Chapter Four

A sensação da água quente escorrendo e levando embora toda aquela sujeira era realmente agradável. Riza estava com fome, mas a necessidade por um bom banho eram maiores. Riza esfregava os cabelos louros, enxaguando o shampoo, por isso os olhos estavam fechados. Ela não podia deixar de murmurar uma canção enquanto fazia isso, tamanho era o prazer que ela estava sentindo.

E, em meio a esse paraíso particular, Riza não ouviu o barulho da porta se abrindo. Terminando de lavar os cabelos, ela passou o creme, e antes de enxaguá-lo, foi lavar o corpo. De repente, Riza ouviu um barulho. Ela apertou o sabonete, e parou de se mexer, tentando ouvir alguma coisa.

Uns segundos se passaram sem que nada acontecesse, e Riza deu de ombros, continuando a se lavar. Ela tinha conseguido um sabonete novo, mas achou que esse não era tão perfumado quanto o sabonete que Kimbly havia lhe emprestado no primeiro dia. Ela sorriu. Aquilo havia sido cômico!

Descobrir que um rapaz de dezoito anos, todo metido a macho, tinha esse tipo de frescura pessoal... sabonete importado de erva-doce! Para a pele sensível... Riza riu, e sua risada ecoou belas cabines vazias.

Dessa vez, ela ouviu um barulho mais alto, como se algo tivesse caído no chão. Ela ficou um pouco perturbada, mas pensou que o vento deveria ter derrubado qualquer que fosse o objeto.

No momento que ela ia enxaguar a espuma do corpo, um som a fez gelar.

O som de um chuveiro ligando!

Riza arregalou os olhos, apavorada. Ela não sabia o que fazer. Não poderia sair correndo, ainda mais com o corpo cheio de espuma, e o cabelo com creme. Ela então pôs a cabeça para fora da cabine, tentando espiar.

O vestiário era bem grande. Tinha a parte dos armários, e bancos, onde você deixava suas roupas, para se trocar depois. Era bem no estilo de vestiário de colégio americano, onde os armários ficavam em fileiras. E, atravessando um corredor curto, você chegava nos chuveiros. As cabines eram separadas da seguinte forma: três chuveiros, uma parede; três chuveiros, uma parede; e assim vai.

Riza estava no corredor quatro. Após o corredor curto, haviam outros corredores, que eram em seis corredores, e que por sua vez tinham sete cabines de cada lado, em cada corredor. A pessoa que havia entrado para tomar banho estava em alguma cabine do corredor um, ou dois. Pelo som, um pouco distante, foi o que Riza pôde deduzir.

A garota então petrificou: os corredores um e dois eram justamente os corredores que davam de frente para o corredor curto de acesso aos armários. Ela tinha que ter muita sorte, rezar que o rapaz que estivesse tomando banho tivesse escolhido alguma cabine mais ao fundo, para que ele não pudesse vê-la.

Por mais que o corredor curto fosse rápido de se atravessar, ela ainda poderia ser vista tempo suficiente. Riza suspirou.

- Isso só acontece comigo... - ela murmurou. Ela terminou de se enxaguar, e desligou o chuveiro. Pegou a toalha, e se enrolou o máximo que pôde. Bem que ela queria ter uma toalha maior, para poder se esconder melhor. Mas, não tinha como. Ela tinha que arriscar.

Riza saiu caminhando na ponta dos pés, tentando ser muito discreta e não chamar a atenção da outra pessoa tomando banho. Para o azar dela, essa outra pessoa estava querendo tirar uma pequena dúvida...

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- Maldito cheiro de fumaça. - Roy estava murmurando. Ele olhava para ambas as mãos, que estavam cinzas. E, passou a mão nos cabelos negros. Estavam duros!

- Algum problema, Mustang? - Fuery perguntou. Eles estavam todos indo para o refeitório.

- Sim. Estou imundo, meu cabelo está endurecido, estou fedendo a fumaça, minha roupa está manchada... - Roy disse. Fuery deu sorriso leve.

- Você pode tomar um banho antes, ora. Garanto que a comida não vai acabar. - Fuery falou. Roy então parou de andar.

Fuery deu apenas uns passos e parou também, olhando para o rapaz.

- Você tem razão. Eu vou tomar um banho. - Roy disse, e se virou.

