N.A.1: vocês não adoram o FF? Algumas palavras saem do jeito que a gente quer, outras... não vou mais esquentar com isso. Tomarei mais cuidado com palavras com acento perto de aspas... ah, não usem colchetes. Saudades do Três Vassouras...
N.A.2: eu estou utilizando uma página muito legal de mapas, chamada 'multimaps . com'. Visitem e vejam como ela é útil se precisarem de referências geográficas para as fics de vocês.
N.A.3: sou péssimo nesse negócio de data... por isso resolvi adotar o "XX" para evitar confusões na cronologia dos livros. Neste pequeno "diário" a ordem dos anos ser�: XX, XI e assim por diante. Espero não deixar vocês mais confusos do que eu.
N.A.4: neste capítulo, justifico mais uma vez a escolha de "R" na censura da fic... ou seja, carnificina acima do nível que até mesmo eu acho suportável... não posso fazer nada, está tudo escrito no "Manual de Fics de Vampiros" de Krassus InCu
Capítulo Seis – A Jornada Começa... e Problemas São Como Pedras no Caminho.
Data: 09/09/XX
Sempre achei esse negócio de diário uma criancice, uma babaquice sem tamanho... até o instante em que inspecionei com mais cuidado o baú que Yhn arrumou. Ele estava lá... me olhando acusadoramente... o diário dela. Nunca o tinha visto em toda a minha vida... mas soube no exato momento o que era, Pansy tinha um com a mesma capa... sempre a via escrevendo depois de trepar com ela. O de minha mãe tem um feitiço protetor, quem tentasse lê-lo via apenas páginas em branco... o de Pansy não. Deixei de "visit�-la" logo depois que eu soube que ela tinha uma certa atração pelo O'Brien, um babaca nojento do sexto ano. Ainda bem que foram só umas cinco vezes...
Isso não explica o motivo deste que estou escrevendo. O motivo é óbvio: ela. Se minha mãe escrevia um diário, então essa deveria ser sua forma de escapar do inferno em que vivíamos. Eu sou uma das razões pela qual aquele diário não encontrará mais sua dona... nem sei se fico aliviado ou perturbado de não poder ler o que ela escreveu... de vez em quando, o aperto no peito enquanto penso nela.
Minha mãe morreu a oito dias atrás... para me salvar do cativeiro. Tentei de tudo para impedi-la: exibindo meu lado vampiro e uma crueldade sem tamanho... cheguei até a imitar aquele filho de uma puta... tudo falhou, ela conseguiu enxergar através do meu plano. Eu a vi morrer... ali, diante de mim. Sei que sou quase imortal e que viverei por muito tempo, talvez centenas de anos... milhares... mas demorará muito tempo para superar isso. Sinceramente, acho que não conseguirei isso. Somente quando os olhos de Lúcio Aquiles Malfoy estiverem secos na palma de minha mão, esse sentimento de culpa diminuirá seu peso em meu coração.
Yhn arrumou esse caderno que estou fazendo de diário, uma homenagem para minha mãe e um jeito de registrar a jornada escura pela qual passarei... talvez no futuro, sirva para me recordar o que aconteceu... não sei o quanto viverei, posso me esquecer de algumas coisas. De qualquer maneira, Yhn gostou do fato... que elfo estranho eu fui arrumar. As coisas que achei no baú, com certeza, foi muito mais que minha mãe pediu para ele guardar. Muitos livros de Lúcio estavam lá e também vários artefatos das trevas. Sem querer, ele contribuiu para que o ódio que Lúcio sentirá ao chegar em casa seja muito maior. HA! E o idiota queria ser liberto. Não duraria três dias vagando por aí, procurando um novo mestre. Se bem que ele não deve gostar muito de um mestre que gosta de colecionar olhos... problema dele.
Quando saímos da propriedade, eu o coloquei em minhas costas e corri com todas as minhas forças através de Londres e em poucos segundos estávamos correndo pelos campos, seguindo o curso do Tâmisa. O elfo gritou tanto para que eu diminuísse a velocidade e de que ele estava escorregando, que ao chegarmos em Oxford (nossa primeira parada) me pediu de joelhos para que dissesse o nosso destino final.
- É melhor assim, mestre. – disse ele – Yhn se transporta para lá e espera pela chegada do mestre.
- Como eu posso lhe dizer isso, elfo? Se nem mesmo sei qual o nosso destino final. – eu disse enquanto procurava um bom lugar para nos escondermos, estávamos passando em frente do museu Ashmolean na rua Beaumont. – Estou mais preocupado em achar um lugar para ficarmos durante o dia. Falta apenas duas horas para o Sol aparecer.
Eu já estive em Oxford e sabia onde ficava o Canto Sereno, o "Beco Diagonal" daqui, porém achei melhor não despertar suspeitas ao entrar ali. Uma casa que ficava na esquina da Beaumont e Worcester parecia tão desabitada quanto a rua onde estávamos, me chamou a atenção. Colei meu ouvido na porta e suspirei com intensidade para me certificar de seu abandono. Assim que o fato foi confirmado, forcei a porta e entramos. Camadas de poeira subiram quando o vento nos acompanhou para dentro da casa. Os móveis estavam cobertos por panos brancos e a tinta branca, cheia de manchas pastéis, nas paredes certificavam que ninguém ia ali com freqüência. Era o local perfeito para dois fugitivos.
- Ficaremos aqui essa noite, elfo. – tirei o pano que cobria um grande sof�, na sala de estar – Pegue alguns panos pela casa e cubra as janelas sem cortinas. – e deixei meu corpo cair no sofá.
- E Yhn deve fechar as cortinas das janelas com cortinas?
- Se não quiser um monte de cinzas como mestre, deve.
O elfo sumiu na casa para cumprir minhas ordens. Os eventos daquela noite voltaram em minha mente, foi muito difícil controlar o impulso de destruir aquela sala onde eu estava... mas meu corpo voltou a brilhar, iluminando parcialmente a sala. Precisei rasgar meu braço direito para que minha razão não me abandonasse... não posso mais me dar ao luxo de atos insanos. Necessito me tornar tão cruel e gelado quanto meus inimigos, cada passo deverá ser meticulosamente calculado e apagado. Nada me deter�, pois não tenho mais nada a perder... nada mais a perder é o que povoa minha mente.
A primeira coisa que deveria fazer era arrumar uma varinha, de preferência uma não-rastreável. São caras e apenas criminosos tão perigosos quanto os Comensais as usam. Apenas uma pessoa poderia me ajudar nisso, sem chamar a atenção do submundo e do Ministério: Laus Ning Po, conhecido pela alcunha de "Arlequim". Eu o conheci quando visitei Oxford na companhia de Lúcio, três anos atrás, numa reunião de "negócios"... isso se essa palavra também descrever contrabando de artefatos das trevas e de substâncias proibidas pelas leis mágicas de qualquer país. Quando vi aquele oriental franzino, de vestes de cor forte (vermelho-sangue contrastando com um laranja berrante da capa), pareceu-me impossível pensar que era o bruxo mais procurado na Ásia e na maior parte da mundo. Mas, ele era. E foi com muito contragosto que fizera "negócios" com o maldito Lúcio, cobrando muito mais caro dele. Um inimigo de Lúcio será meu mais profundo amigo, até o fim de minha existência.
Eu mandei o elfo ao encontro de um de seus agentes em Oxford assim que amanheceu, ele tem um em cada lugar onde negocia. Torci que ainda estivesse no mesmo local do Canto Sereno de três anos atrás. Para que ninguém o visse, cavei um grande buraco no porão até alcançar os esgotos da cidade... o elfo ainda teve a indecência de me dizer que poderia se perder lá embaixo e que era melhor esperar até a noite. Entreguei-lhe o mapa que desenhei com violência e disse:
- Vá logo, seu imprestável! O tempo está contra nós e eu não quero ficar em Oxford mais do que o necessário. São dez quadras na direção oeste, é uma casa como esta e com uma placa grande dizendo "Pub 'Canto Sereno'". Se estiver lotado quando chegar l�, se vira! Fique invisível, aparate... o que for! Quero uma resposta até o meio-dia, fui claro?
