N.A: Cá está o 1ºCapítulo! Convém dizer que esta fic é assim o meu bebé, estou mesmo empenhada nela e na "série" de alma e coração! Espero que gostem!
BJS
CACL
Disc. Foi dito no trailer não será repetido, vale para todos os capítulos!!
Para: O meu maninho Francisco!!!
"Não é a infelicidade que nos mata. São as saudades..."
(Dorothy Parker)
Capítulo 1
«Pelo amor duma mãe...»
A única coisa que se lembrava de quando era novo era de pedir ao pai para este lhe ler um livro de Contos de Fadas. Lembrava-se da cara do pai ficar séria, dele lhe tirar o livro e dizer que era tudo mentira, lembrava-se de tentar ripostar mas também se lembrava da frase que o seu pai usara para confirmar o que dizia e contra isso ele não tivera nem tinha argumentos...
- Se a magia existisse a tua mãe não teria morrido...
Nunca tinha percebido o que a sua mãe tinha haver com a magia, mas imaginava-a como uma fada ou algo parecido, talvez uma princesa encantada, sabia que a sua mãe tinha morrido um ano depois dele ter nascido, mas não sabia nada mais dela, não sabia o nome, a idade, a data de nascimento, como ela era, estava a zeros.
Nunca mais tinha pedido nada do género ao seu pai, o mais curioso era saber como se o seu pai não acreditava em magia ele tinha um livro de Contos de Fadas... talvez a sua mãe... gostava tanto de saber mais sobre ela... mas não podia pensar em pedir ao pai, o seu pai desviaria a conversa ou acabaria por ficar irritado e ele ficaria na mesma... sem saber nada... sabia que se queria descobrir algo tinha que o fazer sozinho... mas por onde podia ele começar, não tinha um nome, uma referência... além de que era a sua mãe...
Suspirou, olhou para a folha de papel á sua frente, era suposto estar a escrever uma redacção de férias... bem, ele já tinha começado... já tinha escrito o seu nome... Christopher Bleue...
- Christopher...
Voltou-se mas não viu ninguém... não era a primeira vez que ouvia aquela voz meiga e suave chamar o seu nome mas ultimamente ela tinha voltado em força, dantes ouvia uma vez de meses a meses, agora praticamente todos os dias a ouvia, como uma brisa de vento a roçar entre as cortinas...
- Christopher...
Gostava de ouvir aquela voz imaginária, adorava, ela parecia saber como o afastar dos pensamentos tristes, como o tornar leve como uma pena. Por vezes fechava os olhos, pousava a cabeça e ouvia durante tanto tempo quanto quisesse a voz a repetir suavemente como o vento a fazer festas ao mar...
- Christopher...
E então era como se nada de mau lhe pudesse acontecer...
~ * ~
Patrick Bleue, um viúvo de 38 anos cabelos negros, olhos azuis escuros quase negros, vestido de fato e gravata, meteu a chave na fechadura e suspirou tinha sido um dia difícil. Assim que fechou a porta reparou que tinha música de fundo, Christopher devia ter aproveitado o facto de ter voltado mais cedo para casa da escola e ter atacado a aparelhagem. A música Immortality cantada por Celine Dion enchia a casa...
"So this is who I am
And this is all I know
(…)"
Patrick suspirou, não gostava daquela música, lembrava-o muito dela, demasiado. Ele não merecia sofrer assim...
"We don't say goodbye
We don't say goodbye
(…)
I keep the memory of you and
Me inside
Fulfill your destiny…"
Grunhiu, como se ele já não tivesse tentado e voltado a tentar... para ela era fácil dizer, não era ela que tinha que enfrentar o desafio de criar um filho sozinho, de seguir em frente sem a pessoa amada, de deixar tudo o que fazia sentido e que depois se tinha tronado fútil para trás, para tentar uma vida nova...
"My storm will never end
My fate is on the wind"
Parou de reclamar e enfrentou a realidade… pôs-se a pensar... embora ela já não estivesse ali os seus últimos momentos deviam ter sido bem mais difíceis do que tudo o que ele fizera para o seu bem e para o bem de Christopher... Fechou os olhos por momentos... Memórias abandonadas voltaram...
» Uma sala com tudo deitado a baixo como se um terramoto a tivesse varrido... um casal que não devia ter mais de 27anos... um homem de cabelos negros vestido com uma capa voltou-se para uma mulher de cabelos castanhos que envergava um vestido dourado e disse:
- Corre! Vai buscar o Christopher!!!
A mulher piscou os olhos e reclamou:
- ... mas Patrick tu não...
A casa tremeu de novo. Patrick deu um murro numa mesa próxima e gritou para a sua mulher:
- VAI!!!!
Ela assentiu, foi ter com ele abraçou-o, segurou a sua face entre as suas pequenas e brancas mãos, beijo-o disse-lhe ao ouvido num sussurro Amo-te e partiu em direcção ao andar de cima... «
"We don't say goodbye
We don't say goodbye"
No fundo ele é que a tinha enviado para a morte...
"'Cause I have found a dream
that must came true
Every ounce of me must see it through"
Sorriu, seria exactamente a resposta que ela lhe daria se o pudesse fazer, ela diria que a vida de Christopher era muito mais importante que a dela e que não seria capaz de viver com o facto dele ter morrido e ela não ter feito nada para o evitar.
Patrick entrou na sala. A janelas estavam meio abertas e o vento roçava nas cortinas, tal como previra Christopher estava na sala deitado no sofá, aproximou-se lentamente ao ver que o seu filho dormia deitado no sofá.
Alvorecer, um gato preto que Christopher tinha adoptado há bastante tempo, estava deitado no braço do sofá e estava encostado à cabeça de Christopher como que a protegê-lo. Patrick sentou-se no banco em frente ao sofá a observar o filho. Parecia-se com o padrinho dele quando este fora mais novo... tinha cabelos negros desordenados, óculos, falta de amigos, uma família que o odiava... não que ele odiasse o filho! Ele nunca poderia odiar algo que tivesse vindo dela e o facto de que Christopher era um pouco dele também ajudava a manter essa política.
Embora tentasse parecer distante Patrick era tudo menos insensível ás emoções do filho, ele sabia a dor que Christopher devia passar todos os natais, dias da mãe e feriados de família... em todo o lado se viam famílias felizes e Christopher apenas tinha o pai que trabalhava como louco, a mãe morta, os avós que o desprezavam e nem apareciam, e Alvorecer que devia ser a única criatura naquela casa com tempo para ele...
"I'm sorry I don't have a role for love
To play
Hand over my heart I'll find my way
(…)
We don't say goodbye
We don't say goodbye"
Christopher mexeu-se durante o sono e pronunciou algo que admirou Patrick…
- Mãe...
Mãe?!?!? Como podia ele sonhar com a mãe, ele tinha um ano no máximo quando tudo acontecera...
- Mãe... cuidado... atrás de ti...
O sono calmo tinha-se começado a tronar num pesadelo, Patrick sabia-o, agarrou a mão do filho, como que a dizer que estava ali, e a voz dele foi baixando até se tronar um murmúrio suave...
- Mãe...
"With all my love for you
And what else could we do..
We don't say, goodbye…"
Patrick suspirou ao ver que mesmo assim o pesadelo parecia não parar. A cara de Christopher tinha-se tronado séria e ele parecia desesperado. Então de súbito Patrick jurou ouvir alguém murmurar:
- Christopher... Christopher Robin...
Christopher sorriu e parou de rabujar. O pesadelo tinha parado. Patrick piscou os olhos e olhou em redor... a sala estava deserta, foi ao armário e tirou do topo uma caixa comprida e castanha, lá dentro estava a única coisa que tinha trazido do seu antigo mundo, lá dentro estava uma bela varinha...
Lançou um feitiço, que miraculosamente ainda sabia, para revelar pessoas ou feitiços, a resposta foi nula... num raio de 2km ninguém tinha lançado um feitiço ou se desmaterializado... devia ter sido a sua imaginação...
Voltou a guardar a varinha e voltou-se para o filho, viu a respiração deste tronar-se regular e ele acordar embora visse que ele fingia estar a dormir...
Sorriu, baixou o volume da aparelhagem, pegou numa manta que se encontrava ali perto, tapou-o dando-lhe um beijo na testa, tirou-lhe os óculos e chamou-o pela sua alcunha, coisa que não fazia á anos...
- Bons sonhos Christopher Robin...
Em seguida Patrick passou a mão pela cabeça de alvorecer que ronronou e Patrick rumou ao primeiro andar deixando Christopher a fazer um esforço para manter os olhos fechados, aquele não podia ser o seu pai, podia!?!?
~ * ~
Pela noite a dentro uma coruja voava em direcção à cidade irlandesa de Gweedore, nas suas patas uma carta de papel amarelado onde na frente se podia ler em letras verde esmeralda.
"De: Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts...
Para: Ex.mo Sr. Christopher Bleue
Rua St. Ann, n.º 24, Gweedore, Irlanda"
As suas asas começavam a doer embora fizesse algumas pausas, a viagem desde Londres até Gweedore ia ser cansativa e talvez... em vão...
