Título: Incógnito
Capítulo 14 – A Guerra

Lucius abriu os olhos, turvos de uma coloração ligeiramente cinzenta. Piscou algumas vezes, levando a mão direita a cobrir os olhos, incomodado pela repentina claridade.

- Graças a Merlin! – ouviu-se a voz de Snape.

Com cuidado, Severus retirou a mão que vendava os olhos do patriarca Malfoy, para se deparar com azul reluzente, sinal de que estava bem.

Lucius forçou o corpo, para se sentar, sendo prontamente amparado. – Me sinto como uma criança frágil, com tanto cuidado que me dispensa...

- Você quase morreu, grande imbecil! – o professor resmungou. Não era de seu feitio insultar Malfoy, mas essa ele precisava. – Não venha me censurar, você não está em condições pra isso...

- Certamente não... – Lucius ponderou, após se ajeitar encostado à cabeceira da cama. – Nem consegui lhe lançar meu famoso olhar de repreensão...

- Antes que pergunte, foi Dumbledore... Ele se intrometeu, como sempre – Snape ia dizendo, enquanto pegava um frasco de poção e o entregava a Lucius.

Malfoy lançou um olhar ao outro lado do quarto. Estava no aposento de Severus, e sabia, que perto da lareira, numa poltrona, estava Harry Potter, os observando em silêncio.

De fato, Harry se mantinha ali, aliviado que nada mais grave acontecera com o pai de Draco, mas em compensação, estava aflito e desesperado... Infeliz, pelo que aconteceu com seu namorado. Fora isso, se surpreendeu com a conversa entre seu professor de poções e o intocável loiro arrogante, permitindo uma ofensa dessas. Isso nunca passaria pela cabeça de Harry.

- Ele o pegou, estou certo? – Lucius falou em tom baixo, diretamente a Harry.

- Como sabe? – Potter se aproximou, sentando-se na beira da cama.

- Quem possui o dom da vidência enxerga até mesmo no sonho... – o patriarca esclareceu, mantendo os olhos num ponto imaginário.

Lágrimas brotaram nos olhos de Harry, sem ter forças de continuar retendo, começou a chorar. Agarrou-se às roupas de Lucius e se embalou em seus braços.

- A culpa é minha... – se lamentou entre os soluços. – Eu deveria ter cuidado dele... Eu deveria saber...

Lucius lançou um olhar a Severus, que um pouco assustado, pela reação do rapaz, os olhava sem saber o que fazer. Entendendo, Snape se retirou de seu próprio quarto, dando privacidade aos dois.

Um pouco duvidoso, Malfoy começou a afagar o cabelo de Harry, bem superficialmente, para aos poucos perder o receio e o confortar como sempre fizera com Draco.

Esperou algum tempo, até que mais protegido e confortado, o rapaz recuperava-se do desespero e cessava as lágrimas.

Harry corou, sentindo-se bem daquela forma e pelo carinho que recebia de uma das pessoas que jurava nunca receber nada de bom. E era um carinho quase paterno, coisa que jamais sentira antes.

- Enquanto eu dormia... – Lucius começou, de modo bem suave e baixinho. – Eu vi Draco e Voldemort... – Harry se retesou à menção do nome do maldito. – Mas vi também que algo o protegeu, uma magia... E sei que ele por enquanto, ficará bem...

Harry se afastou devagar, para olhar a Lucius. – Uma magia?

- A marca negra, além de ser um juramento às trevas, permite que ele saiba o que fazemos, uma espécie de ligação com cada comensal... Mas como possuo uma magia mais alta, do que a maioria dos seguidores, isso me permite saber, enquanto durmo, ou quando uso legilimencia, o que ele passa... Não é tão preciso, mas no caso de Draco, por ser meu filho, e por eu possuir a marca, foi mais fácil entrar em uma espécie de ligação não conceitual.

- O que isso quer dizer? – Harry corou furiosamente, sem entender.

Lucius arqueou uma sobrancelha.

- Grifinórios... – suspirou. – Digo que eu pude sentir o momento mais perturbador que Draco passou, nas mãos de Voldemort. Seu desespero e a magia que o protegeu... É difícil entender agora?

- Não... – Harry sussurrou, um pouco constrangido por sua ignorância, mas aliviado por saber que Draco estava bem. – Então ele está bem?

- Por enquanto... – Lucius pensou, analisando o rapaz a sua frente. – Você lançou algum feitiço de proteção em Draco?

- Não... Não sei como se faz... – baixou os olhos, ainda se sentindo inferior.

- É um dom genético, não precisa aprender, pois você já nasce sabendo... Seu pai tinha essa magia isolada dos Potter, certamente você também tem.

- Eu não sabia disso... Não tinha como saber...

- Talvez inconsciente? Draco não seria capaz de se proteger sem saber como lançar um feitiço de proteção...

- É difícil... Duvido muito que eu, Harry Potter, grifinório, tenha lançado magia avançada.

- Me dê aquela varinha – Lucius indicou à cômoda.

Obedecendo, Harry a pegou e a entregou ao patriarca. – Para quê?

- Magia de proteção funciona como um vínculo, é como um juramento ou uma dívida de vida... Naturalmente, os dois envolvidos, possuem uma demarcação, que seria a prova de que o vínculo foi feito. No caso do seu pai, criou-se um símbolo. Estenda sua mão direita. - Harry obedeceu, sua mão virada com a palma para cima. – Aparecium(1).

Nesse instante, um símbolo apareceu, como sendo escrito na palma da mão de Potter. Impressionado, Harry tocou com as pontas dos dedos de sua outra mão, fazendo os contornos que eram de um vermelho sangue.

- Este é o feitiço de proteção?

- Severus havia me contado, que na noite em que os acharam caídos naquela sala vazia, em suas mãos estava o colar do meu filho... Zabini não conseguiu tirá-lo de sua mão, nem Snape e nem a enfermeira...

- Hermione havia me dito isso... Era como se eu não quisesse que ninguém tirasse de mim.

- Você segurava tão firme, como que com medo de perder o adorno de Draco... Como se fosse preciso protegê-lo...

- Eu me lembro! – Harry abriu ainda mais os olhos. – No feitiço do tempo, eu revi esse momento e quando a sombra distorcida de Voldemort tentou levar Draco, eu o protegi mesmo que inconsciente... E eu mantinha o colar dele na mão... Acho que foi nessa hora, que eu lancei o feitiço de proteção e o vínculo entre nós se concretizou...

