N.A.1: Os personagens da série Harry Potter pertencem a J.K. Rowling. Apenas a trama e demais personagens originais me pertencem.

N.A.2: Eu li o último capítulo e percebi que houve alguns erros, principalmente, quanto à nome de personagens. – o autor dá um tapa na testa – Isso que dá não esperar a beta verificar o capítulo antes de postá-lo. Mas é que fiquei imaginando que um ano é tempo demais para ficar sem postar. E quanto aos leitores? A maioria deve ter achado que eu desisti de escrever.

N.A.3: Atualmente ando à caça de DVDs de filmes antigos, filmes como: "FOOTLOOSE"; "O CLUBE DOS CINCO"; "CURTINDO A VIDA ADOIDADO"; "RUAS DE FOGO"; "O SEGREDO DO MEU SUCESSO"; e mais outros dos anos oitenta que marcaram a minha juventude, aliás, nossa juventude (para quem nasceu na década de 80, como eu). Eu acho demais sentar e assistir tais filmes e me lembrar o que fazia na época, os meus sonhos e com quem andava. Aconselho a vocês locarem (ou até mesmo comprarem, se gostam mesmo do filme) e a fazer o mesmo que eu. Além do profundo sentimento de nostalgia, vocês sentirão vontade de dar ótimas risadas (daquelas que nós damos quando achamos antigas fotos 3x4).


Capítulo Oito - Arnaud L'Angley Grosvenor

A cabine do trem amarelo que vai de Londres até Hogsmead estava silenciosa como um túmulo, apesar de ter três ocupantes. O menor, um elfo doméstico, estava ressonando tranqüilamente num dos assentos. Os outros ocupantes estavam absortos em suas leituras, a jovem lendo um livro de feitiços e o jovem lendo um jornal. Se ela não estivesse prestando tanta atenção em sua leitura, teria percebido que o seu acompanhante estava olhando fixamente para a mesma notícia a duas horas.

"O bruxo multimilionário Lúcio Aquiles Malfoy anunciou hoje de que irá se casar. Apesar de ser o aniversário de três anos de morte de seu filho, Draconius Antonyas Malfoy, e de sua esposa, Narcissa Annabel Black Malfoy, o bem-sucedido bruxo disse que deseja transformar a tristeza desta data em esperança de que dias melhores o esperam nessa nova tentativa de ser feliz. Ainda hoje, ninguém sabe a estranha doença mágica que consumiu as vidas (e os corpos) da falecida família Malfoy. A noiva felizarda será ninguém menos que Isadora Marie Parkinson, também viúva. O casal de noivos ainda não anunciou a data de casamento, mas isso não evitou o começo de envio de presentes e congratulações de toda a alta sociedade mágica."

A expressão em seu rosto era gelada e desprovida de emoções. Era um jovem bonito, com longos cabelos negros soltos caindo sobre seus ombros largos. Ele trajava vestes de cor azul-escuro com detalhes em cinza nas mangas, no colarinho e na barra da veste. Em suas mãos, grossas luvas negras de couro de dragão.. O rosto não era anguloso e nem marcante, mas possuía aquele tipo de beleza inocente de quem teima em não ter um rosto adulto, tal aparência era reforçada por lábios carnudos bem vermelhos. Mas o que chamava mais a atenção no jovem eram os seus olhos, escuros e penetrantes, como duas pérolas negras. A jovem possuía feições semelhantes, enquanto que seus cabelos estavam numa grossa trança que ia até o seu colo, ela ainda trajava vestes de cor azul ciano com detalhes dourados nas mangas, no colarinho e na barra da veste. Os dois ainda possuíam a mesma altura: um metro e setenta e dois centímetros.

O silêncio da cabine foi interrompido por um dos funcionários do trem avisando que logo chegariam à estação. O casal se olhou calmamente e o jovem agradeceu o aviso, fazendo o funcionário deixá-los a sós para se arrumar. A jovem sacudiu o elfo para acordá-lo, o que levou algum tempo já que a criaturinha adquirira o hábito de dormir pesadamente.

- UUUUUAAAAAAHHHH... – o elfo esticou o braço esquerdo, enquanto que o outro esfregava um dos enormes olhos – já chegamos, senhorita?

- Não, elfo. O seu ronco estava incomodando todo o trem e nos mandaram acordá-lo. – disse o jovem em pé enquanto pegava as malas nas baias superiores da cabine.

- É claro que não, Fir, – a jovem deu leves tapas na cabecinha do elfo, que estava prestes a chorar por ser um incômodo para seus mestres – já chegamos, sim. Não ligue para meu irmão, sabe que ele adora atormentá-lo.

O elfo olhou para seu mestre e viu que ele estava escondendo o costumeiro sorriso sarcástico, a criatura abaixou a cabeça e sorriu também.

- Qual é mesmo o nome do homem que irá nos encontrar na estação, Arnaud? – a jovem perguntou enquanto guardava seu livro e pegava uma encharpe dourada de dentro do seu malão.

- Hagrid, ele não é um homem, é um meio-gigante. Será ele que nos levará até Hogwarts. – Arnaud olhou para a jovem de soslaio – Você leu o livro que lhe dei, Eglantine?

- Claro que sim. – Eglantine sorriu – Mas você sabe que adoro ver esse seu olhar de preocupação caso eu cometa alguma gafe.

- Só não quero chamar mais atenção que o necessário. Nossa entrada no sétimo ano de Hogwarts já será o assunto dos alunos pelos próximos meses.

- Isso se os papéis e o nosso contato não forem desmascarados pelo Diretor. – Eglantine voltou a sentar em sua poltrona, depois de deixar seu malão pronto para o desembarque – Se ele for metade do que nossas fontes relatam, acredito que estamos indo direto para uma armadilha.

- Eu não vou dizer que seja impossível que ele descubra nossa artimanha, mas não esqueçamos que ele tem coisas mais importantes para se preocupar do que nós dois. Afinal de contas, segundo os relatórios recentes dos agentes, a guerra está prestes a ser desencadeada...

- Mais um motivo para ele estar alerta. – Eglantine interrompeu – Dumbledore pode suspeitar de que somos espiões de Voldermort.

- Se isso ocorrer, recorreremos ao plano B. – foi a vez de Arnaud voltar a sentar.

- Plano B? – a sobrancelha direita de Eglantine levantou – Nunca conversamos sobre nenhum plano B.

- Simplesmente porque o Plano B não exige sua opinião, apenas a minha. – Arnaud falou friamente.

- Eu posso saber sobre do que se trata esse "plano B", pelo menos?

- Não. – ele falou na mesma frieza.

- Não? – a sobrancelha direita abaixou e ela o encarou – Como assim "não"?

- Eu não sabia que teria que explicar os conceitos de "não" e "sim" para você, Eglantine.

O silêncio que se instalou na cabine era tenso e instável, como o silêncio que acontece quando dois tigres se encaram pelo domínio do território. O pequeno elfo se colocou no meio deles para evitar que os dois brigassem.

- Mestres, por favor não briguem. Fir odeia quando mestres brigam.

- Nós não vamos brigar, Fir. – Eglantine falou friamente sem tirar seus olhos dos de Arnaud – Só quero entender porque não fui avisada de um "plano B" que possa arriscar toda a operação, nossas vidas e de todos que estão nos ajudando.

- O mestre não faria isso, senhora. – O elfo se virou completamente para Arnaud – Não é, mestre?

- É claro que não, Fir. – Arnaud suavizou a expressão em seu rosto quando respondeu ao elfo, mantendo a mesma expressão ao encarar Eglantine novamente – Eu acho mais seguro guardar certos detalhes da operação para a segurança de vocês, principalmente, e de todos os envolvidos. O plano B, resumidamente, evolve apenas a mim.

- Eu já não gostei desse plano, Arnaud. – Eglantine inclinou-se para frente, ainda com os braços cruzados.

- Como eu já disse, minha cara irmã. – Arnaud colocou novamente sua expressão fria no rosto e recostou-se na poltrona – O plano B não exige sua opinião.


