Título: Incógnito
Capítulo 4 – Fragmentos de memórias.
Draco praticamente desapareceu no decorrer do fim-de-semana. Apenas deixava sua presença nas principais refeições e em horário tardio. Comia uma ou outra coisa e já desaparecia.
Pelo jeito, não se recuperara do ocorrido em Hogmeads. Também estava andando mais sozinho, sem Crable, Goyle ou Zabini. Este último ficava na espreita, mas não pronunciou uma palavra após retornar ao castelo, para satisfação do loiro que não queria nunca mais tocar no assunto.
Estava em seu quarto, sentado na cama e encostado à cabeceira lendo um livro já fazia duas horas e suas costas começou a pedir por repouso. Afinal, antes de começar a ler adiantou três trabalhos e concluiu um projeto de Encantamentos que só seria cobrado no final da próxima semana. Tudo para não pensar em nada que se refira a Harry Potter.
Deixando o livro de lado, tratou de esticar as costas e jogando a cabeça para trás, fez uma suave massagem na nuca, tentando aliviar a tensão. Nessa hora, escutou uma leve batida na porta.
Apertou os olhos em frustração, não queria falar com ninguém, mas o som da madeira retornou a seus ouvidos.
- Entre... – pronunciou desanimado.
A porta se abriu bem lentamente e do vão apareceu a cabeça de Blaise. – Podemos conversar, Draco?
O loiro quase grunhiu, mas concordou com a cabeça.
Zabini sorriu interiormente. Entrou e fechou a porta atrás de si e diminuiu o espaço entre eles até parar ao lado da cama. Draco apontou com a cabeça para que se sentasse. O moreno não se fez por rogado e se acomodou ao lado da cama, precisamente mais pra perto onde o outro estava acomodado.
- O que quer falar Blaise? – perguntou sem interesse.
- Sei que não tenho o direito de me intrometer, porém – acrescentou ao reparar o olhar de gelo que o amigo lhe lançara. – Todos estão percebendo algo de estranho, antes, posso garantir que sua discrição era total, mas agora, perdendo o café da manhã, almoçando e jantando tarde e às pressas, deixando de freqüentar até mesmo o Salão Comunal e se isolando... – fez uma pausa escolhendo melhor as palavras. – Você está sendo falado, não coisas ruins, muito pelo contrário, mas as pessoas estão comentando que há algo de errado entende?
- E? – perguntou com irritação.
- E acho que você deveria pensar bem... Me preocupo com você, sei que isso é muito Grifinório, mas é a verdade – declarou em aberto, jamais escondeu tal fato.
- Já disse, Blaise, não preciso de cuidados, sei me cuidar sozinho.
Zabini encarou as íris azuis, acinzentadas pelo aborrecimento. Mesmo estando turvado, sem a prata faiscante ou o mercúrio líquido, eles eram maravilhosos.
- Apenas pense... – sussurrou, encantado com aqueles olhos, sem poder desviar a atenção deles.
- Pensar o quê? – Draco começou a se irritar ainda mais.
Blaise tombou a cabeça para o lado, ainda o olhando e um sorrisinho curvou um dos cantos da boca. – Você sente algo por ele?
Se não fosse altamente treinado desde que nasceu, a surpresa transpassaria sua feição fria e inexpressiva, tamanho susto, principalmente com o modo cínico e venenoso como o outro havia pronunciado. Recompondo-se em menos de um segundo, e reforçando a calma, sorriu de leve.
- O que você acha, Blaise?
Zabini se arrepiou com o modo levemente sensual e na voz rouca e arrastada de Draco ao dizer seu nome. Ele gostava de provocar, ah se gostava!
- Não sei... Você deixou passar em branco a afronta... Talvez algo sexual...
Draco ergueu uma sobrancelha, duvidoso e ao mesmo tempo ofendido. – Sexo? E por que eu me sentiria meramente atraído, tanto física ou emocionalmente por aquilo? Está querendo me aborrecer? Se está, acabou de conseguir.
- Caminha... Não quis te aborrecer, é que precisava saber.
- Pra quê?