Ele sumiu na escuridão do esgoto tremendo. Aproveitei e dei uma olhada melhor nos livros que ele colocou no baú. Naquele momento, achei melhor trat�-lo diferente do que estava tratando, pois achei um grosso livro todo manuscrito de Lúcio sobre vampiros. Eu pude conhecer melhor sobre a história e sobre a personalidade do filho da puta que me transformou nisso que sou hoje: o nosferatu, o Lorde do Sangue, Viktor Engel Von Metzger. O castelo dele, Dunkelheit, pertenceu ao famoso Conde Drácula. Ele era muito poderoso, segundo Lúcio, talvez tão poderoso quanto Drácula fora... isso significa mais um problema a ser contornado: como vencer uma criatura assim? Sem contar que seu clã tinha quatro mil integrantes; sendo dois deles os mais poderosos, uma vampira chamada Isabeau Narsdreff (sua segunda em comando) e uma criatura lobo chamada Jun, enorme e tão perigosa quanto seu Lorde, já que ele foi criado com o sangue de Viktor. Apesar dessas novidades não serem boas para mim, o livro me ajudou bastante. Descobri que posso realizar feitiços sem o uso de varinhas (ainda sim precisava de uma, para usar num disfarce) e um poder secreto... isso foi muito interessante. Precisava descobrir qual era esse "presente das trevas" que eu possuo.
O meio-dia deveria estar se aproximando quando o elfo aparatou em minha frente. Eu estava terminando o livro quando ele me disse que tinha encontrado com o tal agente e que me encontraria no nosso "esconderijo" à meia-noite daquele mesmo dia.
- Você fez tudo conforme lhe indiquei, elfo? – perguntei-lhe sem tirar os olhos do livro.
- Sim, mestre. Yhn teve que ficar invisível para entrar na casa onde mestre disse ter a passagem para a rua dos bruxos. Aí, Yhn entrou. Aí, Yhn esperou o local que mestre descreveu para Yhn ficar livre e Yhn abordou o homem de olhos puxados. Aí, Yhn disse para ele que uma pessoa gostaria de conversar com ele e que só a visita do homem renderia para o homem dois mil galeões e que se resolvesse o problema do mestre, ele ganharia mais dois mil de "bônuses" e mais ainda se não falasse nada ao seu superior.
- Muito bem, Yhn. – fechei o livro, marcando a página onde parei minha leitura, e o olhei de uma forma gentil – Agora pode descansar. Você comprou as coisas que lhe pedi?
- Sim, mestre. – ele sorriu de orelha a orelha, percebendo que eu estava de bom humor por sua causa – Yhn comprou os doces de vampiro que mestre pediu e o pão mágico.
- O pão é para você. – quase ri da cara de espanto que ele me fez – Não me olhe assim, você não está com fome? – ele confirmou constrangido – Pois coma, é uma ordem.
Yhn sentou no chão e começou a devorar o pão. Se eu não pegasse os pirulitos de sangue, acho que os comeria também. Não sentia sede alguma, os pirulitos eram para evitar que eu caçasse e chamasse a atenção de possíveis caçadores da área... se houvesse algum. A última coisa que eu queria era os ter atrás de mim. Quem dera que meu poder fosse enxergar o futuro, teria me poupado ter de encontr�-los um dia depois.
O agente de Laus deve ter chegado na hora, não pude saber porque não havia relógios na casa e o meu havia sido destruído, junto com várias coisas minhas, conforme Yhn me disse o que aconteceu na mansão depois do meu "falecimento". Ele veio acompanhado de mais seis guarda-costas e todos nós estávamos usando vestes e capas negras com capuz. O agente tirou do bolso um grande rubi (talvez duas vezes maior que uma goles) e o colocou na mesa. O rubi começou a girar, brilhar e a pulsar como um coração, a imagem do rosto do "Arlequim" apareceu após algumas "pulsações".
- Não achou mesmo – a voz saía perfeitamente da pedra – que oferecendo toda essa quantidade de galeões faria meu empregado ficar calado? Todos eles sabem que é perigoso me enganar.
- Eu queria era falar diretamente com você, por isso montei esse "teatrinho".
- Então, seu plano deu certo. O que quer falar comigo, estranho?
- Quero sua ajuda, Arlequim.
- Assim como muitos, estranho. – ele sorriu – Mas, somente ajudo meus amigos... e eles são poucos.
- Bem, eu o considero um amigo, Arlequim, pois divido com você a mesma opinião sobre uma pessoa.
- Mesmo? E de quem estamos falando? – ele continuava sorrindo, com certeza me achando um tolo.
- Lúcio Aquiles Malfoy. – ele ficou sério na hora que pronunciei o nome – Eu o odeio e acredito que você também o odeie. Quero sua ajuda para mat�-lo e a todos os seus aliados.
O bruxo asiático procurou meus olhos dentro do capuz que eu usava, para saber se tudo era um blefe ou a mais pura verdade. Ficamos calados por um longo tempo, até que o Arlequim falou alguma coisa para seus homens em uma língua estranha... não entendi nada, mas deve ter sido algo como"Puxem suas varinhas e esperem o meu comando."... pois os homens puxaram suas varinhas e apontaram para mim.
- Acho melhor dizer para seus homens recolherem suas varinhas, Arlequim, ou será obrigado a arranjar outros para ficar aqui em Oxford. – falei fazendo uma pose de desdém – Eu não me alimentei hoje, se quer saber. – retirei meu capuz e sorri, exibindo meus caninos de vampiro. Eles me surpreenderam em não recuar e não abaixarem suas varinhas, porém vi em seus olhos e senti o cheiro delicioso do medo que sentiam de mim.
- O filho de Lúcio... – o Arlequim balbuciou espantado – o que significa isso?
- Acabei de lhe mostrar meus motivos, meu caro Arlequim. Lúcio fez isso comigo e eu gostaria de lhe retribuir o favor. – fiquei sério e falei com minha voz gelada – Agora, mande seus homens recuarem.
O Arlequim ficou realmente espantado, não esperava encontrar o filho de Lúcio, transformado em vampiro, o chamando para participar de um plano de vingança. Mesmo pelo rubi, pude ver as engrenagens de sua mente trabalhando para processar tudo aquilo que lhe falei.
- Confesso que – ele falou finalmente – tenho pouco carinho pelo seu pai, garoto. Digo até que adoraria vê-lo morto... mas não vejo vantagens para mim nesse caso. Eu lucro bastante com os negócios que tenho com ele. Se participar desse seu plano, atraio ainda a fúria dos Comensais da Morte e do Lorde deles, que vem ganhando muita força ultimamente. Ouço falar do exército que ele está montando secretamente.
- Pelo que ouvi de meu odiado pai, Arlequim, você está nesse negócio há vários anos. Antes mesmo dele nascer, o submundo mágico asiático já tremia ao ouvir seu nome. Ninguém fica tanto tempo nesse ramo sem ter uma poderosa organização secreta, driblando agentes de vários Ministérios da Magia pelo mundo e eventuais inimigos. Pela sua ajuda, não ofereço apenas galeões, isso é muito pouco... ofereço meus serviços de assassino.
- Hum... – ele passou uma das mãos naquela barbicha ridícula dele – interessante. – ele falou com seus homens em sua língua e eles guardaram as varinhas – Acho que não se importará de conversarmos melhor sobre isso pessoalmente. Certos assuntos não devem ser discutidos na frente de serviçais. Meus homens o acompanharão até mim.
- De fato. Também acho melhor conversarmos pessoalmente, se for agora melhor ainda... pois tempo é um luxo que eu não tenho.
- Estamos combinados. – ele fala mais uma vez com os seus homens e pude ver os olhares de espanto deles e, tremendo levemente, abaixaram suas cabeças. O Arlequim volta sua atenção para mim – Me perdoe por eles, não estão acostumados a escoltar uma criatura tão instável quanto um vampiro. Para a nossa cultura não existe ninguém mais traiçoeiro do que um vampiro.
Tudo que fiz foi sorrir mais uma vez, de maldade. Eu chamei o elfo enquanto o rubi parava de girar e pulsar, voltando para o bolso do agente do Arlequim. Eu e Yhn saímos cobertos por capas de invisibilidade, acompanhados pelos homens até um carro preto, parado na frente da casa. Levou duas horas para sairmos da cidade, o motorista apertou um botão no painel do carro e devemos ter ficado invisíveis, pois o interior do carro mudou de vermelho para um azul escuro. O carro levantou vôo logo depois disso.