- E você o protegeu novamente... Mas deve se apressar, pois não há tempo – Lucius tornou-se sério. – Sei onde fica o refúgio de Voldemort, é o único lugar que o mantém mais poderoso, pela escuridão da floresta. Ele não mudaria de terreno tão fácil, pois precisa ganhar energia.

- Não vou vacilar... E Draco estará a salvo, dou minha palavra – Harry sorriu, mais confiante.

- Não basta apenas salvar-lhe a vida, Potter... É preciso que também volte... Vivo...


Harry olhou para baixo, constatando a densidade da floresta.

Voavam nas vassouras, não muito longe das copas das árvores, mas o suficiente para se camuflarem, caso algum espião de Voldemort aparecesse pelo ar. Também não se arriscavam se embrenharem na floresta escura e sombria, habitada por seres inimagináveis.

O vento frio era cortante e tinha dificuldade em se manter firme sobre a vassoura. De vez em quando, ameaçava cair.

Olhou ao redor. O grupo de aurores era grande, não o tanto que esperavam, mas alguns fiéis e que Dumbledore conseguiu convencer em ajudá-los. Sabia que não faziam isso por ele ou por Draco, e sim pela causa maior, segundo eles – acabar com o maior e mais temido mago das trevas e livrar o mundo bruxo e salvar a vida dos trouxas.

Frisou os lábios com asco. Podiam pensar o que quisessem, mas depois que se envolveu com Draco, só pensava em sua própria e maior causa – o amor. Uma palavra um tanto melosa, mas que classificava bem sua vida inteira e sua força de vontade e poder.

E não foi esse mesmo amor que o manteve vivo? Que derrotou Voldemort uma vez?

Daria sua vida pelo seu bebê, como tinha certeza de que Draco faria o mesmo. Assim como seus pais fizeram uma vez... Sorriu com a lembrança da foto de seus pais...

Mas Draco precisava viver, pois o bebê nem ao menos tomou forma. E seria exatamente isso que aconteceria. Estava decidido.

A imagem horripilante de um castelo feito de pedras tortas e escuras tomou forma perante seus olhos. Animais podiam ser vistos rodando em volta do imenso emaranhado de pedras e telhados pontudos.

Estava chegando a hora...

Olhou para os aurores, que se dividiram em dois grupos, cada qual se dirigiram para um lado, fazendo uma curva brusca e tomando os lados direito e esquerdo da morada de Voldemort.

Seu grupo, composto de Lupin, Rony, Hermione, Alastor e mais cinco aurores seguiram em frente, liderados por Dumbledore.

Olhou mais uma vez aos dois melhores amigos. Era loucura, mas eles insistiram em acompanhá-lo. Mione até chorara, dizendo o quanto era necessário manterem-se unidos, como sempre fizeram... Talvez ela tivesse razão e eles fossem seu talismã da sorte... E lembrou-se da expressão firme e decidida de Rony, dizendo que jamais os abandonaria nessas horas.

Teve que deixar seus pensamentos de lado, quando notou que o velho diretor diminuía velocidade e baixava por entre as árvores. Esse era o sinal de que se aproximavam da magia que rodeava o lugar.

Desceu de sua vassoura, entre os demais e retirou do bolso um frasco de vidro.

Lembrou-se das palavras de Lucius.


- Nesse lugar, há uma barreira que indica qualquer sinal de magia que o transpõe. É dessa forma que Voldemort sabe quando há intrusos indesejáveis em seus domínios... – o patriarca estava ao centro do círculo formado pela Ordem que assumiu a missão. – Para os comensais, a marca é uma espécie de sensor de acesso, mas para vocês, que não possuem ligação direta com Voldemort, dificilmente conseguirão penetrar em suas defesas...

- E como acha que conseguiremos? – inquiriu um dos aurores, com nítido sarcasmo e nojo em sua voz.

Lucius sorriu de canto, sem se intimidar pela grosseria com que o tratavam. – Professor Snape tem uma poção que reduz a magia num nível insignificante... É algo arriscado, pois a pessoa perde poder durante alguns minutos. De toda forma, é o único modo de passarem sem serem aniquilados ou descobertos, dependendo do caso.

Nesse momento Snape se levantou de sua cadeira, e para os olhos de Harry, a forma com que entrou na frente de Malfoy, atraindo para si os olhares acusadores e de desconfiança, era como se ele tentasse proteger o condenado.

- Entregarei a cada um de vocês uma pequena dose dessa poção – começou o professor. – Não durará mais que cinco minutos, portanto, só ficarão expostos e indefesos nesse meio tempo. Eu irei na frente, horas antes que vocês invadam, para já ter base de onde Draco Malfoy está e como chegar até ele. O senhor Malfoy ficará aqui em Hogwarts aos cuidados de McGonagall, pois está muito fraco.

Harry percebeu que Lucius quis protestar, mas Severus tocou-lhe discretamente o braço, impedindo que o interrompesse. A diretora da Casa da Grifinória apenas concordou com a cabeça, de fato, já sabia de antemão sobre suas funções. Ela ocuparia o lugar do diretor em sua ausência e manteria os alunos em ordem.


- Todos prontos? – a voz de Dumbledore o trouxe de volta ao presente. Apertou o frasco que Snape dera, algumas horas atrás. – Então, podem beber.

Harry bebeu de um só gole e logo sentiu como sua magia era drenada. O grupo passou a caminhar entre a mata, com cautela, mas sem perder tempo, pois como dissera Snape, só tinha cinco minutos para passar pela proteção de Voldemort e estar seguro, dentro de seus domínios.

Os sons que a floresta produzia era assustador, mas nada pior do que a ansiedade e a necessidade de salvar seu sonserino. Mal notou, quando um frio o atingiu e um calafrio passou pelo seu corpo. Quando dera por si, estava num mundo distorcido.

A floresta dava espaço para um emaranhado de pedras em meio a pântanos de miasma. O cheiro pútrido misturado a enxofre era sufocante. Tudo era decadente e disforme, assim como seu principal habitante.

Dumbledore se aproximou e o olhou bem dentro de seus olhos.

- Não era hora para enfrentá-lo, mas ninguém teve escolha quanto a isso... Eu manterei Voldemort distraído e ocupado, enquanto Malfoy é salvo e você venha ao encontro de seu destino.