Hagrid observou a chegada do trem amarelo com uma certa apreensão, ele tinha sido encarregado de ajudar dois novos alunos a se mudar para um apartamento em Hogsmead, levá-los num tour pela cidade para que saibam onde ficam as lojas para comprar o material escolar e, então, levá-los ao encontro de Dumbledore e McGonagall no Três Vassouras. O meio-gigante já tinha feito e refeito o discurso falando sobre a escola, sobre o grande homem que é o diretor e sobre a ótima escolha que os pais deles tinham feito sobre mandá-los para Hogwarts. O apito final de chegada tirou o guarda-caça do torpor onde estava.

As pessoas começaram a sair, estranhando a presença do enorme homem na estação. Hagrid sorria encabulado para todos, esperando encontrar os supostos alunos e nada. Até que só sobrou o enorme homem e dois jovens que olhavam para ele, ao lado deles os malões com o elfo sentado em um deles. O homem caminhou até eles.

- Olá, são vocês os alunos? – ele perguntou, logo se reprimindo pela pergunta estúpida.

- Monsieur Hagrid? – a jovem estendeu sua mão a ele.

- Ahn... oui... eu ... je suis Hagrid. – O gigante respondeu com dificuldade e apertou levemente a mão da jovem – Puxa, não me disseram que eram franceses... eu mal sei inglês...

- Nós falamos inglês fluentemente, senhor Hagrid. – o jovem falou com sotaque, estendendo também sua mão ao gigante – Não precisa se preocupar. Eu gostaria que nos desculpasse pela demora em encontrá-lo, mas precisávamos ter certeza de que era o senhor. A carta que nos foi enviada não tinha uma foto sua e a descrição que nos deram não nos ajudou muito, dizia "uma pessoa estranha, mas bondosa".

- Se bem que ela se aplica realmente ao senhor. – Eglantine sorriu gentilmente ao meio-gigante, o fazendo corar – Eu já cumprimentei mulheres com mãos mais duras e apertos menos amistosos que o senhor me deu. É muito raro encontrar um gigante tão afável.

- Ora... também não é para tanto, senhorita. – o rosto de Hagrid parecia um enorme tomate naquele momento – Eu apenas tomo muito cuidado com a minha força, sabe?

- Bem, senhor Hagrid, agora que já nos apresentamos, é melhor irmos. Nós temos muita coisa pela frente e ainda encontraremos os diretores para jantar. – Arnaud sorriu levemente para Hagrid e começou a puxar seu malão, onde Fir estava sentado.

A missão de Hagrid foi bem mais fácil que ele pensava. Os dois jovens já tinham comprado uma casa em Hogsmead pelo correio e pareciam conhecer a cidade bem melhor que ele. A explicação foi que Eglantine sugerira ao irmão que quando fosse enviada a escritura da casa para eles, fosse mandado também um mapa da cidade. Tudo que eles tiveram que fazer foi chegar ao endereço, deixar os malões em casa, ordenar a Fir que a arrumasse e o trio rumou para o Três vassouras para o encontro com Alvo Dumbledore e Minerva McGonagall. A conversa fluía amigavelmente entre eles, já que Hagrid encontrou na jovem Eglantine a mesma paixão por animais mágicos "exóticos" (para não dizer perigosos também). O guarda-caça riu bastante quando ela lhe contou da vez que tentou domesticar uma jovem esfinge, fazendo o irmão ter de salvá-la quando ela não conseguiu decifrar um dos enigmas da criatura.

- A nossa sorte – dizia Arnaud entre as risadas do meio-gigante – era que ainda era um filhote. Se fosse um animal adulto, eu seria filho único.

- E a sua sorte, caro irmão, – Eglantine falou meio emburrada – foi que nosso tio estava conosco quando o ataque aconteceu. Eu nunca li que atirar pedras e insultos numa esfinge fossem o suficiente para matá-las.

- O importante foi minha tentativa de protegê-la. – Arnaud sorriu levemente para Eglantine – Eu jurei ao papai e à mamãe que faria isso quando eles partiram.

- Quer dizer que vocês não moram com seus pais? – Hagrid ainda se recuperava da gargalhada.

- Eles morreram quando tínhamos seis anos, desde então moramos com nosso tio Jean-Baptiste, que também foi nosso tutor em magia.

- Puxa... – Hagrid ficou sério rapidamente e passava a enorme mão direita no seu desgrenhado cabelo – eu sinto muito, não sabia que os pais de vocês tinham morrido, me desculpem mesmo.

- Foi há muito tempo, senhor Hagrid, – Eglantine deu um sorriso triste, que para Hagrid era ainda mais bonito que o de felicidade – não se preocupe. Nosso tio cuida muito bem de nós e não nos falta nada.

- Nada além de um diploma de magia, você quer dizer. – Arnaud falou friamente – Eu ainda não sei porque nosso tio não mandou pedidos à Beauxbatons. Seria bem mais perto de casa. – o jovem olhou para Hagrid nos olhos – Nada contra Hogwarts, senhor Hagrid, mas eu preferiria ficar em meu país, não ter de me mudar para outro para estudar, por melhor que a escola seja.

- Não ligue para meu irmão, senhor Hagrid, – Eglantine deu um sorriso sarcástico, interrompendo sem saber o longo discurso que Hagrid faria sobre Hogwarts – ele apenas está expressando sua raiva por ter deixado uma namoradinha na França.

- Quantas vezes terei de lhe dizer que ela não é minha namorada? Madeleine é só uma amiga. – Arnaud fez uma careta para a irmã, que estava com uma expressão descrente em seu rosto.

- Senhor Hagrid, – Eglantine pegou no enorme braço do meio-gigante, fazendo-o dar toda a sua atenção a ela – é comum na Inglaterra amigos dormirem na casa de amigos?

- Sim... eu acho que sim. – Hagrid respondeu hesitante, sem saber onde ela queria chegar.

- É também comum amigos dormirem na mesma cama? Nus?

Os olhos de Hagrid quase pularam das órbitas, seu rosto ficou ainda mais vermelho que um tomate e ele começou a abrir e fechar a boca como um peixe.

- Eglantine! – Arnaud esbravejou.

- Arnaud. – a jovem falou suavemente, com um sorriso vitorioso nos lábios.


Alvo Dumbledore sentiu um calafrio quando Hagrid entrou no Três Vassouras com os candidatos a estudantes. Minerva estava ocupada demais com seu chá para reparar no diretor e olhou casualmente para o trio. Seguindo uma velha intuição que tinha, ela sabia que esses jovens, se aprovados, fariam parte da Sonserina. Ela mesma não conseguia explicar como sabia que casa cada aluno pertenceria, mas pouquíssimas vezes ela errou. Minerva ainda pensou, divertida, que caso o chapéu seletor se aposentasse (e ela ainda estivesse viva), a colocariam no posto de selecionar os alunos. Os jovens caminhavam na frente de Hagrid em direção à mesa deles. Quando eles a alcançaram, o calafrio no corpo do diretor sumiu do mesmo jeito que surgira, do nada. O meio-gigante fez uma reverência exagerada aos diretores de Hogwarts, arrancando um sorriso de Dumbledore e uma careta embaraçada de Minerva.

- Pessoal, estes são o professor Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts, e professora Minerva McGonagall, vice-diretora e responsável pela casa da Grifinória. – Hagrid falava alto, apesar do Três Vassouras estar quase vazio. Isso fazia o sorriso de Dumbledore aumentar e fazia aumentar também o embaraço da velha professora – Senhores, estes são Arnaud e Eglantine "Lagueley" "Grosvenho".

Os jovens sorriram para os professores e sentaram em cadeiras opostas a eles. Hagrid saiu em busca de uma cadeira para se juntar ao grupo.

- Na verdade, nosso sobrenome é L'angley Grosvenor, professores. – Eglantine falou baixo para que Hagrid não ouvisse.

- Nós sabemos, meus caros, não se preocupem. – Dumbledore sorriu amavelmente para a jovem – Hagrid é assim mesmo, um pouco atrapalhado com as palavras.

- Mas uma ótima pessoa, professor. – Arnaud falou sorrindo – Conheço humanos bem menos gentis que esse mestiço. – Dumbledore e McGonagall se entreolharam rapidamente – Ora essa, senhores! É mais do que claro que ele é parte humano e parte gigante. Ele não tem o tamanho de um e tem toda a aparência deles.