O idiota que estava ao meu lado tentou vendar meus olhos, quebrei a mão dele por isso e avisei que sua próxima tentativa garantiria mais dois olhos à minha coleção. Ele tentou discutir dizendo que ninguém poderia saber onde era o esconderijo do Arlequim, ordens expressas dele. De nada adiantou, mantive minha posição. Arlequim era chefe deles, não o meu, nunca mais vou abaixar minha cabeça para ninguém. Se isso atrapalhasse as negociações, que atrapalhasse. Além do mais, não dava para ver nada mesmo, estávamos voando muito alto.
A viagem foi longa, tão longa que pensei que chegaríamos lá ao amanhecer. Isso quase aconteceu, começamos a descer quando o noite estava clareando. Depois de alguns minutos, pousamos em frente a um casebre velho e em ruínas. Nós saímos do carro e caminhamos para o casebre, os homens do Arlequim na frente, eu e Yhn logo atrás. Assim que todos entraram no casebre, um deles pisou num azulejo enegrecido e o chão começou a descer, fazendo o elfo abraçar minha perna com força. O esconderijo era embaixo da terra... muito engenhoso, na minha opinião.
Nós descemos muito, mas rapidamente, o que me agradou. Quando chegamos no esconderijo, a idéia de que estávamos vários metros abaixo da superfície me pareceu absurda. Um recinto luxuoso, mas brega devido às suas cores fortes, nos recebeu. A sala era vermelha e possuía aquelas lanternas orientais de cor laranja (fortíssimas); a mobília era oriental também, de madeira escura e estofado vermelho com detalhes pretos; e ainda havia estátuas de dragões de ouro, enormes, nos cantos da sala. O Arlequim nos esperava sentado atrás de sua enorme mesa de cristal vermelho (rubi, eu acho), o chapéu de um arlequim lapidado no seu centro.
- Bem vindo, Draconius. – ele falou, sem se levantar – Você é um dos poucos ocidentais que chegaram a conhecer meu esconderijo, honra maior não há.
- Acredito que sim. – respondi.
Ele apenas sorriu para mim. Os homens abaixaram suas cabeças e subiram de novo para a superfície, deixando eu e Yhn a sós com o Arlequim. O elfo fez questão de ficar comigo, estava com medo de me perder (me contou mais tarde). O Arlequim conjurou uma cadeira para mim (e uma almofada para o elfo) um pouco distante da mesa.
- Eu estou feliz que tenha me convidado, Arlequim. – disse enquanto me sentava – Espero não estar atrapalhando muito seus negócios.
- De jeito algum, tenho certeza de que não me fará perder tempo, esse luxo que diz não ter.
- E não tenho mesmo. Acho que tenho, no máximo, três semanas antes que Lúcio perceba que fugi e o que fiz na mansão dele.
Eu contei rapidamente a minha história para ele, não consegui contar o que se passou no calabouço... apenas lhe disse que quem me libertou foi minha mãe e só. Eu pude perceber que ele segurou o riso quando contei o estado que deixei o salão de entrada do Lar de Aquiles. procurando salientar o desejo de vingança contra aquele desgraçado no final do meu relato. O bruxo se levantou de sua cadeira e, passando a mão naquela barbicha ridícula (ela chegava até o meio do peito dele, por Merlin!), veio até onde eu estava.
- O que me contou agora, Draconius, é, de longe, a história mais perversa e mais repulsiva que já ouvi. – ele caminhou até o meio da sala – Eu ouvi muitas durante a minha vida, nenhuma delas me comoveu como a sua... e nenhuma tão verdadeira. Este símbolo no meio de minha mesa não é uma mera decoração, é enfeitiçado para emitir um barulho de chocalho quando uma mentira é pronunciada perto dele. Mesmo com tudo isso, a pergunta ainda permanece sem resposta: irei ajud�-lo ou não?
- Eu não quero que me ajude por pena, Arlequim. Ofereci meus serviços de assassino pela ajuda.
- Você é vampiro a o quê? Um mês? Acho que não conhece ainda todos os seus poderes... e o tipo de assassino que eu gosto é aquele que não gosta de deixar rastros. Essa sua fuga foi divertida para mim, não nego, mas uma bagunça total. Nem mesmo feitiços de destrancamento são detectados quando meus assassinos agem, apenas os guisos sobre os corpos deixam claro de quem foi a ordem.
- Pois me teste, então! – levantei com violência, ele pegou a varinha e apontou para mim com uma agilidade que não condizia com sua idade – Você só saberá se sou incapaz ou não, me testando.
Ele ficou na mesma posição por alguns segundos, seus olhos negros apertados faiscando. Eu conseguia ver, mais uma vez, as engrenagens de sua mente trabalhando. Qualquer que fosse a missão, não poderia falhar, o apoio de um homem desses poderia ser mais um degrau em direção ao meu objetivo: me vingar de Lúcio, de Lorde Sanguis e sobreviver para contar a história. O único som da sala era a respiração cadenciada e forte do elfo, que dormira sentado na almofada desde o início de nossa conversa, nem mesmo minha ceninha o acordou. Um elfo com sono pesado... era só o que me faltava. A tensão da sala se desfez quando Yhn soltou um ronco forte, o acordando e o desequilibrando da posição onde estava. O Arlequim e eu sorrimos enquanto o elfo pedia desculpas sem parar para nós dois. O velho guardou a varinha e caminhou até a sua cadeira, pondo uma mão sobre o encosto dela.
- Está bem, garoto. Vamos ver do que você é capaz. – ele estalou os dedos e um dos dragões começou a abrir sua boca até formar uma porta com ela. Uma mulher vestida em trajes chineses vermelhos apareceu na entrada, ela nos cumprimentou discretamente e o Arlequim lhe falou rapidamente em sua língua natal (acho que ele era chinês). A mulher assentiu e sumiu no outro recinto. O Arlequim voltou a falar comigo – O seu alvo, Draco, será um aspirante a líder que cometeu a desfaçatez de invadir meu território no Camboja. Eu o chamei para uma reunião e ele está escondido numa casa em Churchtown, aqui mesmo na Ilha de Man, aguardando minha convocação. – a mulher volta e entrega alguns papéis para ele e volta para o recinto silenciosa, o dragão fecha a boca – Quero o coração dele em minhas mãos em até dois dias e o guiso deve ficar no lugar onde ficava o órgão. Nada de rastros. – ele me entregou os papéis, alguns dados sobre o meu alvo e uma foto dele.
Eu fingia ler para esconder o meu espanto: em poucas horas de viagem, viajamos de Oxford para a Ilha de Man! Melhor do que isso, só se aparatássemos ou uma chave de portal. O retrato do meu alvo mostrava um oriental jovem, vinte anos no máximo; cabelo preto espetado; bigode fino e os olhos eram um pouco mais abertos que o do Arlequim.
- Ele está com alguma proteção? – eu fiz a pergunta clássica de qualquer assassino.
- Segundo meus homens, ele trouxe dez agentes de sua organização, a maioria dorme no mesmo quarto. Ele pode estar preparado para assassinos humanos... mas não creio que um vampiro seja o que espera.
- Há caçadores na área? – uma pergunta clássica de vampiro.
- Não que eu saiba... – o bruxo falou para mim sorrindo... se eu soubesse...
- Mais alguma recomendação? – perguntei enquanto me levantava e guardava a foto no bolso da minha veste.
- Não confie demais em suas habilidades, o inesperado sempre acontece. Meus homens o deixarão em Sky Hill, uma colina próxima de Churchtown, e o aguardarão lá. – ele estalou os dedos de novo, na direção de outro dragão e mais uma porta apareceu. – Quando a noite cair, uma de minhas serviçais virá cham�-lo. Até l�, aguarde aqui.
- E se não estiverem? O que eu faço? – eu caminhava para o recinto seguido por Yhn, era um quarto.
- Eles estarão l�, não se preocupe. – ele disse antes da porta sumir.