- Pois tenho constas a ajustar com ele – Blaise sorriu ainda cínico. – Algo muito pessoal, aliás.
- Faça o que quiser, não me importo e não é da minha conta. E outra, não sinto nada por ele, e se você vier com essa conversa idiota de novo, pode se considerar como Crable e Goyle, pois será assim que eu o tratarei.
Zabini ergueu ambas as mãos, como se defendendo. – Desculpe-me! É que sou um pouco paranóico em relação a um certo loiro! – depois sorriu ternamente. – Já entendi.
Draco pareceu mais recepitivo e concordou com a cabeça, mantendo silencio, mas os olhos do outro, em cima de si, o estava incomodando. – Já acabou? Posso ficar sozinho então?
- Outra coisa... – Blaise mordeu o lábio inferior, duvidoso em perguntar.
- Sim? – Draco apanhava o livro, no intuito de o colocar na cômoda ao lado da cama.
- Por que o beijou?
A mão de Draco estancou no lugar e seus olhos voltaram ao outro sonserino. Tinha que saber que Blaise Zabini nunca desistia de suas perguntas até conseguir arrancar uma resposta plausível, não era à toa que estava na Sonserina.
- Eu não o beijei – disse calmo. – Ele quem me atacou e eu não consegui reagir pelo susto. Não é sempre que se vê Harry Potter tomando iniciativa, principalmente relacionada a trocas de fluídos corporais.
Não estava mentindo, quem começou foi Potter, e ele nem correspondeu, apenas ficou ali, feito um idiota e deixando que o outro de aproveitasse de sua fraqueza momentânea. Bem, estava quase a responder, mas isso não vinha ao caso e também não falaria para Zabini ou qualquer outra pessoa.
- Entendo – disse o moreno, com um sorriso mais amplo no rosto.
- Só uma coisa, Blaise... Não gosto de dar satisfações a ninguém, entendeu? Somente esclareci essa sua dúvida ciumenta, pra você me deixar em paz com essa história imbecil, vinda da cabeça mais imbecil ainda de um grifinório.
- Então não sentiu nada? – deixou escapar, ainda duvidoso, mas mais confortado ao saber que Draco negaria o maldito-que-sobreviveu até a morte.
- Boa noite Blaise – o loiro o cortou friamente.
Blaise levantou e caminhou lentamente até a porta, e antes de sair, deu mais uma olhada no sonserino, sentado na cama e o encarando.
- Então tenho uma chance? – disse ainda sorrindo e piscando um olho.
- Some daqui! – retorquiu rolando os olhos com impaciência.
- Isso é um sim? – provocou antes de fechar a porta para não ser acertado pelo livro que Draco atirara.
Com um suspiro, o loiro percorreu a vista pelo quarto, ainda um pouco frustrado pelo assunto. Sempre tinha que ter alguém o importunando. Mas pensando melhor, bem que poderia ter um caso com Zabini. Como Potter reagiria? Sacudiu a cabeça e se censurou, nunca o garoto de ouro faria nada, era apenas um rapaz antiquado e confuso, muito confuso pelo que o conhecia desde o primeiro ano escolar.
Harry passou o domingo jogado num dos sofás de seu Salão comunal. Estava chateado e confuso. Depois que passou a euforia do dia anterior, veio a ressaca. Beijou Malfoy...
- Oh! Merda! – tampou o rosto com as mãos.
No que estava pensando quando fizera aquilo? Só podia estar endoidando de vez, não tinha outra explicação para seus atos. Voldemort conseguiu o que queria e agora estava se auto-destruindo, manchando sua reputação e colocando-se em situações embaraçosas. Malfoy poderia sair espalhando para Hogwarts inteira que ele o havia atacado, ou talvez não, o loiro não se envolveria nesse escândalo, era arriscado e mancharia sua reputação.
- É, esse é meu consolo apesar de tudo... – murmurou pra si mesmo.
- Que consolo, Harry?
Assustado, o moreno se sentou e encarou Hermione, que se aproximava com naturalidade. Ela sorriu de leve, mostrando-se compreensiva e se acomodou numa poltrona, frente ao amigo.