Fuery se virou, e correu para alcançar os outros. O rapaz de óculos então parou para pensar, e ficou um pouco apreensivo. Breda e Armstrong pareciam realmente estar morrendo de fome... Hughes e Havoc também estavam comentando que iriam repetir o prato umas três vezes.. ele próprio estava bastante faminto.

- Será que se não sobrar comida, o Mustang me mata? - Fuery comentou baixinho para si mesmo. Ele estremeceu, e balançou a cabeça. Era melhor nem pensar nisso.

Roy caminhava rapidamente. Ele decidiu cortar caminho pelo campo gramado, assim ele chegaria mais rápido ao dormitório. Claro, se ele tivesse ido pelo caminho normal, teria cruzado com Kimbly, e saberia que Riza estava tomando banho, e aí esperaria. Mas, como o Destino adora pregar peças nas pessoas, algo fez Roy mudar o caminho, e ele nunca trombou com Kimbly.

Ele pegou as roupas limpas, e todos os acessórios necessários, e foi correndo para o vestiário. Roy ouviu o barulho de um dos chuveiros ligados, e achou estranho. Mas, como eles estavam indo atrasados para o jantar, era capaz que alguém tivesse jantado mais cedo e ido tomar banho em seguida. Ele deu de ombros e estava indo colocar suas coisas em um dos armários, e rapidamente se despiu.

Ele já estava no corredor curto, quando ouviu uma risada. Uma risada bem familiar... ele se assustou ao pensar em quem tinha aquela risada, derrubando o shampoo no chão. Ele então balançou a cabeça, afastando aquela idéia absurda.

"Acho que passar a tarde inteira perto daquela garota chata me fez ficar obcecado... estou até ouvindo a risada irritante dela!", ele pensou. Roy entrou no primeiro corredor mesmo, logo na primeira cabine, e ligou o chuveiro.

Ele adorava tomar um bom banho quente, e esfregar todas as impurezas de seu corpo. Ele estava absorto em seus próprios pensamentos, mas percebeu que o outro chuveiro havia sido desligado. Roy coçou o queixo, e parou por um instante.

Ele ficou curioso, para saber quem estava no outro chuveiro. Uma curiosidade besta, mas enfim... qual o problema, certo!

Pobre Roy... deveria se lembrar que "A curiosidade matou o gato." E nesse caso, seria a "gata"!

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- Certo Riza.. concentre-se... ai droga... respire fundo... okay: é agora! - Riza repetia para si mesma, em voz baixa. Ela estava tentando achar o momento perfeito para sair de seu corredor, e alcançar a salvo o corredor curto, e enfim chegar as suas benditas roupas. Ela estava espiando o lugar, para ter uma idéia de onde o outro cara estava tomando banho.

Após tomar um fôlego extra, ela saiu andando rapidamente, sem ousar olhar para qualquer outro lugar, tamanho era seu medo do que poderia ver. A última coisa que ela queria e precisava era perder o apetite por ter visto mais do que devia de algum garoto da Academia.

Tudo estava indo bem, e ela teria chegado sã e salva aos armários, e Roy não a teria visto por uma diferença de milésimos de segundo, e tudo estaria bem. Não fosse por uma pequenina poça de shampoo.

Shampoo de Roy Mustang, que se espalhou no meio do corredor curto, quando ele derrubou o recipiente. Shampoo esse que era bem escorregadio. E, estando no meio do caminho, é claro que foi de encontro certeiro com o pé da garota fugitiva. E, por esse milésimo de segundo a mais, Roy conseguiu esgueirar a cabeça para fora de seu chuveiro no tempo certo, e ver uma cabeleira loira esvoaçando, e alguém prestes a se estatelar no chão.

Sem nem pensar em quem era, Roy correu para segurar a pessoa, um simples reflexo humano e condicionado. E, acreditem ou não, a poça de shampoo era um pouco maior do que o esperado, o que fez com que Roy também escorregasse nele, e assim, com um audível "TUMP!", foram ambas as criaturas infelizes e perseguidas pelo destino ao chão.

Eu abro aqui um espaço para algo muito inútil, mas que se faz necessário: HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ HÁ! (Eu sempre dou risadas escandalosas quando vejo alguém caindo!)

