Título: Incógnito
Capítulo 7 – Apenas Aceite
Draco caminhava pelos corredores de Hogwarts. Estava tudo deserto, certamente porque todos deveriam estar em Hogmeads. Não se importou em ter perdido o passeio, seu humor estava péssimo depois da conversinha que teve com Lucius. Passou as mãos pelo cabelo, tentando se esquecer do assunto. Como se pudesse esquecer do fato de que tinha uma vida crescendo dentro dele. Isso era uma aberração da natureza e coisa de magia negra, como Severus lhe informara logo que ingeria aquele líquido maldito. Caso contrário, nunca teria acontecido.
Voltando no assunto 'pai e filho', era incrível, sempre seu pai o ouvira, desde pequeno, ta certo que Lucius não era muito aberto em relação à sua própria infância e adolescência, mas sempre foi atencioso em ouvi-lo quando voltava pra casa nas férias. Já tinha ficado nervoso com ele várias vezes, pelo modo imprudente de como agia, coisa que sinceramente não entendia o por que, afinal, seu pai também deveria ter sido imprudente quando adolescente, ao menos uma única vez na vida, assim como todos eram ou foram. Mas a parte que mais irritava o patriarca, era o fato de Potter. Era proibido ser influenciado, enganado ou até mesmo meramente conversado com o maldito descendente Potter. Como se o quatro-olho, testa rachada ou menino-que-sobreviveu, que seja, fosse altamente perigoso e desprezível. Era como se seu pai detestava Harry Potter mais que o próprio Lorde das Trevas. Achava um absurdo isso.
Mas, voltando na reação de Lucius Malfoy...
Lucius ficou possesso, enquanto repetia 'Potter' várias vezes como se ainda não houvesse assimilado o fato do seu filhinho único estar grávido, além de ser homem, e de Harry Potter, para variar. Bem, não era só Potter, que ele dizia, ou gritava, pra ser mais exato, ele praticamente perguntava Potter com voz esganiçada e carregada de desprezo. Se agarrando às grades com ambas as mãos em fúria, só faltando sacudir, para tentar quebrar a resistência que separava pai e filho. O que de fato, Draco agradeceu esse pequeno detalhe, ou já estaria frito.
- Como Draco? – perguntou sem realmente querer uma resposta, tanto que continuou sem que o filho pudesse ao menos abrir a boca para se defender. – Você é acéfalo por acaso? Só pode ser! Onde foi parar todas as coisas que te ensinei e preveni nesses anos todos?
Draco ficou ainda mais sombrio. Nunca, e quando nunca é o termo, é porque realmente nunca, seu pai o chamara de acéfalo na vida. Isso o magoara.
- Não o culpe Lucius... – interveio Snape, tentando acalmar o loiro pai. – Ele apenas seguiu um impulso da adolescência.
- Impulso da adolescência! – repetiu com sarcasmo. – Estamos falando de Potter! – voltou a cuspir o nome.
Draco encolheu os ombros, desistindo de ter uma conversa civilizada com o pai, onde ambas as partes falariam e se esforçariam em achar uma solução.
- Você deveria muito bem saber disso, Lucius, afinal, você passou pela mesma coisa – alfinetou Severus.
Opa! Essa Draco não podia ignorar, se endireitou, finalmente encarando o pai diretamente nos olhos, como se aquela frase de Snape fosse uma carga elétrica que o ligou de volta a realidade.
Lucius estreitou os olhos, voltando a sua postura de assassino. – Isso não tem nada a ver com o que estamos discutindo aqui.
- Não? – Severus se fez de desentendido. – Mas foi um Potter também que-
- Cala a boca Sevy... Ou eu aparecerei no seu quarto hoje à noite, para te torturar até a morte, e você nem vai saber como eu escapei daqui, talvez você nem vai ter tempo de pensar – sibilou carregado de ódio.
Snape apenas arqueou uma sobrancelha e falou com certo divertimento mal escondido. – Draco realmente puxou a você, a se tratar de frases com duplo sentido.