O velho dizia a tudo sem mover os lábios, pronunciando cada palavra dentro de sua mente. Tivera apenas que concordar silenciosamente e partir para longe desse mago exemplar, sendo acompanhado de seus dois melhores amigos.

Olhou para trás e viu como Dumbledore, Remus e os poucos aurores se distanciavam, seguindo diretamente ao encontro de Voldemort.

- Harry, preste atenção... – sussurrou-lhe Hermione.

O moreno sorriu-lhe, voltando sua atenção ao caminho e buscando a direção correta.

- Snape estará nos esperando na torre leste. É por este lado. – Harry indicou, tomando o cuidado para se camuflarem entre as sombras. – Há uma entrada por aqui, que o pai do Draco sempre utilizava.

- E como sabe o caminho? – Rony inquiriu, perplexo.

Harry corou profundamente, ao se recordar.


Havia sido chamado para falar com Snape em seu escritório. Quando entrou, o encontrou sentado numa poltrona e muito mal humorado, como quando ficava em suas aulas e Neville explodia o caldeirão. Parou na porta, sem saber o que fazer.

- Entre Potter – apenas quando Lucius falou, o notou ali também, encostado ao lado da lareira.

- Queriam falar comigo? – perguntou um tanto aflito.

- Digamos que terá de saber como andar em terreno inimigo, já que não leva muito jeito para se situar nem mesmo em Hogwarts, quem dirá entre comensais e bestas das trevas – o loiro fez questão de ser sarcástico.

- Oh, claro... – como foi se esqueceu que os dois homens a sua frente eram serpentes? Sonserinos orgulhosos e arrogantes...

- Só isso que tem a dizer? – Snape finalmente se pronunciou, mais carrancudo do que o habitual. – Sabia que era um incompetente, Potter, mas não pensava que era pra tanto! Não chegou a se questionar nem por um minuto sobre como permanecer pelo menos alguns minutos vivo, ali dentro?

Harry negou com a cabeça, estava ficando nervoso. – E como poderia? Acaso tem um mapa do esconderijo de Voldemort?

- É lógico que não! – cuspiu Snape, mais irado do que nunca.

Harry ficou indignado. Não entendia o porquê dessa atitude de Snape para cima de si. Ia retrucar, mas Malfoy se aproximou, chamando a atenção do grifinório e fazendo com que Snape se afundasse ainda mais no estofado da poltrona.

- Eu tenho todos os caminhos gravados na memória... Sei até mais passagens secretas, corredores e salas intermediárias, do que o próprio Severus. E é por isso que você está aqui.

- Irá me dizer? – Harry estava duvidoso.

- É literalmente impossível dizer todas as entradas, curvas, portas e passagens que existe naquele refúgio. Assim como será impossível você conseguir se situar com meras palavras e memorizar tudo o que eu disser... Você terá de ver o que eu vi e lembro – passou os dedos pelo longo cabelo platinado, numa mostra em comum com o filho. Draco fazia o mesmo, quando estava ficando tenso ou nervoso, mas em Lucius, não era possível notar qualquer tipo de alteração, parecia mais um gesto casual do que indício de alteração emocional.

- Legilimencia? – perguntou com surpresa.

- Você é bom em legilimencia Potter? – os olhos azuis não desviavam dos verdes.

- Não... – confessou em tom baixo.

- Como eu pensei... No seu caso, você se desgastaria, tentando penetrar em minha mente, e isso é tudo o que menos queremos.

Nesse momento Snape bufou de sua poltrona, revirando os olhos e mostrando que era óbvio que Harry Potter não sabia de muitas coisas. Desde quando o inútil do Potter sabia algo de proveitoso?

- E o que devo fazer? – Harry perguntou inocentemente.

- Receber o que quero te passar. Quem usará de magia serei eu e não você. É um método simples, de troca de energia, você será o receptor e eu a fonte, mas para isso funcionar... – suspirou, desviando pela primeira vez dos olhos verdes e fitando qualquer coisa sobre a lareira. – Terá que ter a canalização...

- Co-como assim? – ficou tenso, principalmente pela cara de assassino que Snape fazia.

- Ele não precisa disso... – o professor de poções sibilou entre dentes.

- Há um meio mais seguro e rápido dele salvar meu filho? – Lucius o encarou, desafiador.

Severus susteve o olhar do patriarca, mas logo se rendeu a ele. – Faça de uma vez. Potter é burro demais para entender, depois vai ficar com lenga-lenga, complexos e síndrome de negação... Uma total perda de tempo e tempo é o que mais precisamos nesse momento.

- Entender o que? – Harry estava começando a se sentir injustiçado. Não precisavam ficar falando dele dessa forma.

- Não é nada pessoal – Lucius comentou, antes de fazer.

Os olhos verdes se arregalaram quando sentiu as mãos de Lucius tomarem seu rosto e ter a boca tomada por um inusitado e casto beijo. O sangue subiu instantaneamente, resultando numa coloração violenta em seu rosto.

Imagens foram se formando em sua cabeça, de lugares que nunca viu, tudo tão rápido como um flash, mas marcante, como se realmente houvesse caminhado por tudo ali. Quando os lábios de Lucius se afastaram dos seus, caiu sentado no sofá, finalmente respirando. Nem soube quando foi que tinha parado de respirar.

- Três segundos! – Severus explodiu. – Três. Longos. Segundos!

- Segundos e não minutos... – Lucius se sentou numa outra poltrona.

- Você disse que duraria dois segundos! Dois! – gesticulou erguendo dois dedos no ar, para enfatizar suas palavras.

- Diferença de um mísero segundo, Sev! – Lucius disse, indignado.

Harry conseguiu apenas piscar os olhos, atordoado e de faces completamente vermelha.


Harry abanou a mão na frente de Rony. Melhor não tocar nesse assunto, visto que o ruivo ficaria pior do que ele próprio tinha ficado e no meio do terreno inimigo, não era nada bom.

- Esquece isso Rony, um dia eu te conto – sorriu ao amigo, disfarçando o rosado de seu rosto.

- Certo... – Rony concordou, um pouco confuso pela reação do amigo.

Como dito, havia uma entrada naquele lado, e que levava para dentro do castelo. O difícil era passar por dois comensais que conversavam, perto da porta.


Draco andava de um lado a outro, como um tigre enjaulado. Estava ficando cada vez mais nervoso e mesmo não querendo admitir – mais fraco.