~ * ~
Os dias que se seguiram correram normalmente, a escola acabou para Christopher e sem escola Christopher ficava o todo dia, e praticamente toda a noite, sozinho em casa. Embora ao princípio fosse engraçado ter uma casa só para si e poder saltar do computador para a televisão e da televisão para o computador quando lhe apetecia, em breve a vida se tronou monótona e nem mesmo a possibilidade de ir explorar o sótão onde memórias sobre a sua mãe podia estar o animou...
Todos os dias o pai de Christopher saía de casa às 6h da manhã e todos os dias voltava ás 9h da noite por vezes mais tarde e por vezes nem voltava chegando a fazer directas atrás de directas.
Christopher podia afirmar que desde que se lembrava o seu pai tinha trabalhado 8 dias por semana e 25h por dia, ao princípio pensava que era porque talvez o seu pai não recebesse grande coisa, mas a televisão moderna e o computador novo tinham-no feito mudar de ideias, até que por fim Christopher se convencera que o seu pai não apreciava a sua companhia e não queria ficar com ele. Mas a presença do pai nos momentos mais importantes da sua curta vida, como a primeira ida para o infantário, para a primária, a entrega dos diplomas de passagem... o seu pai não tinha falado, nem tinha ido ter com ele mas tinha estado lá, e isso para Christopher valia ouro contra aquilo que pensara, se o seu pai não gostava dele para quê ir a estas cerimónias!?!? Por vezes achava que o seu pai estava preso, como se o uma parte dele o amasse e se preocupasse com ele e a outra o despreza-se... Era esquisito...
Um dia, estava Christopher a levantar-se, embora já fossem 10h, quando se apercebeu que o frigorifico estava vazio e isso só queria dizer uma coisa, a sua querida, adorada, amada e desejada avó paterna, Madeleine, viria fazer-lhe uma visita e como de costume criticar tudo o que apanhasse, e ele principalmente, por vezes achava que a avó tinha o gosto doentio de o fazer sentir-se mal e o seu avó, Richard, assistia a tudo calmamente, concordando por vezes...
Christopher sabia isso pois essa era normalmente a desculpa que o seu pai usava para a avó não ficar muito tempo, na realidade tinha duas, a primeira era "Estava a Trabalhar" o que no dia presente era verdade, ou então "Não tinha nada para comer" o que também era verdade, ou seja a avó devia andar mesmo a pressionar o seu pai. Christopher tremeu, isso queria dizer que a avó se ia agarrar a ele e esfolá-lo vivo se pudesse.
Com isto em mente e decidido a aproveitar os seus últimos momentos de liberdade "extra parental" Christopher dirigiu-se à sala e ligou a televisão num canal qualquer, visto não fazer ideia de que dia da semana era. A televisão provou-lhe que, quase sem espaço para dúvidas, era fim-de-semana, provavelmente sábado, visto que todos os canais estavam a passar desenhos animados, se fosse domingo algum estaria a passar a missa...
Christopher ia fazendo zapping pelos canais lentamente e ia perdendo a boa disposição. Em todos os desenhos animados apenas encontrava situações mágicas... CCS (CARD CAPTOR SAKURA), SM (SAILOR MOON), R½(RANMA 1/2), e muitos outros...
Não tinha nada contra a magia, ou pelo menos achava que não, mas a frase do pai nunca parava de ecoar na sua mente "Se a magia existisse a tua mãe não teria morrido...", e isso fazia-o sentir-se mal, porque é que aquelas pessoas inventadas, feitas de papel e caneta tinham todos aqueles poderes e ele que era de carne e osso não tinha, se os tivesse a sua mãe não teria morrido e sem dúvida que ela, ele e o seu pai estariam agora a preparar umas férias espectaculares a um sítio qualquer como o Hawai, ou talvez o Brazil, tinha ouvido falar muito bem das praias de ambos os países!!!
Desligou a televisão chateado e foi-se vestir. Assim que acabou, ouviu alguém tocar á campainha. Desceu calmamente as escadas e abriu a porta. Do lado de fora da porta estava um casal de idade.
Uma senhora com cabelos grisalhos apanhados no alto da nuca, blusa dum branco imaculado, uma saia verde e umas colãns de vidro que acabavam dentro dumas sabrinas verdes escuras que brilhavam. O senhor por sua vez era meio careca, e usava um conjunto fato casaco preto que completava com um laço preto, um guarda chuva preto debaixo do braço e um jornal meio amarelado à frente da cara. Eram quase o que se podia chamar um típico casal inglês da idade da pedra!!
Christopher sorriu e tentou ser o mais simpático possível quando disse:
- Olá Avó! Olá Avô!!!
Madeleine Bleue, fez uma espécie de grunhido antes de empurrar Christopher para o lado e entrar. Richard Bleue ainda murmurou um pequeno "Bom Dia" mas disse-o de um modo que lembrava a Christopher o modo como os patrões cumprimentam os empregados que atendem às portas e que eles não conhecem de lado nenhum.
Madeleine olhou em redor e perguntou por fim a Christopher:
- Onde está o meu Patrick???
Christopher suspirou, sabia o que avó queria quando dizia "O Meu Patrick", ela queria apresentar ao seu pai outra daquelas mulheres horrosas que conhecera e que dariam "óptimas esposas e donas do lar...", já conhecera algumas, maior parte delas piscava os olhos em espanto quando o via, a sua avó nunca o mencionava nas longas conversas que tinha com elas sobre "o seu Patrickzinho!", qualquer uma delas achava que Patrick era apenas solteiro, talvez algumas soubessem que ele era viúvo mas uma coisa Christopher tinha a certeza nenhuma delas sabia, até o conhecer, que Patrick era pai.
Madeleine olhou para Christopher como se quisesse comer e disse severamente:
- Fiz-te uma pergunta rapaz!!! Responde!!!
- O pai não está!!!- acabou por responder Christopher que achou por bem acrescentar rapidamente, ou talvez já fosse o hábito- está a trabalhar!!!!
- Mas é Sábado!!!- resmungou Madeleine e completou a tom de desabafo- o meu Patrick sempre trabalhou demais para sustentar quem não devia...
Christopher mordeu a língua e olhou para o avô mas este já se tinha sentado num cadeirão da sala e continuava a sua leitura como se nada mais existisse no mundo além do seu conforto e do seu jornal. Madeleine continuava a falar mas Christopher não a ouvia, estava mais interessado a ler uma noticia que vinha no jornal do avô, ocupava duas páginas, de um lado ao outro, e tinha como letras garrafais O MINISTÉRIO DA MAGIA...
Madeleine, puxou Christopher pelos ombros e disse enquanto o endireitava, embora Christopher estivesse o mais direito que era possível numa t-shirt e em calções...
- Não sabes que é feio espiar os outros rapaz!!!! O que tu precisas é duma mãe com um pulso de ferro para te poder educar que a tua não fez nada! Claro que te carregou durante 9meses, suportou as dores do parto e amamentou durante não sei quanto tempo... mas ajudar a criar-te, a trazer dinheiro para casa e afins... nada, nicles batatóides!! Morreu... realmente a morte é uma boa solução... devia tentar matar-me da próxima vez que me venha parar uma conta à mão, assim não teria a RESPONSABILIDADE de a pagar...
Christopher continuava a morder a língua cada vez com mais força, por esta altura sem dúvida que esta já devia sangrar. Já, já sangrava, Christopher conseguia sentir o sabor a sangue... como odiava aquele sabor...
Madeleine continuava a falar como se Christopher não estivesse presente e apenas estivesse a discutir uma ideia com Richard, que como sempre apenas assentia ou nem respondia.
- Eu sabia... soube logo assim que lhe ouvi o nome... cheirei à distância... eu bem que disse "Patrick meu tesouro não te envolvas com essa gente, são óptimos para arranjar responsabilidades e a seguir puff, somem como cheiro ao vento..." mas o teu querido pai não me quis ouvir... OH não... "Mãe, eu amo-a ... Mãe, ela ama-me... ela jamais me abandonaria..." se eu não fosse uma mulher com coração de ouro atiraria isso á cara do meu Patrick... mas como sou e nunca é tarde para se remediar um mal...
Christopher questionava-se se a sua avó teria coração!?! Se aquilo era ter um coração de ouro não gostaria de se cruzar com mais ninguém que o tivesse. OH sim se pudesse colocaria um letreiro a dizer "Pessoas com Coração de Ouro por favor afastassem, a minha avó já tem um!". Estava Christopher perdido nos seus pensamentos quando...
- Uma grande....- nesta altura Madeleine baixou a voz- era o que tua mãe era!!!
Nessa altura Christopher não se conseguiu conter, cerrou os punhos e berrou:
- A MINHA MÃE NÃO ERA NADA DISSO!!!
Pela primeira vez desde que conhecia o avô Christopher viu-o desviar a cara do jornal e olhar intrigado na sua direcção, como se só agora se tivesse apercebido que Christopher existia, que ele não era um criado da casa mas sim o seu neto. Madeleine estava sem voz e parecia chocada...
- O que... o quê!!???!
Christopher quase conseguia ver a sua avó a ficar vermelha como as personagens dos desenhos animados, lentamente tal e qual vaso a encher. Madeleine sentia uma raiva imensa, há anos que não sentia aquela raiva contra outra pessoa, só a tinha sentido um outra vez em relação a uma pessoa e essa pessoa tinha sido a mãe do rapaz que estava à sua frente. Completamente fora de si Madeleine deu um encontrão a Christopher que caiu no chão no meio do corredor, a sua avó podia ser velha mas tinha muita força.