Mas enfim, retornando a situação:

Minutos de silêncio se passaram, apenas uns gemidos, que manifestavam a dor da queda. Riza estava tentando se levantar, ao mesmo tempo que segurava firmemente a sua toalha branca, e com a outra mão ela procurava onde se apoiar. Durante a queda, ela sentiu alguém segurá-la, impedindo que sua queda fosse bem mais dolorosa. Ela só viu o teto quando abriu os olhos, e sentiu uma dor aguda no quadril e nos cotovelos.

- Que droga é essa? - ela ouviu uma voz dizer, uma voz que vinha... de baixo!

Riza virou a cabeça lentamente, temendo quem veria. Aquela voz era familiar... até demais! Os olhos dela se esbugalharam e sua boca se abriu escancarada em choque, assim que uma cabeça cheia de fios negros adentrou seu campo de visão.

- Eca! Isso é shampoo? - o rapaz disse, olhando as mãos.

Riza não conseguiu conter um "Augh!" ao ver quem era o dono da voz tão familiar: Roy Mustang. Só podia ser brincadeira de alguém... e uma de muito mau-gosto!

Ela sentiu o sangue subir a face ao notar que, além de tudo, ela estava sentada no colo dele! Ela tentou se levantar, mas a mão escorregou no chão melecado novamente, e ela caiu de novo, a cabeça encostando novamente no peito desnudo do rapaz. Ela então pôde notar que Roy finalmente havia se dado conta da situação, pois ela ouviu um "Augh!" vindo dele também.

Quando Riza finalmente conseguiu firmar a mão no chão sem escorregar, ela foi se levantar, mas de repente, Roy a segurou firmemente, bem onde ela estava, o que fez com que ela perdesse o equilíbrio novamente, e voltasse a cair sentada sobre ele.

- Droga, Mustang! O que você está fazendo? - Riza gritou, nervosa. Roy não sabia o que responder. Como ele poderia explicar para ela que ele estava ali, debaixo dela, exatamente sem nada, do jeito que ele veio ao mundo? Se ela se levantasse, veria ele ali, completamente exposto. E, aí sim a coisa ficaria feia.

"Que bela hora para esquecer a toalha, Roy...", ele pensou consigo mesmo.

- Mustang! - Riza gritou novamente, e Roy voltou suas atenções para a moça. Ele engoliu seco ao ver o rosto dela virado para ele, os olhos cor-de-mel dela fixados nele. E eles estavam muito próximos, já que Roy a segurava firmemente pelo braço e pela cintura.

- Pois não? - foi tudo o que ele conseguiu dizer, e logo em seguida se estapeou mentalmente ao ver a fúria nos olhos da moça.

- Dá pra me soltar? - ela disse, impaciente.

- Agora? - ele perguntou, fazendo sua melhor expressão inocente. Ele precisava ganhar tempo, e pensar em uma desculpa plausível. Ele sabia bem que enganar e enrolar aquela garota era algo bem complicado.

- É claro que é agora! - ela gritou, tentando puxar o braço. Se ela pudesse usar a outra mão já teria dado um soco no rapaz, mas se ela fizesse isso, sua toalha iria para o beleléu. Foi aí que um estalo aconteceu na cabeça dela. "Toalha..."

- Tem certeza que estamos falando do mesmo agora? - Roy tentou enrolar mais. Ele percebeu quando os olhos dela se estreitaram mais ainda. Uh-oh! Aquilo não podia ser bom.

- Mustang... cadê a sua toalha...? - ela perguntou, de repente. Roy engasgou. Riza fechou os olhos. Bingo!

- Ela está... está... - Roy dizia, ainda engasgado. A pressão de Riza estava subindo vertiginosamente.

- Está..? - ela forçou, e Roy desviou o olhar, suando frio.

- ... na cabine do chuveiro. - foi a resposta final. Sem exatamente ter tempo para reagir, Roy apenas foi ao chão, batendo a parte de trás da cabeça com tudo no chão de azulejo, com uma Riza furiosa apertando seu pescoço.

Com a cabeça zunindo devido a batida, Roy pensou apenas uma coisa: eu estou prestes a morrer, e isso é fato. Ele nunca havia visto alguém daquele jeito, com tanta fúria, Riza berrava "tarado, pervertido, depravado, degenerado!" e todos os sinônimos existentes possíveis. Ele precisava fazer algo. Ele precisava se defender. Ele precisava fazê-la parar!