Sentia sua energia indo embora, sem comer ou beber nada que lhe entregavam. Olhou à bandeja que repousava num canto da cama. Um banquete à francesa, fora os sucos naturais e frutas doces e saborosas que encheria de água a boca de qualquer um. Voldemort tomava o cuidado e não lhe dava nada cortante ou pontiagudo que pudesse se ferir ou usar de qualquer outra forma, assim como não lhe dispunha nada alcoólico que pudesse ingerir e prejudicar o desenvolvimento do feto.

- Desgraçado... – grunhiu de raiva, dando um safanão na bandeja e derrubando tudo ao chão.

Não colocaria nada na boca, vindo daquele demente. Poderia ser facilmente enfeitiçado, se assim fizesse. Conhecia diversos tipos de poções que o manteria obediente até quando o inimigo desejasse. Preferia passar fome e sede.

Voltou até a janela e empurrou o vidro, sentindo o vento frio. Estendeu a vista para a floresta e preferiu ardentemente estar perdido nela a que trancafiado ali.

E quanto a Harry? Onde estaria agora? Com quem e fazendo o que? Em que estaria pensando, planejando? Essas perguntas vagavam em sua mente, querendo sentir novamente o corpo e o cheiro do moreno. Saber que estaria tudo bem...

Nesse instante, viu que a um lado, labaredas de fogo subiram ao céu e uma grande e estrondosa explosão aconteceu.

Apertou com força as grades da janela e prendeu a respiração, enquanto o clarão alaranjado lançava chispas em seus olhos.

- Harry... – murmurou, tomado pelo pânico. – Merlin... Não...

Manteve-se todo o tempo seguinte com os olhos atentos, vendo o que lhe era possível. Ao longe alguns bruxos se movimentando, capas pretas a esvoaçar com o vento. Certamente comensais da morte em busca dos invasores.

Quantos deles estavam ali? Harry estaria entre eles, sem dúvida. Desmiolado como sempre... Corajoso como sempre...

Horas de agonia se arrastaram, sem ter como saber o que realmente acontecia do lado de fora. Odiou-se por estar de mãos atadas.

Mais explosões, mais vestígios de magia. Perdera a conta de quantos raios verdes fluorescentes cruzou a escuridão lá fora, insinuando que as imperdoáveis estavam sendo empregadas naquela batalha, só não sabia de que lado.

Estava tão entretido no que via, pedindo mentalmente para que nada acontecesse a Harry, ou a seu pai e seu padrinho, que foi pego de surpresa, quando um golpe atingiu a torre onde estava e tudo desapareceu de seu redor, o levando a uma queda vertiginosa.

Fechou os olhos, sentindo o frio percorrer seu corpo e a adrenalina o envolver inteiro. Não sabia o que pensar, nem sequer tinha tempo para isso, até ser envolvido gentilmente. Seu corpo de encontro a algo macio e quente.

Sorriu, não precisava abrir os olhos para reconhecer quem era. Deixou ser envolvido e repousou a cabeça ao peito acolhedor, tão palpitante quanto o seu.

- Quando vai pensar antes de agir, seu cabeça-dura? – pronunciou arrastado, finalmente abrindo os olhos para se perder no verde esmeralda que o examinava.

- Graças a Merlin que você está bem... – Harry só então pôde sorrir, vendo que não havia nenhum arranhão no loiro.

Estavam sobre a Firebolt, em meio às imperdoáveis que eram lançadas a esmo pelos bruxos no campo de batalha. Poderiam ser atingidos a qualquer momento, mas para Draco, já não importava. Confiava na destreza do apanhador mais jovem de todos os tempos. Abraçou ao corpo do moreno, matando a saudade e sentindo o medo deixar seu corpo aos poucos. Não gostava de ser tratado como uma garota indefesa, mas gostava dessa proteção toda, que Harry lhe dispensava.

O grifinório fez uma curva, desviou de algumas magias, até que alcançou o solo, onde Rony e Hermione estavam.

E sem mais um minuto, Draco foi puxado pelo ruivo, para seu atordoamento. Rony envolvera sua cintura delgada enquanto Hermione se aproximava com a capa de invisibilidade em mãos.

- Harry! – Draco tentou manter-se agarrado ao moreno, que se quitou de suas mãos com uma doçura sufocante. – Harry!

Tentou em vão se livrar de Weasley, mas este era mais alto e mais corpulento. O ergueu do chão e o arrastou para longe de Potter enquanto Hermione o envolvia na capa de invisibilidade.

Estendeu os braços, mas Harry manteve-se imóvel o olhando com carinho... Carinho mórbido...

Começou a se desesperar, o medo voltando triplicado, a angustia sufocante e a sensação de perda.

- Te amo – pôde ler nos lábios que acostumou a beijar. O mesmo amor era possível se ver no verde de seus olhos.

Então Harry subiu de volta na Firebolt e alcançou o ar, enquanto gritava tentando traze-lo de volta a si. Esmurrou o ruivo, tentando se livrar dele, mas não conseguia.

Foi arrastado para longe da batalha, sentindo-se derrotado.

- Harry pediu para que te salvasse Malfoy... E é isso que vamos fazer. – ouviu o som abafado e triste, da voz de Rony. – Ele deve ter te contado sobre a profecia... Você sabe o porquê.

Sem que Rony esperasse, Malfoy girou o corpo e segurou seu rosto, para que o olhasse nos olhos. O ruivo segurou a respiração, ao notar que o loiro chorava. Não havia nada do arrogante e intragável sonserino... Ele parecia um anjo triste e decadente. Tão frágil como se fosse feito de cristal.

- Weasley... Ele precisa de vocês... E eu sei que vocês queriam ajuda-lo nesse momento.

- Malfoy... – Hermione implorou, sem poder se controlar, não conseguia nem olhar ao rosto pálido do loiro.

- Eu vou ficar bem... Nunca faria nada contra a vontade de Harry, ainda mais algo tão sério quanto isso... Vou viver pelo que levo aqui dentro – se envolveu na capa de invisibilidade, protegendo a barriga. – Eu imploro, por tudo que você mais ama e acredita, Rony... Não deixe que ele enfrente Voldemort sozinho... Ele precisa de vocês mais do que eu...

Hermione sorriu, ao notar tanto carinho na voz do sonserino, segurou o braço de Rony, que estava muito impressionado com tudo que acabara de ouvir, em principal, seu nome sendo pronunciado sem um pingo de desgosto e ainda tendo um Malfoy lhe implorando, quase de joelhos.