Lucius o ignorou totalmente, voltando os olhos para encarar Draco. – Querido...
Draco tremeu da cabeça aos pés. – Sinto muito... Eu... Eu não... – gaguejou para maior irritação de seu pai.
- Shiii... Está tudo bem, querido... Mas você foi muito imprudente e acabou por se envolver com algo absolutamente perigoso. – Lucius voltou a falar com calma e doçura na voz.
Nessa hora, Draco queria chorar, e a todo custo controlava as lágrimas, evitando derramá-las na frente do pai.
- Potter não é assim tão perigoso... – ousou a dizer, mesmo sabendo que defender o dito cujo, não era uma boa idéia.
- O maior mago das trevas quer a cabeça dele, sem se importar em passar por cima do cadáver dos que o rodeiam... Sem se importar em jogar sujo... Você ainda acredita que vai ser tudo tão fácil assim?
- É por isso que viemos aqui, Lucius... – Severus voltou a se intrometer. Sabia que as palavras do patriarca eram o que de fato aconteceria, e sabia, que mesmo que os outros pensassem o contrário, aquele perigoso criminoso, gostava do filho e daria a vida por ele.
Lucius encarou Severus com seriedade, sem aquele ar de maníaco assassino, agora ele parecia mais humano.
- Saia Draco... Quero falar a sós com Sevy.
Draco obedeceu, mesmo que não adiantaria muito ficar ali, pois sabia que teria que acatar as ordens do pai, ou de seu padrinho. Encostou a porta quando estava no corredor, mas ficou com o ouvido colado na madeira, pronto para captar qualquer assunto abordado ali dentro, tanto sobre a sua condição, como o misterioso passado de seu pai.
Lucius apoiou a cabeça na barra de aço, voltando a demonstrar cansaço.
- Draco é ingênuo ainda... – comentou, como que tentando dissipar os maus pressentimentos.
- Sim eu sei... Cuido dele desde que entrou em Hogwarts, Lucius...
- Ele vai morrer por ter se envolvido assim, com o filho do Potter... Avisei tanto que essa família não valia a pena... – fez uma pausa, recordando. – Lembro que ele viu Harry Potter no Beco Diagonal, quando ele tinha onze anos e me disse: 'finalmente alguém diferente e interessante, se ele for para Hogwarts comigo, não me importaria de ser seu amigo, ele parece ser legal' – involuntariamente, apertou a mão na barra de aço.
- Ele sabia que se tratava de Harry Potter? – Snape perguntou em tom baixo.
- Não... – Lucius balançou levemente a cabeça. – Quando eu botei os olhos no suposto garoto que fez Draco abrir um sorriso no meio da rua, percebi pela indiscutível semelhança com o pai. Então, perguntei ao meu filho: 'por que esse interesse todo num garoto qualquer?' e ele me respondeu sem pestanejar: 'porque ele é diferente de todos que eu já conheci, ele é engraçado, e simples. Como pode existir alguém tão simples como ele?'. Aquilo me doeu... E pensei comigo mesmo que se por algum motivo, Draco se envolvesse com ele, tanto por amizade ou algo a mais, ele sofreria... – e sorriu com desprezo, erguendo os olhos para encarar Severus. – E está acontecendo isso agora...
- A culpa é minha, eu deveria ter tomado conta dele direito.
- Não Sevy... Tenho quase certeza de que tem algo maior envolvido nisso, é muita coincidência num único evento.
- O que sugere? – Severus se aproximou da grade, apoiando uma mão na barra.
- Potter já sabe?
- Não... Draco não falou nada...
- Eu sugiro que Draco abra o jogo com Potter... E que eles reflitam sobre os últimos acontecimentos, talvez, acharão algo...
Snape ficou tenso o olhando incrédulo e sussurrou. – Cala-te, louco!
Lucius sorriu vagamente o ignorando. – Quando eles acharem... O cuidado deve ser redobrado, entendeu, Sevy?
- Por que Lucius? Está traindo o Lorde, quer morrer? – apertou a grade e se aproximou mais do outro - Você viu o futuro?