- Nada... Só estava pensando alto... – disse com desânimo, quase tristeza na voz.
- É sobre o que aconteceu?
- Mione... Não vamos falar nisso ok? Já estou me auto condenando pelo que aconteceu.
- Só queria dizer que acho que a culpa não seja sua, Harry – ela insistiu com tom neutro.
- Claro que foi! E eu... Eu... Oh! Por que teve que ser com ele? Justo com ele?
Harry estava aflito, muito alterado e esboçava completamente sua própria repulsa. Hermione suspirou e se sentou ao lado dele, acariciando as mechas revoltas.
- E se foi por causa do ocorrido naquela noite? Eu refleti antes de vir aqui e ter essa conversa com você – ela ainda acariciava os cabelos negros enquanto via Harry encolher os ombros. – Sabia que iria ficar assim e tentaria se recriminar horrivelmente se culpando e se achando um louco, mas e se foi o feitiço que aquele crápula te lançou?
- Eu queria saber o que aconteceu... Eu queria entender o motivo pra tudo, e o motivo pra isso que eu fiz ontem... – Harry sussurrava como em completo estado de transe, os olhos fixos na lareira e o peito apertado.
- Você também acha que tem alguma ligação? – Harry afirmou com a cabeça, mas ficou silencioso depois. Hermione mordeu o canto da boca, pensativa, logo resolveu por dizer. – Posso te ajudar?
- E como o faria? Malfoy é um túmulo, e agora, depois do que eu fiz, ele com certeza se calará ainda mais – Harry agora estava frustrado.
- Eu posso fazer, apenas se você se abrir comigo e me dizer o por que de ter feito o que fez, pois eu vi que quem iniciou o beijo, não foi ele.
Harry estremeceu e enrubesceu, Hermione pegava pesado às vezes. Era difícil até mesmo pensar no que estava sentindo, pior seria comentar em voz alta e pra outra pessoa, mesmo que essa pessoa seja sua melhor amiga.
- Bem... Não sei se conseguiria...
- Se você quer realmente se entender, acho que terá de conseguir.
- Ok – suspirou e olhou ao redor, a sala vazia e silenciosa, todos deveriam estar dormindo, pois já passava das onze da noite.
Pensou no que estava sentindo. Um calor estranho no corpo, principalmente no peito, e uma ansiedade inquietante, mas suportável. Seus lábios ainda formigavam sempre que relembrava o beijo. Não foi um beijo caloroso, mas mesmo assim, causara-lhe um reboliço em sua mente e em seu corpo nunca antes sentido. Era estranho, mas parecia que já o fizera alguma vez. Com Cho? Sim, ela o beijara uma vez, mas um beijo mais fraterno que sensual. Malfoy tinha lábios mais sensuais...
- Oh! – voltou a enrubescer.
- Que foi? – Hermione parecia divertida.
- Bem... Falando sobre o ocorrido...
- Sim, sim diga – Harry pareceu vacilar. – Não comentarei nada com ninguém e serei absolutamente discreta, confie em mim – ela garantiu com seriedade, para que soubesse o quanto levava a sério.
- Hum... Bem, é como se eu já o tivesse feito, o que é estranho, pois nunca beijei alguém, não sei como explicar.
- Mas e Cho Chang? Vocês se beijaram uma vez.
- Sim, mas não um beijo mais... – poderia se chamar agora Harry Pimenta, pois o vermelho vivo não queria mais deixar seu rosto. – Mais molhado.
- Beijou Malfoy de língua?
- Shiii – Harry tratou de tampar a boca da garota com a mão e olhou preocupado ao redor, isso era constrangedor. – Não, não houve recíproca entende? – Hermione balançou a cabeça em negativa, ainda tendo a boca tampada pela mão de Harry. – Quero dizer... Oh, isso é horrível pra mim! Eu enfiei a língua dentro da boca dele...
