Os dedos finos de Owen brincavam com os lençóis macios onde ele se encontrava imerso. O corpo se encontrava na mesma posição desde que ele havia se deitado, e tinha a impressão de já terem sem passado incontáveis horas desde que o sol se pora, levando consigo mais um dos dias tão tumultuados do professor. Nada mais lhe passava pela cabeça além do fato de que, com as provas finais chegando, eram poucos os dias restantes para que uma leva de alunos se despedisse definitivamente das salas de aula da escola, e talvez muitos deles não se lembrariam futuramente das aulas e horas talvez massacrantes vividas em conjunto com Robert. Não sentia que era fundamental ser lembrado, já que estes não eram os primeiros alunos que se iam, e não tinha afinidade suficiente com a maioria deles, mas um em especial lhe preocupava mais do que nunca. Os olhos pregados ao teto e o pensamento distante deixavam claro que o homem ainda não havia desistido de Lockhart.

Eram muitos os comentários e planos que ouvia durante as aulas de duelo: os alunos aproveitavam as aulas práticas para conversa desse tipo, e o interessado Robert não se negava a ouvir, mesmo que fosse espreitando os cochichos. Muitos falavam em voltar a morar com os pais, e outros ainda comentavam sobre trabalho, e estas eram as conversas que não interessavam ao professor por saber que nenhuma das possibilidades eram prováveis no caso de Jared: trabalhar não era seu forte e família não era muito unida, outro aspecto que amedrontava o Owen; no fundo, sentia até certo dever de protegê-lo após os anos enfrentados na escola, um dever de segui-lo, além da vontade, algo que ele não conseguia ignorar. Era somente uma pergunta que continuava a tirar o sono do homem: Depois de tanto tempo, Jared teria coragem de fugir como eles haviam planejado mesmo sem a companhia de Robert? Doídas eram as respostas, já que não restavam dúvidas sobre a coragem do jovem dentro de si, coisa que o fazia se sentir ainda mais incapaz, pois era Lockhart que devia temer o futuro incerto, e não Owen, um homem já feito, crescido... mas ainda assim inseguro.

Sentiu o costumeiro arrepio lhe percorrer a espinha assim que se remexeu encima da velha cama, que rangia conforme os movimentos era feitos por Robert, estimulando-o a permanecer na nova posição por mais algumas horas: tudo lhe soava silencioso demais mesmo quando havia algum som agredindo seus ouvidos, todo lugar lhe parecia vazio mesmo que lá houvesse milhares de pessoas, e tudo lhe remetia à profunda tristeza interna mesmo que seu rosto estivesse repleto de sorrisos. Nem as lágrimas lhe acompanhavam mais nas noites solitárias, mas a esperança não o deixava desistir de pensar que ainda havia uma chance, e esse era o único remédio que não matava, mas aliviava pequena parte de sua dor.

O próprio jovem se assustou com o estrondo produzido por seus pés indo de encontro à porta, arrependendo-se de colocar tanta força em um movimento simples depois de notar que a madeira cedeu com facilidade excessiva, indicando que Robert havia se livrado do antigo hábito de trancar a entrada de seu dormitório depois que as visitas de Lockhart haviam cessado. Passos apressados e atropelados o levaram para dentro do local, fechando a porta atrás de com mais um baque forte, o que indicava que se tratava de um Jared nada calmo parado diante de Owen: eram lágrimas que escorriam livremente de seus olhos, lágrimas que ele há tanto tempo queria derramar, e que não davam a ele sensação de conforto, só o instigavam a agir depressa. O súbito ato do professor se levantar fez o jovem fazer um sinal no ar para que ele esperasse e que não se aproximasse, ao menos por enquanto. – Não, não, espera aí. Primeiro me promete que você não vai mais me deixar, Robert, promete que você vai ficar comigo. Promete pra mim que nada disso vai se repetir, JURA PRA MIM. – Tentava com séria insistência acalentar as lágrimas com a mão livre, e estas continuavam a manchar seu rosto pálido, pingando sobre o peito da camisa limpa e aparentemente nova que ele trajava: os cabelos não estavam desgrenhados como de costume, as roupas não eram grandes e lhe serviam perfeitamente, e dessa vez, por incrível que pareça, não cheirava a bebida ou cigarros, somente a algum perfume mais forte que o habitualmente usado. – JURA que nós vamos ficar juntos porque eu não consigo mais ficar sem você, EU NÃO QUERO FICAR SEM VOCÊ. – Sentia-se estranho falando aquelas coisas que à alguns dias antes soariam como algum tipo de humilhação para o jovem, mas que agora saiam rapidamente por entre seus lábios como se esse fosse o momento de sua vida, como se todas as palavras tivessem urgência em sair terminando por aliviar boa parte do desespero em seu coração.

