N.A.: Harry Potter e seus personagens pertencem a J.K. Rowling... mas eu acho que vocês já sabiam disso.
Capítulo 2 – Avisos e Promessas
Draco não se enganava, sabia que seus dias estavam contados. Ele odiava isso, mas não podia fazer outra coisa senão esperar pelo seu fim. Se tinha uma coisa que Lúcio lhe ensinou bem (além de maldições e de que como uma tortura dói) era que certas coisas eram inevitáveis, e o seu fim parecia uma dessas coisas. Ele passava a maior parte do dia deitado na cama olhando para a porta, esperando que seu pai viesse e acabasse com ele.
O quarto do jovem herdeiro, ao contrário de que muita gente pensava, era vazio e frio. Havia alguns pôsteres do seu time favorito de quadribol; uma estante cheia de livros sobre artes das trevas (a maioria proibida em qualquer lugar do mundo); uma escrivaninha de madeira maciça de cor escura; um armário grande, da mesma cor que a escrivaninha, com suas roupas; um criado-mudo ao lado de sua cama e nada mais. As paredes foram pintadas com uma tinta mágica: de dia eram brancas, de noite feitiços e maldições dançavam de um lado para outro do quarto como um filme. As grandes janelas quase sempre estavam fechadas. As cortinas eram feitas de um tecido fino de cor azul-escuro. Ele gostava do quarto, apesar de não se sentir seguro ali.
Ele não saiu do quarto desde aquele dia no calabouço, o único contato com o mundo externo que ele tinha era com os elfos domésticos. Draco queria muito falar com sua mãe, sabia pelos criados que ela estava fazendo a mesma coisa que ele, se escondendo em seu quarto, mas tinha o risco de se encontrar com seu pai. Draco não tinha medo de Lúcio há muito tempo, tinha medo por sua mãe. Ele também tinha planos de fugir, esperava até se sentir pronto, forte o suficiente para enfrentar o pai, matá-lo e sumir da vista de todos com ela.
Porém, com ela grávida, a coisa se complicava. Como escaparia e garantiria a segurança dela e do bebê? A melhor opção que aparecia em sua mente era a sua morte. A mãe e o bebê ainda ficariam a mercê de Lúcio, mas pelo menos, estariam vivos.
- As vantagens de ser um Malfoy... – ele murmurou deprimido – merda de vida... – e olhou para a porta mais uma vez, esperando.
- Francamente, Lúcio... – Antonyas estava andando de um lado para no seu quadro com as mãos entrelaçadas nas costas – você perdeu totalmente a noção do perigo. Por Merlin, será que você nunca me dá ouvidos? – O homem olhava para seu filho com reprovação. Fazia três dias que Lúcio havia contado seu plano de se livrar de Draco para os parentes, as reações deles foram muito diferentes do que Lúcio esperava. Eles, simplesmente, não cansavam de apontar as falhas no plano do senhor do Lar de Aquiles.
- Pois para mim, isso não é surpresa, Antonyas. – um outro homem de um quadro ao lado do de Antonyas falou, na moldura estava escrito: Victor Jean-Pierre Malfoy. Seus trajes eram parecidos com os do primo a seu lado – Eu sempre achei esse seu filho uma desgraça para o nome da família. Isso é ultrajante! Já não bastava ele ter se aliado a esse sangue-ruim dos diabos que não tem a capacidade de acabar com um simples garoto? – ele olhava com desprezo para Lúcio e a sua voz deixava claro o desgosto que sentia - Não, claro que não! Ele tem que macular o sangue da família! – os demais parentes, de seus quadros, faziam comentários do mesmo tipo. Lilandra era a única que ficava em silêncio.
Lúcio fumava um charuto despreocupado em sua cadeira, decidiu não dar mais atenção ao que eles diziam. Já havia explicado seu plano, que se danassem. Ele já tinha feito uma nota mental de tirar os quadros deles do escritório e colocá-los numa ala escura da mansão, pouco visitada. Estava obcecado em torturar Draco e deixá-lo miserável. Não encontrava falhas em seu plano, havia estudado os costumes da raça de Sanguis, além de maldições e feitiços que protegeriam sua casa e a si mesmo QUANDO Draco resolvesse se vingar. Sem contar que usaria Narcisa e o bebê como escudo também.
Ele olhou para um grande relógio antigo no canto do escritório e viu que já estava na hora de se preparar para a reunião. Lançou um olhar de desprezo para todos os quadros e caminhou lentamente até a porta. Os quadros ficaram em silêncio, já tinham dado o seu recado, "Depois não diga que nós não o avisamos" era o que estava escrito em seus olhares para ele.