Hermione arquejou e se contorceu no assento. Nunca imaginaria que Harry fosse capaz disso, pra ela, ele era aquele menino meigo e inocente, que morreria só de pensar em algo assim, de tão tímido que era. Com um sinal, ela avisou que estava mais calma e que já poderia ter a boca livre para falar.
- E ele deixou? – perguntou em voz baixa, ainda chocada.
- Sim... Mas não correspondeu. Ainda bem, ou já teria me internado no St. Mungus por vontade próprio, como um caso sem cura.
Hermione riu com a menção de brincadeira de Harry, mas ele não estava nada bem, estava confuso demais. Mas o que perguntou levou toda a seriedade as faces.
- Você se recorda de algo estranho? Tipo, um sentimento de que já tenha acontecido, como você mesmo citou quando o beijou?
- Acho que foi isso que me levou a faze-lo... Era como se eu já tivesse sentido isso e estava querendo... Sentir de novo... – os olhos verdes se focaram ao castanho, com vergonha.
- Tem mais alguma coisa que está achando estranho?
Harry ponderou um pouco e logo assentiu com a cabeça. – Estou sonhando com ele, e quando o vejo, não é a mesma coisa, é algo diferente que não consigo explicar. Quando ele faz um gesto curto, eu sei que ele está irritado, quando ele ergue a cabeça mais que o normal, sei que ele está desafiando, e quando ele semi-serra as pálpebras, sei que está provocando. É como se eu o estivesse estudado como num livro. Sei quando ele mente ou está fingindo, escondendo algo, e isso é estranho. E ontem... Quando eu senti seu perfume, foi como se me levasse de volta ao passado, a algo que perdi e que sentia falta, e ao mesmo tempo foi como se eu prestasse atenção a essa bobagem pela primeira vez – e riu sem graça, como se realmente se achava um louco. – E sabe o que mais Mione? Eu me senti ridículo quando me aprontava para sair... Me senti feio... Queria me arrumar melhor, ter uma aparência mais decente, sei lá... Queria ser menos feio...
- Harry... Você se apaixonou pelo Malfoy? – Hermione estava perplexa.
- Claro que não! Harry não é gay! – berrou Rony, saindo detrás de um sofá.
- Rony! – Harry e Hermione o repreenderam em uníssono.
- Você estava escondido ouvindo a conversa? – Granger parecia muito nervosa.
- Sabia que estavam escondendo algo e que não iam me contar. Só quis garantir minhas suspeitas – se defendeu.
- Mas isso é-
- Tudo bem – Harry a cortou. – Pelo menos me poupa ter de passar por isso uma segunda vez... Bem, poderia me dizer agora, o que acha sobre tudo?
Hermione se encolheu no sofá, tendo ambos os garotos a encarando. – Acho que Malfoy não lançou o feitiço direito. Quando ele o obliviou estava ferido, isso pode ter reduzido o impacto da magia, acho que em breve você irá recuperar o que lhe foi ocultado, como já está acontecendo.
- Isso é horrível! – Rony se pronunciou na conversa. – Acho que não vale a pena saber que se é gay e que se está apaixonado por alguém igual ao loiro azedo. Não Harry, nem tente se lembrar do que aconteceu!
Harry parecia ainda mais constrangido. – Por que está dizendo isso Rony?
- Ora! Pela sua descrição agora a pouco, devo concordar com a Mione, mas como seu amigo, eu discordo plenamente.
- Não se preocupe Harry – acrescentou Hermione, tentando manter a calma. – Não será cem por cento, talvez algumas coisas se mantenham ocultas.
- Eu quero saber de tudo... Estou cansado de ficar por fora de assuntos meus mesmo! – estava revoltado, e se aconteceu algo com ele e Malfoy e não sabia, agora sim, queria descobrir o quanto antes, ou estar na frente do loiro, sem saber o que andou fazendo, o iria matar de vergonha constrangedora.
- Talvez se você visse algo que possa te fazer recuperar a memória... – ponderou a garota.
Harry deu um pulo do sofá, parecia renovado frente ao comentário. – Isso! Venha Rony, me mostre a sala na qual vocês me encontraram desmaiado.
- Ok! – o ruivo concordou.