Como reflexo, as mãos de Roy se direcionaram para o local certeiro, e ele empurrou a garota com força, tentando forçá-la a soltar ele. Ao abrir os olhos, Roy notou que podia respirar novamente, e que Riza estava parada, apenas olhando para ele, com uma expressão muito estranha. Foi aí que ele sentiu algo macio em suas mãos. Algo redondo e macio.

Como Riza havia usado ambas as mãos para enforcá-lo, a toalha branca agora estava perdida em algum lugar, sabe-se-lá-onde, menos onde deveria estar. E, Roy agora sabia porquê Riza havia parado de matá-lo.

Ele desviou o olhar do rosto de Riza, e olhou para suas mãos. E os olhos de Roy ficaram do tamanho de pratos, e um grito ficou entalado em sua garganta.

Mãos. Seios. Roymãos. Rizaseios.

SANGUE!

Roy soltou-a imediantamente, escorregando para o lado, e colocando uma das mãos no nariz, tentando parar a hemorragia nasal. A outra mão foi para outro lugar, mais abaixo, que também pedia para ser escondido, mas que estava um pouco difícil, agora que o "problema" cresceu.

Riza já tinha recobrado os sentidos, e se enrolava o máximo que podia na toalha, enquanto seu rosto queimava de vergonha. Ela havia se virado assim que Roy a largou, e ela procurava juntar suas coisas, que tinham voado de sua mão na queda inicial. Ela ouviu os passos do rapaz, que se afastava, de volta para o chuveiro.

Mas, por algum motivo, ela virou o rosto só um pouco.

Riza engasgou, se levantou e foi para o armário, pegar suas roupas e dar o fora daquele lugar, e esquecer aquela noite desastrosa. Ela ainda tinha algumas tarefas para fazer, mas ela estava completamente aérea agora, em sua mente rodava apenas uma imagem e um pensamento:

"Que gracinha de bumbum!"

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- Você demorou no banho! - Hughes disse, assim que Roy se sentou ao lado dele no Refeitório. Incrivelmente, ainda havia comida lá, e Roy encheu o prato.

O alquimista nada respondeu, apenas comeu sua comida, em silêncio. Hughes sabia que algo havia acontecido, pois Roy estava mais aéreo que de costume, e suas bochechas ficaram rosadas quando ele mencionou o banho. Mais tarde ele conseguiria arrancar do amigo o que aconteceu, então ele se entreteu com sua deliciosa sobremesa.

- Eu não disse que haveria comida? Ainda bem que eu disse para você ir tomar banho... eu gostaria de ter jantado depois de um bom banho... seria bem mais agradável! - Fuery disse. Roy então parou de comer, largou os talheres e olhou para Fuery.

- É verdade... foi você quem me disse para ir tomar banho aquela hora, não é? - Roy disse. Fuery engoliu seco, notando o brilho estranho nos olhos de Roy.

- Sim, fui eu... não está feliz, Mustang? - Fuery perguntou, agora recuando lentamente.

- Oh, muito feliz! Ficarei mais ainda quando tiver incinerado um certo idiota de óculos e suas idéias estúpidas! - Roy disse, ameaçador, e colocando as luvas brancas.

- M-Mu-Mus-Mustang...? - Fuery indagou, confuso e tremendo de medo - O que foi? O que você vai fazer?

Hughes lambeu os beiços, saboreando os últimos vestígios de seu delicioso pudim de leite. Ele inclinou-se para trás, passando a mão na barriga cheia, e olhou com divertimento para Roy, que perseguia freneticamente o pobre Fuery. Algo de MUITO sério havia acontecido, e ele logo iria descobrir.

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Kimbly havia corrido para o Vestiário, mas antes de chegar lá, encontrou Riza no meio do caminho. A garota parecia pensativa, e distante. Ela nem notou quando ele se aproximou, e aquilo o surpreendeu. Ela estava sempre alerta, sempre um passo a frente da maioria.

- Ah, Zolf... já terminou de jantar? - ela perguntou, quando finalmente o notou.

- Mais ou menos isso... tá tudo bem? - ele perguntou, olhando para ela. Riza corou levemente.

- É... mais ou menos isso. - ela disse, um sorriso fraco. Zolf arqueou uma sobrancelha.

- Aconteceu alguma coisa no Vestiário? - ele perguntou. Zolf soube que a resposta era afirmativa, já que o rosto da moça quase pegou fogo.