- COMO É QUE TU TE ATREVES?? FEDELHO MISERÁVEL!!! SABES COM QUEM TE METES!?!?!
Sem saber muito bem porquê, afinal o que lhe podia acontecer era apanhar umas boas palmadas, Christopher engoliu a seco e de costas com as mãos no chão começou a andar até ao fim do corredor, sempre seguido pela avó que vinha com cara de quem o queria matar e cuja mão direita estava cerrada sobre algo comprido que ele não conseguia ver o que era mas que lhe lembrava um pau. Por fim, como era de se esperar, o corredor acabou e Christopher ficou com as costas contra um grande espelho.
O seu avô levantou-se rapidamente como que para ir acalmar a mulher mas estava atraso, a raiva da sua avó parecia ir desmoronar-se em cima de Christopher quando de súbito ele a viu ficar muito branca e murmurar:
- Tu...
Christopher voltou-se para o espelho, mas além do seu reflexo assustado e a avó nada mais o espelho reflectia. Olhou para a avó, estava a ficar cada vez mais branca, como se a morte se estivesse a projectar no seu espírito ou qualquer coisa parecia. Olhou de novo para o espelho nada, o espelho na reflectia mais nada do que a avó e ele, no entanto de súbito ele jurou ouvir:
- Desaparece Madeleine... quem te chamou à minha casa... e quem te deu ordens para maltratares o MEU filho...
Christopher sentiu um arrepio e viu que a sua avó também tremia como varas verdes. Richard chegou ao pé da mulher e apoiou-a nele, Madeleine não lutou e deixou o marido ampará-la, para Christopher isto era uma novidade visto que a avó e o avô pareciam manter-se o mais distantes que pudessem, praticamente, pelo menos na sua presença, nunca interagiam. Richard olhou para Madeleine e para Christopher com uma cara esquisita e quando os seus olhos pousaram no espelho pareceu ficar confuso, como se esperasse ver algo mas não estivesse a ver.
Nessa altura alguém abriu a porta da frente muito rápido. Patrick entrou e o primeiro sítio onde os seus olhos pousaram foi no espelho ao fundo do corredor... os seus olhos piscaram e Christopher jurou que água os rodeava até que por fim Patrick tomou uma cara séria e perguntou:
- Christopher??
- Pai!- chamou Christopher, num tom que dizia "S- o- c- o- r- r- o!!!".
De súbito Patrick apercebeu-se que a sua mãe estava com a mão envolta naquela estranha coisa comprida e que Richard a estava a apoiar, de súbito apercebeu-se pela cara assustada de Christopher e pelo espelho o que provavelmente se tinha estado a passar... uma raiva sem igual subiu por Patrick, uma raiva tão forte ele nunca se lembrava de ter sentido.
- MÃE COMO SE ATREVE!!! CHRISTOPHER VAI PARA O TEU QUARTO!!!!!
- Mas...- disse Christopher como que a tentar desculpar-se.
- VAI PARA O TEU QUARTO!!!!- gritou Patrick apontado para o andar de cima e caminhado pesadamente para ao pé dos pais na sala.
Christopher nem pensou duas vezes, o tom de voz do pai não o permitia. A correr subiu as escadas, correu pelo corredor e entrou no seu quarto, tentando ignorar as vozes que se elevavam no ar de baixo. Lá fechou a porta, saltou para cima da cama e enrolou-se no seu edredõn pensando para si que adoraria ter uma mãe que o protegesse daquela gente doida que estava aos berros no andar de baixo.
Ele apenas queria ter uma família normal, uma mãe, um pai que o amassem e que ele amasse, uns avós para saírem com ele ao fim de semana e lhe comprarem doces... não era pedir muito ou era???
As vozes no andar de baixo subiam de volume. Christopher deitou-se e apertou o edredõn contra si, tentando esquecer que era Christopher Bleue e que no andar de baixo a sua família, ou seria o que restava dela, estava aos berros... então a voz voltou...
- Christopher... Christopher Robin...
E aos poucos Christopher foi-se acalmando, sentiu um calor à sua volta como se alguém o abraçasse e realmente o estivesse a proteger tal como ele tinha pedido, sorriu e por fim acabou por adormecer sonhando que alguém o embalava e cantava canções para adormecer enquanto lhe recordava o quanto o amava...
~ * ~
Setembro, ainda que a um mês de distância, estava próximo, Patrick tinha consciência disso, tal como tinha consciência de que em Maio desse ano o seu filho tinha feito onze anos, e isso só podia significar uma coisa... uma carta... talvez duas... era isso que dava a dupla descendência... não sabia se Christopher aceitaria isso bem... talvez por vingança à avó fosse para a Escola de Magia e Feitiçaria de Finn McCool...
Não queria que o seu filho entrasse no mundo da feitiçaria... a feitiçaria podia ser uma coisa incrível mas também terrível... tinha apreendido isso á custa da vida da mãe dele... por isso tinha fugido para o mundo Muggle... pensava que ele era seguro... mas depois do que acontecera no dia anterior já não estava tão certo disso... a sua mãe bem podia ter usado a varinha e continuando o acesso de raiva ter matado o neto que sempre odiara... se assim fosse era bom que Christopher soubesse como se defender e mesmo que o Ministério o tentasse expulsar da escola ele sempre podia alegar que tinha sido em auto- defesa o que seria facilmente provado pelos feitiços que ele usara...
Passados alguns minutos ouviu o som de alguém a descer as escadas meio a correr meio a andar.
- Exactamente como ela fazia...- deixou escapar.
Voltando-se Patrick encontrou Christopher frente a frente pela primeira vez desde da manhã em que tudo se tinha passado. Tinham-se passado quase uma semana, tinha tido um trabalhão dos diabos a acalmar os pais, a mãe principalmente, tinha tido que trabalhar que nem doido para compensar o tempo perdido e tinha tido que dormir e comer, nada mais, era assim a sua vida desde que Christopher tinha idade para estar sozinho, a sua sorte tinha sido que o filho tinha crescido bastante rápido.
Olhou o filho de cima a baixo, ele tinha um ar pálido e abatido, cumprimentos dos Bleue, os Bleue sempre tinham tido pele muito branca, como se estivessem doentes, eram brancos como a neve, mas Christopher tinha os olhos verdes da mãe, aqueles belos e misteriosos olhos verdes... era só dar tempo a Christopher... mais uns anos e ele teria todas as miúdas da escola aos seus pés...
Sorriu para Christopher e este, contente por o pai o parecer ter perdoado,(mas perdoado de quê!?!? No fundo ele não tinha feito nada!!) retribuiu o sorriso...
- Bom dia pai!- disse embora um pouco a medo.
- Bom dia Christopher...- disse Patrick sorrindo- Como te sentes hoje??
- Bem!- respondeu Christopher radiante por saber que o pai queria conversar com ele, não esperava isso- então...- questionou a medo- vais trabalhar hoje... ou podemos sei lá... fazer qualquer coisa...
Patrick sorriu, parecia algo animador e variado.. começava a ficar farto do seu emprego Muggle... além de que estava a chegar a altura em que Christopher teria que começar a desvendar a verdade, aos poucos era certo mas teria que começar...
- Que dia é hoje??
Sem perceber o que isso tinha a ver com o resto Christopher respondeu:
- 25 de Julho!
Patrick sorriu e disse:
- ... Não, não vou!!
Christopher piscou os olhos e comentou:
- Mas pai a última vez que faltaste... foi porque eu tinha 40º de febre e isso foi há...- tentou fazer as contas mas não conseguiu, era muito pequeno na altura- há um monte de tempo atrás....
Patrick sorriu e assentiu num gesto de cabeça. Por fim suspirou e afirmou:
- Hoje não vou porque hoje é um dia especial Christopher... Sabes que dia é hoje!?!?... Estupidez minha! É claro que não sabes!!! Eu não te contei...
Christopher piscou os olhos, teria o seu pai enlouquecido!?! Essa parecia a única solução, ele devia ter ido a casa da sua avó jantar com a tal mulher que daria uma óptima esposa e dona do lar e a avó tinha-o envenenado ou talvez dado com uma frigideira na cabeça, só podia...
Patrick sorriu e suspirou de novo. Então Christopher reparou admirado que o Cd de Celine Dion continuava, embora noutra música, a tocar baixinho...
"Let's talk about love
Let's talk about us
Let's talk about live
Let's talk about trust…"
Patrick sorriu, para ela era fácil dizer... mas para ele fazer... achava estúpido tratar a voz do Cd como se fosse ela mas sentia-se a bem a fazer isso, era uma consolação, uma consolação e um desespero...
- Senta-te Christopher quero contar-te uma coisa...
~ * ~
Virgínia Weasley Potter, mais conhecida por Ginny, estava a ler a lista dos novos alunos. O seu cabelo vermelho fogo estava maior e de momento solto chegava-lhe a quase meio da costas, os seus olhos castanhos estavam brilhantes e as faces tinham um rosado natural, a sua roupa dourada brilhava como estrelas realçando a sua beleza e delicadeza. Lentamente revia os nomes e tomava nota dos novos assim que recebia a confirmação da sua vinda.
- Ann Deever, Joshua Motes...