O quarto era bastante confortável, seguia a decoração da sala. Eu aproveitei a oportunidade e reli o livro de Lúcio. As informações daquele livro são muito importantes, preciso estud�-lo minuciosamente para arquitetar minha vingança. Eu fiquei sentado numa cadeira no canto da sala, chupando um pirulito de sangue enquanto lia o livro. Yhn deitou na cama (depois de muita insistência minha) depois de curar seus ferimentos com a sua magia. As horas passaram rapidamente para nós, estava terminando de ler pela terceira vez o livro, quando a porta reapareceu. A mesma mulher de manhã entrou.
- Senhor? A noite chegou. – a voz dela era baixa e sussurrante... e tinha uma beleza discreta; olhos muito apertados, mas dava para ver que eram negros; e um longo cabelo negro, preso num complicado penteado.
Eu achei melhor deixar o elfo dormir, ele me atrapalharia, e não queria me preocupar com nada mais do que o sucesso dessa missão. Nós saímos do quarto e a porta sumiu de novo, o Arlequim não estava na sala... o primeiro sinal de que alguma coisa estava errada: o cara não deveria estar ali para me dar mais instruções ou informações novas sobre o alvo? Isso, definitivamente, não cheirava bem.
- Onde está o seu mestre? – perguntei à mulher enquanto subia na plataforma que me levaria à superfície. Ela não me respondeu, segundo sinal de que alguma coisa estava errada. Resolvi engrossar, me transformando enquanto falava com ela de novo – Eu perguntei onde está o seu mestre, humana? – Ela continuou calada e, antes que apertasse num ponto específico da parede, peguei no pulso dela e apertei levemente, pude sentir os ossos estalando, estava quase quebrando-os – Responda!
- Mestre está... – a voz saiu engasgada, ela parecia estar sentido muita dor e não era eu que a estava causando – por favor... não posso contar... por favor...
Eu percebi na hora o que a impedia de falar: um feitiço de lealdade das trevas... o Obligatus, uma variação bem negra do Fidelitas. O feitiço causa uma dor muito grande quando o enfeitiçado apenas pensa em revelar o segredo... e quando o revela, a morte é a sua recompensa pela traição. Segundo os livros que falam sobre as Artes das Trevas, esse feitiço teria sido criado pelo segundo Lorde das Trevas oficialmente registrado: Lord Theritas, também conhecido como "Devorador de Mantícoras", a quinhentos anos atrás. Através desse feitiço, o Arlequim garantia a "lealdade" de sua organização... só poderia ser isso... outro lance inteligente...
Eu a larguei e fiquei calado. A mulher estendeu de novo o braço e vi a marca vermelha que fiz no pulso dela, uma luz quadrada brilhou onde a mão pressionou e a plataforma começou a se mover para cima. A medida que subia, o pensamento de que estava rumando para uma armadilha não saía da minha mente... com certeza eu encontraria mais do que ele me disse... o quê, não sabia, mas o teste do Arlequim estava com muitas pontas soltas, como iria descobrir algumas horas mais tarde. A viagem até a colina foi tão rápida quanto um piscar de olhos. Eu saí do carro e dei um adeusinho alegre para os meus "acompanhantes", antes de correr com grande velocidade até a cidade.
Churchtown é um vilarejo bonito e pacato, como aqueles que se encontra nos livros de contos para crianças. Para que minha presença não chamasse tanta atenção por causa das minhas roupas, resolvi tentar fazer um pouco de mágica sem varinha. Eu precisei de algumas tentativas para conseguir transformar minhas vestes de bruxo em algo trouxa: uma calça preta de seda (bastante desconfortável, não estou acostumado a essas esquisitices), uma blusa branca de botões e um grande casaco preto de bolsos (copiado de um turista, americano provavelmente). Quando terminei, saí do beco onde estava escondido.
O povo do vilarejo me ajudou a chegar no endereço do meu alvo, muito corteses e prestativos. Eu olhei num relógio na vitrine de uma loja em frente à casa do futuro falecido e registrei a hora: oito e meia da noite. As luzes da casa estavam acesas e havia dois orientais na porta da frente, vigiando. Eu entrei na loja e a atendente tomou um susto quando me viu, ela já estava fechando a loja, apenas lhe disse que queria comprar uma carteira de cigarros. Ela era muito parecida com a jovem que matei antes de que minha mãe entrasse no calabouço... o cheiro também era muito parecido... paguei pela carteira e sorri de modo amigável para ela, que sorriu também enquanto me devorava com os olhos verdes. Eu perguntei o porquê da loja estar vazia com uma atendente tão bonita como ela a enfeitando. Ela riu e disse que era assim mesmo, de noite o movimento caía. Eu agradeci e saí da loja, sentindo o olhar dela preso em mim.
A noite estava bonita, não havia lua, apenas estrelas. Eu dei a volta no quarteirão e me escondi na sombra de uma árvore. Esperei que as luzes de todas as casas da rua apagassem suas luzes para sair do meu esconderijo, refiz os meus passos até a casa do meu alvo lentamente. Os guardas ainda estavam l�, mas... estavam transparentes, como se fossem fantasmas e tinham um tecido leve sobre eles. Naquele momento, percebi que estavam usando capas de invisibilidade e eu podia enxerg�-los (gostei disso, o Potter que me espere).
Eu atravessei a rua e caminhei em direção deles, olhando para o chão. Assim que passei entre eles, me transformei, abri meus braços e passei minhas mãos nas gargantas deles, as rasgando com minhas garras em um só movimento. O único som que ouvi foi aquele leve borbulhar nojento e pegajoso deles se afogando no próprio sangue. Agarrei os corpos antes que caíssem no chão e os joguei para longe, os corpos sumiram na escuridão da noite. Para a minha sorte, não havia ninguém nas janelas da frente da casa, uma falha (imperdoável) na segurança. Antes de entrar, conjurei um feitiço de silêncio na casa (estava melhorando, com apenas três tentativas consegui executar o feitiço), para testar dei uma risada um pouco alta e não escutei nada. A matança ia começar.
A minha "temporada" no calabouço, a imagem de minha mãe morrendo diante de mim e a promessa de vingança era tudo o que eu via enquanto avançava silencioso pela sala de estar da casa. Dois homens no topo da escada me viram e tentaram gritar, acho que só foram perceber que não conseguiam emitir um som quando eu já estava sobre eles; um deslizou encostado na parede, com a barriga rasgada; o outro tentava segurar com as mãos o rio de sangue que saía de sua garganta, ele logo rolou pela escada como um saco de batatas. O corredor da casa era muito pequeno, em quatro passadas alcancei o quarto. Respirei fundo e entrei.
Uma palavra resume o que aconteceu lá dentro: chacina. O meu alvo dormia na cama, sossegado; seus guarda-costas sentados em cadeiras em volta dele, despertos e alertas... mas apenas três deles puderam me ver, pois estavam virados para a porta. Tudo aconteceu muito rápido e em poucos segundos, restavam apenas eu e meu alvo, que ainda dormia a sono solto. Os corpos dos guarda-costas, ou o que restava deles, estavam espalhados pelo chão do quarto e havia sangue por toda a parte: o chão estava praticamente vermelho; vários respingos de sangue na parede escorrendo; e não sei como o sujeito não acordou quando um jorro de sangue atingiu grande parte da cama e sua face.
Eu não perdi tempo, pulei sobre a cama e ele acordou. Nossos olhares se cruzaram e, talvez por dois segundos, nos encaramos. Uma leve sensação de dejavú passou por mim quando arranquei o coração dele e o órgão pulsou duas vezes antes de parar. O guiso no lugar, o coração do alvo e os olhos de todos no bolso, deixei a casa para a segunda parte da missão: encontrar meus condutores e entregar a "encomenda" para o Arlequim. Assim que cheguei na rua e durante o percurso até o ponto de encontro, o pensamento de que a missão estava fácil demais zumbia na minha mente.