- Mais ou menos isso... - ela disse novamente. Kimbly soltou um grunhido.

- O que o Mustang fez? - ele perguntou, sem rodeios. Riza olhou para ele, aflita.

Kimbly a puxou pelo braço, conduzindo-a para algum outro lugar. Os corredores começavam a se encher, já que a maioria já tinha jantado, e agora rumavam para os dormitórios.

- Ele não me contou nada, se é isso que você está pensando. - Kimbly falou, e os dois estavam no campo de treinamento. Se sentaram na grama, um ao lado do outro.

- Então como você sabe que o Mustang está envolvido? - ela perguntou.

- O Fuery disse que o Mustang tinha ido tomar banho também. Não é preciso ser um gênio pra ligar as coisas. Você no banho. Mustang no banho. Enfim... - Kimbly disse, balançando os ombros.

- Entendo. - ela apenas disse.

- E você vai me dizer o que aconteceu no maldito banho ou não? - Zolf perguntou, ficando impaciente. Riza ficou vermelha novamente.

- Quem disse que aconteceu alguma coisa? - ela disse, olhando para o outro lado.

- Você fica aí, toda vermelhinha só d'eu mencionar a palavra "banho", e você quer que eu acredite que nada aconteceu? - Zolf diz.

Riza nada responde, continua com o rosto virado para o outro lado. Zolf solta um suspiro irritado, e põe o dedo indicador no queixo dela, puxando-a na direção dele, fazendo o rosto dela virar.

- Fala pra mim o que que aconteceu, Hawkeye. Agora. - ele diz, sério. Riza pisca algumas vezes, surpresa.

- E o que te importa? - ela diz, o espírito "Riza" de rebeldia voltando.

- Come torta! - Zolf retruca, um sorrisinho no canto dos lábios.

Os dois se encaram por mais uns instantes, e finalmente caem na risada.

- Seu bobo! Eu aqui, sofrendo com um problema sério, e você tirando sarro de mim! - ela diz, se deitando na grama de tanto rir.

- Você que começou, com essa frescura toda de não querer contar logo o que aconteceu. - Kimbly diz, se deitando também.

- Frescura é sabonete importado! Eu não querer contar é privacidade! - Riza diz, sorrindo mais ao ver Kimbly girar os olhos.

- Até quando você vai me perseguir com a droga do episódio do sabonete, hein? - ele diz, e a empurra com o cotovelo.

- Ai! Não precisa partir pra ignorância! - ela diz, massageando onde ele a empurrou.

- Eu só te empurrei com o cotovelo! Depois vem querer dizer que não é fresca... faça-me o favor! - Kimbly diz, rindo.

- Depois você fica ofendido porque eu não te conto as coisas... mas chato do jeito que você é, nem merece ouvir também! - Riza diz, virando de costas para ele.

- Ah, Rainha do Drama! Eu não vejo você fazendo esses dramas mexicanos com ninguém mais... por acaso você faz isso só comigo, é? - Kimbly diz, cutucando-a com o dedo indicador nas costas.

Riza se vira, rindo.

- Pára, isso faz cócegas! E, você devia saber, tem coisas que uma mulher faz com um homem só! Drama é uma dessas coisas. - Riza diz, olhando para Kimbly.

- Frescura de mulher, eu digo. Agora, me conta o que aconteceu no banho. - Kimbly diz.

- Você não desiste nunca? - Riza diz, soltando um suspiro longo.

- Nunca. E, pelo visto, você já tá pronta pra me contar. Você nem ficou vermelha dessa vez. - Kimbly diz.

- Ah, vai ver que eu tô, então! Mas já que você insiste tanto, eu conto. Mas é pra ficar entre nós! - Riza diz.

- E eu repito: frescura de mulher. Tá achando que eu sou alguma amiguinha sua? O que vai ser da próxima vez? Guerra de travesseiros? - Kimbly diz, zombando.

- Você é o mais próximo de uma melhor amiga que eu tenho aqui... - Riza diz, um pouco envergonhada. Kimbly pisca algumas vezes, e se senta, um pouco vermelho.

- Dá pra ver que você nunca teve muitos amigos, então... - ele diz.

- Você também! E não precisa ficar ofendido por eu ter te chamado de "amiga"! - Riza diz, achando que ele havia se sentado e soado rude por ter ficado bravo com ela. Se ela soubesse o turbilhão de sentimentos dentro do rapaz... ser considerado o "melhor amigo" por alguém era novidade para ele.