Hermione bateu na testa, não devia ter aberto a boca. Viu os dois garotos passarem pelo retrato da mulher gorda e se enfiarem debaixo da capa de invisibilidade. Deu de ombros e foi a seu dormitório, amanhã os interrogaria para saber no que deu.
Andando com cuidado, eles chegaram ao destino, sem antes, terem se topado com o carrasco e sua inseparável gata farejadora. Quase foram pegos, mas Harry conseguiu controlar Rony, tampando-lhe a boca e recuando silenciosamente alguns passos e se encostando na parede até eles passarem e sumirem pelo corredor.
- Ufa! Quase! – Rony pareceu mais calmo e apontou para a porta. – É aquela ali.
Harry se aproximou devagar e a tocou de leve. Era uma porta simples, nada de detalhado ou que chamasse a atenção. Logo, recordou-se de como chegara até ali.
Estava entediado e saiu da torre sem a capa e o mapa. Olhando os corredores vazios, passou a percorre-los apenas para relaxar. Era bom ficar sozinho de vez em quando. No dormitório poderia estar só, mas uma hora ou outra certamente seria incomodado por alguém. Não, andar solitário nos corredores escuros era muito mais tranqüilo. Ninguém para interromper o curso de seus pensamentos e o que mantinha encravado em sua cabeça, era Sírius.
A pontada lhe atingiu quando voltou a se lembrar dele. O único mais próximo de sua família... Estava triste aquela noite, e não queria demonstrar isso pra ninguém, ou eles ficariam preocupados. E preocupação não era o que queria para mais ninguém, todos já estavam muito sobrecarregados, mesmo sem demonstrarem isso.
Para evitar mais recordações, resolveu ir até a cozinha e conversar com Dobby. O elfo poderia distraí-lo até que Rony e Hermione passassem por lá, como o ruivo havia lhe dito antes de sair para a ronda e voltaria com eles até a Grifinória. Não era má idéia.
Porém, quando ia virar um dos corredores, notou a luz provinda do lampião de Filch e a grande e medonha sombra de Madame Norra se projetar nessa claridade. A gata estava mais adiante que o dono, não teria como se esconder, a única saída, foi regressar meio caminho e entrar no corredor que levava às masmorras, mas parecia que Filch pressentiu algo no ar, parou no corredor em que Harry se encontrava e ficou a buscar algo suspeito.
- Sentiu também querida? – veio a voz e a resposta da gata num miado. – Sim, eu também senti.
A luz se adiantou pelo corredor, junto com os passos ecoando no silencio. Para não ser apanhado fora do dormitório, Harry tivera de se enfiar mais naquele corredor frio e escuro, passando por algumas armaduras e se encolhendo de encontro aos vãos da parede pedregosa.
Filch caminhou até a entrada do corredor das masmorras e esticou o braço com o lampião e a claridade invadiu até quase atingir Harry, sorte que não o havia desvendado. O velho deu mais uma olhada e regressou os passos seguindo seu caminho.
Com um suspiro de alívio, Harry se desencostou da parede pensando no por que do velho não ter seguido pelas masmorras e sim tomado o caminho que levava à cozinha. Então, sua resposta surgiu na forma de dois sonserinos que se aproximavam vindo do outro lado.
Se amaldiçoou por ter tido a burrice de sair da torre sem a capa e o mapa, ou melhor, nem era pra ter colocado o pé pra fora do Salão Comunal.
- Me solta! – grunhiu.
- Não estou fazendo nada!
- Então pare de ficar se agarrando na minha cintura! – Harry aprumou os ouvidos, eles estavam cochichando e talvez ouvira errado.
- Não sei, você está mais... Erótico, depois de ter voltado do escritório do Snape. – Harry fez uma careta nesse comentário.
- Bebeu é? – viera-lhe agora o som de um tapa e o grunhido do outro.
- Ta bom, parei! Mudando de assunto, Snape te deixou de detenção? – essa era a voz de Zabini, tinha certeza, e estava rindo divertido o fazendo sorrir também. Então, Snape castigava o loiro? Essa era novidade.