Os meus temores confirmaram quando cheguei em Sky Hill e eles não estavam lá... mas havia alguém, eu sentia no ar. Um barulho chamou minha atenção para a esquerda, dois vultos correndo: um pequeno e de corpo esguio, avançava com dois punhais cujas lâminas brilhavam estranhamente naquela noite sem lua; o outro, mais alto e com certeza um homem, vinha com uma longa espada curva que também brilhava. Eu adivinhei na hora o que eram, caçadores de vampiro. O que eu pensava? Acho que "fodeu de vez" nunca significou tanto uma situação como aquela.
O homem me alcançou primeiro e era rápido. Eu tentei escapar com um salto para trás, mas ele conseguiu ainda me ferir, a lâmina fez um rasgo grande (porém, não profundo) na pele de meu peito. Com certeza, aquelas eram armas encantadas, específicas para caçar vampiros. Eu rosnei ao passar minha mão esquerda no ferimento e procurei seus olhos na máscara que ele usava... péssimo erro. Pois não prestei atenção ao outro vulto, que deu a volta e me atacou por trás, fincando seus punhais nas minhas costas.
Eu pensava que naquele momento era o meu fim, porque meu corpo tombou devido ao ataque pelas costas e gemia pela dor. Esperava a qualquer momento o golpe final, quando os ouvi conversando.
- Eu sei que sou nova nisso, mas... – a voz do vulto atrás de mim era de uma garota. Ela pulou sobre o meu corpo, deixando os dois punhais nas minhas costas, e indo para o lado do homem – ele não devia morrer devido aos meus golpes com as Damascus?
- Estou tão espantado quanto você. – o homem falou – É melhor se afastar, Ângela. Eu acabarei com ele. – ouvi ele se aproximando de mim.
- Nada disso, Dagnir! – a garota gritou – É o meu teste de inicialização! Eu que devo mat�-lo! Esperei dez anos por essa oportunidade e...
Os dois começaram a discutir, foi a vez deles de cometerem um péssimo erro. Eu consegui me levantar silenciosamente, ficando de joelhos, os punhais ardiam como um Crucio em minhas costas, mas eu conseguia movimentar meus braços. Agora conseguia vê-los claramente, os dois estavam usando vestimentas justas e coladas em seus corpos e rostos. O homem, Dagnir, era um pouco mais alto do que eu e a garota era da altura de meus ombros. Quando finalmente consegui ficar de pé, os idiotas voltaram a sua atenção para mim.
- Minha vez. – eu disse sorrindo.
O meu corpo voltou a brilhar intensamente e um fato curioso aconteceu: os punhais foram expulsos do meu corpo, caindo bem atrás de mim. Os caçadores deram um passo para trás, minha resistência para as armas deles os assustou bastante.
- O que é você? – Dagnir perguntou, se colocando em frente da garota, e apontando a espada para mim – Nunca um vampiro resistiu às Atrumas Evertas antes...
- O que eu sou? – me abaixei e peguei os punhais, o que causou murmúrios de espanto nos dois. Os punhais eram lindos, tinha escrito em suas lâminas a seguinte frase em latim: Lumen Omnia Vincit. Eles brilharam por alguns instantes em minhas mãos e, então, enegreceram. As inscrições mudaram diante de meus olhos e emitiam um leve brilho verde: Venator Atrum, que sempre voltam a brilhar quando os toco.
A partir daquele instante, senti que era eu o caçador e eles, a caça. Os dois se entreolharam e começaram a recuar a medida que eu avançava com minhas novas armas em punho. O cheiro doce do medo deles começou a invadir minhas narinas, enchendo minha boca de saliva.
- FUJA, ÂNGELA! – Dagnir brandiu sua espada, na clara tentativa de dar tempo à garota.
Os punhais pareceram tomar vida própria nessa hora, pois o que estava em minha mão esquerda defendeu o golpe, faíscas brancas e verdes saíram quando as lâminas se tocaram... e o que estava em minha mão direita encontrou seu caminho para o centro do rosto de Dagnir. Pode parecer loucura, mas podia jurar que o punhal riu quando o sangue do caçador jorrou, melando seu punho e minha mão. Quando o corpo tombou, a lâmina cortou o que restava da cabeça de Dagnir, como uma faca quente cortando manteiga, já que ela estava cravada na posição vertical.
Ângela levou as mãos ao rosto e caiu ajoelhada, soluçando. Eu fiquei ali, parado como uma estátua, ainda absorvendo o que aconteceu. O que me despertou de meu estupor foi o grito que ela deu ao tentar pegar a espada do irmão. Uma vez mais os punhais ganharam vida e foi a vez do esquerdo beber sangue, uma mão de mulher que havia agarrado a espada estava no chão. Os gritos que ela dava ecoavam por toda a colina e, mais uma vez, me pareceu que os punhais riam. Ela arrancou a máscara e envolveu o toco ensangüentado. O rosto por trás da máscara era lindo... muito parecido com o de minha mãe, seu cabelo, também loiro, estava preso. A garota pegou uma varinha escondida em sua cintura e, antes de aparatar, olhou para o corpo do irmão e depois para mim, com uma expressão de pura dor e ódio... e então sumiu, me deixando sozinho na escuridão da noite.
Eu não sei por quanto tempo fiquei parado, em pé, naquela noite. Então, ouvi o som de palmas atrás de mim e me virei imediatamente, já pronto para lutar novamente. Meu corpo brilhou com mais intensidade devido a raiva que senti ao constatar quem era o responsável pelas palmas: Laus Ning Po, o Arlequim.
- Meus parabéns, Draconius... meus mais sinceros parabéns. – o oriental vinha seguido de perto de seus serviçais, todos com varinhas em punho – O assassinato não correu como eu esperava, mas isso – ele apontou para o corpo de Dagnir e para a mão de Ângela no chão – é fantástico. Uma obra-prima. – ele parou diante de mim e seus serviçais nos cercaram – Ter o primeiro confronto com caçadores e sobreviver não é uma coisa que todos os vampiros conseguem... ainda mais se tratando da família Hawthorne.
Eu ouvia a tudo calado, estava mais preocupado com a chance dos punhais agirem e beberem mais sangue naquela noite... eu ainda queria a ajuda daquele velho, por isso os coloquei em meus bolsos... eles ainda riam. O Arlequim puxou sua varinha e pôs fogo no corpo do caçador e na mão de Ângela. A espada ainda brilhava no gramado da colina e, antes que o Arlequim decidisse ficar com ela, a peguei. Ocorreu a mesma transformação sofrida pelos punhais ao meu toque, a lâmina escureceu... e uma voz gutural e metálica surgiu em minha mente dizendo: – Caminhei por muito tempo pela estrada da luz... estou curiosa para ver como é o das trevas.
- Isso também me agradou bastante, Draconius. – o oriental colocou sua mão nodosa em meu ombro, um asco sem tamanho tomou conta de mim... mas me controlei e o olhei sem expressão alguma no rosto – Você deve ser o primeiro vampiro, desde Drácula, a ter a capacidade de resistir e conspurcar as armas sagradas dos caçadores... pode imaginar as possibilidades dessa sua habilidade? – ele largou meu ombro e caminhou ao meu redor – As armas usadas pelos caçadores, principalmente pelos Hawthorne, são consideradas sagradas porque são feitas da mais pura luz, entende? Elas são a luz materializada... temidas por qualquer criatura das trevas que as conhece. – ele pára e olha para cima – Pelos céus, você pode até resistir à luz do Sol! – o Arlequim volta a olhar para mim – Será um ótimo serviçal para mim.
- Como é que é? – eu fiquei furioso e meu corpo brilhou ainda mais (iluminando tudo ao nosso redor), a espada emitiu um brilho vermelho escuro em minha mão – Serviçal? Eu lhe ofereci meus dotes de assassino, não minha servidão. Acha que curvarei minha cabeça para você?
- Pense bem, Draconius. – sua voz saiu fria e ameaçadora – Sua vingança se tornaria tão mais fácil comigo o guiando e aparando suas arestas.
- Pois nem que você entregasse Lúcio e seus comparsas, amarrados como uma trupe de palhaços, numa bandeja de prata. Eu nunca servirei a você e nem a ninguém desse mundo. Se esse for o preço de sua ajuda, Arlequim... quero que, sinceramente, vá tomar no olho do seu cú. – e cuspi no chão para que não houvesse dúvidas de minha escolha.
