do pescoço, revelou o anel de noivado que ele lhe dera tantos meses antes.

Ele a olhou surpreso. "Você me disse que havia jogado o anel na privada!" exclamou.

"E você deveria me conhecer melhor, para saber que eu nunca jogaria uma peça tão boa de joalheria como essa na privada," ela respondeu séria.

"É, deveria saber, sim," ele sorriu, pegando o anel e ajoelhando-se novamente à frente dela, se preparou para colocá-lo no dedo de Anya. "Então, você aceita, certo?"

"Sim, aceito," ela disse, recomeçando a chorar mas, desta vez, de felicidade. "E você me ama..."

"Claro que eu amo. Mais do que qualquer coisa nesse mundo, Anya."

"Não por causa da minha dança sexy."

"Eu amo sua dança sexy, benzinho, mas não te amo só por causa dela."

"E... o fato de eu ter feito sexo com outro homem além de você, isso não o desagrada mais?"

"Querida, vamos não estragar o momento, está bem? Mas a resposta é não, porque eu sei que foi um erro e que não vai acontecer mais, não é? Por outro lado, antes, eu teria gostado se a Buffy tivesse enfiado uma estaca no coração do Spike quando ela teve a oportunidade... Porém, agora, eu fico meio satisfeito que ela não tenha feito isso. Engraçado..." ele filosofou desajeitadamente enquanto, ainda ajoelhado, deslizava o anel pelo dedo anular de Anya.

"Então, sim, eu aceito. Eu quero me casar com você e ter seus filhos, assim como a Buffy vai ter o do Spike daqui a alguns meses...", ela disse sonhadoramente, sem perceber de início que havia deixado escapar a confidência da amiga.

"Ela vai ter o QUÊ?", ele bradou arregalando os olhos e levantou-se de um pulo, quase derrubando-a no processo.

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Ele abriu a porta da varanda e a encontrou sentada no escuro, olhando as estrelas. Já estava ali há um bom tempo, com a vista embaciada e não muito certa se isso era devido à chuva que caía torrencialmente ou por causa das lágrimas que teimavam em escorrer por seus olhos. Ela não se voltou, embora tivesse ouvido o leve rangido da prova e então ele, um pouco hesitante, aproximou-se e sentou-se ao lado dela no degrau, colocando a mão no ombro dela. "Willow me disse que eu a encontraria aqui," ele explicou e, depois de um segundo, completou: "Você está bem?"

"Como eu poderia estar bem, Giles?" ela perguntou e olhou para ele. Havia lágrimas em seus olhos e ela não fez nenhuma questão de escondê-las. "O que eu faço? O que eu faço, Giles?"

"Eu quero que você saiba, minha filha, que o que quer que decida, eu estarei ao seu lado."

"Obrigada," ela agradeceu, tentando sorrir e o Sentinela alcançou e apertou sua mão. De mãos dadas, os dois ficaram em silêncio contemplando a noite.

Por fim, Giles quebrou o silêncio: "Você está... hum... pensando em ter essa criança?"

"Eu quero. De verdade. Mas eu sei que vou ser a pior mãe do mundo. Só para começar, o que eu vou contar a ela sobre o que eu fiz com o pai dela?"

"Você vai contar a verdade quando chegar a hora, eis o que vai fazer. Vocês dois vão."

"Você acha que ele está vivo ainda?"

"Tanto quanto um vampiro pode estar..." ele riu de mansinho. "Você não acredita que ele está?"

"Eu preciso acreditar, ou eu acho que vou ficar louca. Mas, em algumas horas, eu penso... E se o que eu fiz o mandou para a destruição?"

"Você não pode pensar assim, Buffy. Nós vamos encontrá-lo, onde quer que ele esteja. Você sabe que Spike é um vampiro muito peculiar, realmente resistente. Se nem a Iniciativa conseguiu dar um jeito nele, não seria um demônio Gunochkër que iria conseguir."

"Mas Willow já tentou todos os feitiços que conhece para localizá-lo e é como se ele tivesse sido tragado pela terra. Mas eu sinto aqui dentro que eu saberia... saberia se ele tivesse morrido."

"Feitiços de localização podem ser facilmente despistados, se alguém quiser mesmo que nós não o encontremos. Spike, no entanto, é muito teimoso. Se algo houvesse acontecido, ele encontraria algum modo de voltar e avisá-la do que aconteceu."

"É... eu acho que você está certo."

Por fim, ela limpou as lágrimas com as costas das mãos e sorriu, porque sabia que aquilo era verdade. Nem mesmo ela conseguira dar um jeito efetivo em Spike... Giles, então, a olhou atentamente, pensando se aquele era o momento certo de contar a ela o que o trouxera ali fora. Por fim, ele disse sério: "Buffy, no passado, eu a poupei de algumas... hmmm... informações. Eu acreditava que elas não seriam de nenhuma ajuda e poderiam trazer sofrimentos desnecessários. Eu costumava olhar para você como se você fosse uma garotinha com um dever sagrado e que me fora dada para guiar. Mas agora eu olho para você e vejo uma mulher. Uma mulher adulta e forte e, por isso, é seu direito saber de alguns fatos..."