- Olha, não vamos falar sobre isso – esse era Draco Malfoy sem dúvida, reconheceria a voz arrastada até mesmo no inferno.
- Mas o que fez pra levar detenção?
- Eu não levei detenção, fui só reclamar de algo com ele e acabei me excedendo um pouco, ele ficou nervoso e me deixou na sua sala.
"De castigo como uma criança mimada!" – pensou Harry tampando a boca pra não rir alto.
- Sei, sei... Mas vou voltar agora, fiquei de fazer um trabalho com Pansy, e tinha me esquecido, ela deve estar uma fera.
Barulhos de passos se afastando e a conversa sumira. Harry ficou um pouco confuso, olhou ao redor e não viu mais ninguém. Será que os dois haviam voltado para as masmorras? Ia desencostar de seu esconderijo, quando algo lhe foi sussurrado ao pé do ouvido.
- Perdido Potter?
No susto, não soube como foi cair dentro de uma pequena sala, a porta estava certamente destrancada, pois se abrira pela pressão de seu corpo e o fez cair de costa no meio da poeira.
- Que droga Malfoy! – reclamou se levantando.
Draco estava encostado no batente e o olhando com superioridade e divertimento. – Sinto muito, não quis assusta-lo.
- Cínico! – estreitou os olhos, mas algo estava diferente no loiro.
- Snape ficará contente em te ver.
Enquanto o sonserino declarava que o entregaria ao professor de poções, Harry mal prestava atenção em suas palavras, sua atenção estava no semblante do outro rapaz. Ele parecia mais... Chamativo.
Piscou algumas vezes, mas o brilho que emanava da pele pálida e o perfume que não sabia como, impregnava todo o ambiente, e o sorriso de vitória estampado na boca do loiro...
Harry assustou-se. Lembrou de tudo até a parte que ficara cara a cara com Malfoy, mas um branco o envolveu depois disso e não se lembrava de mais nada, só a sensação de que algo aconteceu, e não era uma sensação ruim.
- Harry? – Rony o tocou no braço. – Você está bem?
- Sim... Por quê?
- Você parecia em estado de transe, não sei. Fiquei com medo de te chamar.
- Quanto tempo? – estava confuso.
- Bastante, estou até cansado de ficar de pé.
- Me lembrei o que fiz até chegar aqui, mas não me lembro depois disso – sussurrou segurando a maçaneta e forçando a porta. Nada, ela estava trancada.
- O que vai fazer?
- Entrar, talvez eu lembre do resto.
- Está louco? Passamos tempo aqui, é capaz de Filch estar voltando.
Harry se afastou um pouco da porta e pegou a varinha, sem dar ouvido ao ruivo.
- Alorromora – e com um barulho a porta se abriu.
Parado frente a sala, Harry passou os olhos ao redor. Era uma sala pequena, com uma velha poltrona num canto, perto da parede e na outra, vestígios de que havia uma estante. Ainda estava empoeirada e cacos de vidro se espalhavam pelo chão, junto com o pó.
- E então? Lembrou? – perguntou Rony, um pouco aflito e olhando para os dois lados do corredor.
- Nada! – Harry parecia frustrado com o fato, falando mais pra si mesmo.
- Como nada?
- Não lembro de mais nada, só até quando Malfoy me pegou.
- Então podemos ir agora? Estou com medo de ser pego pelo maníaco do Filch.
Harry não teve escolha a não ser concordar com o amigo. Fechou a porta com cuidado a trancando novamente e ambos retornaram ao dormitório da Grifinória.
Quando deixou seu corpo repousar no colchão, Harry pensou no que se lembrou, mas não era o principal, o 'x' da questão se passara lá dentro, mas não sabia o que era. Talvez se encontrasse o colar de Malfoy...
Sorriu. Por que não pensou nisso antes? O colar certamente era uma prova e vendo-o se lembraria de tudo. Decidiu-se, amanhã procuraria o adorno nem que revirasse Hogwarts inteira.
N/A: Mais um capítulo. Obrigada pela review Ia-Chan! Espero que tenha gostado desse também.