- O problema é que aqui eles não devem chamá-lo assim, Arnaud. – Eglantine interveio – Em nosso país, é comum usarmos "mestiços" para denominar as coisas... as pessoas como Hagrid. Não é uma ofensa aqui, espero?

- Não, não é. – Dumbledore levantou sua mão nodosa levemente – Mas é que parece impessoal demais, apenas isso.

- Eu não queria ser rude, me desculpe. – Arnaud olhou para os dois.

- Não há nada do que se desculpar, senhor Grosvenor. – McGonagall sorriu levemente com seus lábios finos – Nós não esperamos que mudem seus hábitos para nos agradar, estamos reunidos aqui para discutir sua admissão em Hogwarts.

- É claro. – Arnaud abriu sua veste, puxou alguns papéis e os colocou na frente dos dois professores, bem na hora em que Hagrid voltava com uma cadeira grande o bastante para ele e três cervejas amanteigadas. – Merci, senhor Hagrid, eu estava com uma sede tremenda.

- Merci. – Eglantine sorriu ao receber a sua.

Hagrid e os jovens bebiam silenciosamente enquanto Dumbledore verificava os papéis que Arnaud lhes entregara. Eram papéis timbrados confirmando nascimento dos irmãos (que segundo eles eram gêmeos, apenas separados por horas); outro sobre a permissão do ministério mágico francês, informando que o tio fosse o tutor deles até a idade em que deveriam procurar uma escola para conseguir o diploma mágico; mais alguns de exames prestados pelo ministério, provando que os dois estavam aptos realmente para cursar o sétimo ano de qualquer escola mágica respeitada e credenciada na O.M.I. (Organização Mágica Internacional); tinha ainda a certidão de óbito dos pais e a permissão oficial do tio, timbrada com o símbolo da família Grosvenor, de que os dois poderão morar e estudar na Inglaterra; o último papel era do próprio ministério mágico inglês, da parte do embaixador inglês na França, aprovando a estadia e estabelecimento de residência no território inglês durante seu aprendizado em Hogwarts.

- Bem, Alvo, tudo me parece em ordem. – McGonagall colocou um dos papéis que estava lendo na mesa para bebericar seu chá – Resta saber se os senhores desejam ser alunos de Hogwarts.

- Minerva está certa. – Dumbledore também colocou o papel que estava lendo na mesa e encarou os dois jovens – A parte legal sobre sua estadia, quem são, permissões e outras minúcias está de acordo com as leis internacionais da magia. Mas nada disso importa se os senhores não querem fazer parte de Hogwarts. – o velho professor retirou seus óculos de meia-lua, começando a limpá-los com um guardanapo que estava sobre a mesa – Afinal de contas, os senhores poderiam ir para Beauxbatons, talvez até quisessem ir para lá e tudo isso que está aqui – Dumbledore fez um leve gesto com as duas mãos, simbolizando todos os documentos sobre a mesa – não passa de um capricho do seu tio. – ele terminou de limpar os óculos e encarou novamente os jovens – Vocês querem realmente fazer parte de Hogwarts?

- Eu vou ser sincero com o senhor, professor. – Arnaud colocou a garrafa da cerveja amanteigada na mesa, cruzou os dedos e olhou friamente tanto para Dumbledore quanto para McGonagall – Eu preferiria ir para Beauxbatons, não por achar que ela seja uma melhor escola, mas porque eu não teria que sair de meu país, com o qual já estou acostumado. A Inglaterra para mim não passa de um território estranho, de certa forma até hostil. – Arnaud se inclinou sobre a mesa e, se apoiando nos cotovelos, escondeu sua boca atrás de seus dedos cruzados – Mas tudo isso deixa de ser importante quando o assunto envolve minha irmã. Eu jurei sobre o túmulo de meus pais protegê-la e acompanhá-la aonde ela for. Não costumo fazer segredo do que sinto, principalmente em relação a ela. – Arnaud abaixa suas mãos na mesa e olha para Eglantine, cujo rosto está numa expressão tão fria quanto a dele – Se for o desejo dela, iremos a Hogwarts. – ele deixa de encará-la e volta seu olhar para os professores – E se esse for o caso, eu prometo dar tudo de mim, tanto para saciar meu próprio desejo de me tornar um bom mágico, quanto para honrar meu juramento.

Todos na mesa ficaram calados alguns segundos. Os professores olhavam para Arnaud estranhamente, como se estivessem acabado de conversar com um dos quadros de nobres cavaleiros que há em Hogwarts. Hagrid abaixou a cabeça e fungou ruidosamente, expressando que estava emocionado com o que Arnaud disse à Eglantine.

- Professores, – Eglantine continuava com a expressão fria no rosto – acho que já perceberam que meu irmão tem uma séria tendência a dramatizar como ninguém. Eu sempre o aconselhei a ser um ator e que somente atuasse em tragédias gregas. – os professores deram leves sorrisos, Hagrid deu mais uma fungada ruidosa e Arnaud olhou um pouco chateado para a irmã – Só espero que Hogwarts esteja pronta para receber um francês com sérias tendências dramáticas e uma francesa ávida por conhecimento e para se tornar uma especialista em animais mágicos exóticos. A minha resposta é sim, eu quero ir para Hogwarts. – Eglantine finalmente olha para o irmão com um sorriso sarcástico no rosto dela – E já que Arnaud deixou a decisão dele para mim, então a resposta é sim de novo. E garanto aos senhores, nós não os decepcionaremos.

- De alguma forma, senhorita Grosvenor, eu tenho plena certeza disso. – Dumbledore sorriu e olhou para McGonagall, que exibia seu sorriso discreto – Só tenho mais uma pergunta para vocês.

- E qual é? – Eglantine olhou rapidamente para o irmão e voltou seu olhar para Dumbledore.

- Aceitam umas gotas de limão? – O velho professor disse ao retirar vários exemplares do doce de dentro de suas vestes – São ótimas logo após cerveja amanteigada.

- Não, obrigado. – os irmãos responderam juntos.

- Será que só eu gosto de gotas de limão? – Dumbledore sussurrou para si enquanto McGonagall começava a explicar os demais detalhes da escola aos jovens.


Uma semana depois...

O dia de embarque na plataforma 9½ sempre foi um dia de festa e bagunça. Os alunos se despedindo dos pais, correndo para encontrar os amigos e boas cabines antes dos demais. Enquanto que para uns era a primeira vez que viam a enorme locomotiva vermelha, para outros era a última vez que a viam. Era o caso de Hemione Ann Granger, Ronald Arthur Weasley e Harry James Potter.

Os jovens heróis já haviam se instalado numa cabine e conversavam sobre seu último ano em Hogwarts. Harry Potter, aos dezessete anos, era a própria imagem do pai, um rosto calmo de feições normais, seus olhos tornaram-se mais verdes, se possível, com o passar dos anos. Ele decidira deixar seu agitado crescer, até os ombros, para que pudesse esconder sua cicatriz com mais facilidade com a enorme franja. Infelizmente, os anos não foram muito bondosos com ele em relação ao seu tamanho, ele cresceu apenas poucos centímetros e ficando com um metro e setenta centímetros. Ele possuía um corpo fino com musculatura pouco desenvolvida, já que sua única função no quadribol era de apanhador. Apesar disso, seus olhos tremendamente verdes (e sua fama) o faziam popular entre a população feminina de Hogwarts. Ronald Weasley provara que realmente estava destinado a ser uma pessoa alta, um metro e noventa e cinco centímetros de altura. Contudo, a sua posição de goleiro no time da Grifinória lhe rendera alguns músculos, lhe fazendo parecer um jovem aprendiz de artes marciais. Ele resolveu copiar o irmão e estava deixando o cabelo crescer, dando a desculpa que assim ficaria melhor esconder suas orelhas quando ficassem vermelhas, quando na verdade o jovem almejava obter certa popularidade entre as garotas. As sardas em seu rosto diminuíram com os anos, mas ainda estava presentes, dando ao rosto magro um aspecto infantil e brincalhão. Hermione Granger surpreendeu seus amigos ao aparecer na estação com os cabelos na altura dos ombros, dizendo que já estava enjoada de como ele estava e que naquele corte era mais fácil arrumá-lo. A jovem também crescera pouco, ficando do mesmo tamanho que Harry. O rosto da jovem amadurecera e já se podia ver que ela seria uma mulher bonita depois de alguns anos... e os amigos puderam ver que seu corpo também apresentava tal destino, adquirindo curvas que fariam a população masculina vê-la como algo mais do que a famosa amiga CDF de Harry Potter.