- Não consigo ver o futuro sem água imaculada ou um espelho, é só um pressentimento. E você bem sabe... Daria minha vida pela do meu filho... Convença Draco a contar para Potter sobre o caso, o quanto antes. Não se preocupe, sou tão bom Oclumente como você é, e aqui, não há espiões.
Severus sorriu de leve. – Você era excelente em Runas Antigas, Vidência, Astronomia e Aritmancia. Coisa que a maioria tinha pavor e não entendia nada, inclusive eu.
- Mas eu era e ainda sou péssimo em Poções... – sorriu também.
- Draco é ótimo em Poções, mas peca em Vidência e Runas Antigas.
- Talvez tenha puxado à mãe... Ou ao padrinho, se isso é possível.
Severus observou o loiro por um tempo, o cabelo longo a cair através das barras de aço. Estendeu a mão e tocou de leve, sentindo a maciez, mas logo se afastou. – Você poderia muito bem escapar daqui. Por que não o faz?
- E ter que voltar ao Lorde? Pelo menos aqui eu tenho paz... Irônico, ao menos algo de bom que um Potter me fez.
- Se for para salvar seu filho e seu neto – Severus achou um pouco estranho falar isso, mas continuou. – Você se arriscaria a ajudar Potter e Dumbledore?
- Sem sombra de dúvida, apesar de eu detestar os Potters e não ir com a cara daquele sádico velho maluco.
- Ao menos eu já soube o que queria... – Snape caminhou até a porta.
- E o que seria? – Lucius levantou uma sobrancelha.
- Você já aceitou seu neto, mesmo sendo parte Potter.
Lucius sorriu de canto. – É sangue e carne Malfoy, apesar dos pesares.
- Certo... Só mais uma coisa Lucius... Você sabe que não se pode lutar contra o amor...
- Está insinuando que Draco está... – fez uma careta de desagrado. – Amando aquele infeliz?
- Certeza absoluta, sei quando eles se olham...
- Bem, não posso fazer nada – deu de ombros.
- Apenas aceite... - Severus se despediu e ao sair, deu de cara com Draco, encostado na parede do corredor e indiferente a tudo.
- Podemos ir? – perguntou, ao notar o padrinho o encarando.
- Bem, como eu sei que você ouviu tudo, já sabe o que deve fazer – Snape estreitou os olhos.
Draco encolheu os ombros. – Certo, certo! Eu contarei a ele, só não imagino como ele reagirá a tudo.
- E quem se importa? – Severus deu de ombros.
- Eu me importo! – Draco se confessou em alto e bom som, o que o deixou rubro de vergonha.
Snape abriu um sarcástico sorriso de deboche. – Confessou que sente algo pelo desmiolado do Potter.
- Isso foi... Foi... – tentou buscar as palavras, tão difíceis de encontrar depois da gafe.
- Foi incrivelmente bem pensado. Admita Draco, te peguei direitinho e agora, não tem como negar mais nada – Severus encerrou com isso, o assunto e ambos deixaram Azkaban para voltar à Hogwarts.
Draco grunhiu ao lembrar-se do golpe baixo de Snape. Tinha que manter a calma e pensar bem antes de abrir a boca quando atacado por alguma frase ou pergunta. Já imaginou o que Harry Potter pensaria ao descobrir quem está caidinho por quem? Isso nunca! Ainda tinha orgulho.
Uma sombra foi captada pelo canto dos olhos, Draco correu a vista rapidamente ao lado em que ela foi vista. Mas apenas as sombras predominavam pelo corredor. Ficou um pouco tenso, sabia que o castelo estava praticamente deserto, e era impossível alguém estar justamente andando por aquele corredor junto com ele, pois estava caminhando no lado inutilizado do castelo, onde havia várias salas abandonadas.
Levou a mão para dentro da roupa e apertou a varinha, ainda caminhando, mas totalmente atento para qualquer coisa estranha. Snape não poderia ser, afinal, estava nas masmorras, entulhado nos trabalhos escolares do terceiro e quarto ano, como o havia deixado, minutos atrás.
