Capitulo Dois

NO HOSPITAL

Passaram-se duas semanas Abby chega para o plantão noturno.

Jerry – Tem um paciente te esperando.

Abby (estranhando) – Quem!

Jerry – Não quis se identificar. Disse que só falaria com você. Está aqui há horas.

Abby – Onde?

Jerry aponta com a cabeça para a triagem.

Abby encaminha-se para a triagem e vê um rosto ligeiramente familiar.

Abby – Pois não.

Paciente – Você não se lembra...

Abby permanece calada.

Paciente – Estive aqui há alguns dias com dores no peito

Abby – Ah sim... Senhor...

Paciente – Louis.

Abby – Você foi embora.

Paciente – É... Estava confuso. Durante estes dias pensei no que você falou. Gostaria de conversar com você.

Abby – Está sentindo alguma coisa?

Paciente – É complicado...

Paramédicos entram trazendo vítima de queimaduras graves.

Abby – Não posso falar agora. Tenho que atender este caso. Mas gostaria que você esperasse.

Paciente – Eu prometo.

Abby sai em direção aos paramédicos

Uma hora depois. Abby e Neela estão conversando do lado de fora do PS.

Neela – E o Kovac?

Abby (desviando o olhar) – Como assim!

Neela – Você sabe muito bem o que eu quero dizer...

Abby – Decidimos continuar como estamos.

Neela encara Abby. – E como vocês estão?

Abby (desconversando) – Ai, meu Deus! Esqueci um paciente na triagem.

Neela (Irônica) – Você anda com a cabeça nas nuvens! Por que será!

Abby – Engraçadinha... Você deveria ir atender este paciente. Lembra-se, alguns dias atrás, do homem que se queixava de dores no peito e seus exames estavam todos normais!

Neela – Não... Na verdade, não. Mas se você quiser eu atendo.

Abby – Pode deixar... Ele quer falar comigo

Abby sai.

NA TRIAGEM

O paciente continua sentado no mesmo lugar em que Abby o deixou, olhando para o vazio.

Abby – Desculpe a demora.

Paciente – Tudo bem... Podemos conversar! As dores continuam...

Abby – Seus exames estavam normais...

Paciente – Eu sei... Andei pensando no que você disse. (Olha para os lados. reticente)

Abby – Venha comigo

Abby e o paciente encaminham-se para a enfermaria.

O paciente olha pra baixo, evitando encarar Abby.

Abby – Bem, quando as dores começaram!

Paciente – Ninguém pode me ajudar...

Abby – Escute. Eu só vou saber se posso te ajudar quando você falar o que está acontecendo.

O paciente hesita, mas acaba falando.

Paciente – Sou um completo fracasso...

Abby apenas escuta.

Paciente – Tudo na minha vida sempre deu errado. Eu... (gagueja) eu...

Abby – Tenha calma. Estou ouvindo

O paciente torce as mãos, nervoso.

Sr. Louis – Eu mudei para cá há pouco tempo. Logo depois da minha mãe falecer. Não conseguia mais voltar pra casa...

Abby está calada. O paciente continua – Achei que aqui as coisas iam melhorar. Mas não, acho que ficou pior. Quer dizer... Não havia o que ficar pior. Não tinha amigos lá... E aqui também não tenho... Tinha uma droga de emprego, e aqui a situação não melhorou. A única pessoa que me entendia era minha mãe. Mas ela não está mais aqui.

Sr. Louis gagueja muito. Seus olhos estão marejados.

Sr. Louis – Não tenho ninguém.

Abby – Ninguém é completamente só. Você não tem nenhum amigo?

Sr. Louis – Não... Havia uma garota...

Sr.Louis gagueja muito, quase não consegue falar...

Abby – Vocês namoravam?

Sr. Louis – Sim... Eu achava que sim... Quando a pedi em casamento ela riu e disse que nunca se uniria a um perdedor como eu...

Sr. Louis está sentado e balança o tronco para frente continuamente. Sua voz falha, e ele chora convulsivamente.

Sr. Louis – Depois disso, as dores começaram... No início não era nada... Mas foram ficando mais fortes a ponto de pensar que estava morrendo... A ponto de deixar de trabalhar. Quase fui demitido... Já pensei em me matar...

Abby – Talvez suas dores tenham fundo emocional. Você gostaria de conversar com um terapeuta?

Sr. Louis – Não sou louco...

Abby – Eu sei... Não estou dizendo isso. Você passou por muita coisa. Às vezes conversar ajuda...

Sr. Louis – Já estou conversando com você...

Abby – Só que eu não sou a pessoa mais indicada. Quem sabe se você conversar com um profissional ajude

O paciente apenas encara Abby

Abby – Escute... Você perdeu duas pessoas que amava num curto espaço de tempo. Sente-se abandonado... Solitário. Eu sei que é difícil. Mas você precisa tocar sua vida pra frente. Fazer amigos... Encontrar alguém que goste de você...

O paciente está calado

Abby – Talvez a terapia ajude. Não estou dizendo que vai resolver todos os seus problemas... Quanto a sua mãe, infelizmente nada que eu disser vai fazer com que ela volte...

Sr. Louis – Eu sei...

Abby – E a garota... Se ela a ponto de falar que você era um fracassado, talvez ela não seja a garota certa...

Sr. Louis – Eu a amava...

Abby – Mas ela não o merecia...

Sr. Louis – É verdade...

Abby – Vou chamar a terapeuta.

Sr. Louis – Não! Por favor... Eu preciso pensar mais um pouco em tudo que você disse. (olha nos olhos de Abby)... Obrigado...

O paciente levanta-se e sai. Abby acompanha-o com o olhar. Pensativa.