"Giles, se você vai me contar sobre os pássaros e as abelhinhas... Porque, bem, eu acho que é um pouco tarde para isso...", ela disse e acariciou o próprio ventre, ainda completamente liso.

"É verdade, um pouco tarde para uma conversa desse tipo..." ele concordou reticente. "Mas o que eu tenho para lhe contar não foge muito desse assunto. Você já ouviu o termo Damphyr?"

"Dam... o quê!

"Damphyr," ele disse novamente. "Designa um ser que é híbrido de humano e vampiro."

"Então isso já aconteceu antes? E aqui estava eu pensando que o meu bebê era especial, mas se até existe um nome para o que ela vai ser..."

"E é. Híbridos de humanos e vampiros são muito raros. Na verdade, mais que isso, não existe nenhum caso documentado."

"Mas você tem um nome para eles... Por quê?"

"Buffy, você ainda se lembra de nosso encontro com a primeira Caça-Vampiros, certo?"

"Como poderia esquecer? Ela quase matou a gente..."

"Muito bem," ele disse e retirou os óculos e começou a limpá-los diligentemente. Buffy sabia que ele estava para narrar alguma coisa realmente velha e chata, mas não o interrompeu. Ele retomou a palavra: "Pois, a primeira Caça-Vampiros era uma Damphyr. A primeira e única que se tem notícia, na verdade. Se você estiver disposto a acreditar na lenda, está claro."

"Verdade? Você não está querendo me dizer com isso que meu bebê será como aquela coisa, não é?", Buffy perguntou, quase em pânico.

"Bem o oposto, na verdade. Os xamãs não foram os responsáveis pela criação da primeira Caça-Vampiros, como eu lhe contei. O que aconteceu, há incontáveis gerações, é que existia um casal. Conta-se que eles se amavam muito, mas, um dia o marido morreu e ressurgiu como vampiro. O amor que ele tinha por sua mulher, no entanto, não desapareceu, como era de se esperar."

"Ele reteve sua alma, então?"

"Não, ele não reteve. Você não precisa de uma alma para amar, como também não precisa de uma para odiar. Emoções não são atreladas à posse de uma alma. Eu acredito que você aprendeu essa lição com Spike, não foi?" ele perguntou. Ela assentiu tristemente e ele continuou: "Pois bem. O amor da esposa por ele também não morreu e ela o aceitou de volta. O povoado onde moravam, logicamente, não aceitou o atípico casal e então eles foram expulsos. A sociedade local de demônios também não os aceitou e, por isso, eles se tornaram parias entre os humanos e entre os vampiros mas, mesmo isso, também não os separou."

"Espere. Isso não vai terminar com um e eles derrotaram todas as adversidades e viveram felizes para sempre, certo?"

"Não, infelizmente, eu temo que não..." ele disse tristemente.

"Achei mesmo que não. Então, continue." Ela balançou a cabeça.

"Pois bem. Depois de algum tempo, ela ficou grávida e teve a criança, uma menina. Os anos se passaram e, por fim, o povoado mandou uma expedição. Eles sucederam em matar o par, mas a menina conseguiu fugir para a savana. Ela era muito forte, pois herdara a força bruta do pai, mas sem suas fraquezas e, por isso, conseguiu se manter. Quando se transformou numa moça, começou a dizimar a população local de demônios e vampiros. Era muito talentosa nisso. Porém, não lhe fazia muita diferença matar humanos também, especialmente os que se metiam em seu caminho e, por isso, os xamãs resolveram fazer uma aliança com ela. Ela aceitou, embora não confiasse neles. A necessidade de se associar aos de sua própria espécie é realmente um impulso muito forte nos humanos, Buffy, e ela sentia-se como humana. Por fim, quando ela finalmente foi derrotada e morta, eles conseguiram reter e transferir os poderes dela para outra jovem. Essa foi a segunda Caça-Vampiros," Giles terminou e recolocou os óculos. "Com o tempo, os xamãs se ramificaram numa sociedade secreta e, por fim, se transformaram no Conselho dos Sentinelas."

Buffy ouviu a história fascinada. "Isso foi.. wow..."

"Bem, existe só mais uma coisa."

"Chuta!"

"Como? Oh, sim... Bem, existe uma profecia..."

"Não, não, não! Por favor, sem profecia, Giles. Sem profecias do tipo que contam como Buffy vai morrer, está bem? Porque nós já passamos por isso e não foi nada divertido."

"Essa profecia não é sobre como você morre, Buffy. É como uma criança nascida de um vampiro e uma Caçadora sucede finalmente em fechar a Boca do Inferno para sempre."