- Lúcio! – a voz de sua tia Lilandra ecoou pela sala. Lúcio se virou para ela, esperando um insulto – Só quero que se lembre de uma coisa: nada é mais perigoso que a fúria de um Malfoy. Acredite em mim quando eu digo que você se arrependerá amargamente do que vai fazer hoje... e do quanto vai desejar ter matado esse garoto quando teve a chance. – dizendo isso ela virou de costas para ele e os outros, em seus quadros, fizeram o mesmo que ela.
Ele deu de ombros e saiu do escritório. Tinha muito que fazer, tinha que preparar o garoto para o seu "renascimento".
Narcissa deixou de se importar em dormir num quarto separado de seu marido assim que soube de suas amantes. Se dormissem no mesmo quarto, teria que deitar na cama onde Lúcio fazia loucuras sexuais com outras mulheres. Ela, às vezes, se perguntava como fora estúpida o suficiente para casar com Lúcio, tudo bem que concordavam no ponto que "sangue-ruins" e trouxas não deviam nunca se misturar com bruxos e bruxas de "sangue-puro", mas daí a torturar e matá-los era demais. Por mais baixos que fossem, ainda eram pessoas.
Ela não podia negar que seu marido era um homem bonito e envolvente. Seus olhos cinzas que pareciam enxergar a alma da pessoa que era vítima deles. O longo cabelo quase branco de tão loiro sempre solto, que mais parecia uma pequena capa quando ele andava, de tão leve e macio que era. O belo rosto quase sempre inexpressivo. Os lábios finos que quase sempre estavam sorrindo de maneira sarcática, as raras vezes em que davam um sorriso completo, era o sinal de alguma coisa maléfica ou depravada estava em sua mente.
Quando estavam em Hogwarts, ela se cansava de escutar histórias sobre ele e sua turma. Eles aprontavam tanto quanto uns certos "marotos" da Grifinória, a qual seu primo Sirius fazia parte, mas as "brincadeiras" deles eram mais sérias e perigosas que as dos grifinórios. Para eles azucrinar alunos esquisitos como Severo Snape (alvo favorito dos Marotos) era nada, o divertido era molestar e torturar trouxas quando aparecia a oportunidade de sair da escola.
Ela deixou-se envolver por ele, como muitas garotas deixaram. Ela cometeu o erro que toda mulher comete, pensando que poderia mudá-lo, esquecendo que homens como Lúcio, não mudam, apenas tornam-se piores com o passar dos anos. Isso ela descobriu depois de poucos anos em sua companhia.
Apesar de nunca ter sido agredida ou torturada por ele, ela sabia que seu marido tornava-se, a cada dia, mais perverso e cruel. Até chegar ao ponto de ter medo de ficar ao lado dele ou de ficar sozinha com ele.
Narcissa ainda teve a tola esperança de que ele estava começando a mudar quando Draco nasceu, ao ver como ele era com o filho, sempre o ajudando e o mimando. Ela não esperava chegar uma manhã no quarto do filho e ver Lúcio demonstrando ao garoto de oito anos como se lança um Cruciatus apropriadamente, a vítima era um elfo-doméstico cujo nome ficaria proibido de se pronunciar alguns anos depois: Dobby.
A cena era, no mínimo, grotesca na sua opinião. Após alguns segundos, Lúcio parou e falou para filho fazer o mesmo, deu sua varinha para ele e esperou.
Ela viu o filho olhar para o pai e dizer que não podia, que Dobby era seu amigo. Seu marido o olhou longamente antes de pegar a varinha da mão do filho com violência e lhe aplicar a mesma maldição. A pobre criança gritou como nunca, ela correu até Lúcio perguntando se ele era louco. Tudo o que seu marido fez foi olhar-lhe friamente e dizer "cale-se ou sobrará para você também". O homem ainda torturou o filho por alguns segundos, até que, finalmente, ele retirou a maldição, a criança ficou no chão respirando com dificuldade e tremendo.
- Isso é para você aprender que não suporto desobediência. Nem de você e nem de ninguém. – ao dizer essa última parte, ele olhou para a mulher, que chorava em silêncio – Nunca me interrompa quando eu estiver disciplinando meu filho, ouviu? – a voz dele era calma. Ele pôs a mão com a varinha no ombro da mulher e a outra segurou o queixo dela gentilmente, fazendo-a o encarar – Você me ouviu? Responda.
- Sim. – ela soluçou – Eu ouvi.
Lúcio lhe deu um sorriso calmo.
- Agora seja uma boa menina e nos deixe a sós. Ainda não terminei com ele. – Lúcio a soltou, mas continuou a encará-la – Vá cuidar de suas flores. Eu a encontrarei assim que terminar aqui. – e voltou-se para o filho, ainda no chão.
- Lúcio, não seja tão duro com ele. – Ela disse quando alcançou a porta, não se virou porque não agüentaria ver seu filho naquele estado de novo.
- Minha querida, – a voz ainda era calma, mas isso não evitou os calafrios no corpo dela – você já esqueceu o que eu lhe disse?