- Nosso último ano. – Harry suspirou enquanto olhava pela janela da cabine a agitação da estação.

- Graças a Merlin. – Ron respondeu enquanto colocava seu malão numa das baias da cabine – Não vejo a hora de receber meu diploma e nunca mais ter de prestar exames, olhar para a cara dos sonserinos e do seboso. – ele jogou-se na poltrona ao lado de Harry – Só vou sentir falta dos treinos de quadribol e da comida, principalmente da comida.

- Eu só espero que nesse ano, duas certas pessoas resolvam levar a sério os estudos delas. – Hermione falou enquanto lia o novo livro de transfiguração do ano – Porque um outra certa pessoa estará ocupada demais para ajudar essas certas pessoas.

- Isso é uma ameaça, Mione? – Ron perguntou cutucando Harry pelo cotovelo, tentando atrair o amigo para a conversa.

- Não, Ron. – Hermione abaixou o livro e encarou o ruivo – É um aviso. – ela voltou sua atenção ao livro – Adoro vocês, são meus melhores amigos... mas preciso me preocupar com o meu futuro.

- E você não está preocupada com o nosso? – Harry olhou sorridente para a amiga.

- E por quê estaria? – ela falou sem tirar a atenção do livro – Os dois podem virar jogadores profissionais de quadribol e viverem como reis.

- E cercados de mulheres, o que é a melhor parte. – Ron deu uma piscadela para Harry.

- Mulheres como Lilá e Parvati, você quer dizer. – Hermione olhou para os dois com um sorriso sarcástico.

- Eu agradeço a oferta, Mione, mas eu ando pensando em ser auror. – Harry voltou sua atenção à janela.

- Auror? – o ruivo encostou-se na poltrona e esfregava o queixo com o dedo indicador da mão direita – Andar por aí caçando bruxos das trevas, tendo de se meter em lugares escuros e perigosos, tendo de seguir pistas para revelar um esquema em que objetivo seja a dominação do mundo ou a morte de pessoas importantes? – ele cruza os braços e olha para o teto da cabine – Virar auror ia ser apenas a continuação de nossas vidas em Hogwarts.

Os três se olharam por alguns instantes antes de começar a rir.

- É sério, Harry? – Ron perguntou, enxugando uma lágrima do olho esquerdo – Você quer ser auror?

- Sirius gostaria que eu fosse auror. – Harry sorriu triste, se lembrando do padrinho desaparecido – E acho que os meus pais também.

- Bem, experiência sobre enfrentar bruxos das trevas você tem. – Ron sorriu para o amigo – Também tem a facilidade se enfiar no meio de planos de dominação mundial e assassinato...

- E quanto a você, Ron? – Hermione interrompeu o ruivo – Já decidiu o que vai fazer da sua vida? Ou vai seguir o meu "conselho" e se tornar um jogador de quadribol profissional?

- Eu ainda não decidi. – Ron respondeu, dando de ombros – Meu pai gostaria que eu fosse trabalhar com ele no Ministério da Magia, mas eu não sei... ficar enfurnado num escritório, lidar com burocracia e, às vezes, fazer "politicagem" não é bem a minha praia. Talvez eu seja auror também, fazer dupla com o Harry.

- Pois saiba, Ronald Weasley, que para ser auror é preciso ter boas notas e não apenas notas que dêem para passar. – Hermione voltou a enfiar a cara no livro – Eu espero realmente que vocês dois se esforcem esse ano, os exames do sétimo ano são importantíssimos, alguns são até requisitos básicos para profissões no mundo mágico.

- Você ainda não nos disse o que quer fazer, Hermione. – Harry se esticou e tirou o livro das mãos da amiga, sorrindo para a cara enfezada que ela fizera – Ser a primeira ministra da magia do século? Ser uma auror? Ou pretende roubar o emprego da prof. McGonagall?

- Eu quero ser professora. – ela respondeu enquanto tentava pegar o livro de volta – Não pretendo roubar o emprego de ninguém, vou falar com a prof Mcgonagall e ver se consigo me tornar professora adjunta de transfiguração. – Hermione aproveitou a cara de espanto de Harry e pegou seu livro de volta – Aí é só esperar ela se aposentar, ou assumir o posto de Dumbledore quando ele se aposentar e eu serei a nova professora de transfiguração de Hogwarts, quem sabe até diretora da casa da Grifinória. – Hermione apertou o livro fechado no peito e olhou para a janela sonhadora – Quem sabe até posso me tornar diretora de Hogwarts?

Ron e Harry se olharam com espanto e um sorriso maligno se formou no rosto do Ruivo.

- E logo depois de conquistar Hogwarts, Hermione Ann Granger partirá para dominar o mundo. – Ron deu sua versão de risada maligna – Todos deverão se curvar diante da rainha Hermione... e estudar!

A risada do trio pôde ser ouvida por todo o trem.


Ginevra Molly Weasley estava sozinha em uma cabine, como ela gostava. A maioria das meninas do seu ano estava em outras cabines flertando com garotos. Apesar de algumas terem aparecido e a convidado a se juntar a elas, Gina recusara o convite delas, afinal era raro conseguir uma cabine vazia, ainda mais quando faltava poucos minutos para o trem partir.

Os anos foram generosos com a caçula da enorme família Weasley. Além dela alcançar incríveis um metro e sessenta e sete centímetros com dezesseis anos, muito bem distribuídos pelos treinos de batedora reserva do time, o rosto dela dava tudo a crer que nada do rosto redondo de Molly Weasley e a finura do de Arthur iriam se instalar nele. O rosto parecia de uma delicada raposa com grandes olhos, um nariz fino e lábios nem muito grossos e nem muito finos, ou seja, de uma beleza extremamente feminina e cativante onde as sardas eram apenas um atrativo a mais. A transformação que sofrera não ficou despercebida pela sua antiga (e já muito passada) paixão, Harry Potter. Antes mesmo do verão desse ano terminar, ele a tinha convidado para sair umas dez vezes, convites os quais foram aceitos apenas por amizade. A fascinação que Harry tinha por Cho Chang fora responsável pelo esfriamento dos sentimentos de Gina pelo grande herói do mundo mágico, que o via apenas como um querido amigo e nada mais. O corpo dela, apesar de não ser voluptuoso ou ter chance de ter um (como o de Hermione tinha), ganhara curvas e discretos músculos nas pernas e braços. Mas o que mais chamava a atenção era o contraste da pele levemente pálida com os cabelos extremamente ruivos, cortados à altura dos ombros. Sem saber, Gina Weasley estava sendo cotada como a mais bela garota a cruzar os salões da Grifinória, sendo que a beleza dela era natural e não por meio de maquiagens e artífices como eram as belezas de Lilá e Parvati.

A partida do trem soou como um alívio a ela, já que o trem partia quando todos os alunos estavam dentro das cabines (regra assumida depois de um acidente dois anos atrás, envolvendo um lufa-lufa hipocondríaco e seu malão cheio de remédios). Ela cuidadosamente abriu seu caderno de poesias e começou a escrever sob o balanço do trem e de uma leve música que cantava em sua mente. Infelizmente, seu sossego durou apenas alguns minutos, já que seu bichinho de estimação começou a balançar sua gaiola sem parar, na clara tentativa de sair. Ela olhou para a gaiola com um sorriso e puxou-a para si, fazendo o estranho bichinho a olhar com seus olhos puramente negros para os castanhos dela.

- Você conhece as regras, Bender. – ela lhe falou carinhosamente, afagando o focinho dele através das grades – Faça bagunça demais e estará de volta para a gaiola, só saindo de lá quando Hagrid lhe examinar na escola e então lhe trancarei pelo resto do ano. – o bichinho faz um grunhido de raiva brincalhona – Estou falando sério, papai está arriscando o pescoço dele com o Departamento de Controle de Criaturas Mágicas ao deixá-lo vir comigo para Hogwarts. – o bichinho dá mais um grunhido, como que concordando que irá se comportar (relutantemente, se ele pudesse realmente falar).