- Ali estará seguro Draco – a garota indicou o caminho, num sorriso genuíno, enquanto puxava o namorado de volta à batalha, na tentativa de encontrar Harry e o auxiliar da melhor forma possível.

Não teve tempo de mais nada, além de se cobrir e correr para longe dos domínios inimigo. Ainda se sentia um inútil, sem poder ajudar e nem imaginava que o grande motivo de Harry ter que vencer e sobreviver, era por ele...

Quando estava prestes a entrar na floresta, de coração na mão, sem saber o que aconteceria dali em diante, uma risada tomou seus ouvidos.

Parou abruptamente e olhou em direção ao som tão familiar e desprezível. A alguns metros de distância estava Bellatrix. Aurores mortos estavam aos seus pés. Ela sacudia displicente a varinha numa das mãos e balançava a cabeça com irônico sorriso em seu rosto.

- Bando de incompetentes! – debochava.

Lembrou-se de tudo que ela fizera. De como teve coragem de matar o padrinho de Harry, sangue Black... Sangue de sua mãe Narcissa e da própria Bellatrix. Sabia que Harry queria vê-la morta, mas não era hora de deixa-la aos cuidados do grifinório, pois ele estava confrontando seu pior inimigo, aquele que levou a vida de seus pais e o deixou sozinho no mundo, num mundo que não o queriam...

O ódio o dominou então... E a necessidade de pelo menos fazer algo nessa guerra.

Com cuidado, Draco apanhou uma varinha, caída no chão, certamente pertencente a algum dos mortos, e a escondeu na manga da roupa. Se livrou da capa e passou a correr em direção da floresta.

Como esperado, Bellatrix interferiu em sua passagem, aparecendo bem à sua frente. Parou, quase caindo e recuou poucos passos.

- Vejam o que temos aqui... – ela sorriu ainda mais. – Meu sobrinho Draco Malfoy!

- Tia Bella... Deixe-me ir – pediu com aflição, lançando olhares para o meio da floresta.

- Tsc, tsc... – ela balançou o dedo na frente do rosto do rapaz, com cinismo. – Lorde Voldemort te deseja, meu querido... E você vai voltar para sua doce prisão, mesmo não querendo...

Com um movimento rápido, Draco tentou passar por ela, mas foi abraçado. Unhas cravadas em sua garganta, pressionando e o fazendo ficar sem ar.

- Se eu pudesse, te matava, seu imundo... Lenta e dolorosamente... – ela sussurrou em seu ouvido.

- Sua vaca – sibilou, o mais alto que conseguiu.

Um tapa atingiu seu rosto. Caiu ao chão, sentindo o gosto metálico do sangue que acumulava em sua boca. Ergueu os olhos, azul prateado em desafio, a arrogância tão característica de sua família.

Bellatrix se aproximou vitoriosa, os olhos cravados na boca vermelha e inchada do rapaz, nos fios platinados que cobriam parte do rosto de traços suaves, assim como nesse olhar. Tudo lembrava a Lucius Malfoy.

O agarrou novamente pelo pescoço, o forçando a permanecer com o rosto para cima.

- Idêntico a ele – cuspiu cada palavra. – Sabe meu querido? Eu freqüentava sua casa pra dormir com seu pai... Narcissa nunca mereceu a honra do sobrenome Malfoy.

- E meu pai nunca te quis – riu o máximo que conseguia, mas se pudesse, gargalhava da cara dela.

Outro tapa o atingiu no mesmo lugar do primeiro, fazendo dessa vez o sangue escorrer pelo canto de sua boca.

- Eu posso não poder te matar ou te presentear com um crucius... Mas posso fazer com que aprenda a controlar essa língua – ameaçou carregada de raiva.

Draco entreabriu os lábios, tentando buscar ar e isso provocou uma nova onda de desejo nos olhos da mulher. Era isso que via – desejo incontrolável, por se parecer tanto com aquele que ela cobiçava e não pensaria duas vezes em deitar em sua cama, mesmo sendo na cama da própria irmã.

Sem resistir, puxou o rapaz pelos cabelos, e se inclinou dominante e possessiva, para beija-lo. Seus lábios quase se tocaram, mas antes que fizesse, sentiu o hálito quente de Draco e cada letra que ele fez questão de pronunciar sem som.

O raio verde fluorescente saiu de sua mão direita diretamente ao peito de Bellatrix. O corpo da mulher foi lançado para traz, enquanto a magia passava por todo seu corpo, levando embora sua vida.

Draco se ergueu e se aproximou do corpo inerte, olhando-a com superioridade e arrogância.

- Sim... Sou idêntico a ele. Até mesmo nas trapaças e no prazer em ver o inimigo aos meus pés... Tia Bella... – mais sarcástico só se fosse o próprio Lucius Malfoy.

Cuspiu no cadáver e deu-lhe as costas. Estava muito mais fraco, por se utilizar de uma imperdoável em uma varinha que não era sua. Apanhou a capa e se camuflou com ela, para que mais nenhum comensal o seguisse. Não tinha mais forças para lutar.

Deixou aquele mundo à parte ao se embrenhar entre as árvores. Afastou o máximo que conseguiu, até se sentar protegido entre as raízes de um salgueiro milenar. O velho salgueiro apenas sacudiu seus longos galhos ao sentir sua proximidade, mas como não representava perigo, permitiu que se protegesse sob suas folhas.

Lembrou-se do sorriso doce e dos olhos verdes... Lágrimas inundaram ainda mais os seus olhos e transbordaram dolorosamente. Tampou os ouvidos, tentando evitar escutar os sons da batalha que era trazida pelo vento. Era torturante demais para suportar, e se pegou desejando ser um pouco grifinório e esperar por um bom resultado, no final das contas... Mas seu lado realista de sonserino o cutucava dizendo que essa esperança era remota...

E a noite foi a mais longa de sua vida...

Quando a manhã começou a surgir, veio com a chuva, como se o mundo bruxo lamentasse todas as perdas.

Seu corpo tilintava molhado e com frio, quando uma sombra se assomou sobre si. Ergueu os olhos, marejados de tanto sofrer, e se atirou aos braços paterno.

Lucius o carregou como se fosse um garotinho, como antigamente. Olhou para trás, onde se encontrava McGonagall e Blaise Zabini. Falkes sobrevoava os céus, anunciando o fim da guerra.

- Papai... – murmurou fracamente num pedido.

- Shiii... Não diga nada... Está tudo bem agora...