A lista parecia inacabável, isto até ela chocar com nomes familiares...
- Ronald Granger- Weasley... Quem havia de dizer! Se este tiver a língua do pai há por aí uma rapariga que vai sofrer... e por falar em sofrer... Lucius Malfoy Jr. ... com quem irá este implicar...
Ginny levantou a sua caneca de café e começou a bebe-la lentamente, até que os seus olhos pousaram no último nome que esperava ver...
- Christopher Bleue...
Lentamente pousou a caneca de café e olhou para uma moldura, na parede, onde se conseguia ver a si própria e a duas amigas... lá estava muito mais nova, anos mais nova... formava-se nesse dia e embora já tivesse saído da escola há um ano ou mais as suas amigas tinham ido ter com ela e ficado com ela nesse dia tão especial... as três amigas deram um grande abraço e começaram a rir... onde iam esses dias alegres e despreocupados, pensou Ginny, agora os dias eram despreocupados de medo mas ocupados de trabalho, era alegre mas por vezes... por vezes punha-se a pensar nela e no seu irmão... ambos mortos... como era isso possível... juraria que ainda ontem tinha falado com o seu irmão sobre tudo e nada... que passeara com ela num centro comercial... e de súbito o mundo virar-se... primeiro tinha ido ela, tinha desaparecido a proteger o filho como qualquer mãe desse nome... depois, pouco tempo depois, talvez uns cinco dias, tinha sido a vez do seu irmão Ronald... morto a proteger a família, como bom pai e homem de família que era... o que Hermione tinha chorado, tinha chorado e chorado por ela, pelas filhas e pelo filho de oito meses que tinha dentro da barriga... filho que nunca conheceria o pai... Ginny arriscaria a dizer que ela tinha chorado tanto que agora não tinha mais lágrimas para chorar, mas sabia que isso era impossível...
Um bater leve na porta tirou Ginny do seu mundo de pensamentos e ela pode ver o seu marido, Harry Potter, Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, entrar sorridente na sala de aula. Harry continuava o mesmo, o seu cabelo negro continuava rebelde, os seus belos olhos verdes continuavam atrás dum par de óculos, e a sua fatiota era toda vermelha e dourada o que fazia realçar os seus cabelos. Sem esperar e sem cumprimentar Harry começou imediatamente a falar:
- Consegui Gin., consegui arranjar os Vampiros e as Fadas Carpideiras para dar aos sétimos anos!!! E tenho um Dementor para os sextos anos e ... que se passa??
Harry tinha parado ao ver a cara de espanto e choque na cara de Ginny. Ginny fez um sorriso irónico e comentou:
- Que queres fazer? Criar um exército de feiticeiros??
Harry piscou os olhos e fingindo-se Voldemort disse:
- Descobriste o meu plano Potter mas eu voltarei!!!!
Ginny riu com Harry mas por pouco tempo, passou-lhe a lista que tinha em cima da mesa, e lançou-lhe um olhar que dizia "Lê!". Harry pegou na lista e leu-a calmamente, ia para encolher os ombros quando os seus olhos pousaram em...
- Christopher...
Harry olhou para Ginny como que a pedir confirmação de que aquele Christopher era o Christopher que ele estava a pensar mas Ginny apenas disse:
- Creio que sim!!! Sim, deve ser ele...
Harry sorriu feliz, mas o seu sorriso rapidamente se desvaneceu para um cerrar de lábios o tomar enquanto perguntava:
- O Patrick não vai tentar o que os meus tios tentaram vai??
Ginny piscou os olhos e encolheu os ombros, não acreditava mas:
- Quem sabe???
Harry exaltou-se e bateu com o punho na mesa, fazendo com que tudo em cima desta treme-se.
- Proíbo-o de fazer tal!! Nem que tenha que o ir buscar!!!!
Ginny suspirou e comentou:
- E que lhe vais dizer Harry!?!? Tal como tu ele não sabe... e ele está com o pai! Que te faz pensar que ele trocaria o pai por ti!!!
Harry deu-se por vencido e sentou-se numa cadeira em frente a Ginny, esta apertou-lhe a mão e disse suavemente:
- Sei que só queres o melhor para ele Harry... tal como só querias o melhor para ela...
- E o melhor para ela teria sido ficar afastada de tudo isto!- disse Harry tristemente- teria sido melhor ela nunca ter descoberto...
Ginny abanou a cabeça e comentou:
- Nem tu próprio acreditas no que dizes Harry...
Nesse momento tronaram a bater á porta e Hermione Granger- Weasley, nova Professora de Transfiguração entrou no gabinete da Psicóloga de Hogwarts. Hermione continuava, assim um pouco como Harry, na mesma, o seu cabelo continuava sem tratamento, os seus olhos castanhos continuavam a mostrar sapiência, só que de um nível mais elevado, e continuava a ler que nem doida e a prova disso era que debaixo do braço e roçando as suas vestes azuis estavam dois livros. Um bastante antigo chamado Hogwarts, Uma História e outro relativamente novo, comprado nem uma semana atrás mas já lido e relido mais de mil vezes, intitulado Professores, Alunos & Transfiguração.
A Professora McGonnagal ia reformar-se e tinha convidado Hermione para o seu lugar, esta tinha aceitado, já estava farta do seu emprego no Mistério, além de que agora que todos os seus três filhos, as gémeas Hermione e Heather, e Ronald estavam em Hogwarts não lhe apetecia entrar numa casa vazia, isso só a faria pensar em coisas tristes e ela não queria voltar a essa fase da sua vida.
Com um sorriso Hermione cumprimentou Ginny e Harry:
- Potter's!- disse na brincadeira.
- Granger- Weasley!- disseram Harry e Ginny em coro.
Todos riram durante um pouco até que Hermione afirmou:
- Para todos os efeitos sou só Granger, Professora Granger!! E tu Harry? Professor Potter suponho! Ginny...
- Psicóloga Weasley! Obrigada, não quero que os alunos saibam que o seu Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas é casado comigo... acho que ninguém que não deva tenha que saber...
Hermione assentiu num gesto de cabeça e comentou:
- A velha McGonnagal disse-me muito bem das gémeas... estou ansiosa de as ver em acção... em casa não podiam fazer magia... e estou ansiosa pelo Rony...
Ginny assentiu, num olhar que dizia "Percebo o que queres dizer", mas Harry resmungou baixo e comentou:
- Vocês mulheres preocupam-se demais com os filhos!!! Ele há- de sobreviver, afinal não vai lutar contra o Voldemort ou algo do género... por falar em Voldemort...- Harry suspirou- Herm, a verdadeira batalha vai começar agora...
Hermione piscou os olhos e perguntou:
- Que verdadeira batalha!?!
Harry suspirou antes de dizer:
- A batalha contra o passado...
~ * ~
Christopher piscou os olhos, teria ele ouvido bem, é ele ia jurar que o seu pai lhe tinha dito, vamos ver QUE O SEU PAI LHE TINHA DITO, que a magia era real, que ele era um feiticeiro, que a sua mãe fora uma feiticeira e que ele era um feiticeiro. Bem ele sempre achara esquisito como, tendo pernas muito mais pequenas, conseguia sempre fugir dos rapazes que lhe queriam bater ou como os rasgões da sua roupa desapareciam se ele ficassem com medo que a avó lhe ralhasse, mas disso ao ponto de ele ser um feiticeiro...
- Eu sou o quê??? Tu és o quê?? A mãe era o quê??? Vá lá pai! Não esperas que eu....!! Já não tenho cinco anos...
Patrick encolheu os ombros, já esperava isto do filho, também depois do que ele tinha feito era normal, mas ele tinha sido... nem sabia porque lhe estava a contar a verdade. De súbito o som duma coruja recordou-o.
- Ah! – disse- as tuas cartas chegaram...
Christopher olhou para a janela e tronou a piscar os olhos, um par de corujas, uma branca e outra castanha lutavam por entrar. Patrick abriu-lhes a janela e elas entraram e rodaram em volta de Christopher vendo qual delas deixaria a carta primeiro. Christopher seguia as corujas com os olhos mas acabou por parar, estava a ficar com dores de cabeça. Patrick riu e mandou as corujas pousarem as cartas, coisa que elas fizeram partindo em seguida.
Christopher pegou nas cartas e viu que ambas lhe eram dirigidas, ambas de escolas de Magia e Feitiçaria, uma de Finn McCool e outra de Hogwarts... Pousou-as e pensou qual abriria, ia para abri-las ao mesmo tempo quando o seu pai lhe disse:
- Assim que abres a carta a tua inscrição é tida como aprovada e portanto aceite, só podes abrir uma das cartas, a outra destruir-se-á...
Christopher assentiu num gesto de cabeça e perguntou porque recebera duas, Patrick explicou:
- Pela tua dupla descendência Christopher, eu sou irlandês e a tua mãe era inglesa, ambos estudamos em Hogwarts mas tu nasceste na Irlanda... Está nas tuas mãos...
A carta de Finn McCool era escrita a vermelho e a de Hogwarts a verde esmeralda. Pegou na de Hogwarts e disse abrindo-a:
- Pela mãe!!!