Ela abre a gaiola e puxa a estranha criaturinha, um baphomet (uma criatura humanóide parecida com um cabrito montês), ainda filhote. A estranha criaturinha dá um salto da mão da jovem e dá algumas voltas pela cabine brandindo uma pequena foice de madeira. Bender era o primeiro baphomet domesticado do mundo mágico. Apesar de possuir apenas quinze centímetros de altura quando filhote, um baphomet cresce facilmente até os três metros de altura (o que leva centenas de anos) e é, em muitos países, o símbolo supremo do mal, devido à sua incrível semelhança com o Diabo de algumas culturas. Na verdade, os baphomet são criaturas bastante agressivas e territoriais, convivendo apenas com os da própria espécie e são naturais de grandes florestas escuras e mágicas nos Estados Unidos e Coréia. Bender apareceu misteriosamente entre os gnomos do quintal dos Weasley e se apegou completamente a Gina, que também se apegou muito a ele. Foi um sacrifício para Arthur conseguir uma permissão de que Bender não fosse extraditado para uma das colônias de baphomet registradas pelo O.M.I. e que permanecesse com eles, pelo menos até ele completar cinqüenta anos (quando ele seria obrigado a ir para as uma das colônias), ainda assim eles tinham de enviar relatórios mensais para o Departamento de Controle de Criaturas Mágicas a respeito do comportamento dele. A jovem se apaixonou completamente pelo pequeno animalzinho de pêlo laranja avermelhado brilhante, que ainda tinha um tipo de juba branca pelo pescocinho.

Assim que se assegurou que "seu" território continha apenas o que ele queria que tivesse, Bender dá uma cambalhota no ar e aterrisa ao lado de Gina, onde começa a passar um pequeno lenço pela "lâmina" de sua foice de madeira, como se a tivesse lustrando e afiando. Gina dá um sorriso a ele e volta sua atenção ao seu caderno de poesias, anotando mentalmente que precisa segurá-lo caso a senhora de doces ou outra pessoa "invada o território" de Bender.


Três horas depois...

Estação de trem de Hogsmead...

- Quer dizer que o expresso vai diretamente para Hogwarts agora? – Eglantine perguntou enquanto retocava sua maquiagem, sentada sobre o seu malão.

- Desde a desativação da prisão de Azkaban. – Arnaud informou enquanto jogava xadrez mágico contra o próprio tabuleiro, também sentado sobre seu malão.

- E eles vão parar aqui só por nossa causa?

- Eu lhe disse que chamaríamos a atenção, cara irmã. – Arnaud derrubou uma das torres adversárias com um de seus bispos – O expresso deve chegar logo, se acalme.

- Eu estou calma. – Eglantine guardou o estojo de maquiagem dentro de um dos bolsos de suas vestes de Hogwarts – Só não estou gostando de ficar sozinha nessa estação, só isso.

- Você não está sozinha. – Arnaud ficou impassível quando um dos peões adversários destruiu o um de seus cavalos – Além do mais, nossos disfarces são eficientes o bastante para evitar nossos inimigos.

- Quanto a alguns, sim, estamos protegidos enquanto não esquecermos nosso treinamento. – Eglantine olhou para o irmão – O problema é que a nossa proteção sobre os outros é temporária.

- Ainda temos uma hora. – Arnaud falou dando de ombros, enquanto movimentava sua rainha para executar um xeque contra o rei adversário – Se o expresso não aparecer dentro de meia hora, tomaremos novamente a poção e pronto. – assim que executou o movimento e o tabuleiro começou a se mexer para proteger o seu rei, Arnaud olhou para a irmã sem dar atenção à jogada de seu adversário – Por falar nisso, como anda a criação da nossa outra proteção?

- Os amuletos farão seu trabalho principal, isso eu posso garantir. – Eglantine abaixou a cabeça, seu rosto numa expressão pensativa – Ainda tenho que realizar testes quanto a uma possível aparição de aura negra.

- Forte?

- Forte o bastante para até mesmo pessoas normais sentirem. – Eglantine olhou apreensiva para Arnaud.

- Eu confio em você, cara irmã. Sei que os medalhões estarão prontos quando precisarmos deles. – Arnaud sorriu discretamente, fazendo a apreensão de Eglantine se transformar em espanto – Não esperava que eu dissesse isso, não é?

- Nem em mil anos eu esperava ouvir isso de você. – Eglantine ainda olhava espantada para Arnaud – Espero que isso não queira dizer que seus sentimentos em relação a mim mudaram, não é?

- Eu apenas disse que confiava em você, irmã. – Arnaud voltou sua atenção ao tabuleiro, já analisando seu próximo movimento – Ainda prefiro tentar tascar um beijo em Kidirr do que passar tempo com você. Pelo menos, o velho furyan é mais silencioso do que você.

- E eu ainda prefiro passar cem anos trancada numa cela com uma certa pessoa em uma eterna discussão, do que ter de passar cinco minutos silenciosos com você, irmão. – Eglantine sorriu ao dizer isso.

Eles ficaram calados depois desse pequeno diálogo. Após mais quinze minutos de silêncio, o apito do expresso vermelho ecoou ao longe.


- Hermione, por quê nós estamos parando em Hogsmeade? – Ron perguntou enquanto se lambuzava com um sapo de chocolate.

- Eu não sei. – Hermione ainda lia o novo livro de feitiços.

- E eu pensando que a monitora-chefe era informada de tudo. – Rony limpou os lábios na manga esquerda da camisa enquanto checava a figurinha que vinha com o sapo, era uma repetida – Lucien Guildmere Malefoy, inventor do feitiço SERPENSOTIA. Só mesmo um Malfoy para inventar um feitiço desse tipo.

- Como assim? São da mesma família? – Harry perguntou enquanto checava sua própria figurinha.

- Malefoy era o nome antigo dos Malfoy, Harry. – Hermione olhou para Harry rapidamente, antes de voltar sua atenção ao livro – O professor Binns explicou isso numa das aulas dele. Estou espantada de que Ron se lembre do que foi ensinado em História da Magia, geralmente vocês dois estão dormindo.

- É bem difícil não perceber quando o nome do seu arquiinimigo é mencionado. – Ron rasgou friamente a figurinha – Uma pena que ele tenha morrido por uma doença desconhecida, adoraria ter enfrentado ele na guerra que virá.

Os dois amigos do ruivo o olharam espantados, ou melhor, Harry estava espantado e Hermione estava horrorizada.

- O que foi? – Ron os olhou com a sobrancelha esquerda levantada – Ah, por favor! – ele jogou os braços para cima, num gesto de indignação – Como se houvesse alguma chance dele vir pro nosso lado? Eu comeria minha vassoura se tal coisa acontecesse.

- A possibilidade de ele vir ou não para o nosso lado não interessa. – Hermione fechou o livro com violência – É muito cruel o que você falou sobre ele, Ron.

- Poupe-me de sua compaixão, Hermione. – Ron a encarou, como se a desafiasse – Draco Malfoy era uma das piores pessoas que eu tive o desprazer de conhecer, vocês não sabem o alívio que foi a notícia da morte dele para mim. – o rosto dele se contorceu numa careta de nojo – Uma pena que a família toda não tenha morrido também, principalmente o pai.

Antes que Hermione pudesse retrucar, uma pequena estátua de um duende no alto da janela da cabine começou a falar.

- A Monitora-Chefe e o Monitor-Chefe estão sendo chamados no vagão dos monitores. Repetindo: a Monitora-Chefe e o Monitor-Chefe estão sendo chamados no vagão dos monitores.

- Continuaremos essa conversa depois, Ronald Weasley. – Hermione rosnou para o ruivo antes de se levantar, ela aproveitou e pegou suas vestes em seu malão – Vou me trocar, talvez seja a prof. Minerva querendo nos informar de certas coisas antes da reunião dos monitores mais logo.