Zabini se aproximou. Segurava uma chave de portal.

- Precisamos ir para Hogwarts Draco... Teu pai ficará para ajudar os que precisam...

Draco sorriu ao amigo, fazendo Blaise corar um pouco. Seu corpo passou aos braços do sonserino moreno, que o envolveu apertado e trêmulo, acionando a chave e aparecendo na enfermaria, onde Madame Pomfrey já esperava.


Lucius passou os olhos ao redor da desgraça. Era um cemitério ao ar livre.

Outros bruxos vieram para socorrer os feridos e levar os corpos daqueles que pereceram pela causa. Mas ele estava ali por duas únicas pessoas – Harry Potter e Severus Snape.

Caminhou em meio à desolação, reconheceu muitos dos comensais que jaziam sem vida, assim como aqueles do ministério. Balançou a cabeça, sem emoção alguma a transpassar pelas suas faces.

Na guerra, era matar ou morrer...

Um grito angustiado foi ouvido. Ergueu os olhos em direção a McGonagall, a poucos metros de onde estava. Ela abraçava a cabeça de longos cabelos brancos do velho diretor de Hogwarts.

Se Dumbledore estava ali, certamente seria ali que encontraria Potter.

Mal deu dois passos, quando foi agarrado pelo tornozelo e puxado, que acabou por cair sobre um corpo imundo e ferido.

Seu corpo gelou e se abraçou esporadicamente a essa pessoa, limpando a sujeira do rosto para poder ver que Severus estava bem.

- Sev, você se feriu muito? – perguntou aflito.

- Não sou Snape, mas mesmo assim agradeço a preocupação – disse o outro, em meio a tosse.

Lucius arregalou os olhos, notando que estava sobre Lupin, o abraçando e se preocupando demasiadamente.

Apoiou bruscamente ao corpo de Remus e deu impulso para se levantar, fazendo o lobisomen gritar de dor. Ao ficar de pé, tentou limpar a roupa, carregado de asco.

- Que desgraça! Minhas vestes se sujaram com sangue de uma besta humana imunda! – olhou para as mãos, que ficaram cheias de sangue e terra, quando tentava limpar o rosto do outro, lhe dando mais repulsa.

- Chega de frescura Malfoy... Vamos, me ajude a socorrer o Weasley e a Granger. Eles quase morreram. – Remus lhe sorriu perversamente. – Devo comentar a Snape, sua preocupação para comigo?

Lucius apenas estreitou os olhos, em desagrado, passando a retirar o corpo de Hermione, debaixo de um comensal morto, enquanto Remus carregava Rony.

A garota abriu os olhos, estava consciente e quebrara a perna, fora alguns poucos ferimentos superficiais. Por outro lado, o ruivo estava em situação mais delicada.

- Ele tentou me proteger e a coluna de pedra do castelo caiu sobre ele... – ela soluçava descontrolada, querendo se abraçar ao namorado.

- Não se preocupe menina... Ele respira, só está desmaiado – o patriarca pronunciou suavemente, para não alarma-la. – Lupin levará vocês de volta a Hogwarts, onde há uma equipe de medibruxos aguardando para socorre-los...

Remus sorriu ao loiro, vendo que Hermione concordava com a cabeça e parecia mais calma. Apanhou a chave de portal que Malfoy lhe estendia e passou o braço pelos ombros da garota, desaparecendo em seguida.

Lucius suspirou, voltando a percorrer o lugar com os olhos.

Não muito longe de onde Weasley e Granger estavam, podia se notar algo familiar – óculos redondo.

Passou a mão pela terra negra, desvendando um braço e pouco da roupa com o símbolo da grifinória.

- Isso não é nada bom... – lamentou, enquanto se apressava em socorre-lo.


Gina andava pelo corredor que levava até a enfermaria. Soube que acabaram de trazer o irmão e Hermione. Estava muito preocupada e queria vê-los, mesmo que Madame Pomfrey se negasse, passaria todo o tempo esperando. Queria ser uma das primeiras a estar ao lado deles, quando acordasse.

Também desejava ver Harry...

Apertou as mãos, ao se lembrar dele, seu coração deu uma falha.

Estava indo à sala de poções, pois esquecera seu livro. Ao se aproximar da sala, viu a última coisa que não queria ver...

Harry e Malfoy conversavam.

- Aonde pensa que vai Malfoy?

- Para a aula de Tratos com Criaturas Mágicas, oras! É tão sonso que se esqueceu que temos a mesma aula?... Potter...

Era uma conversa típica deles, mas o modo como Malfoy pronunciou o sobrenome de Harry, a fez se arrepiar e parar no lugar. O sonserino sussurrou de modo sensual e roucamente, erguendo o queixo e sorrindo de lado. O resto da cena foi um choque.

- Eu sei perfeitamente bem, Draco...

- Então?

- Você é sempre tão cínico!

No instante seguinte, Harry havia puxado o sonserino pela cintura, o empurrado contra a parede e o beijava loucamente. Corpo contra corpo, dedos longos e pálidos se agarrando aos fios revoltos enquanto perdiam o fôlego.

- Estava com saudade e queria um beijo antes de ter que passar mais uma aula do seu lado, tendo que estar literalmente com as mãos em alguma criatura, que não seja você.

- Não sabia que você era pervertido... Aliás, se eu te causo tanta falta, não posso fazer nada. Sou irresistível, eu sei.

Gina sacudiu a cabeça, negando aquelas lembranças. Mesmo tendo visto com os próprios olhos, não deixava de achar que era uma mentira. Seu amor por Harry ainda batia em seu coração.

Foi dobrar um corredor, quando tropeçou em uma pessoa. Caiu no chão e buscou quem era que estava ali. Arregalou os olhos, ao ver de quem se tratava.

- Pro-professor Snape?

Severus abriu os olhos lentamente. Tentava alcançar a enfermaria, mas havia gastado muita energia, acabando por não agüentar o próprio peso e deslizar até o chão.

Havia assistido a luta até o fim. Ajudara no que pôde e sabia o estado crítico em que Harry se encontrava. Tivera de ser rápido, e antes de esperar ajuda, aparatou em seu aposento em Hogwarts, para pegar a poção que tivera preparado durante cinco longos anos e que os medibruxos precisariam para salvar a vida de Potter.

Gina olhou ao chão, ao redor do corpo do professor e gritou, constatando uma grande poça de sangue.