As mãos tocaram o chão frio logo depois dos joelhos, colocando-o em uma posição em que o rosto também quase tocava o assoalho, encolhido de forma infantil e desprotegida, ouvindo os próprios soluços entre a crise de choro que ele não conseguia e não queria cessar, talvez agora achando melhor deixar as lágrimas levarem embora tudo de esperança que restava, pois o pouco de controle que ainda existia em si lhe indicava que Robert não o aceitaria de volta com tanta facilidade. O nó na garganta quase o sufocava, privando-lhe de boa parte do ar que tanto precisava, acelerando sua respiração e não o deixando se levantar como planejava. Sentia-se mal por querer tanto os braços de Owen apoiando seu corpo e amenizando seu desespero que nada de força lhe restava para se retirar dali ou tentar ter controle sobre si mesmo e cessar com as lágrimas.

O choque de Robert era grande e por muitas vezes se perguntou se era verdade aquilo que se passava em sua frente. Antes que pudesse ponderar uma resposta sensata, já segurava o corpo frágil e esguio do jovem puxando-o para o seu e dando início a um abraço reconfortante, aconchegando com delicadeza o rosto dele em seu ombro. Sentia ter perdido grande controle sobre si mesmo, as ações aconteciam por vontade própria e as mãos já massageavam a nuca de Lockhart, mesmo que no fundo ele quisesse aquilo com todas as suas forças, e simplesmente não gostasse de admitir: encarar esse tipo de verdade agora era extremamente difícil. As lágrimas quentes de Jared escorriam por seu peito despido, causando-lhe mais daqueles arrepios que lhe atingiam sempre que tinha o moreno por perto, e Owen se sentia ainda muito impressionado para dar uma resposta, mesmo que esta fosse muito clara dentro de si. Resolveu-se por falar conforme o outro se acalmava, já desgrenhando os primeiros fios de cabelo sedosos do rapaz e brincando com os dedos em sua nuca, coisa que lhe acalmava de uma forma que nada no mundo faria igual. – Nada mais vai nos atrapalhar, juro pra você.

A segurança que lhe era passada pelo professor instigaram e aguçaram os sentidos de Jared: o cheiro do homem, a pele macia, a proximidade que mantinham, AH, como ele sentia falta de tudo isso. As mãos que antes repousavam no peito de Robert agora se encontravam em sua cintura, e ainda com o rosto marcado pelas lágrimas, aproximou mais o abraço, guiando Owen novamente para sua cama, não forçando a aproximação, mas sim mantendo-a, já que ambos pareciam querer o que estava por vir. A mão livre se desfez da camisa que ele usava, atirando-a longe dos dois corpos que se encontravam agora mais livremente depois de tanto tempo separados, e logo levava Robert para baixo dos lençóis, segurando seu corpo com mais firmeza, evitando que este se machucasse e assegurando que ele se deitasse direito, antes de se posicionar encima dele, mantendo os joelhos afastados, ainda não encaixando os corpos, somente mantendo a aproximação que ele parecia não querer deixar terminar. – Eu amo você, Robbie, a sua voz, o seu cheiro, eu amo você. – Os sussurros se tornaram mais baixos, a respiração um pouco mais ofegante, e o toque um pouco mais pretensioso, mais seguro, mais íntimo.