Hermione saiu da cabine batendo a porta com força, fazendo Ron soltar um leve rosnado de indignação. Harry ainda olhava espantado para o amigo. Tudo bem, Draco Malfoy não era realmente uma pessoa agradável. A vida em Hogwarts para o trio depois da morte do sonserino ficou um pouco mais fácil, tirando algumas rixas ainda pendentes com o resto da Sonserina. Em seu quinto ano, houve toda aquela confusão com Umbridge, a fuga em massa de Azkaban e a missão suicida no Ministério da Magia, onde eles perderam Sirius e Lúcio quase fora preso, Harry quase que esquecera completamente do antigo rival. O sexto ano passou como uma brisa, sem o loiro para lhes atazanar a vida. Ainda era estranho pensar que Draco Malfoy estava morto... era como se alguma coisa em sua mente estivesse lhe dizendo que o sonserino ainda estava vivo em algum lugar, apenas esperando o momento oportuno para aparecer novamente em suas vidas, mas isso ele encarava como uma paranóia sem sentido. O caso com Voldermort era completamente diferente. O jovem poderia jurar que às vezes sentia o Lorde das Trevas rindo no fundo de sua mente. Harry tinha a certeza que cedo ou tarde, a guerra começaria e os dois se enfrentariam num duelo onde apenas um deles sairia vivo.

O jovem suspirou pesaroso. O que ele não daria para ser apenas mais um estudante normal, preocupado apenas com os exames finais? Não, ele tinha que ter um Lorde das Trevas no caminho dele, o mesmo que matou seus pais, responsável indireto ainda pelo sumiço de seu padrinho. Quem quer que estivesse lá em cima, Deus ou alguma divindade suprema, decidira que Harry James Potter não teria uma vida fácil e nem que seria uma pessoa normal.


Hermione estava literalmente soltando fogo pelas ventas, quando saiu do banheiro já com as vestes de monitora chefe de Hogwarts. Ela detestava crueldade. Tudo bem que Malfoy não era uma das melhores pessoas que ela conhecia, era até uma das piores, mas isso não quer dizer que ele merecia ter o fim que teve. Havia vezes em que ela imaginava se a morte dele foi com sofrimento, se durou muito tempo... se no fim, ele se arrependeu de tudo que fizera de mau aos outros e de tê-la chamado de sangue-ruim. Ela caminhava rapidamente para o vagão dos monitores, quanto mais rápido descobrisse e resolvesse o que estava acontecendo, mais rápido ela voltaria para a cabine do trio e terminaria a conversa com o ruivo. Ele não tinha direito de falar assim dos mortos, por mais ruins que eles tivessem sido em vida. Draco Malfoy não estava ali para se defender do que quer que Ron dissesse, isso não era justo.

Hermione procurou sorrir quando encontrou John Edgar McNeil, o monitor chefe de Hogwarts, ele era da Lufa-lufa. Era um jovem baixinho que usava óculos com aros de tartaruga enormes, lhe dando uma aparência cômica, ressaltada pelo cabelo desgrenhado que o próprio deixava em homenagem a Harry Potter. Hermione já o conhecia por causa que ele era a segunda pessoa a mais visitar a biblioteca, depois dela, é claro. Os dois cumprimentaram-se rapidamente antes de entrar no vagão.

A raiva de Hermione sumiu assim que seus olhos pousaram sobre Arnaud L'Angley Grosvenor. Ela poderia jurar que seu coração começou a bater num ritmo diferente quando ele a encarou. A Prof. Minerva estava com eles e estava fazendo as apresentações e explicando a situação dos gêmeos, mas a audição de Hermione parou quando o nome dele chegou em seus ouvidos.

- Senhorita Granger? – Prof. Minerva a chamou mas a jovem nem lhe deu atenção – Senhorita Granger? – a idosa professora tentou mais uma vez, sem sucesso – Senhorita Granger!

- Desculpe! – Hermione deu um pulo assustada e olhou finalmente para a professora – Desculpe, prof. McGonagall, estava pensando num problema do novo livro de Aritmancia. – a jovem inventou uma desculpa rapidamente, o que não convenceu ninguém na sala.

- Está tudo bem. – Minerva a olhou com a sobrancelha direita levantada, exibindo sua descrença – Eu apenas lhe perguntei se pode arranjar uma cabine para os dois novos alunos.

- É claro que sim, pode deixar comigo. – Hermione sorriu nervosa.

- Ótimo. Enquanto a senhorita faz isso, eu e o senhor McNeil arrumaremos tudo para a reunião de monitores.

Os três saíram do vagão e começaram a procurar uma cabine. Hermione queria sugerir a cabine onde ela estava, mas isso exigiria se virar e tentar falar com Arnaud, além do que, ela não queria descobrir que os gêmeos fossem fãs de Harry Potter e ainda deixá-los a mercê de Ronald Weasley e seu eminente interrogatório. Mas depois da quinta cabine visitada, a jovem sentia a necessidade de puxar uma conversa com eles, para não passar a idéia de ser antipática, ou seja, ela teria de superar seu nervosismo e tentar puxar uma conversa.

- Que falta de sorte, não é? – Ela falou sem se virar para os dois – Nunca pensei que seria tão difícil achar uma cabine.

- É que para você não deve ser difícil, Granger. – Eglantine respondeu sorridente – Todos devem oferecer suas cabines a Harry Potter e seus amigos.

- Como? – Hermione parou e se virou, nervosismo esquecido devido ao que Eglantine disse – Como você sabe que sou amiga de Harry Potter?

- Na França também existem jornais, mademoiselle Granger. – Arnaud respondeu pela irmã, num tom gentil – Harry Potter também faz certo sucesso na comunidade mágica francês, assim como no resto do mundo mágico. E como em todo lugar do mundo, mágico ou não, os repórteres fazem questão de informar com quais pessoas os famosos se relacionam. – ele sorriu, fazendo o coração de Hermione bater mais rápido – Há até um boato de que há um affair entre vocês dois.

- Não! – Hermione gritou espantada – Harry e eu somos apenas amigos. Apenas amigos. – ela falou olhando nos olhos de Arnaud.

- Está bem, está bem, mademoiselle Granger. – Arnaud parecia divertido com a veemência que ela dizia isso – Como eu disse, é apenas um boato.

- Claro, claro. – Hermione respondeu, procurando controlar seu nervosismo para que eles não pensassem que ela fosse maluca ao invés de antipática – E, por favor, me chamem de Hermione. – estava claro que ela falou diretamente para Arnaud.

- Tudo bem, Hermione. – Eglantine respondeu, escondendo um sorriso zombeteiro.

- Como queira, Hermione. – Arnaud falou suavemente – Agora, vamos achar logo uma cabine e deixá-la ir para a sua reunião.


Vinte minutos depois...

Quando a porta da cabine de Gina abriu, Bender deu uma cambalhota de onde estava e caiu certinho bem em frente à porta, com sua pequena foice de madeira pronta para agredir a quem ousasse invadir seu território. Gina ia gritar um aviso para quem quer que estivesse entrando quando viu seu baphomet ficar paralisado, soltar algo parecido com um ganido de medo e dar outra cambalhota, desta vez para o colo dela. Ainda sem saber o que tinha acontecido direito, ela abraça seu baphomet e nota que ele está tremendo de pavor, sem qualquer sombra de dúvida.

Gina olha para a porta com certa temeridade para ver o que assustou a criaturinha, sempre corajosa como sua espécie sempre pareceu ser. Ela piscou várias vezes ao constatar que apenas se tratava de um jovem muito bonito, sem nada de assustador aparentemente.

- A senhorita permite que eu e minha irmã fiquemos aqui com você? – o jovem falou com sotaque francês – É que as outras cabines estão ocupadas e não queremos atrasar mais ainda a partida do trem.

- Claro, só esperem um pouco. – ela falou e com muito cuidado (e uma certa dificuldade, já que a criaturinha não queria largá-la) colocou Bender de volta em sua gaiola, cobrindo-a com as suas vestes. – Podem entrar.

O jovem deu um sorriso encantador e entrou seguido de uma jovem bonita, inegavelmente sua irmã, e Hermione. Ela estranhou quando a amiga fez uma rápida careta ao constatar que a cabine estava vazia, mal sabia ela que Hermione já tinha decidido arriscar levar os irmãos para a cabine do Trio de heróis. Mas Gina não tinha cabeça para teorizar sobre o que afligia a amiga, ela estava mais preocupada em descobrir o que assustara seu baphomet, ou seja, o que existia no jovem, ou nos dois jovens, que simplesmente aterrorizou Bender.