- Não há tempo garota! – Snape chamou a atenção de Gina de volta a si. – Quero que dê isso a Harry Potter, antes que ele morra... Agora!

Trêmula, a ruiva pegou o frasco que lhe era estendido. Ergueu-se e correu o máximo que suas pernas conseguiam.

Enquanto tentava alcançar a enfermaria, sua mente deu voltas. Lembrou-se das palavras de Pansy Parkinson, aquele dia em que descobriu sobre Harry e Draco.

Havia corrido para longe dos dois, querendo apagar aquela cena da cabeça e já chorava de tristeza, quando foi segurada pela sonserina. Parkinson já deveria saber sobre esse relacionamento fazia tempo.

- Todo mundo sabe que você gosta do Potter... E eu tenho a chance que você precisava para ter o amor dele.

- Do que está falando?

Pansy sorriu com ironia. Agarrou a mão de Gina e forçou um anel em seu dedo. – Está vendo esse anel? Dentro há uma gota de uma poção rara e eficiente. Essa gota fará com que seu grande amor também se apaixone por você.

- Uma poção do amor? – arregalou os olhos. – Nunca faria isso, é ilegal!

- Pense em quanto o seu queridinho sofrerá, se ficar junto de Malfoy... Filho de comensal, sangue-puro... E se Malfoy estiver o enganando? Já imaginou a tragédia? Desde quando Draco Malfoy amaria Harry Potter? E se for uma armadilha?

- E por que você estaria me dizendo isso?

- Porque Draco é meu noivo desde antes de nascer... E eu exijo que ele esqueça essa trama em nome do Lorde e pense em nós e em nossa linhagem, acima de tudo. Será bom pra mim e pra você...

- Não pode entrar aí! – gritou Pomfrey, vendo que a ruiva invadia a enfermaria e buscava alguém por toda a ala hospitalar.

Gina não deu ouvidos e abriu a última cortina, vendo o corpo pálido, quase sem vida de Harry. Ao seu lado estava Lucius Malfoy, que o havia trazido.

- Senhor Malfoy, o professor Snape está caído no corredor, perto das escadas. – disse com pressa, sem desviar os olhos do corpo do grifinório.

Lucius se ergueu da cadeira e saiu no instante seguinte. Estava preocupado com Severus, por não tê-lo encontrado em parte alguma, da batalha.

Ficando sozinha com Harry, Gina se aproximou da cama e começou a chorar.

- Tudo culpa do Malfoy! – apertou firme o frasco que levava nas mãos.

Olhou ao anel que Pansy lhe dera. Uma pedra vermelha em forma de coração levava a poção. Passou o dedo sobre a gema e esta se abriu, revelando o minúsculo conteúdo.

Se Malfoy não houvesse seduzido Harry, este teria tempo de se aperfeiçoar e ficar mais forte em magia. Seu seqüestro foi apenas uma farsa para que Potter fosse em direção à própria morte.

Nunca havia tido uma única vez em que Malfoy foi gentil, ou que respeitasse todos eles... Nunca Malfoy demonstrou qualquer tipo de afeto por Harry, em todos esses anos ele demonstrava bem o contrário. Raiva, rivalidade, inveja e ódio... Era isso que Draco Malfoy sentia por Harry Potter e por todos os grifinórios e amigos do menino-que-sobreviveu.

Lucius Malfoy não tentou matar Harry no ministério? Por que o filho não faria o mesmo?

Oh, sim... Draco Malfoy era capaz de fazer... Tinha certeza.

Lentamente virou o anel e viu a pequena gota vermelha cair dentro do frasco que Snape lhe confiara e se misturar com o outro líquido. Aproximou mais de Harry e segurando sua cabeça levemente suspensa, o fez beber de pouco em pouco, o líquido salvador.

- Eu faço isso porque te amo... – sussurrou ao ouvido do moreno. – Porque te amo Harry...

Olhos verdes se abriram e a focaram para depois se fechar novamente.

Gina sorriu e se afastou. Estava feito e Harry nunca mais sofreria.

Madame Pomfrey entrou no recinto e a olhou preocupada.

- Virginia Weasley... Melhor se retirar agora...

Gina sorriu-lhe e se retirou sem protestar. Já tinha a certeza de que Harry ficaria bem. Ao passar pela cortina, viu o que dexara de ver quando chegara na enfermaria, de tão preocupada com Potter como estava. Muitas pessoas estavam ocupando as macas, dentre elas, Rony e Hermione.

O irmão ainda estava desacordado e Hermione lançava-lhe olhares de sua maca. A garota de vastos cabelos castanhos abandonou sua contemplação do namorado, para olhar à amiga, que se mantinha de pé, os observando.

- Gina! – Hermione sorriu, feliz em ver a ruivinha.

Quando Gina se decidiu a se aproximar, Zabini entrou na frente.

- Amor imposto será sempre um amor vazio... Lembre-se disso em nome de Draco Malfoy...

O sangue de Gina congelou, e assustada, apenas via o sonserino deixar a enfermaria, com um semblante nada agradável.


Seis meses depois...

Draco caminhava tranqüilamente pelo corredor, a seu lavo vinha Blaise.

Hagwarts permanecia vazia, pois alguns alunos perderam familiares, tanto comensais como aurores. Os que tinham famílias trouxas foram liberados a retornarem para casa a mando do ministério, até que todo o caso fosse devidamente resolvido. Sabiam que muitos comensais, ou cúmplices de Voldemort, ainda estavam foragidos. Somente alguns poucos permaneciam no castelo.

Dumbledore havia sido enterrado no próprio terreno de Hogwarts, num mausoléu adornado de flores. Tudo muito simples e alegre, como ele bem gostaria que fosse. Em seu lugar, a pedido de todos, sem exceção, foi ocupado por McGonagall. A velha professora de Transfiguração ficou muito emocionada com o pedido de todos os alunos e demais professores, cabendo apenas aceitar essa honra que jamais imaginou ter o direito.

Lucius foi para uma prisão provisória no Ministério, pois McGonagall, a pedido de Dumbledore, antes desse morrer, mandou um relatório exigindo a absolvição da pena do patriarca para benefícios e prestações de serviços em Hogwarts. Com uma nova perspectiva dos acontecimentos e do auxílio de Lucius na derrota de Voldemort, ele foi condenado a cumprir mais um ano para depois ser solto, mas vigiado pelo Ministério, assim como tivera de assinar um compromisso com Hogwarts.