Fim do Capítulo 1
N.A: Então?!?! Espero que tenham ficado a saber muito mais do que é dito no trailer, embora não muito mais não é?!?! Bom, espero que estejam a gostar! Colocarei o próximo capítulo o mais rápido que puder! Bjs CACL
BJS
CACL
Disc. Foi dito no trailer não será repetido, vale para todos os capítulos!!
Para: O meu maninho Francisco!!!
"Não é a infelicidade que nos mata. São as saudades..."
(Dorothy Parker)
Capítulo 1
«Pelo amor duma mãe...»
A única coisa que se lembrava de quando era novo era de pedir ao pai para este lhe ler um livro de Contos de Fadas. Lembrava-se da cara do pai ficar séria, dele lhe tirar o livro e dizer que era tudo mentira, lembrava-se de tentar ripostar mas também se lembrava da frase que o seu pai usara para confirmar o que dizia e contra isso ele não tivera nem tinha argumentos...
- Se a magia existisse a tua mãe não teria morrido...
Nunca tinha percebido o que a sua mãe tinha haver com a magia, mas imaginava-a como uma fada ou algo parecido, talvez uma princesa encantada, sabia que a sua mãe tinha morrido um ano depois dele ter nascido, mas não sabia nada mais dela, não sabia o nome, a idade, a data de nascimento, como ela era, estava a zeros.
Nunca mais tinha pedido nada do género ao seu pai, o mais curioso era saber como se o seu pai não acreditava em magia ele tinha um livro de Contos de Fadas... talvez a sua mãe... gostava tanto de saber mais sobre ela... mas não podia pensar em pedir ao pai, o seu pai desviaria a conversa ou acabaria por ficar irritado e ele ficaria na mesma... sem saber nada... sabia que se queria descobrir algo tinha que o fazer sozinho... mas por onde podia ele começar, não tinha um nome, uma referência... além de que era a sua mãe...
Suspirou, olhou para a folha de papel á sua frente, era suposto estar a escrever uma redacção de férias... bem, ele já tinha começado... já tinha escrito o seu nome... Christopher Bleue...
- Christopher...
Voltou-se mas não viu ninguém... não era a primeira vez que ouvia aquela voz meiga e suave chamar o seu nome mas ultimamente ela tinha voltado em força, dantes ouvia uma vez de meses a meses, agora praticamente todos os dias a ouvia, como uma brisa de vento a roçar entre as cortinas...
- Christopher...
Gostava de ouvir aquela voz imaginária, adorava, ela parecia saber como o afastar dos pensamentos tristes, como o tornar leve como uma pena. Por vezes fechava os olhos, pousava a cabeça e ouvia durante tanto tempo quanto quisesse a voz a repetir suavemente como o vento a fazer festas ao mar...
- Christopher...
E então era como se nada de mau lhe pudesse acontecer...
~ * ~
Patrick Bleue, um viúvo de 38 anos cabelos negros, olhos azuis escuros quase negros, vestido de fato e gravata, meteu a chave na fechadura e suspirou tinha sido um dia difícil. Assim que fechou a porta reparou que tinha música de fundo, Christopher devia ter aproveitado o facto de ter voltado mais cedo para casa da escola e ter atacado a aparelhagem. A música Immortality cantada por Celine Dion enchia a casa...
"So this is who I am
And this is all I know
(…)"
Patrick suspirou, não gostava daquela música, lembrava-o muito dela, demasiado. Ele não merecia sofrer assim...
"We don't say goodbye
We don't say goodbye
(…)
I keep the memory of you and
Me inside
Fulfill your destiny…"
Grunhiu, como se ele já não tivesse tentado e voltado a tentar... para ela era fácil dizer, não era ela que tinha que enfrentar o desafio de criar um filho sozinho, de seguir em frente sem a pessoa amada, de deixar tudo o que fazia sentido e que depois se tinha tronado fútil para trás, para tentar uma vida nova...
"My storm will never end
My fate is on the wind"
Parou de reclamar e enfrentou a realidade… pôs-se a pensar... embora ela já não estivesse ali os seus últimos momentos deviam ter sido bem mais difíceis do que tudo o que ele fizera para o seu bem e para o bem de Christopher... Fechou os olhos por momentos... Memórias abandonadas voltaram...
» Uma sala com tudo deitado a baixo como se um terramoto a tivesse varrido... um casal que não devia ter mais de 27anos... um homem de cabelos negros vestido com uma capa voltou-se para uma mulher de cabelos castanhos que envergava um vestido dourado e disse:
- Corre! Vai buscar o Christopher!!!
A mulher piscou os olhos e reclamou:
- ... mas Patrick tu não...
A casa tremeu de novo. Patrick deu um murro numa mesa próxima e gritou para a sua mulher:
- VAI!!!!
Ela assentiu, foi ter com ele abraçou-o, segurou a sua face entre as suas pequenas e brancas mãos, beijo-o disse-lhe ao ouvido num sussurro Amo-te e partiu em direcção ao andar de cima... «
"We don't say goodbye
We don't say goodbye"
No fundo ele é que a tinha enviado para a morte...
"'Cause I have found a dream
that must came true
Every ounce of me must see it through"
Sorriu, seria exactamente a resposta que ela lhe daria se o pudesse fazer, ela diria que a vida de Christopher era muito mais importante que a dela e que não seria capaz de viver com o facto dele ter morrido e ela não ter feito nada para o evitar.
Patrick entrou na sala. A janelas estavam meio abertas e o vento roçava nas cortinas, tal como previra Christopher estava na sala deitado no sofá, aproximou-se lentamente ao ver que o seu filho dormia deitado no sofá.
Alvorecer, um gato preto que Christopher tinha adoptado há bastante tempo, estava deitado no braço do sofá e estava encostado à cabeça de Christopher como que a protegê-lo. Patrick sentou-se no banco em frente ao sofá a observar o filho. Parecia-se com o padrinho dele quando este fora mais novo... tinha cabelos negros desordenados, óculos, falta de amigos, uma família que o odiava... não que ele odiasse o filho! Ele nunca poderia odiar algo que tivesse vindo dela e o facto de que Christopher era um pouco dele também ajudava a manter essa política.
Embora tentasse parecer distante Patrick era tudo menos insensível ás emoções do filho, ele sabia a dor que Christopher devia passar todos os natais, dias da mãe e feriados de família... em todo o lado se viam famílias felizes e Christopher apenas tinha o pai que trabalhava como louco, a mãe morta, os avós que o desprezavam e nem apareciam, e Alvorecer que devia ser a única criatura naquela casa com tempo para ele...
"I'm sorry I don't have a role for love
To play
Hand over my heart I'll find my way
(…)
We don't say goodbye
We don't say goodbye"
Christopher mexeu-se durante o sono e pronunciou algo que admirou Patrick…
- Mãe...
Mãe?!?!? Como podia ele sonhar com a mãe, ele tinha um ano no máximo quando tudo acontecera...
- Mãe... cuidado... atrás de ti...
O sono calmo tinha-se começado a tronar num pesadelo, Patrick sabia-o, agarrou a mão do filho, como que a dizer que estava ali, e a voz dele foi baixando até se tronar um murmúrio suave...
- Mãe...
"With all my love for you
And what else could we do..
We don't say, goodbye…"
Patrick suspirou ao ver que mesmo assim o pesadelo parecia não parar. A cara de Christopher tinha-se tronado séria e ele parecia desesperado. Então de súbito Patrick jurou ouvir alguém murmurar:
- Christopher... Christopher Robin...
Christopher sorriu e parou de rabujar. O pesadelo tinha parado. Patrick piscou os olhos e olhou em redor... a sala estava deserta, foi ao armário e tirou do topo uma caixa comprida e castanha, lá dentro estava a única coisa que tinha trazido do seu antigo mundo, lá dentro estava uma bela varinha...
Lançou um feitiço, que miraculosamente ainda sabia, para revelar pessoas ou feitiços, a resposta foi nula... num raio de 2km ninguém tinha lançado um feitiço ou se desmaterializado... devia ter sido a sua imaginação...
Voltou a guardar a varinha e voltou-se para o filho, viu a respiração deste tronar-se regular e ele acordar embora visse que ele fingia estar a dormir...
Sorriu, baixou o volume da aparelhagem, pegou numa manta que se encontrava ali perto, tapou-o dando-lhe um beijo na testa, tirou-lhe os óculos e chamou-o pela sua alcunha, coisa que não fazia á anos...
- Bons sonhos Christopher Robin...
Em seguida Patrick passou a mão pela cabeça de alvorecer que ronronou e Patrick rumou ao primeiro andar deixando Christopher a fazer um esforço para manter os olhos fechados, aquele não podia ser o seu pai, podia!?!?
~ * ~
Pela noite a dentro uma coruja voava em direcção à cidade irlandesa de Gweedore, nas suas patas uma carta de papel amarelado onde na frente se podia ler em letras verde esmeralda.
"De: Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts...
Para: Ex.mo Sr. Christopher Bleue
Rua St. Ann, n.º 24, Gweedore, Irlanda"
As suas asas começavam a doer embora fizesse algumas pausas, a viagem desde Londres até Gweedore ia ser cansativa e talvez... em vão...
~ * ~
Os dias que se seguiram correram normalmente, a escola acabou para Christopher e sem escola Christopher ficava o todo dia, e praticamente toda a noite, sozinho em casa. Embora ao princípio fosse engraçado ter uma casa só para si e poder saltar do computador para a televisão e da televisão para o computador quando lhe apetecia, em breve a vida se tronou monótona e nem mesmo a possibilidade de ir explorar o sótão onde memórias sobre a sua mãe podia estar o animou...