- Não... não esqueci. – e saiu, ao fechar a porta, encostou a cabeça na porta – Nunca esquecerei.
Ela não foi capaz de proteger o filho e tudo que fazia depois de chegada a confirmação de St. Mungus, era se sentir culpada... porque graças a sua gravidez, Draco iria morrer.
Lúcio estava esperando no salão de entrada por Draco, esperava que o filho não lhe fizesse a desfaçatez de atrasá-lo para a reunião. Caso ele não aparecesse quando terminasse seu vinho, iria buscá-lo, lhe aplicando umas boas maldições, "só para não perder o costume e guardar 'doces' lembranças desses momentos". Infelizmente, para ele, Draco apareceu na porta do salão que o separava do resto da casa. O filho, pelo menos uma vez, o obedeceu e vestiu conforme ordenado: vestes e capa negras, assim como ele mesmo estava vestido.
- Aqui estou, Lúcio. – Draco falou friamente, caminhando até o pai – Devo colocar o capuz da capa também? Ou devo deixar assim mesmo?
- Faça como quiser, garoto. – Lúcio respondeu com seu sorrisinho sarcástico, dando o gole final em seu vinho, não tirando seus olhos cinzentos dos de seu filho.
- Eu preciso saber. Não quero que nada atrapalhe o momento "glorioso" desta noite. – Draco devolveu o sorriso sarcástico com outro – Como vai ser? Vai me apunhalar pelas costas, sendo o covarde, filho de uma puta que é? Ou vai ter a coragem de olhar nos meus olhos enquanto crava um punhalzinho de merda na minha barriga?
- Estamos dramáticos hoje, não? – Lúcio brincava com a taça, passando lentamente um dedo na borda, uma leve nota brotava desse gesto – Eu poderia simplesmente lhe lançar uma maldição e acabar com tudo sem dor, se assim preferir.
- Vá à merda, Lúcio! – Draco bateu na taça com força, ela voou até a parede, se espatifando. Lúcio parecia divertir-se com a explosão dele – Como se eu não conhecesse o bastardo sadomasoquista que é! Nem sonhando você desperdiçaria essa chance... de ver e ouvir eu me afogando em meu próprio sangue. – Draco caminhou até a porta de saída, queria terminar logo com aquilo. Quando pôs a mão na maçaneta, ele parou e olhou para o seu odiado pai se levantando para acompanhá-lo – Só me prometa uma coisa. – Lúcio parou e o esperou continuar, com uma expressão vazia no rosto – Me prometa que assim que nascer esse pivete, você vai mandá-la embora.
- E por quê faria isso? – a sobrancelha direita levantada – Eu me cansei de você, não de sua mãe.
- Aceite isso como um último pedido. – Draco abaixou a cabeça e fechou os olhos – Por favor, eu imploro. Deixe minha mãe ir. Dê a ela a chance que nunca tive de ter uma vida feliz.
Lúcio ainda manteve a mesma expressão por alguns momentos, como se avaliasse o que Draco disse. Então, a sobrancelha foi abaixando, os lábios começaram a se esticar e a formar um sorriso. Lúcio desviou o olhar para um relógio antigo parecido com o que havia no seu escritório.
- Olha só que horas são. Precisamos ir ou nos atrasaremos. – Lúcio caminhou até a porta e esperou Draco abrir a porta para ele, sem tirar o sorriso – Vamos?
Draco levantou a sua cabeça, em seu rosto estava a mesma expressão vazia que aprendeu com seu pai, cravou seus olhos cinzentos nos de Lúcio.
- Eu voltarei, Lúcio. – nunca sentiu sua voz tão fria... e tão cheia de ódio – Marque bem minhas palavras: eu voltarei. Não sei como e não importa como, eu voltarei. – Draco abriu a porta com violência – E me vingarei... de tudo o que nos fez. – e saiu em direção à limusine parada na frente da porta. Lúcio o seguiu, não se abalando pelas palavras.
Yhn caminhava tão rápido quanto podia até o quarto da esposa de seu mestre. Os ferimentos que ganhara desde o seu último encontro com Lúcio limitava seus movimentos, seu mestre o proibiu de colocar curativos e de aparatar cada vez que o chamassem (Lúcio deixou claro para todos os outros elfos da casa que quando chamados, apenas Yhn deveria responder). Então, após alguns minutos de uma dolorosa caminhada, ele finalmente chegou até o quarto de Narcisa. Ele bateu fracamente na porta.
- A senhora chamou?
- Entre. – a voz parecia abafada e falha.
Yhn abriu a porta e entrou no quarto, estava muito escuro com as cortinas fechadas.
- O que a senhora Malfoy deseja? – Yhn notou que sua senhora estava deitada na cama, debaixo de muitas cobertas.