"Verdade?"

"Sim. Ela diz e eu cito aqui que 'A consagrada aos deuses irá tomar o vampiro com alma como seu protetor. Sua descendência luminosa irá fechar a passagem para o mundo das trevas.'"

"Espere um momento. Vampiro com uma alma. Poderia ser o Angel! E você nunca me contou!"

"Poderia ser ele, de fato," ele disse, pesaroso. "Mas você sempre foi a minha prioridade, Buffy. Eu não queria que você sofresse por algo assim. Profecias podem ser enganosas..."

"Como você pôde fazer isso comigo, Giles? Como o Conselho pôde fazer isso! Eles sabiam da profecia e, mesmo assim, não quiseram ajudar quando a Faith o envenenou. Que direito eles tinham de fazer isso?"

"Eles nunca souberam que Angel tinha uma alma, até recentemente."

"Mas Wesley... Wesley sabia…"

"Sabia, mas eu o coagi a não contar a eles. Ele apenas divulgou essa informação a Quentin Travers e o resto dos Sentinelas quando vocês dois já estavam separados. Assim, quando pedimos a ajuda deles, nunca dissemos nada sobre sua alma, apenas que vocês dois se amavam. Não é realmente incomum, Buffy, que Caça-Vampiros tomem vampiros como amantes. Já aconteceu no passado e, mesmo não aprovando, o Conselho sempre esteve informado a respeito da ligação de vocês dois, mas encaravam isso como surgida de alguma impureza na origem dos seus poderes... aqueles bastardos esnobes... É por isso que eles não quiseram ajudar na cura de Angel."

"Giles, por quê, por quê? Ele poderia ter morrido. Como você pôde fazer isso comigo?"

"Eu sinto muito, Buffy. Mas, na época, eu pensei que, no afã de fazer a profecia se realizar, o Conselho iria forçar uma cópula entre vocês dois. A alma de Angel, como você bem sabe, tem uma maldição e ele a teria perdido novamente. Desta vez, eles o eliminariam, é claro, e eu estava temeroso de não conseguir impedir isso. Eu não queria que você sofresse. Hoje, é claro, eu estaria mais inclinado a pensar que eles o eliminariam apenas para impedir a profecia. Você entende que eu não lhe queria nenhum mal?"

"Entendo, Giles. Mas, por quê? Eles não iriam querer que a Boca do Inferno fosse fechada e os demônios parassem de vir para a Terra? Essa não seria uma coisa boa?"

"Buffy, uma instituição antiga como o dos Sentinelas iria perder todo o seu poder se não tivesse mais Caça-Vampiros para treinar. É nisso que eles baseiam toda sua existência: no controle da Caça-Vampiros. Por isso todas as tradições, apenas para se manterem no controle."

"Estou vendo."

"É claro que, em toda sua estupidez e orgulho, Quentin não viu o que lhes aconteceria, pensou que estava seguro. Agora, tudo o que foi construído, está perdido. Todos os arquivos, tudo... É mesmo muito triste."

"É, é sim," ela concordou, embora uma parte de si não estivesse exatamente triste com a morte do presidente do Conselho dos Sentinelas. Ela, desde a primeira vez que o encontrara, em seu aniversário de dezoito anos e o vampiro que ele trouxera para seu Cruciamentum, teste que todas as Caça-Vampiros são obrigadas a enfrentar, quase haviam sucedido em matar a ela e sua mãe. Não, realmente ela não possuía nenhum motivo para gostar do falecido diretor geral do Conselho dos Sentinelas.

"Buffy, ainda tenho mais uma coisa para lhe perguntar."

"Manda. Depois de tudo isso, eu acho que não tenho nada a perder, não é?"

"E isso é extremamente intrusivo, me perdoe, mas eu preciso saber. Você ama o Spike? Ou seu coração ainda pertence a Angel?"

"O quê?", ela perguntou espantada. "Por que quer saber?"

"Spike é o pai verdadeiro dessa criança? Ou existe um outro homem?", ele evitou a pergunta dela, com novas perguntas.

"Você acha que eu estaria aqui chorando no escuro se existisse um outro homem? É claro que ele é o pai do meu bebê!"

"Me desculpe, mas eu tinha que saber," ele se desculpou sinceramente. "E você o ama?", era mais uma afirmação do que propriamente uma pergunta.

"Eu... eu não sei. Eu tenho sentimentos por ele, eu..." ela hesitou. "Eu sinto algo por ele, mas eu não sei se é amor, Giles..."

"Bem, para essa criança que você está carregando ser filho de Spike e, portanto,a da profecia, não só o vampiro precisa estar amando a Caçadora. Todos nós sabemos que Spike dedica uma devoção cega a você, mas o oposto também precisa acontecer. Você precisa retornar seu amor."

Buffy arregalou os olhos, ao sentir toda a magnitude daquela nova informação penetrar em seu cérebro.

(continua...)