Todos os dias o pai de Christopher saía de casa às 6h da manhã e todos os dias voltava ás 9h da noite por vezes mais tarde e por vezes nem voltava chegando a fazer directas atrás de directas.
Christopher podia afirmar que desde que se lembrava o seu pai tinha trabalhado 8 dias por semana e 25h por dia, ao princípio pensava que era porque talvez o seu pai não recebesse grande coisa, mas a televisão moderna e o computador novo tinham-no feito mudar de ideias, até que por fim Christopher se convencera que o seu pai não apreciava a sua companhia e não queria ficar com ele. Mas a presença do pai nos momentos mais importantes da sua curta vida, como a primeira ida para o infantário, para a primária, a entrega dos diplomas de passagem... o seu pai não tinha falado, nem tinha ido ter com ele mas tinha estado lá, e isso para Christopher valia ouro contra aquilo que pensara, se o seu pai não gostava dele para quê ir a estas cerimónias!?!? Por vezes achava que o seu pai estava preso, como se o uma parte dele o amasse e se preocupasse com ele e a outra o despreza-se... Era esquisito...
Um dia, estava Christopher a levantar-se, embora já fossem 10h, quando se apercebeu que o frigorifico estava vazio e isso só queria dizer uma coisa, a sua querida, adorada, amada e desejada avó paterna, Madeleine, viria fazer-lhe uma visita e como de costume criticar tudo o que apanhasse, e ele principalmente, por vezes achava que a avó tinha o gosto doentio de o fazer sentir-se mal e o seu avó, Richard, assistia a tudo calmamente, concordando por vezes...
Christopher sabia isso pois essa era normalmente a desculpa que o seu pai usava para a avó não ficar muito tempo, na realidade tinha duas, a primeira era "Estava a Trabalhar" o que no dia presente era verdade, ou então "Não tinha nada para comer" o que também era verdade, ou seja a avó devia andar mesmo a pressionar o seu pai. Christopher tremeu, isso queria dizer que a avó se ia agarrar a ele e esfolá-lo vivo se pudesse.
Com isto em mente e decidido a aproveitar os seus últimos momentos de liberdade "extra parental" Christopher dirigiu-se à sala e ligou a televisão num canal qualquer, visto não fazer ideia de que dia da semana era. A televisão provou-lhe que, quase sem espaço para dúvidas, era fim-de-semana, provavelmente sábado, visto que todos os canais estavam a passar desenhos animados, se fosse domingo algum estaria a passar a missa...
Christopher ia fazendo zapping pelos canais lentamente e ia perdendo a boa disposição. Em todos os desenhos animados apenas encontrava situações mágicas... CCS (CARD CAPTOR SAKURA), SM (SAILOR MOON), R½(RANMA 1/2), e muitos outros...
Não tinha nada contra a magia, ou pelo menos achava que não, mas a frase do pai nunca parava de ecoar na sua mente "Se a magia existisse a tua mãe não teria morrido...", e isso fazia-o sentir-se mal, porque é que aquelas pessoas inventadas, feitas de papel e caneta tinham todos aqueles poderes e ele que era de carne e osso não tinha, se os tivesse a sua mãe não teria morrido e sem dúvida que ela, ele e o seu pai estariam agora a preparar umas férias espectaculares a um sítio qualquer como o Hawai, ou talvez o Brazil, tinha ouvido falar muito bem das praias de ambos os países!!!
Desligou a televisão chateado e foi-se vestir. Assim que acabou, ouviu alguém tocar á campainha. Desceu calmamente as escadas e abriu a porta. Do lado de fora da porta estava um casal de idade.
Uma senhora com cabelos grisalhos apanhados no alto da nuca, blusa dum branco imaculado, uma saia verde e umas colãns de vidro que acabavam dentro dumas sabrinas verdes escuras que brilhavam. O senhor por sua vez era meio careca, e usava um conjunto fato casaco preto que completava com um laço preto, um guarda chuva preto debaixo do braço e um jornal meio amarelado à frente da cara. Eram quase o que se podia chamar um típico casal inglês da idade da pedra!!
Christopher sorriu e tentou ser o mais simpático possível quando disse:
- Olá Avó! Olá Avô!!!
Madeleine Bleue, fez uma espécie de grunhido antes de empurrar Christopher para o lado e entrar. Richard Bleue ainda murmurou um pequeno "Bom Dia" mas disse-o de um modo que lembrava a Christopher o modo como os patrões cumprimentam os empregados que atendem às portas e que eles não conhecem de lado nenhum.
Madeleine olhou em redor e perguntou por fim a Christopher:
- Onde está o meu Patrick???
Christopher suspirou, sabia o que avó queria quando dizia "O Meu Patrick", ela queria apresentar ao seu pai outra daquelas mulheres horrosas que conhecera e que dariam "óptimas esposas e donas do lar...", já conhecera algumas, maior parte delas piscava os olhos em espanto quando o via, a sua avó nunca o mencionava nas longas conversas que tinha com elas sobre "o seu Patrickzinho!", qualquer uma delas achava que Patrick era apenas solteiro, talvez algumas soubessem que ele era viúvo mas uma coisa Christopher tinha a certeza nenhuma delas sabia, até o conhecer, que Patrick era pai.
Madeleine olhou para Christopher como se quisesse comer e disse severamente:
- Fiz-te uma pergunta rapaz!!! Responde!!!
- O pai não está!!!- acabou por responder Christopher que achou por bem acrescentar rapidamente, ou talvez já fosse o hábito- está a trabalhar!!!!
- Mas é Sábado!!!- resmungou Madeleine e completou a tom de desabafo- o meu Patrick sempre trabalhou demais para sustentar quem não devia...
Christopher mordeu a língua e olhou para o avô mas este já se tinha sentado num cadeirão da sala e continuava a sua leitura como se nada mais existisse no mundo além do seu conforto e do seu jornal. Madeleine continuava a falar mas Christopher não a ouvia, estava mais interessado a ler uma noticia que vinha no jornal do avô, ocupava duas páginas, de um lado ao outro, e tinha como letras garrafais O MINISTÉRIO DA MAGIA...
Madeleine, puxou Christopher pelos ombros e disse enquanto o endireitava, embora Christopher estivesse o mais direito que era possível numa t-shirt e em calções...
- Não sabes que é feio espiar os outros rapaz!!!! O que tu precisas é duma mãe com um pulso de ferro para te poder educar que a tua não fez nada! Claro que te carregou durante 9meses, suportou as dores do parto e amamentou durante não sei quanto tempo... mas ajudar a criar-te, a trazer dinheiro para casa e afins... nada, nicles batatóides!! Morreu... realmente a morte é uma boa solução... devia tentar matar-me da próxima vez que me venha parar uma conta à mão, assim não teria a RESPONSABILIDADE de a pagar...
Christopher continuava a morder a língua cada vez com mais força, por esta altura sem dúvida que esta já devia sangrar. Já, já sangrava, Christopher conseguia sentir o sabor a sangue... como odiava aquele sabor...
Madeleine continuava a falar como se Christopher não estivesse presente e apenas estivesse a discutir uma ideia com Richard, que como sempre apenas assentia ou nem respondia.
- Eu sabia... soube logo assim que lhe ouvi o nome... cheirei à distância... eu bem que disse "Patrick meu tesouro não te envolvas com essa gente, são óptimos para arranjar responsabilidades e a seguir puff, somem como cheiro ao vento..." mas o teu querido pai não me quis ouvir... OH não... "Mãe, eu amo-a ... Mãe, ela ama-me... ela jamais me abandonaria..." se eu não fosse uma mulher com coração de ouro atiraria isso á cara do meu Patrick... mas como sou e nunca é tarde para se remediar um mal...
Christopher questionava-se se a sua avó teria coração!?! Se aquilo era ter um coração de ouro não gostaria de se cruzar com mais ninguém que o tivesse. OH sim se pudesse colocaria um letreiro a dizer "Pessoas com Coração de Ouro por favor afastassem, a minha avó já tem um!". Estava Christopher perdido nos seus pensamentos quando...
- Uma grande....- nesta altura Madeleine baixou a voz- era o que tua mãe era!!!
Nessa altura Christopher não se conseguiu conter, cerrou os punhos e berrou:
- A MINHA MÃE NÃO ERA NADA DISSO!!!
Pela primeira vez desde que conhecia o avô Christopher viu-o desviar a cara do jornal e olhar intrigado na sua direcção, como se só agora se tivesse apercebido que Christopher existia, que ele não era um criado da casa mas sim o seu neto. Madeleine estava sem voz e parecia chocada...
- O que... o quê!!???!
Christopher quase conseguia ver a sua avó a ficar vermelha como as personagens dos desenhos animados, lentamente tal e qual vaso a encher. Madeleine sentia uma raiva imensa, há anos que não sentia aquela raiva contra outra pessoa, só a tinha sentido um outra vez em relação a uma pessoa e essa pessoa tinha sido a mãe do rapaz que estava à sua frente. Completamente fora de si Madeleine deu um encontrão a Christopher que caiu no chão no meio do corredor, a sua avó podia ser velha mas tinha muita força.