Hermione procurou assistir impassível aos dois irmãos arrumando suas coisas na cabine, ela estava mordendo os lábios para não dizer que eles (na verdade, ele) ficariam melhor na cabine dela, com Harry e Ron. Mas eles já estavam se arrumando e ela ainda tinha de ir para a reunião dos monitores. A única coisa que ela poderia fazer era dar mais uma passada na cabine de Gina quando a reunião terminar e torcer para que eles ficassem na Grifinória quando fossem selecionados, pelo menos Arnaud.

- Bem, já que já encontramos uma cabine para vocês, – Hermione deu um sorriso forçado e abriu a porta da cabine – eu estou indo. Ainda tenho uma reunião de monitores para coordenar.

- Muito obrigado pela sua ajuda, Hermione. – Arnaud falou enquanto sentava na poltrona junto à janela, bem na frente de Gina.

- Merci, Hermione. – Eglantine sorriu zombeteira para a jovem, indubitavelmente atraída por Arnaud.

- Até mais, Mione. – Gina falou sorridente para a amiga, enquanto colocava a gaiola de Bender na poltrona ao seu lado, que deu outro ganido de terror ao ficar ao lado de Eglantine, sentada na poltrona logo ao lado. A jovem trocou de lugar e sentou ao lado do irmão, fazendo a criaturinha se acalmar levemente.

A cabine ficou silenciosa por alguns segundos, com os três se olhando.

- Acho que é melhor explicar o porquê do seu baphomet ter medo de nós. – Eglantine falou enquanto olhava para a gaiola coberta – Você sabe o porquê?

- Não. – Gina olhou para a gaiola também – Eu tenho que confessar que tirando o que há sobre eles nos livros, o que já é bem pouco, o que eu sei sobre baphomets estou descobrindo com Bender.

- É porque já tocamos na foice de um baphomet adulto. – Arnaud falou enquanto olhava pela janela e o trem começava a sair da estação – Isso e o fato dele ser bem novinho ainda. Aposto que não faz muitos dias que ele esculpiu sua primeira foice.

- Sim, é verdade. – Gina olhou para Arnaud, achando ainda mais bonito com aquele ar de distraído – Como vocês sabem disso tudo?

- Minha irmã. – Arnaud fez uma gesto com a cabeça indicando a jovem ao seu lado e voltou a olhar para a paisagem pela janela – Ela pretende ser "a" especialista em animais mágicos. Eu já posso escrever um novo livro sobre animais mágicos com o tanto que ela tagarela no meu ouvido.

- Agradeço pelo "tagarela", meu caro irmão. – Eglantine ainda olhava para a gaiola – Agora faça o favor de nos apresentar, antes que no meio de uma conversa, ela resolva nos chamar de "indelicado" e "tagarela" e nós de "garota do baphomet".

- Eu me chamo Arnaud e esta é minha irmã Eglantine. – Arnaud olhou para Gina, dando um sorriso discreto.

- Eu me chamo Ginevra, mas pode me chamar de Gina. – ela deu outro sorriso discreto.

- Mademoiselle Gina, posso lhe perguntar o que faz com um baphomet? Não sabia que era permitido domesticá-los. – Arnaud perguntou olhando rapidamente para a gaiola e voltando a olhar Gina.

- Por favor, só me chame de Gina. – a jovem desviou o olhar e colocou o lado esquerdo do cabelo atrás de sua orelha – Bender é fruto de uma certa experiência que o Ministério está fazendo sobre a sociabilidade dos baphomet.

- Espero que essa experiência dê certo, Gina. Permitir que essas criaturas entrem em contato com humanos pode significar grandes descobertas e o fim de vários mitos que os cercam. – Eglantine ainda observava a gaiola.

- Só o mantenha longe de minha irmã, Gina. – foi a vez de Arnaud usar um sorriso zombeteiro – Ela é capaz de passar horas analisando a pobre criaturinha, forçando-a a suportar a "aterrorizante" presença dela.

- Seria bem mais interessante que ficar vendo uma certa pessoa ficar babando por você, irmãozinho. – Eglantine olhou para o irmão com um sorriso triunfante.

- Eu não sei do que você está falando, irmãzinha. – Arnaud a olhou friamente, o sorriso morreu instantaneamente.

- Homens! – Eglantine piscou para Gina, a qual não entendeu bem a piscadela, mas desconfiava e já começava a ligar os pontos entre a careta de Hermione e o que Eglantine quis dizer.

O resto da viagem até Hogwarts foi feita numa conversa descontraída e interessante. As duas jovens riram bastante quando Hermione voltou a cabine para perguntar se estava tudo em ordem.


Algumas horas depois...

A cerimônia de seleção dos alunos de Hogwarts estava séria demais. As casas aplaudiam levemente, sem alarde e bagunça, cada aluno que era selecionado para elas. Era o clima de desconforto e insegurança a causa dessa falta de entusiasmo, afinal em Hogwarts estavam os principais inimigos da grande onda de trevas que ameaçava engolir o mundo mágico. Mesmo que os participantes da secreta Ordem da Fênix acreditassem que suas identidades estavam seguras, a maioria dos alunos (e de seus pais) sabiam que havia um grupo de resistência contra o Lorde das Trevas além dos aurores do Ministério da Magia Inglês. E que em tal grupo estavam o diretor de Hogwarts e Harry Potter.

Ora, então seria até normal acreditar que alguns pais se negassem a enviar seus filhos a Hogwarts. Mas o que acontecia era que enquanto a maioria confiava o bastante no velho diretor em proteger suas crianças, havia uma minoria que já havia escolhido seu lado e enviaram seus filhos para serem seus ouvidos dentro da fortaleza do inimigo. Havia a costumeira desconfiança sobre a Casa da Sonserina, porém, havia ouvidos nas outras casas... até mesmo na Grifinória.

O único fato digno de nota durante a seleção dos alunos se deu aos dois irmãos Grosvenor. Pois quando o chapéu seletor pousou sobre a cabeça de Arnaud, o objeto tremeu e ficou murmurando "frio, escuro e desolador" por cinco minutos inteiros antes de gritar "Sonserina". Quando foi a vez de Eglantine, o chapéu mal a tocou e gritou "Sonserina".

Hermione olhou tristemente para o jovem francês enquanto ele sentava com a irmã na mesa da casa da serpente. Ela imaginava se ele a evitaria e a xingasse caso se encontrassem pelos corredores. Ainda que houvesse algo em sua mente que lhe dizia que Arnaud não faria algo do tipo, ela não conseguia evitar tais pensamentos.

Gina observava os irmãos curiosamente, apenas imaginando se a súbita amizade que surgira no trem de vinda a Hogwarts mudaria por estarem em casas tão opostas entre si. Havia algo na mente dela que também dizia que eles não fariam algo do tipo... sendo que havia mais uma coisa lhe perturbando: os olhos negros de Arnaud ficavam toda hora aparecendo em sua mente.


Duas horas da Madrugada...

Floresta Negra, nos arredores de Hogwarts...

O vulto negro corria com grande velocidade entre as árvores da floresta, se mesclando com as sombras de uma noite sem luar. Ele estava indo para um ponto de encontro, especificamente uma clareira quase no centro da floresta. O vulto esperava que sua grande velocidade lhe garantisse passagem segura pelo território de Aragogue e pelo dos centauros. As aranhas não foram problema, elas até saíam do seu caminho. Os centauros ainda tentaram perseguí-lo e acertá-lo com flechas mas ele era rápido demais para eles. Os centauros logo o deixaram em paz assim que perceberam que o vulto não queria invadir o território deles e sim passar por ele, além do fato dele ser uma criatura que eles não queriam se envolver.