- Tanto faz. Agora, diz logo o que houve, Riza... - Kimbly diz. Riza se senta também, e ajeita os cabelos.

- Tá bom... lá vai! - ela diz, tomando fôlego, e começa a contar o que houve no banho.

Quando ela chega na parte do estrangulamento, Kimbly cobre o rosto com as mãos. Até agora ele apenas riu, e muito. Riza até teve que parar de contar algumas vezes,esperando ele tomar o fôlego para continuar a história. Nada adiantou ameaçar não terminar a história, Kimbly estava rindo mais do que em toda a sua vida.

No entanto, quando Riza chega na parte da "mão-boba", Zolf fica sério. Muito sério.

- Você tá me dizendo... que o Mustang... pôs a mão nos seus... seus... - Kimbly engasga, o rosto pálido. É a vez de Riza cobrir o rosto, envergonhada.

- É, ele pôs! Não me faça repetir, Zolf! - ela diz, a voz um pouco abafada, já que ela estava com as mãos no rosto.

- Eu vou arrebentar a cara daquele desgraçado... - Kimbly diz, cerrando os punhos.

- Não vai, não! - Riza diz, segurando ele pelo braço - Se ele não tivesse feito isso, provavelmente eu teria asfixiado ele até a morte!

- É o que ele merece! - Kimbly diz, nervoso. Riza pisca algumas vezes, surpresa.

- Por mais que eu ache uma gracinha você com esse ciúme todo, eu vou te nocautear se você insistir em ir atrás do Mustang pra matar ele! - Riza diz, um misto de seriedade e divertimento na voz dela. Kimbly fica um pouco vermelho, e finge uma tosse leve.

Riza sorri mais ao ver que Kimbly fica sem ação, e ela o abraça ternamente, rindo.

- Hey, hey! Pára com isso! - ele diz, completamente vermelho, balançando os braços, sem saber o que fazer.

- Obrigada por se preocupar, Zolf. E você fica uma gracinha vermelhinho desse jeito! - Riza diz, rindo bastante. Zolf gira os olhos.

- Sua maldita! - ele diz, e finalmente apóia uma das mãos na cintura dela.

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- NÃO É PRA RIR! - Roy berra, completamente vermelho. Lá estavam ele e Hughes, no dormitório, aproveitando que nenhum dos outros companheiros estavam presentes, para pôr a conversa em dia. Não que Roy quisesse contar o ocorrido, mas Hughes é um jovem rapaz muito persistente, que conhece maneiras de fazê-lo abrir o bico.

Nesse instante, Roy havia terminado o relato completo do que houve, e Hughes estava rolando no chão de tanto rir. Roy bufou.

- Eu nunca mais te conto nada. - o moreno disse, sério e constrangido.

Hughes ainda demorou mais uns minutos para parar um pouco de rir e conseguir se levantar.

- Desculpe, amigo... mas é que foi engraçado demaaaaaaais! - Hughes disse, enxugando as lágrimas.

- Não foi. Foi trágico. Horrível. Traumatizante. Desastre total. Caos completo. Praticamente o Apocalipse. - Roy diz, colocando as duas mãos na cabeça e fechando os olhos.

- Foi mesmo? - Hughes pergunta, limpando o óculos, sentado na cama. Roy ficou em silêncio por alguns instantes.

- Foi... até a parte do estrangulamento... - Roy diz, subindo em sua cama, um pouco vermelho.

Hughes se endireita e põe os óculos. Ele sorri, se levanta e olha para o amigo.

- E depois do estrangulamento...? - ele pergunta, aquele sorriso sacana no rosto. Que, aumenta mais ainda ao notar a face de Roy mais vermelha ainda.

- Depois... depois... foi interessante, digamos... - Roy diz, olhando para outra direção, as bochechas vermelhas.

A mandíbula de Hughes atinge o chão, e seu óculos escorrega para a ponta de seu nariz. Aquilo era novo! Roy Mustang, o cara mais desinteressado por qualquer coisa que não fosse Alquimia, estava admitindo que tocar uma garota havia sido interessante! Seria esse o sinal para uma mudança?

- Você... achando algo que não tem nada a ver com Alquimia... interessante..! Isso sim é o Apocalipse! - Hughes diz, sorrindo e cutucando Roy.