Zabini olhou ao loiro. O mesmo rosto aristocrático, os mesmos olhos prateados e a boca bem delineada. A pele mais branca e imaculada do que nunca. Apenas um leve tom rosado aparecia em cada bochecha. O cabelo platinado estava um pouco mais comprido, principalmente a franja, que deslizava pelo rosto e lhe encobria um dos olhos. Porém, havia algo a mais em Malfoy...

Olhou ao corpo que tanto cobiçava e, realmente ainda desejava, vendo-o um tanto roliço, mas ainda assim um corpo bem talhado e bonito.

Draco nunca usou qualquer tipo de feitiço para esconder a barriga. Era orgulhoso demais para isso. A túnica branca de manga longa lhe caia perfeitamente bem, além de ser ideal para se mover sem lhe apertar nenhuma parte do corpo.

Pararam frente a uma porta e o sonserino loiro o olhou com um discreto sorriso.

- Vai ficar tudo bem Draco?

- Vai ficar tudo bem... Não se preocupe. – abriu a porta devagar e entrou. Quando foi fechar a porta, o outro o chamou.

- Draco...

- Sim?

- Sempre estarei aqui, ok?

Malfoy permitiu sorrir um pouco mais. – Eu sei...

Quando Zabini tomou seu caminho e sumiu pelo corredor, Draco fechou a porta e suspirou fundo. Girou o corpo lentamente e ergueu a vista, para se deparar com um salão cheio de gente, a maioria grifinórios.

Não pôde evitar se sentir deslocado ali.

Passou os olhos por todos, parando na pessoa ao centro do tumulto e que sorria, conversando animadamente com todos, sem exceção.

Sorriu vendo-o tão bem e ainda mais radiante do que antes. Os cabelos sempre tão revoltos, os olhos verdes a brilhar de emoção, conforme contava o que aconteceu na batalha e o corpo... Aquele não era o mesmo corpo de antes, estava mais alto, mais forte e mais poderoso.

Fazia uma hora que Harry Potter havia despertado de seu coma natural, para se recuperar das seqüelas e do desgaste físico e mental pelo qual passara. Não era de se espantar que ficara inconsciente durante seis meses.

Olhou aos lábios do moreno, louco para senti-los novamente e corou passando uma mão pelo cabelo, num gesto de nervosismo. Também seria a primeira vez que Harry o veria e bem... Ele agora estava bem diferente, com aquela saliência redonda que chamava de barriga.

Foi se aproximar do grupo que envolvia o grifinório, quando seus olhos captaram algo perturbador - Harry e Virginia de dedos entrelaçados.

- Draco... Eu vi a Weasley dando uma poção a Potter... Tenho certeza de que era uma poção ilegal...

- Ela é uma Weasley e amiga dele, Blaise...

- Mas ela o ama, Draco... Só estou te avisando.

As palavras de Zabini, no dia em que trouxeram Harry para a enfermaria o fez tontear. Não esperava algo vil de algum deles, mas então, se lembrou de Peter Pettigrew que Harry havia lhe contado. Ele era um dos melhores amigos do pai de Harry e um dos membros dos Marotos. Severus também havia lhe contado muito sobre esse grupo de grifinórios. Ninguém nunca esperava por isso...

Seu corpo esbarrou numa mesinha, perto da porta, chamando a atenção de todos. E isso era tudo o que menos queria aquele momento.

Harry se levantou do sofá, e se aproximou, um pouco sem jeito em falar com o sonserino.

- Ahn... Malfoy... Podemos conversar lá fora?

Draco sorriu com desgosto ao ouvir o modo como o grifinório o chamou. Antes, o que tinha dúvida, agora passou a ser certeza.

- Claro Potter...

Draco seguiu o moreno até o corredor e longe dos olhares do demais. Estendeu a vista pelo escuro e vazio ambiente, se sentido da mesma forma – sombrio e vazio.

Harry ficou um tempo o olhando, principalmente em sua barriga, e isso estava sendo mais perturbador do que quando Voldemort o havia encarcerado. Instintivamente cruzou os braços.

- O que queria conversar?

- Primeiramente... Você está bem? O bebê?

- Sim... Estamos bem...

- Que bom...

Silêncio.

Draco apertou os lábios, tentando reter qualquer sinal de tristeza.

- Então? Vá direto ao assunto.

- Eu... Não sinto amor por você, mesmo depois de tudo que passamos, e que foi maravilhoso... Mas... Não é o que eu quero... – sussurrou cada palavra.

- Entendo – sorriu com escárnio. – Só isso Potter?

- Mas o filho também é meu e... Eu gostaria de vê-lo sempre...

Harry mantinha os olhos em Malfoy, preocupado com as reações do sonserino, mas este parecia levar tudo muito bem, o que pareceu-lhe um bom sinal.

- Claro... Quando nascer, você pode vê-la... Severus manterá contato com você e quando quiser e não tiver nenhum inconveniente, ele a levará para passar algum tempo com você...

- Ela? Então é menina? – um sorriso adornou os lábios do moreno.

- É menina... – confirmou a meia voz, as lágrimas teimando em turvar seus olhos.

- Obrigado Malfoy...

- Eu queria dar uma coisa à Virginia Weasley, mas eu tenho caráter... Então, poderia receber por ela Potter? Já que ela é a dona do seu sentimento...

- Claro...

Draco desferiu um tapa ao rosto de Harry que avermelhou e um fio de sangue escorreu pelos seus lábios.

- Não queria te agredir, mas não bato em mulher, mesmo que ela mereça... E eu realmente precisava fazer isso...

Harry levou a mão ao rosto e acompanhou com os olhos Draco se afastar. Sempre altivo e inabalável...

Mas lá no fundo, Draco Malfoy desmoronava...


N/A: este é o penúltimo capítulo, não quis dividi-lo mais, pois quero encerrar esta fic. Demorei uma eternidade, mas eu estava fora da net, infelizmente não tenho idéia de quando postarei o final, mas farei o possível para não demorar muito.

Agradecimentos a: Hermione Seixas, Srta Kinomoto (o próximo é o final, assim, poderá saber o que acontecerá), Lilly W Malfoy (bem, como vc havia pedido, eu coloquei um pouco mais sobre o feitiço de proteção), Pandora, milinha-potter, Fabi e flor da aurora – obrigada pelos comentários e pelo apoio e incentivo. Espero que este chap tenha compensado a demora (19 pgs no Word!).

Beijos e até o próximo capítulo, que é o fim.