O Arlequim me olhou longamente, sem expressão no rosto. Eu nem me lembrava que Yhn ainda estava em seu esconderijo, em algum lugar da ilha, esperando a minha volta; e nem de que o primeiro plano concreto de começar minha vingança tinha um recheio de farinha podre. Um instinto de sobrevivência, até então desconhecido, havia tomado conta de mim... desconhecido? Talvez seja o mesmo que havia aparecido diversas vezes naquele calabouço imundo onde vivi como um animal... eu não sei... como eu poderia descrever? Como se pode explicar a sensação de saber a velocidade do crescimento da grama que estava sob meus pés? De ouvir o batimento cardíaco de cada ser vivo naquela colina? Era como... como se eu estivesse assistindo tudo de longe e... eu não sei... o que sei, foi que saí inteiro daquela colina.
Os homens do Arlequim, seguindo um sinal de seu mestre, fecharam o cerco sobre mim. O velho caminhou de costas, sem tirar seus olhos dos meus. O brilho rubro da espada misturava com o do meu corpo. Eles eram vinte, mas na hora foi assim que registrei: quarenta orbes de carne estavam focalizados em Draconius Antonyas Malfoy... quarenta orbes... você precisará comprar uma maleta para carreg�-los... quarenta orbes de carne... será que são todos da mesma cor? Ou havia uns mais escuros, outros mais claros? Qual seria a diferença de tamanho entre eles?
Eu peguei um punhal com a minha mão direita, deixando a lâmina para baixo e ataquei. A colina pareceu atingida por um arco-íris pela mistura de cores dos feitiços. Os serviçais do Arlequim não estavam acostumados a trabalhar em equipe, por mais incrível que possa parecer, quatro caíram por causa de feitiços lançados pelos companheiros deles. Por essa falta de treinamento, o Arlequim viu as várias tonalidades que o sangue de seus homens tinha com as luzes dos feitiços. O primeiro que alcancei teve seus órgãos espalhados na grama pela espada, eu o deixei para trás enquanto ele tentava coloc�-los de volta dentro do corpo com as mãos. O segundo teve a cabeça dividida horizontalmente, logo abaixo do nariz, pelo punhal... o sangue esguichou como uma fonte por alguns segundos, antes do corpo cair molemente no chão. O terceiro e o quarto, passei por eles como uma brisa... fazendo-os ficar parecidos com aquele fantasma inútil da Grifinória. Um deles tentou me deter se transformando num leão enorme, ele rugiu e saltou em minha direção de boca aberta e garras à frente. Eu esperei o idiota ficar bem perto... perto o bastante para a minha espada. Eu dei um impulso e passei por baixo do animal, o dividindo ao meio enquanto ele continuava o seu salto; quando a divisão terminou, duas metades de um corpo humano atingiram o chão.
Enquanto os outros faziam um circulo em volta do Arlequim, um idiota tentou me parar com um Patrono. Eu apenas ri enquanto passava pelo vulto branco em forma de gorila... será que ninguém tinha avisado a ele que eu era um vampiro e não um dementador? E foi rindo que o matei com uma simples estocada rápida de minha espada na sua garganta, ele soltou a varinha e tentou impedir o sangue que saía da jugular e da nuca. Eu fiquei olhando enquanto o serviçal se ajoelhava e tentava em vão falar alguma coisa... depois de alguns segundos, sua testa veio de encontro com a ponta dos meus sapatos. Faltavam só vinte orbes vivas, apenas elas me separavam do meu alvo: os olhos do Arlequim.
O velho assistia a tudo impassível, como se aquilo fosse mais um teste para mim.
- Espero que esses – eu falei enquanto pisava nas costas do cadáver e passava por cima dele – não sejam a sua melhor guarda, Arlequim... ou ficarei ainda mais ofendido... e certo de que fiz uma péssima escolha ao procur�-lo.
- Infelizmente... – ele falou após olhar para seus serviçais com nojo – eu pensava que eles eram os melhores guerreiros que me serviam. Mas os superestimei... devo estar ficando velho. – ele afasta os homens e caminha em minha direção, com uma expressão de cansaço no rosto – Sim... devo estar ficando velho, Draconius... pois também o avaliei erradamente... não cometerei o mesmo erro de novo. – e dizendo isso, sua pele velha e macilenta começou a mudar... escamas vermelhas começaram a surgir no seu nariz e espalharam pelo resto do corpo.
Eu dei um passo para trás e assisti assombrado a transformação do velho. Ele cresceu, enquanto seus braços e pernas diminuíram. O rosto contorceu-se numa careta e um focinho se formou, o bigode e a barba se acenderam em chamas. O corpo alongou e tomou uma forma cilíndrica, o pescoço também alongou. Ele tombou devido ao peso do corpo, ficando sobre as quatro patas... parecia uma enorme serpente com patas. Tudo isso acontecia em segundos, mas eu via tudo devagar. O Arlequim era um animago... e não qualquer um, ele era um dracomorphos. Pois havia se transformado em um dragão chinês.
Os dracomorphos são tão raros de achar quanto um unicórnio que deixa um homem se aproximar. Não se sabe ao certo quantos existem ou existiram; e nem se são naturais ou precisam de rituais e/ou artefatos para conseguir a transformação. Eles se transformaram quase que numa lenda no mundo mágico, como aqueles animais estranhos que o Quibbler afirma existir a serviço do Ministério da Magia inglês. Eu já fiz uma pesquisa (pessoal, nada a ver com os trabalhos patéticos de Hogwarts) sobre eles. Apesar de haver poucos livros falando sobre dracomorphos (a maioria ficção), chega-se à conclusão de que é preciso um animago muito poderoso para ser um.
O dragão, assim que terminou sua transformação, virou sua cabeça em direção aos homens e os incinerou com apenas uma rajada de seu bafo de fogo. Os gritos de desespero deles durou poucos segundos, antes de sobrar apenas o som dos seus corpos ardendo em brasa. Só sobraram eu e o dragão na colina. Pela segunda vez, desde que me transformei em vampiro, senti o abraço gelado do medo... além da velha sensação de que era a morte, e não um dragão ou Lúcio, que me olhava.
Será que quando Potter enfrentou aquele Rabo-Córneo Húngaro no Torneio Tribruxo também se sentiu assim? Como uma formiga solitária enfrentando uma serpente?
Antes que eu pudesse decidir se fugia ou num modo de derrot�-lo, ele atacou. A colina se iluminou mais uma vez quando uma rajada de fogo veio em minha direção. Eu, dominado mais do que nunca pelo instinto de sobrevivência, pulei para minha direita e atirei o punhal contra o monstro. Meus ouvidos doeram pelo berro do monstro quando minha arma atingiu-lhe a região do ombro esquerdo... nada mal para quem nem sequer mirou. O sangue da criatura pingou fumegante no chão. As chamas direcionadas a mim, incendiaram a grama e alguns corpos que estavam na sua trajetória.
A espada foi para a minha mão direita para que a esquerda pudesse pegar o punhal que estava no bolso. "Ele pode ser um dragão... mas sangra... e tudo o que sangra, pode ser morto", foi o que comecei a martelar na minha mente. Até mesmo quando escrevo agora, ainda me parece absurdo que tenha conseguido mat�-lo. Para ser sincero... eu não ganhei aquela disputa, foi ele que perdeu.
Eu esperei ele desistir de tentar tirar o punhal do ombro com seus bracinhos e com as mandíbulas. Apesar de ser um objeto pequeno, deveria estar infligindo uma dor enorme nele. Pois quando seus olhos amarelos cravaram sobre mim, pareciam estar em chamas pelo ódio que sentia... e atacou novamente, desta vez avançando sobre mim... querendo me devorar.
- CONJUNCTIVITUS! – eu gritei o feitiço, torcendo que funcionasse de primeira. Meu braço esquerdo estendido, armado com o punhal, tremia.
O feitiço atingiu seu alvo. Ele parou o ataque e pareceu uma grande serpente contorcendo-se de dor pelo ataque mal-sucedido. Ao que parecia, o dracomorphos (ao se transformar) também adquire a fraqueza clássica de qualquer dragão, seus olhos. De que adianta todo aquele poder sem enxergar?