- COMO É QUE TU TE ATREVES?? FEDELHO MISERÁVEL!!! SABES COM QUEM TE METES!?!?!
Sem saber muito bem porquê, afinal o que lhe podia acontecer era apanhar umas boas palmadas, Christopher engoliu a seco e de costas com as mãos no chão começou a andar até ao fim do corredor, sempre seguido pela avó que vinha com cara de quem o queria matar e cuja mão direita estava cerrada sobre algo comprido que ele não conseguia ver o que era mas que lhe lembrava um pau. Por fim, como era de se esperar, o corredor acabou e Christopher ficou com as costas contra um grande espelho.
O seu avô levantou-se rapidamente como que para ir acalmar a mulher mas estava atraso, a raiva da sua avó parecia ir desmoronar-se em cima de Christopher quando de súbito ele a viu ficar muito branca e murmurar:
- Tu...
Christopher voltou-se para o espelho, mas além do seu reflexo assustado e a avó nada mais o espelho reflectia. Olhou para a avó, estava a ficar cada vez mais branca, como se a morte se estivesse a projectar no seu espírito ou qualquer coisa parecia. Olhou de novo para o espelho nada, o espelho na reflectia mais nada do que a avó e ele, no entanto de súbito ele jurou ouvir:
- Desaparece Madeleine... quem te chamou à minha casa... e quem te deu ordens para maltratares o MEU filho...
Christopher sentiu um arrepio e viu que a sua avó também tremia como varas verdes. Richard chegou ao pé da mulher e apoiou-a nele, Madeleine não lutou e deixou o marido ampará-la, para Christopher isto era uma novidade visto que a avó e o avô pareciam manter-se o mais distantes que pudessem, praticamente, pelo menos na sua presença, nunca interagiam. Richard olhou para Madeleine e para Christopher com uma cara esquisita e quando os seus olhos pousaram no espelho pareceu ficar confuso, como se esperasse ver algo mas não estivesse a ver.
Nessa altura alguém abriu a porta da frente muito rápido. Patrick entrou e o primeiro sítio onde os seus olhos pousaram foi no espelho ao fundo do corredor... os seus olhos piscaram e Christopher jurou que água os rodeava até que por fim Patrick tomou uma cara séria e perguntou:
- Christopher??
- Pai!- chamou Christopher, num tom que dizia "S- o- c- o- r- r- o!!!".
De súbito Patrick apercebeu-se que a sua mãe estava com a mão envolta naquela estranha coisa comprida e que Richard a estava a apoiar, de súbito apercebeu-se pela cara assustada de Christopher e pelo espelho o que provavelmente se tinha estado a passar... uma raiva sem igual subiu por Patrick, uma raiva tão forte ele nunca se lembrava de ter sentido.
- MÃE COMO SE ATREVE!!! CHRISTOPHER VAI PARA O TEU QUARTO!!!!!
- Mas...- disse Christopher como que a tentar desculpar-se.
- VAI PARA O TEU QUARTO!!!!- gritou Patrick apontado para o andar de cima e caminhado pesadamente para ao pé dos pais na sala.
Christopher nem pensou duas vezes, o tom de voz do pai não o permitia. A correr subiu as escadas, correu pelo corredor e entrou no seu quarto, tentando ignorar as vozes que se elevavam no ar de baixo. Lá fechou a porta, saltou para cima da cama e enrolou-se no seu edredõn pensando para si que adoraria ter uma mãe que o protegesse daquela gente doida que estava aos berros no andar de baixo.
Ele apenas queria ter uma família normal, uma mãe, um pai que o amassem e que ele amasse, uns avós para saírem com ele ao fim de semana e lhe comprarem doces... não era pedir muito ou era???
As vozes no andar de baixo subiam de volume. Christopher deitou-se e apertou o edredõn contra si, tentando esquecer que era Christopher Bleue e que no andar de baixo a sua família, ou seria o que restava dela, estava aos berros... então a voz voltou...
- Christopher... Christopher Robin...
E aos poucos Christopher foi-se acalmando, sentiu um calor à sua volta como se alguém o abraçasse e realmente o estivesse a proteger tal como ele tinha pedido, sorriu e por fim acabou por adormecer sonhando que alguém o embalava e cantava canções para adormecer enquanto lhe recordava o quanto o amava...
~ * ~
Setembro, ainda que a um mês de distância, estava próximo, Patrick tinha consciência disso, tal como tinha consciência de que em Maio desse ano o seu filho tinha feito onze anos, e isso só podia significar uma coisa... uma carta... talvez duas... era isso que dava a dupla descendência... não sabia se Christopher aceitaria isso bem... talvez por vingança à avó fosse para a Escola de Magia e Feitiçaria de Finn McCool...
Não queria que o seu filho entrasse no mundo da feitiçaria... a feitiçaria podia ser uma coisa incrível mas também terrível... tinha apreendido isso á custa da vida da mãe dele... por isso tinha fugido para o mundo Muggle... pensava que ele era seguro... mas depois do que acontecera no dia anterior já não estava tão certo disso... a sua mãe bem podia ter usado a varinha e continuando o acesso de raiva ter matado o neto que sempre odiara... se assim fosse era bom que Christopher soubesse como se defender e mesmo que o Ministério o tentasse expulsar da escola ele sempre podia alegar que tinha sido em auto- defesa o que seria facilmente provado pelos feitiços que ele usara...
Passados alguns minutos ouviu o som de alguém a descer as escadas meio a correr meio a andar.
- Exactamente como ela fazia...- deixou escapar.
Voltando-se Patrick encontrou Christopher frente a frente pela primeira vez desde da manhã em que tudo se tinha passado. Tinham-se passado quase uma semana, tinha tido um trabalhão dos diabos a acalmar os pais, a mãe principalmente, tinha tido que trabalhar que nem doido para compensar o tempo perdido e tinha tido que dormir e comer, nada mais, era assim a sua vida desde que Christopher tinha idade para estar sozinho, a sua sorte tinha sido que o filho tinha crescido bastante rápido.
Olhou o filho de cima a baixo, ele tinha um ar pálido e abatido, cumprimentos dos Bleue, os Bleue sempre tinham tido pele muito branca, como se estivessem doentes, eram brancos como a neve, mas Christopher tinha os olhos verdes da mãe, aqueles belos e misteriosos olhos verdes... era só dar tempo a Christopher... mais uns anos e ele teria todas as miúdas da escola aos seus pés...
Sorriu para Christopher e este, contente por o pai o parecer ter perdoado,(mas perdoado de quê!?!? No fundo ele não tinha feito nada!!) retribuiu o sorriso...
- Bom dia pai!- disse embora um pouco a medo.
- Bom dia Christopher...- disse Patrick sorrindo- Como te sentes hoje??
- Bem!- respondeu Christopher radiante por saber que o pai queria conversar com ele, não esperava isso- então...- questionou a medo- vais trabalhar hoje... ou podemos sei lá... fazer qualquer coisa...
Patrick sorriu, parecia algo animador e variado.. começava a ficar farto do seu emprego Muggle... além de que estava a chegar a altura em que Christopher teria que começar a desvendar a verdade, aos poucos era certo mas teria que começar...
- Que dia é hoje??
Sem perceber o que isso tinha a ver com o resto Christopher respondeu:
- 25 de Julho!
Patrick sorriu e disse:
- ... Não, não vou!!
Christopher piscou os olhos e comentou:
- Mas pai a última vez que faltaste... foi porque eu tinha 40º de febre e isso foi há...- tentou fazer as contas mas não conseguiu, era muito pequeno na altura- há um monte de tempo atrás....
Patrick sorriu e assentiu num gesto de cabeça. Por fim suspirou e afirmou:
- Hoje não vou porque hoje é um dia especial Christopher... Sabes que dia é hoje!?!?... Estupidez minha! É claro que não sabes!!! Eu não te contei...
Christopher piscou os olhos, teria o seu pai enlouquecido!?! Essa parecia a única solução, ele devia ter ido a casa da sua avó jantar com a tal mulher que daria uma óptima esposa e dona do lar e a avó tinha-o envenenado ou talvez dado com uma frigideira na cabeça, só podia...
Patrick sorriu e suspirou de novo. Então Christopher reparou admirado que o Cd de Celine Dion continuava, embora noutra música, a tocar baixinho...
"Let's talk about love
Let's talk about us
Let's talk about live
Let's talk about trust…"
Patrick sorriu, para ela era fácil dizer... mas para ele fazer... achava estúpido tratar a voz do Cd como se fosse ela mas sentia-se a bem a fazer isso, era uma consolação, uma consolação e um desespero...
- Senta-te Christopher quero contar-te uma coisa...
~ * ~
Virgínia Weasley Potter, mais conhecida por Ginny, estava a ler a lista dos novos alunos. O seu cabelo vermelho fogo estava maior e de momento solto chegava-lhe a quase meio da costas, os seus olhos castanhos estavam brilhantes e as faces tinham um rosado natural, a sua roupa dourada brilhava como estrelas realçando a sua beleza e delicadeza. Lentamente revia os nomes e tomava nota dos novos assim que recebia a confirmação da sua vinda.
- Ann Deever, Joshua Motes...
A lista parecia inacabável, isto até ela chocar com nomes familiares...