- Qual a grande novidade? Pensou que eu fosse gay, é? - Roy diz, arqueando uma sobrancelha. Hughes coça a nuca, um pouco embarassado.

- Olha, isso já me passou pela cabeça... - Hughes admite, e sorri um pouco ao ouvir Roy engasgando.

- O QUÊ? Eu, Roy Mustang, homossexual? Isso seria o Apocalipse, Maes! Isso e nada mais! - Roy diz, estupefato.

- Desculpa, mas é que você nunca demonstrou interesse por garotas, ou coisa do tipo... você até destrata a maioria... pelo menos até onde vi a sua interação com mulheres, você sempre fica na defensiva, ou ignora... e, convenhamos, isso é um pouco estranho pra um rapaz saudável de dezoito anos.. - Hughes diz, balançando os ombros.

- Eu não fico na defensiva! E você nunca me viu interagindo com outra mulher que não fosse a minha mãe! - Roy diz, cruzando os braços e encarando o amigo.

- Você fica sim, até com a sua mãe. E é claro que eu já vi você interagindo com outra mulher! - Hughes diz, e cruza os braços também, imitando o amigo.

- Ah é? Quem? - Roy diz, desafiador.

- Duh, falta de massa cinzenta! A Riza! Alô? - Hughes diz, e balança a cabeça, girando os olhos.

- Essa não conta... - Roy diz, um pouco sem saber o que dizer. Como ele pôde esquecer justo ela?

- Não conta por quê? Ela é mulher sim... e você sabe disso MUITO bem, não é, Mister Apalpador? - Hughes diz, rindo. Roy fica vermelho.

- Argh! Foi um equívoco! Um acidente! Eu não sou um Apalpador! - Roy diz, constrangido.

- Não, só é tarado mesmo... e vai dizer que você não gostou! - Hughes diz.

- É claro que não! - Roy diz, alterado.

- Depois me pergunta porquê pensei que você fosse gay! E, é mentira Roy. As suas reações pós "touch" foram evidências concretas e irrefutáveis da sua masculinidade. Pode admitir que você gostou, camarada... - Hughes diz e abre um enorme sorriso.

Roy fica em silêncio, pensando em algo para dizer. Se ele dissesse que detestou, além de estar mentindo, estaria afirmando que era gay. E, se ele admitisse que gostou, e muito, teria que aguentar Maes zombando e chamando-o de "pervertido" para o resto da vida. Bom, das duas uma, e a melhor opção é ser chamado de "pervertido"! Além do mais, Hughes sabe qual é a verdade, então nem adianta mentir.

- Tá legal... eu gostei, foi bom, ótimo, maravilhoso, e eu espero fazer isso algum dia novamente. Satisfeito? - Roy diz, se largando na cama. Hughes ri.

- Eu sabia que faria a escolha certa. - Hughes diz, e se deita na própria cama.

Os dois ficam em silêncio por alguns instantes.

- Isso quer dizer que você gosta dela, né? - Hughes pergunta.

- Não. Isso quer dizer que eu gosto de seios. Não dela. - Roy responde.

- Por enquanto... - Hughes murmura, e fecha os olhos, sorrindo.

Continua...

Desculpem a demora para postar esse capítulo.

Inicialmente me atrasei por causa da faculdade, mas depois que entrei de férias, não consegui postar esse episódio..

Acho que o estava de mau comigo...

Mas, enfim... fazer o quê!

Uma coisa sobre o "casal" RizaxKimbly: apesar d'eu dizer que Riza e Kimbly são um casal, isso é meramente ilustrativo. Dá pra perceber que um envolvimento amoroso não rola entre esses dois... é pura amizade mesmo. Talvez um paixãozinha platônica por parte dele, e uma quedinha por parte dela, mas nada além disso.

Então, quer dizer que é um Royai? Vai saber... balança os ombros

Na verdade, a Riza não fica com ninguém. Isso eu deixo pro futuro. Essa é a época em que os sentimentos despertam, para adormecerem e surgirem novamente mais para frente...

Ah sim! Agradeço profundamente as meninas que deixaram reviews me dizendo o nome do quarteto! Muito obrigada!

Bom, é isso.

Aguardem o próximo capítulo!

Obrigada por lerem!

Abraços,

Bellatrice Black.