- O senhor Malfoy saiu?
- Sim, Yhn viu seu mestre sair todo arrumado, o jovem mestre estava com ele. – Yhn ouviu uma lamúria das cobertas. – A senhora está bem? Não quer que Yhn chame alguém para ajudar a senhora?
- Não. – Narcisa sentou-se na cama, passou as mãos no rosto como se estivesse limpando alguma coisa – Acenda as velas. – Yhn, com um estalar de dedos, acendeu as velas do candelabro. Seus grandes olhos violetas tornaram-se maiores ainda. O sempre tão arrumado quarto da senhora Malfoy estava completamente de pernas pro ar. Pior do que o quarto estava o estado de Narcisa: olheiras profundas, cabelo desarrumado, sem maquiagem alguma... uma sombra daquela que já foi uma das mulheres mais lindas e arrumadas da Inglaterra. – Venha aqui.
- Minha senhora, - Yhn aproximou-se mancando – tem certeza de que...
- Cale-se! – ela gritou. A criaturinha obedeceu, deu a volta na cama e ficou em frente à mulher – Não temos tempo. Escute-me com muita atenção. Quero que prepare para mim dois baús. – Ela levantou-se da cama e caminhou até a janela, abriu as cortinas e olhou para as estrelas – Um, deverá está cheio de comida e mantimentos. O outro deverá estar com roupas minhas e de Draco.
- A senhora e o jovem mestre pretendem viajar?
- Pode-se dizer que sim. Eu espero que sim. – Narcisa deu uma risadinha triste – Mas, – Ela virou-se para o elfo – seu mestre não pode saber.
- Minha senhora! – o elfo guichou. Ele já previa os futuros castigos que receberia se fizesse uma coisa dessas.
- Faça isso! – ela rosnou – Ou farei você desejar que o próprio Lúcio o castigue! – Yhn abaixou a cabeça em compreensão e derrota – Assim que terminar, deixe-as guardadas em um lugar que meu marido não descubra. Faça isso e eu o libertarei. – Yhn levantou a cabeça assustado – Se ele descobrir, farei questão de dizer que temos um criado que além de ser inadequado, é um ladrão. Estamos entendidos?
- Sim, minha senhora. – que escolha ele tinha, afinal? Se a obedecesse, corria o risco de ser morto. Se não, a morte era certa.
- Agora, deixe-me. Preciso pensar. – ela voltou a olhar as estrelas pela janela.
Yhn fez uma reverência rápida e, mancando, saiu do quarto. Ao fechar a porta, ele ficou parado alguns instantes, se perguntando como deveria agir. Ele provinha de uma longa linhagem de servos fiéis e úteis para seus mestres. Yhn era relativamente novo na família Malfoy, os servia apenas a cinqüenta anos... às vezes se pegava lembrando do antigo mestre Antonyas, o velho senhor era rígido com os elfos, porém os castigos eram mais leves naquela época. Seu novo mestre parecia adorar os torturar e vivia inventando novos meios para fazer isso.
Ser libertado era a maior vergonha que um elfo doméstico que se preze poderia sofrer. O que faria? Ninguém o aceitaria. Nunca mais ouviu falar de seu velho amigo Dobby depois de liberto. O que ele estaria fazendo naquele momento? Será que estava bem? Será que estava vivo?
Yhn adorava o "velho Dobby", como ele chamava, apesar de Dobby ser apenas algumas dezenas de anos mais velho que ele (o que para um elfo era quase nada). A decisão pareceu vir quando lembrou do amigo, porque com certeza, era o que ele faria. Então, mancando, ele foi arrumar as coisas como sua senhora o ordenou, rezando para que os seus deuses o ajudassem a reencontrar seu velho amigo... se estivesse vivo, e que o ajudassem a encontrar um novo lar, caso tudo desse certo.
N.A.: não sei se esse capítulo vai agradar as mulheres que lêem essa fic (se houver alguma lendo). Não sou machista nem nada, é que eu quis mostrar uma Narcissa ingênua, frágil e desesperada; e um Lúcio Malfoy terrível e cruel (espero ter alcançado meus objetivos). Como ainda estou sem beta, perdoem se perceberem alguns pontos obscuros e confusos... vou procurar melhorar assim que os capítulos forem saindo... - e o autor murmura para si, esperando que ninguém o escute - e achar algum(a) corajoso(a) para ser o meu beta o mais rápido possível...
N.A.2: a parte em que Lúcio deseja que Draco (um garoto de oito anos) lance uma maldição imperdoável pode parecer meio absurda. Mas, não esqueçamos que estamos falando dos Malfoy (principalmente, de um Lúcio Malfoy), onde os herdeiros devem provar que são tão (ou mais) fortes que seus descendentes. - o autor murmura, mais uma vez esperando que ninguém o escute - Como acontece na vida real também...