Tudo lhe parecia com um gosto novo agora: o quarto não lhe parecia mais tão escuro e vazio, não se sentia perdido no silêncio, e tristeza havia se esvaído com a chegada o jovem, obrigando Robert a se acostumar com uma visão diferente das coisas ao seu redor. Os lábios entreabertos deixavam escapar pequenos gemidos conforme as mordidas de Jared iam ganhando força e as mãos dele encontravam o posicionamento certo no corpo arrepiado de Owen: em resposta às carícias, puxava com pressa as calças do pijama, querendo se livrar delas com a mesma pressa que retirou as de Lockhart a seguir, mais rápido do que havia feito com as suas. A brisa gelada que entrava pela janela aberta não intimidava o homem, que se sentia vivo novamente; podia sentir cada gota de sangue voltando a circular por suas veias de forma que o fazia se sentir mais forte do que nunca, sabendo que com Jared também era assim.

As mordidas eram aplicadas sem força e eram uma boa forma de finalmente se ajeitar por cima de Owen daquela forma que eles tão bem conheciam. Beijos foram direcionados aos lábios do professor, em especial o primeiro, o mais longo, onde as línguas brincavam sem pressa, demorando para acabar com o fôlego do jovem, fazendo-o aproveitar tudo que podia daquele momento. As mãos acariciavam as coxas e a região da virilha de Robert, preparando-o para o que viria a seguir, e eram movimentos ainda calmos, deveras excitantes considerados os pequenos gemidos que ele tinha tanto orgulho em arrancar do outro. A delicadeza seguiu até sentir que o loiro já se sentia tão ou mais preparado que ele para o ato: virou-o de costas para si puxando com certa agressividade pela cintura, demorando certo tempo para encaixar os corpos, segurando os quadris dele perto dos seus enquanto o fazia, temendo certa relutância do Owen, pois faziam meses que eles não praticavam tal ação. Os gemidos o instigavam a prosseguir, e como de costume os movimentos de vai-e-vem não eram delicados, maso toque nas costas, seguindo a direção da coluna de Owen eram delicados, como se aquilo fosse reconfortante devido à pressa no ato. Sentindo mais facilidade, colocava mais força e profundidade nos movimentos, acompanhando a intensidade dos gemidos, que ficavam mais altos conforme a coisa acontecia: gostava das demonstrações de prazer de Robert.

O corpo não acostumado do homem sentia agora as conseqüências de um afastamento, já sentindo os joelhos doerem devido à posição adotada, e as mãos perderem a força, acabando por ficar com o rosto escondido entre dois travesseiros tentando abafar os gemidos de um prazer muito maior do que a dor, mesmo esta sendo deveras insistente, demorando a passar. Notava que o jovem sentia mais dificuldade em chegar ao ápice do ato, mas era uma coisa que o deixava mais à vontade, porque ele também preferia e desejava que ele continuasse com os movimentos, já que seu corpo finalmente se acostumara com a ação. Sentiu os movimentos se tornarem mais agressivos e os pêlos da própria nuca se arrepiarem, assim como pôde notar as mãos trêmulas de Jared segurando sua cintura sem muita força, e logo um gemido-suspiro foi ouvido, acompanhando o que ele também havia soltado. As pernas perderam as forças e viu-se obrigado a largar o peso do corpo no colchão, fazendo a cama ranger levemente e Jared soltar mais um gemido enquanto desencaixava os corpos, ainda repousando seu rosto no ombro direito de Owen. A respiração ofegante era compartilhada pelos dois que ainda tinham os corpos próximos até Lockhart forçar uma separação se deitando ao lado do professor, sentindo os pés e mãos levemente dormentes e a brisa amenizando o calor da situação.

Para Lockhart, o sorriso de Owen era reconfortantemente aliviante.

Para Robert, o de olhar Jared causava mais arrepios.

Finalmente haviam voltado a ser um só.