- Ronald Granger- Weasley... Quem havia de dizer! Se este tiver a língua do pai há por aí uma rapariga que vai sofrer... e por falar em sofrer... Lucius Malfoy Jr. ... com quem irá este implicar...
Ginny levantou a sua caneca de café e começou a bebe-la lentamente, até que os seus olhos pousaram no último nome que esperava ver...
- Christopher Bleue...
Lentamente pousou a caneca de café e olhou para uma moldura, na parede, onde se conseguia ver a si própria e a duas amigas... lá estava muito mais nova, anos mais nova... formava-se nesse dia e embora já tivesse saído da escola há um ano ou mais as suas amigas tinham ido ter com ela e ficado com ela nesse dia tão especial... as três amigas deram um grande abraço e começaram a rir... onde iam esses dias alegres e despreocupados, pensou Ginny, agora os dias eram despreocupados de medo mas ocupados de trabalho, era alegre mas por vezes... por vezes punha-se a pensar nela e no seu irmão... ambos mortos... como era isso possível... juraria que ainda ontem tinha falado com o seu irmão sobre tudo e nada... que passeara com ela num centro comercial... e de súbito o mundo virar-se... primeiro tinha ido ela, tinha desaparecido a proteger o filho como qualquer mãe desse nome... depois, pouco tempo depois, talvez uns cinco dias, tinha sido a vez do seu irmão Ronald... morto a proteger a família, como bom pai e homem de família que era... o que Hermione tinha chorado, tinha chorado e chorado por ela, pelas filhas e pelo filho de oito meses que tinha dentro da barriga... filho que nunca conheceria o pai... Ginny arriscaria a dizer que ela tinha chorado tanto que agora não tinha mais lágrimas para chorar, mas sabia que isso era impossível...
Um bater leve na porta tirou Ginny do seu mundo de pensamentos e ela pode ver o seu marido, Harry Potter, Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, entrar sorridente na sala de aula. Harry continuava o mesmo, o seu cabelo negro continuava rebelde, os seus belos olhos verdes continuavam atrás dum par de óculos, e a sua fatiota era toda vermelha e dourada o que fazia realçar os seus cabelos. Sem esperar e sem cumprimentar Harry começou imediatamente a falar:
- Consegui Gin., consegui arranjar os Vampiros e as Fadas Carpideiras para dar aos sétimos anos!!! E tenho um Dementor para os sextos anos e ... que se passa??
Harry tinha parado ao ver a cara de espanto e choque na cara de Ginny. Ginny fez um sorriso irónico e comentou:
- Que queres fazer? Criar um exército de feiticeiros??
Harry piscou os olhos e fingindo-se Voldemort disse:
- Descobriste o meu plano Potter mas eu voltarei!!!!
Ginny riu com Harry mas por pouco tempo, passou-lhe a lista que tinha em cima da mesa, e lançou-lhe um olhar que dizia "Lê!". Harry pegou na lista e leu-a calmamente, ia para encolher os ombros quando os seus olhos pousaram em...
- Christopher...
Harry olhou para Ginny como que a pedir confirmação de que aquele Christopher era o Christopher que ele estava a pensar mas Ginny apenas disse:
- Creio que sim!!! Sim, deve ser ele...
Harry sorriu feliz, mas o seu sorriso rapidamente se desvaneceu para um cerrar de lábios o tomar enquanto perguntava:
- O Patrick não vai tentar o que os meus tios tentaram vai??
Ginny piscou os olhos e encolheu os ombros, não acreditava mas:
- Quem sabe???
Harry exaltou-se e bateu com o punho na mesa, fazendo com que tudo em cima desta treme-se.
- Proíbo-o de fazer tal!! Nem que tenha que o ir buscar!!!!
Ginny suspirou e comentou:
- E que lhe vais dizer Harry!?!? Tal como tu ele não sabe... e ele está com o pai! Que te faz pensar que ele trocaria o pai por ti!!!
Harry deu-se por vencido e sentou-se numa cadeira em frente a Ginny, esta apertou-lhe a mão e disse suavemente:
- Sei que só queres o melhor para ele Harry... tal como só querias o melhor para ela...
- E o melhor para ela teria sido ficar afastada de tudo isto!- disse Harry tristemente- teria sido melhor ela nunca ter descoberto...
Ginny abanou a cabeça e comentou:
- Nem tu próprio acreditas no que dizes Harry...
Nesse momento tronaram a bater á porta e Hermione Granger- Weasley, nova Professora de Transfiguração entrou no gabinete da Psicóloga de Hogwarts. Hermione continuava, assim um pouco como Harry, na mesma, o seu cabelo continuava sem tratamento, os seus olhos castanhos continuavam a mostrar sapiência, só que de um nível mais elevado, e continuava a ler que nem doida e a prova disso era que debaixo do braço e roçando as suas vestes azuis estavam dois livros. Um bastante antigo chamado Hogwarts, Uma História e outro relativamente novo, comprado nem uma semana atrás mas já lido e relido mais de mil vezes, intitulado Professores, Alunos & Transfiguração.
A Professora McGonnagal ia reformar-se e tinha convidado Hermione para o seu lugar, esta tinha aceitado, já estava farta do seu emprego no Mistério, além de que agora que todos os seus três filhos, as gémeas Hermione e Heather, e Ronald estavam em Hogwarts não lhe apetecia entrar numa casa vazia, isso só a faria pensar em coisas tristes e ela não queria voltar a essa fase da sua vida.
Com um sorriso Hermione cumprimentou Ginny e Harry:
- Potter's!- disse na brincadeira.
- Granger- Weasley!- disseram Harry e Ginny em coro.
Todos riram durante um pouco até que Hermione afirmou:
- Para todos os efeitos sou só Granger, Professora Granger!! E tu Harry? Professor Potter suponho! Ginny...
- Psicóloga Weasley! Obrigada, não quero que os alunos saibam que o seu Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas é casado comigo... acho que ninguém que não deva tenha que saber...
Hermione assentiu num gesto de cabeça e comentou:
- A velha McGonnagal disse-me muito bem das gémeas... estou ansiosa de as ver em acção... em casa não podiam fazer magia... e estou ansiosa pelo Rony...
Ginny assentiu, num olhar que dizia "Percebo o que queres dizer", mas Harry resmungou baixo e comentou:
- Vocês mulheres preocupam-se demais com os filhos!!! Ele há- de sobreviver, afinal não vai lutar contra o Voldemort ou algo do género... por falar em Voldemort...- Harry suspirou- Herm, a verdadeira batalha vai começar agora...
Hermione piscou os olhos e perguntou:
- Que verdadeira batalha!?!
Harry suspirou antes de dizer:
- A batalha contra o passado...
~ * ~
Christopher piscou os olhos, teria ele ouvido bem, é ele ia jurar que o seu pai lhe tinha dito, vamos ver QUE O SEU PAI LHE TINHA DITO, que a magia era real, que ele era um feiticeiro, que a sua mãe fora uma feiticeira e que ele era um feiticeiro. Bem ele sempre achara esquisito como, tendo pernas muito mais pequenas, conseguia sempre fugir dos rapazes que lhe queriam bater ou como os rasgões da sua roupa desapareciam se ele ficassem com medo que a avó lhe ralhasse, mas disso ao ponto de ele ser um feiticeiro...
- Eu sou o quê??? Tu és o quê?? A mãe era o quê??? Vá lá pai! Não esperas que eu....!! Já não tenho cinco anos...
Patrick encolheu os ombros, já esperava isto do filho, também depois do que ele tinha feito era normal, mas ele tinha sido... nem sabia porque lhe estava a contar a verdade. De súbito o som duma coruja recordou-o.
- Ah! – disse- as tuas cartas chegaram...
Christopher olhou para a janela e tronou a piscar os olhos, um par de corujas, uma branca e outra castanha lutavam por entrar. Patrick abriu-lhes a janela e elas entraram e rodaram em volta de Christopher vendo qual delas deixaria a carta primeiro. Christopher seguia as corujas com os olhos mas acabou por parar, estava a ficar com dores de cabeça. Patrick riu e mandou as corujas pousarem as cartas, coisa que elas fizeram partindo em seguida.
Christopher pegou nas cartas e viu que ambas lhe eram dirigidas, ambas de escolas de Magia e Feitiçaria, uma de Finn McCool e outra de Hogwarts... Pousou-as e pensou qual abriria, ia para abri-las ao mesmo tempo quando o seu pai lhe disse:
- Assim que abres a carta a tua inscrição é tida como aprovada e portanto aceite, só podes abrir uma das cartas, a outra destruir-se-á...
Christopher assentiu num gesto de cabeça e perguntou porque recebera duas, Patrick explicou:
- Pela tua dupla descendência Christopher, eu sou irlandês e a tua mãe era inglesa, ambos estudamos em Hogwarts mas tu nasceste na Irlanda... Está nas tuas mãos...
A carta de Finn McCool era escrita a vermelho e a de Hogwarts a verde esmeralda. Pegou na de Hogwarts e disse abrindo-a:
- Pela mãe!!!
Fim do Capítulo 1
N.A: Então?!?! Espero que tenham ficado a saber muito mais do que é dito no trailer, embora não muito mais não é?!?! Bom, espero que estejam a gostar! Colocarei o próximo capítulo o mais rápido que puder! Bjs CACL