A criatura debatia-se em agonia, urrando loucamente. Eu precisava agir rapidamente, o feitiço não duraria por muito tempo... então peguei um dos corpos, um dos que tinham morrido pelos feitiços dos companheiros e joguei bem perto do dragão. A criatura parou e avançou em cima do corpo, justamente o que eu queria. Antes que ele alcançasse o corpo, corri em sua direção e joguei o punhal bem no centro de sua face horrenda, o atingindo bem entre os olhos. Quando a bocarra abriu para dar mais um berro (ou para lançar mais uma rajada de fogo), usei a espada para rasgar o lado esquerdo dela... até onde estava o punhal fincado em seu ombro.
Eu sempre pensei que o sangue de um dragão, apesar de seu corpo frio (normal para um réptil), fosse quente, muito quente... para usar uma descrição melhor, escaldante, capaz de ferver ou queimar tudo o que toca. Ledo engano, pois quando aquela enchente vermelha me atingiu, pensei que fosse congelar ali mesmo... a fumaça que saía do líquido não era de vapor quente, mas aquela névoa de gelo ou de alguma coisa congelada. A criatura tremeu e quase me esmagou quando, finalmente, tombou morta.
Um sorvete de sangue que tinha acabado de ser servido, era o que eu era. Uma névoa branca descia das minhas roupas encharcadas pelo líquido escarlate, que pingava na grama da colina. Quando o corpo da criatura voltou à sua forma original, a de um velho oriental, foi que eu me dei conta de que tinha vencido... e do quanto estava cansado, caindo de costas na grama. Enquanto recuperava minhas forças, olhava para as estrelas e voltava a me preocupar com outras coisas, além de continuar existindo, como: o que vou fazer? Como vou achar Yhn?
- MESTRE? MESTRE? MEEEEEEEESTRE? – uma voz esganiçada surgiu de repente na colina, na hora nem acreditei.
- Yhn? – eu me levantei rapidamente... e lá vinha o elfo, correndo e chorando, em minha direção – Eu estou aqui, elfo maluco!
- MESTRE! – o elfo pulou e agarrou com força o meu pescoço – Yhn teve tanto medo de perder mestre e... por quê o mestre está tão gelado?
- Sangue de dragão, elfo. – ele soltou o meu pescoço e pareceu perceber, finalmente, que eu estava ensopado de sangue – É gelado, sabia?
- Mas... mestre tentou se alimentar de um dragão? Por quê não procurou um humano como o senhor, mestre?
- Eu não sou mais humano, elfo. Lembre-se disso. – o deixei para trás para pegar os olhos dos corpos e as armas – Além do mais, não tentei beber o sangue de um dragão, eu fui atacado por um.
Eu contei rapidamente o que aconteceu para Yhn, seus enormes olhos cresciam à medida que descrevia de que maneira decorreu o "teste" que o Arlequim arranjou para mim. Fiquei um pouco decepcionado com a coleta, a maioria dos corpos tinha sido queimada e apenas seis pares de olhos estavam bons o bastante para se juntar à minha coleção... pelo menos, os do Arlequim estavam entre esses de bom estado. Ainda consegui encontrar uma das varinhas não-rastreáveis em perfeito estado, mais um ponto para mim.
- Ainda bem que apareceu, elfo. Eu estava começando a me preocupar em como iria encontrar o esconderijo do Arlequim. – eu falei enquanto guardava os olhos no bolso, junto com os outros.
- Ah, mestre... – Yhn pareceu bem feliz pelo que eu disse – quando Yhn acordou e não viu o mestre... Yhn se desesperou. Yhn tentava, tentava, tentava, tentava... mas não conseguia sair daquele lugar. Quando, de repente! – ele bateu as mãos e começou a pular ao meu redor – Yhn conseguiu! Ele "papatou" para junto do mestre.
- É "aparatou", elfo. Mas... agora que você falou... aquele lugar devia ser protegido contra aparatação, mesmo de criaturas mágicas... quando o Arlequim morreu, a proteção deve ter ido para o inferno junto com ele.
- O que faremos agora, mestre?
- Primeiramente, sair daqui. O Ministério da Magia pode não ter detectado nenhum feitiço nessa colina, porque foram feitos por essas varinhas. Mas não sei quanto ao dragão... pode ser que o Departamento de Criaturas Mágicas possa ter rastreado sua aparição ou não, é melhor não arriscarmos. Agarre-se em mim.
- Não! – O elfo gritou amedrontado, logo ficando desconcertado quando viu minha sobrancelha direita levantada – Er... não precisa, mestre. Yhn viu um daqueles carros voadores quando "papatou" aqui.
- Mas, do mesmo modo que o esconderijo perdeu sua proteção quando o Arlequim morreu, – eu falei sorrindo para ele – esse carro pode ter perdido a magia também.
- Vamos ver, mestre... por favor... – era cômica a cara de medo dele – pode ser sido outra pessoa que "magicou" o carro...
- É "encantou" ou "pôs o feitiço" e... ah, que idéia a minha querer lhe corrigir... vamos ver logo isso. Porém, aviso logo: se não funcionar, eu correrei mais rápido que da última vez, pelo tempo que está me fazendo perder, Yhn.
Eu me segurava bastante para não rir, enquanto ele me levava onde o carro estava. Yhn parecia rezar naquela língua estranha dos elfos domésticos, obviamente torcendo que sua teoria estivesse certa. Para falar a verdade, eu também torcia, estava ainda cansado demais para correr e gastar mais energia... precisava me alimentar o quanto antes.
Era o mesmo carro que havia nos levado ao esconderijo do Arlequim. Entramos no carro e perdemos mais tempo ainda tentando descobrir como ligava aquela coisa. Eu nem tinha prestado atenção como ligava aquilo... só sabia do botão que fazia o carro ficar invisível. Finalmente, girei uma chave e o carro vibrou e fez aquele barulho medonho que essas coisas inventadas pelos trouxas geralmente produzem. Eu apertei o botão para ficar invisível... e o interior do carro mudou do vermelho para azul. O elfo dava pulos de alegria enquanto eu apenas sorria, ponto para ele.
O tempo que perdi tentando descobrir como funcionava aquela coisa foi grande, acho que umas duas horas para aprender a sair do lugar e conseguir andar sem problemas. Havia três pedais: um para fazer o carro andar (para frente ou para trás, dependia de uma manivela estranha ao meu lado); um para fazê-lo parar (bruscamente, para o nosso desgosto); e outro que eu ainda não havia tentado... até me sentir bastante seguro na direção. Quando o apertei, alçamos vôo, este graduava a altura. Um mapa verde, todo transparente apareceu diante daquela coisa redonda que controlava a direção (que fui descobrir, dias mais tarde, que os trouxas chamam de volante), um pontozinho preto, que devia ser a gente, e a ilha de Mans. Um sinal de "mais" e de "menos" no canto superior direito do mapa.
Eu olhei para Yhn e perguntei se ele estava vendo o mapa. Ele disse que não. Então, o mapa só aparecia para quem estava na direção. Experimentei colocar o dedo no "mais", o mapa aproximou e outros pontos com nomes como: CHURCHTOWN, GLEN AULDYN, SULBY e mais apareceram. Mal podia acreditar nisso... tentei o "menos" e o mapa foi afastando até aparecer todo o Reino Unido e um pedaço do continente europeu. Era a hora de escolher um lugar para ir... mas para onde? Onde eu colocava meu dedo o mapa do país aparecia e suas respectivas cidades.
O mundo sempre parece pequeno quando se olha um mapa... as distâncias, que são milhas e quilômetros, tornam-se polegadas e centímetros. Escolhi a cidade portuária Whitehaven, na Inglaterra, como nossa próxima parada, e ao ficar com o dedo parado em cima do ponto onde a cidade estava, uma seta apareceu no vidro dianteiro grande do carro (pára-brisa, como os trouxas o chamam), apontando levemente para a esquerda. Tentei virar um pouco a direção e a seta foi se ajustando até ficar completamente reta... se eu chegar a conhecer a pessoa que enfeitiçou esse carro, juro que beijo a boca dela e a deixo viver.
