NO HOSPITAL
Passaram-se duas semanas Abby chega para o plantão noturno.
Jerry – Tem um paciente te esperando.
Abby (estranhando) – Quem!
Jerry – Não quis se identificar. Disse que só falaria com você. Está aqui há horas.
Abby – Onde?
Jerry aponta com a cabeça para a triagem.
Abby encaminha-se para a triagem e vê um rosto ligeiramente familiar.
Abby – Pois não.
Paciente – Você não se lembra...
Abby permanece calada.
Paciente – Estive aqui há alguns dias com dores no peito
Abby – Ah sim... Senhor...
Paciente – Louis.
Abby – Você foi embora.
Paciente – É... Estava confuso. Durante estes dias pensei no que você falou. Gostaria de conversar com você.
Abby – Está sentindo alguma coisa?
Paciente – É complicado...
Paramédicos entram trazendo vítima de queimaduras graves.
Abby – Não posso falar agora. Tenho que atender este caso. Mas gostaria que você esperasse.
Paciente – Eu prometo.
Abby sai em direção aos paramédicosUma hora depois. Abby e Neela estão conversando do lado de fora do PS.
Neela – E o Kovac?
Abby (desviando o olhar) – Como assim!
Neela – Você sabe muito bem o que eu quero dizer...
Abby – Decidimos continuar como estamos.
Neela encara Abby. – E como vocês estão?
Abby (desconversando) – Ai, meu Deus! Esqueci um paciente na triagem.
Neela (Irônica) – Você anda com a cabeça nas nuvens! Por que será!
Abby – Engraçadinha... Você deveria ir atender este paciente. Lembra-se, alguns dias atrás, do homem que se queixava de dores no peito e seus exames estavam todos normais!
Neela – Não... Na verdade, não. Mas se você quiser eu atendo.
Abby – Pode deixar... Ele quer falar comigo
Abby sai.
NA TRIAGEM
O paciente continua sentado no mesmo lugar em que Abby o deixou, olhando para o vazio.Abby – Desculpe a demora.
Paciente – Tudo bem... Podemos conversar! As dores continuam...
Abby – Seus exames estavam normais...
Paciente – Eu sei... Andei pensando no que você disse. (Olha para os lados. reticente)
Abby – Venha comigo
Abby e o paciente encaminham-se para a enfermaria.
O paciente olha pra baixo, evitando encarar Abby.Abby – Bem, quando as dores começaram!
Paciente – Ninguém pode me ajudar...
Abby – Escute. Eu só vou saber se posso te ajudar quando você falar o que está acontecendo.
O paciente hesita, mas acaba falando.Paciente – Sou um completo fracasso...
Abby apenas escuta.
Paciente – Tudo na minha vida sempre deu errado. Eu... (gagueja) eu...
Abby – Tenha calma. Estou ouvindo
O paciente torce as mãos, nervoso.
Sr. Louis – Eu mudei para cá há pouco tempo. Logo depois da minha mãe falecer. Não conseguia mais voltar pra casa...
Abby está calada. O paciente continua – Achei que aqui as coisas iam melhorar. Mas não, acho que ficou pior. Quer dizer... Não havia o que ficar pior. Não tinha amigos lá... E aqui também não tenho... Tinha uma droga de emprego, e aqui a situação não melhorou. A única pessoa que me entendia era minha mãe. Mas ela não está mais aqui.
Sr. Louis gagueja muito. Seus olhos estão marejados.
Sr. Louis – Não tenho ninguém.
Abby – Ninguém é completamente só. Você não tem nenhum amigo?
Sr. Louis – Não... Havia uma garota...
Sr.Louis gagueja muito, quase não consegue falar...
Abby – Vocês namoravam?
Sr. Louis – Sim... Eu achava que sim... Quando a pedi em casamento ela riu e disse que nunca se uniria a um perdedor como eu...
Sr. Louis está sentado e balança o tronco para frente continuamente. Sua voz falha, e ele chora convulsivamente.
Sr. Louis – Depois disso, as dores começaram... No início não era nada... Mas foram ficando mais fortes a ponto de pensar que estava morrendo... A ponto de deixar de trabalhar. Quase fui demitido... Já pensei em me matar...
Abby – Talvez suas dores tenham fundo emocional. Você gostaria de conversar com um terapeuta?
Sr. Louis – Não sou louco...
Abby – Eu sei... Não estou dizendo isso. Você passou por muita coisa. Às vezes conversar ajuda...
Sr. Louis – Já estou conversando com você...
Abby – Só que eu não sou a pessoa mais indicada. Quem sabe se você conversar com um profissional ajude
O paciente apenas encara AbbyAbby – Escute... Você perdeu duas pessoas que amava num curto espaço de tempo. Sente-se abandonado... Solitário. Eu sei que é difícil. Mas você precisa tocar sua vida pra frente. Fazer amigos... Encontrar alguém que goste de você...
O paciente está caladoAbby – Talvez a terapia ajude. Não estou dizendo que vai resolver todos os seus problemas... Quanto a sua mãe, infelizmente nada que eu disser vai fazer com que ela volte...
Sr. Louis – Eu sei...
Abby – E a garota... Se ela a ponto de falar que você era um fracassado, talvez ela não seja a garota certa...
Sr. Louis – Eu a amava...
Abby – Mas ela não o merecia...
Sr. Louis – É verdade...
Abby – Vou chamar a terapeuta.
Sr. Louis – Não! Por favor... Eu preciso pensar mais um pouco em tudo que você disse. (olha nos olhos de Abby)... Obrigado...
O paciente levanta-se e sai. Abby acompanha-o com o olhar. Pensativa.