Um ruído logo atrás o fez se virar num impulso, mas algo se atirou contra si, o empurrando contra uma parede, e teve os braços presos, sem poder empunhar a varinha.
- Não faça nada, sou eu... – a voz foi sussurrada em seu ouvido.
Draco se retesou um pouco, depois relaxou. – Droga Potter!
Harry sorriu, estavam sozinhos num corredor deserto, tão próximos que podia enxergar o suave rosto do sonserino, assim como era encarado pelos reluzentes olhos azuis prateados. Aliviou a pressão contra o outro e apenas ficaram assim, encostados um no outro, se olhando.
Draco ficou um pouco constrangido, sabia que deveria dizer o que omitiu durante todo esse tempo, mas na prática, era diferente. Tinha Harry ali, na sua frente, ou melhor, encostado em seu corpo, o olhando tão intensamente com aquele orbes esverdeados, mas estava travado. Como diria?
"Harry, estou grávido de um filho seu!" – por todos os infernos, era ridículo, quem garante que ele iria acreditar? Desde quando isso era possível num homem?
Desde nunca!
Se alguém falasse isso a ele, com certeza debocharia da cara antes de azarar o infeliz, por tirar da sua cara.
O silêncio começou incomodá-lo.
- O que está fazendo aqui, Potter? – tentou soar o mais frio possível, apesar de estar pegando fogo pelo contato.
Harry mordeu o lábio inferior pensativo. – Hum... Te esperando?
- Claro, como se você sabia que eu viria até aqui... – retrucou com ar enfadonho.
- Não... Quero dizer, eu estava esperando você voltar de onde quer que você tenha ido... Aqui no castelo, não fui a Hogmeads por isso.
Agora que Draco percebera que era pro trio maravilha estar se divertindo fora de Hogwarts, e longe de estarem de volta, já que ainda era de tardezinha. Corou um pouco com a menção de que Harry estava o esperando, isso era confortante.
A mão de Harry tocou o rosto de Draco, com suavidade e carinho, passando o dedo pelos lábios róseos enquanto o apreciava corar um pouco mais com seu toque. Se aproximou um pouco mais, os lábios quase se tocando. Inclinou um pouco a cabeça, calculando a posição melhor para provar cada parte daquela boca sensual, e percebeu que o loiro estava em expectativa, deixando, permitindo e até semi-serrando as pálpebras, de modo coquete e abrindo levemente os lábios.
- Isso não é nada sábio...
Ambos se separaram no susto e olharam o dono daquela voz. Blaise Zabini estava com as mãos no bolso e os olhos cravados em Potter, como se quisesse fazer um buraco na cabeça, de tanto ódio.
- Creio que quem tem que achar alguma coisa, esse alguém é Malfoy – Harry desafiou, erguendo a cabeça e devolvendo o olhar.
- Tsc, tsc... – fez Zabini, enquanto virava a cabeça de um lado para o outro. – Draco jamais faria algo assim com você, a não ser se estivesse enfeitiçado ou sob alguma chantagem.
- Eu não sou tão baixo assim... – Harry retrucou na hora.
- O que você quer Blaise? – Draco entrou no assunto, encarando o sonserino moreno.
Zabini sorriu de lado, com sarcasmo. – Te chamar para nossa festinha particular. E se você quiser vir também, Potter, está convidado.
Draco franziu o cenho em desconfiança, isso estava cheirando a confusão, mas se surpreendeu com a resposta de Harry.
- E por que não? – os olhos verdes brilhando travessos.
N/A: Agradecimentos a milinha-potter – obrigada pelo incentivo e espero que acompanhe sempre que puder, Amy Lupin – obrigada pelas palavras e apoio, Lika Malfoy – obrigada pelos maravilhosos comentários! Adorei todos! e Ia-Chan – sempre me alegrando a cada capítulo, obrigada!
Até o próximo capítulo. Abraços!