Eu apertei fundo o acelerador (juro que às vezes tento entender os trouxas e nomes estranhos que eles dão às coisas) e a velocidade aumentou grandiosamente, mas não sentíamos o carro se mover. Os pontos luminosos do céu e os pontos luminosos das cidades... era como se estivéssemos cercados de estrelas, embaixo e acima do carro... e tenho que dizer, era lindo. Rapidamente, já estávamos chegando a grande ilha da Bretanha. Não pude evitar um suspiro de pesar... afinal, não era ainda a minha intenção de voltar à Inglaterra... o velho inimigo dos vampiros me obrigava a escolher um local perto, não tardava a amanhecer e eu precisava de um abrigo, qualquer um longe de Man... vai demorar muito para eu voltar àquela ilha.
Eu passei a cidade e pousei num ponto distante da estrada, dando meia-volta para a cidade assim que o carro voltou a ficar visível. Yhn ficou invisível assim que entramos em Whitehaven. Mesmo pela hora avançada, havia muitas pessoas nas ruas. Atravessei a parte moderna da cidade e rumei para a parte antiga, perto do porto. Para não despistar suspeitas, eu fazia o que os trouxas de carros também faziam: parar quando uma luz vermelha acendia num aparato estranho; e avançar quando a luz verde aparecia. Quando entrei na rua Strand, alguns pubs ainda estavam abertos e jovens conversavam alegremente na frente. Apesar da sede que sentia, seria muito arriscado atrair alguém... muitas testemunhas.
Eu desisti de ficar naquela parte da cidade e avancei até Bransty Row, onde me pareceu mais deserto e melhor para me alimentar. Parei em frente de uma pensão, de estilo colonial de 3 andares, que estava com as luzes ligadas e bastante afastada das casas vizinhas. Quando me certifiquei que não havia ninguém na rua, disse para Yhn esperar um sinal meu para entrar, desci do carro e avancei até a casa. Encostei o ouvido na porta e suspirei, procurando sentir o cheiro de sangue dentro da casa. Havia cinco pessoas na casa, pelo que eu pude sentir... e com um sorriso, conjurei mais uma vez o feitiço do silêncio e entrei.
Um casal de velhos foi primeiro. O ancião dormia a sono solto no sof�, quando eu cravei meus dentes no seu pescoço. Bem na hora que ele morria, uma velha saía da cozinha, com certeza estranhando a ausência de sons na casa. Ela abriu a boca e um berro teria saído de sua boca se pudesse... a coitada ainda tentou alcançar a porta, mas com um salto a alcancei. Ela morreu com os braços esticados, ainda tentando alcançar a porta. Eu larguei o seu corpo no chão e fui procurar o resto dos ocupantes da casa. Subi as escadas e no alto dela, apareceu uma garota esfregando os olhos... devia ter uns treze ou catorze anos, no máximo. Avancei rapidamente e, antes que ela pudesse pensar se estava mesmo acordada ou não, cravei meus dentes na sua jugular, quase arrancando seus longos cabelos castanhos quando os puxei para esticar seu lindo pescoço. Assim que terminei com ela, deixei seu corpo rolar pela escada.
O quarto em frente da escada que dava para o terceiro andar era estava os dois que faltavam. Quando abri a porta bem devagar, senti um cheiro acre e meio azedo de dentro do quarto. Entrei e vi que era um casal, ainda dormindo, bem jovem. As roupas, que deveriam ser deles, estavam por toda parte... pelo jeito, tiveram uma deliciosa sessão de sexo antes de dormirem. Antes de mat�-los, pensei um pouco e desci para a cozinha da casa. Eu não sei por quanto tempo ficarei aqui, então achei melhor armazenar o sangue deles em grandes jarras que achei dentro daquela coisa que os trouxas chamam de "geladeira", bem parecida com o armário gelado que o professor Snape usa para não deixar o sangue de animais, necessários para algumas poções, não coagularem. Eu joguei fora o conteúdo das jarras no chão da cozinha mesmo e juntei quatro jarras de dois litros, sendo que o corpo humano tem (em média) 4,5 litros de sangue... poderia sobrar um pouco mas não seria perdido.
Assim que essa parte foi feita, fui até a janela do quarto do casal e dei o sinal para Yhn entrar. Ele me ajudou a levar os corpos para o terceiro andar, onde eu os diminui (depois de arrancar os olhos deles, claro) e os queimei numa pequena lata de lixo. Desde então estamos aqui, Yhn colocou um aviso na porta avisando que os proprietários tiveram que viajar e que só voltariam depois de alguns meses. Dentro da casa, achamos muitos livros falando sobre Whitehaven e sobre o Distrito dos Lagos.
Whitehaven foi uma das primeiras cidades planejadas da Grã Bretanha, a parte mais antiga da cidade parece uma grade de ferro, como muitas cidades planejadas que foram feitas na época em que as Treze Colônias americanas pertenciam à coroa inglesa. As ricas reservas de carvão de Whitehaven foram extraídas e transportadas a Irlanda. Este comércio de carvão contribuiu por sua vez para desenvolver a montagem de embarcações e, por sua vez, criar uma participação direta no comércio com essas colônias (que futuramente iriam se transformar nos Estados Unidos da América), tinha tantas linhas de viagem náutica com a América como com todo o resto da Inglaterra. Como toda cidade portuária importante, um forte foi construído perto dela para defendê-la de piratas... se bem que a maioria dos piratas em atividade na época, trabalhavam secretamente para o governo inglês. Hoje em dia, as minas e todo o resto (indústrias e algumas casas restauradas) são atrações turísticas.
Ainda não sei o que faremos daqui por diante, o mais importante é sairmos da Grã Bretanha... talvez usando o carro, escondido junto com os baús (todos diminuídos) no meu bolso... ou usar um dos barcos atracados no porto. Só espero que eu tome a decisão certa dessa vez, porque essa primeira semana de liberdade foi por demais agitada para o meu gosto. Esses quatro dias enclausurado nessa casa estão servindo para reorganizar meus pensamentos e tentar arquitetar um plano que não me leve a enfrentar um outro dragão.
Atualmente, minha coleção está em vinte e três pares de olhos... os mais especiais são: os do Arlequim e os do elfo doméstico.
N.A. 5: ufa! Demorou mas saiu... eu quase usei Lactopurga para esse capítulo. Pode parecer loucura, mas cheguei a colocar uma bolsa com gelo na cabeça, de tão quente que ela ficou enquanto escrevia. Tomara que vocês tenham gostado, foi à custa de muita dor de cabeça (e sangue) que o sexto capítulo veio à tona. Escrever em forma de diário é mais difícil do que eu pensava...
N.A.6: como expliquei no review, o Draco colocará no seu diário apenas o mais importante e relevante em sua jornada nesse período. Por isso algumas coisas acontecem rápido demais (na minha opinião)... é assim mesmo. Nunca li um diário, por isso não sei como é.
N.A.7: chegou a hora da tradução de alguns termos que usei:
- Obligatus: quer dizer obrigação (dã);
- Atrumas Evertas: uma expressão que criei com as palavras atrum (escuro) e everto (destruir);
- Lumen Omnia Vincit: "luz acima de tudo" ou "luz conquista tudo"... prefiro a primeira definição, nem sei se está escrita do jeito correto...
- Venator Atrum: simplesmente "caçador escuro"... mas, prefiro dizer "caçador sombrio"... se alguém souber a tradução certa, por favor me fale.
N.A.8: tudo bem... essa idéia de alguém se transformar em dragão não é nova. Podem jogar as pedras. Mas gostei de criar minha versão do sangue dos dragões... e pelo menos, não foi o Draco que se transformou... esse negócio dele se transformar só por causa do nome mata todas as fics que utilizam isso.
N.A.9: para onde vamos daqui? Não sei... e nem quando vamos...
N.A.10: gostaria de agradecer aos reviews. Novos leitores apareceram! Espero que continuem gostando do rumo que a fic está tomando... teremos um longo e tortuoso caminho pela frente. Ando pensando em criar uma hp para colocar umas figuras (tenho quase 500mb de figuras de dragões, vampiros e outros) e minhas fics... qualquer coisa, deixo pistas em como ach�-la.
Sem mais nada a dizer,
Um beijos para minhas leitoras e um aperto de mão para os leitores (se houver algum).
Luiz Campos.