Ele alcançou a clareira depois de meia hora de sua fuga de Hogwarts. O vulto, que se assemelhava a um homem, caminhou lentamente até o centro da clareira, que estava a quilômetros da escola, resumindo: um ponto de encontro seguro. Tudo que ele tinha de fazer naquele momento era esperar por aquele a quem ele fora encontrar. O que não demorou muito, pois o som de asas batendo contra o vento encheu a clareira e o vulto ergueu sua cabeça para ver a criatura chegando. Ela desceu lentamente até pousar bem em sua frente, era um furyan negro e enorme.

Assim como os unicórnios têm seus equivalentes negros nos Pesadelos (cavalos negros com chamas no lugar da crina, do rabo e nas patas; habitam pântanos e cemitérios antigos abandonados), os grifos têm os seus nos Furyans.

Um Furyan são criaturas com a cabeça e patas da frente de corvo, sendo que o resto do corpo é de uma pantera negra. Apesar de ser um pouco menores que os grifos (um furyan consegue alcançar dois a dois metros e meio de comprimento, sem a cauda, enquanto que os grifos conseguem alcançar três a três metros e meio), os furyans compensam na astúcia. Os furyans também costumam guardar tesouros, mas apenas os que eles mesmos formam, escolhendo grutas escuras e profundas cavernas para isso. Sendo que esse costume de esconder tesouros em ambientes tão escuros como breu, deixou os olhos dos furyans sensíveis à luz. Essas criaturas desenvolveram uma defesa natural: uma membrana cobre temporariamente os olhos, como a que os tubarões têm quando atacam, porém a visão deles fica bastante deteriorada quando esta membrana é usada, quase os cegando assim como as dos tubarões. Os furyans estão na lista de animais mágicos que entraram em extinção a mais de setecentos anos.

- Algum problema na infiltração? – a criatura perguntou à figura encapuzada.

- Nenhum. – o encapuzado respondeu friamente com uma voz masculina abafada – Os documentos e a fonte funcionaram. Se o diretor desconfiou de alguma coisa, ele não deixou transparecer.

- Ele pode ter colocado alguém para seguí-lo. – a criatura rosnou – Podemos estar sendo vigiados.

- Não estamos e você sabe muito bem disso. – o encapuzado continuava a falar friamente – Você só quer arranjar um motivo para rosnar comigo. O velho tem muitas coisas para se preocupar do que com dois alunos estranhos.

- As informações que temos dele...

- Sim, sim... eu mesmo sei o quanto o velho é brilhante. – o encapuzado interrompeu o furyan – Mas nada é infalível, Kidirr. Ele ainda é humano, ainda tem o direito de errar de vez em quando. – o vulto começou a caminhar em direção ao centro da clareira, sendo seguido pelo furyan – Bela noite para voar, não?

- Sim, há milênios que não vejo uma noite tão propícia para um vôo. – o furyan ergueu sua enorme cabeça de corvo, fechou os olhos e deu um longo suspiro – E o ar? Sentia saudade de respirar esse ar noturno.

- Isso quer dizer que chegou a hora de me agradecer por chamá-lo nesta missão, furyan? – o encapuzado virou-se para a criatura, sua voz num tom jocoso.

- A morte me clamará antes que eu faça tal cousa. – a criatura agitou uma das asas, imitando o gesto que os humanos fazem com as mãos quando querem fazer desdém – É bom estar livre daquela caverna, mas não tanto. – os dois voltaram a caminhar para o centro da clareira – A pequena já conseguiu fazer os medalhões funcionarem?

- Ela diz que é possível que eles criem uma aura negra forte o bastante que até os humanos a sentiriam. – o encapuzado parou no centro da clareira e se virou para olhar para Kidirr – Mas acredito que ela conseguirá resolver esse problema, só precisamos lhe dar mais tempo.

- A pequena é inteligente mesmo, uma pena que fale demais. – Kidirr caminhou para o lado do encapuzado – Ela seria muito mais agradável se soubesse ficar calada.

- Ninguém é perfeito, meu caro furyan.

- Principalmente você, pequeno. Ainda acho esse seu plano ousado demais. – o furyan olhou para o encapuzado pelo canto dos olhos – Caminhar para dentro do alcance dos inimigos não é muito inteligente a meu ver.

- Pois isso é mesmo o meu plano, meu caro. – A figura negra ficou de frente para Kidirr – Estamos tão perto que a visão deles ficará embaçada ao nos ver... e ficará assim até quando quisermos.

- Ou até que você dê um de seus "showzinhos", você quer dizer. – a criatura estreitou seus olhos de corvo – Procure se controlar quando agir, pequeno. Muita coisa está em jogo para você nos entregar de bandeja para todos.

- Acho que nenhum de vocês nunca ouviu falar de "plano B", não é? – a figura negra perguntou com sarcasmo evidente em sua voz.

- "Plano B"? – a criatura rosnou – Você não falou nada de "plano B", pequeno!

- Como eu disse à minha parceira, eu não falei do "plano B" porque ele envolve apenas a mim, vocês não estão inclusos nele.

- Hunf. – a criatura balançou a cabeça negativamente – Faça como quiser, pequeno. É a sua vez de jogar mesmo. Apenas se lembre de quem está atrás de você nesse jogo. – o furyan abriu suas enormes asas e alçou vôo, sumindo silenciosamente na noite.

O encapuzado ficou apenas observando o animal sumir na noite. Ele seguiu-o enquanto pôde, ponderando em sua mente o que o furyan lhe disse. Principalmente sobre ser a sua vez de jogar nesse jogo. Sim, ele pensou, chegara finalmente a sua vez de jogar. Um longo caminho foi percorrido por ele, um caminho cercado de morte, desespero, medo e muito sangue. O plano A era mesmo ousado, regado por variáveis muito instáveis, instáveis demais para qualquer estrategista ficar seguro com um plano. Mas, desta vez, ele tinha um "plano B" para lhe guiar caso as coisas não andassem como ele queria. Sendo que o "plano B" era ainda mais arriscado que o plano A, ele pensou divertido.

Então, com um longo suspiro e uma olhada rápida para o céu, a figura encapuzada disparou novamente em uma velocidade incrível e sumindo na floresta, para percorrer os quilômetros que separavam a clareira de Hogwarts.


N.A.4: Uau... esse capítulo saiu muito rápido, hein? Quem dera que todos saíssem com tanta facilidade como esse saiu. Acho que foi a longa parada que fez a inspiração concentrar. Tomara que ainda dure por mais sete ou oito capítulos. – o autor coça a cabeça e pensa: "se ela durar tanto assim.".

N.A.5: Minha beta avisou sobre alguns fatos que ocorrem no livro seis (o qual não li e ainda não faço questão de ler) e me pergunto que impactos poderiam haver sobre a minha fic? Será que devo classificá-la finalmente como AU? Será que alguém se importa? Aguardem os próximos capítulos para as respostas destas importantes perguntas. – o autor coça novamente a cabeça, pensando: "será que eles cairão nessa armadilha e continuarão a ler minha fic?".

N.A.6: Não fui ver a continuação de Underworld. Pode uma coisa dessa? Eu devia ter visto! Agora vou ter de esperar sair para DVD. Que merda! Mas espero ver "Superman Returns", quero ver a desculpa que ele dá por todos esses anos de ausência. – o autor coça a cabeça mais uma vez, "quem sabe a desculpa possa ser usada por postar capítulos com demora?".

N.A.7: A narração da fic ficou um pouco mais ágil, não? Pois é, ficou mesmo. Muita gente pode reclamar porque já estava acostumada aquele meu jeitinho de descrever tudinho, mas eu explico: esse capítulo saiu muito rápido, tão rápido que até me tirou o fôlego. Eu cheguei em sua metade em três dias! Um recorde para mim. Calma, garanto que o próximo virá com mais detalhes e "seções" bem maiores. Um dos objetivos deste capítulo é para confundi-los, caros leitores. Farei o que tiver ao meu alcance para que vocês vejam uma Hogwarts mais sombria que ela deveria ser e com tantas coisas acontecendo dentro dela quanto possível for. – o autor se controla para não coçar novamente a cabeça, pensando: "tomara que eu consiga fazer um capítulo tão bom quanto os anteriores... e tomara que essa bendita coceira não seja piolhos e nem aumente o crescimento da minha calvície precoce.".

Pronto, já falei minhas besteiras.

Até o próximo capítulo!

Luiz Campos.