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Marah
Da Lagoa Negra
Segundo
Capítulo: Ninja Espacial da
Neve?
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Kapri viu Marah vindo pelo caminho do bosque de entrada da Academia e andou na direção dela.
— Ei, Marah, o que acha do meu novo uni... — começou a perguntar, mas a irmã simplesmente a ignorou e saiu correndo, com o braço à frente dos olhos e tentando segurar as lágrimas daquele jeito infantil e meio às cegas que sempre a irritara profundamente, mesmo quando ainda eram crianças.
Tentando exercitar os ensinamentos que recebera de Sensei Kanoi para ser uma irmã mais velha melhor, Kapri correu atrás dela, mas quando chegaram aos alojamentos — Marah correndo na frente e Kapri logo atrás, enquanto os outros estudantes no caminho oposto paravam para olhar curiosos as sobrinhas de seu Sensei —, ela entrou em seu quarto e fechou rápida a porta atrás de si.
Kapri ainda cogitou bater, mas quando ouviu os soluços doloridos vindos de lá dentro, pensou melhor e girou em seus calcanhares, indo atrás da única pessoa que poderia estar causando aquele sofrimento à sua irmã.
Depois de sua conversa com Marah à margem do lago, Dustin foi para a sua sala e abriu seu plano de aula, mas logo uma batidinha na porta o fez perceber que não conseguiria adiantar seu trabalho naquele dia:
— Sensei Brooks, está muito ocupado? Posso conversar com você? — Kapri esticou o pescoço para dentro da sala dele.
Dustin ia sugerir que ela voltasse mais tarde, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela já entrara e fechara a porta atrás de si. Kapri cumprimentou-o curvando-se cerimoniosamente e ficou esperando de pé, olhando ansiosa para ele.
Sem outra alternativa, Dustin fechou seu caderno de anotação do plano de aula que estava desenvolvendo e suspirou. Pensando que ela estava ali para discutir a aula anterior de História Ninja — os costumes dos ninjas da Terra ainda pareciam verdadeiramente alienígenas para ela —, ele fez um gesto em direção à cadeira defronte a sua mesa, convidando-a a sentar-se, e perguntou:
— Está bem, Kapri, o que você precisa discutir comigo?
Sem aviso, ela contornou a mesa em direção do instrutor rapidamente e lhe deu um tapa no braço.
Era a segunda vez naquele mesmo dia em que era ameaçado por uma garota, ambas da mesma família. O universo estava criando um padrão bizarro demais para o seu gosto.
— Ei, o que foi isso! O que você acha que está fazendo! — ele exclamou surpreso, massageando o lugar atingido.
— O que você pensa que está fazendo, magoando a minha irmã desse jeito! — Ela devolveu, com os olhos fixos nele, ao dar a volta novamente e sentar-se na cadeira que ele indicara.
— A sua irmã? Do que você está falando? Não fiz nada para a sua irmã, ela é uma das minhas melhores alunas e... — ele respondeu, genuinamente confuso.
— Eu sabia que você era meio lento, mas isso... — Ela exalou irritada, interrompendo-o. — Você sabe que a Marah só vai se casar por sua causa, tem que saber.
— Marah vai se casar? Quando? Como?
Casar? Como aquilo podia ser verdade, se ele havia estado com ela não mais que dez minutos antes? Ele havia declarado seus sentimentos a ela poucos minutos antes e ainda conseguia sentir a maciez dos lábios de Marah nos seus, só para descobrir agora que ela estava prometida a outro homem. Aquilo parecia mais com algum tipo de brincadeira cruel, mas Kapri parecia mortalmente séria para alguém que estivesse contando uma piada.
— Pare de me responder com perguntas e comece a responder as que eu lhe fiz — ela exigiu.
— Eu não estou sabendo de nada disso! Daria pra explicar melhor? — Dustin respondeu, completamente esquecido de sua postura calma e contemplativa anterior.
— Minha irmã ama você! Vá saber por que, mas você é o único aqui dessa escola de quem ela está sempre tagarelando "Sensei Dustin fez isso, Sensei Dustin fez aquilo, já viu como o Sensei Dustin é um gato?" — ela imitou.
— Bom... Ela também é uma boa aluna, além de ser muito bonita — ele murmurou, encabulado.
Kapri revirou os olhos à resposta dele.
— Eu sei que você pensa que ela não é de confiança, por causa do incidente com a Beevil e, por isso, resolvi vir aqui te contar toda a verdade.
— E qual verdade é essa e por que é tão importante falar disso agora? — ele tentou recuperar sua compostura novamente.
— A verdade é que, quando ela lhe deu o energizador da Beevil para carregar, não tinha nenhuma idéia do que aquilo fazia de verdade. Ela estava muito animada com a idéia de ser boa e até virar uma power ranger rosa. Eu não podia permitir isso, então eu sugeri que ela roubasse o aparelho da nave, o que ela fez, mas para ajudar vocês.
Agora aquilo era algo com que ele podia lidar; o passado. Não seu presente, que acabara de se virar do avesso no último minuto.
— E por que você não queria que se juntasse a gente? Pelo que eu estou sabendo, você deixou que ela fosse expulsa da nave sem levantar um dedo, mesmo sabendo que ela não tinha para onde ir — ele disse em tom de censura.
— Isso foi diferente. O tio... ahn... Lothor — Kapri consertou rapidamente, sabendo que não era boa política admitir qualquer parentesco com aquele ninja do mal, principalmente ali na Academia — ia matá-la se soubesse que ela estava com vocês.
— Eu teria protegido a sua irmã, todos nós iríamos protegê-la de Lothor e seus capangas.
— Eu não sabia disso na época. — Ela abaixou os olhos, momentaneamente envergonhada e fitou as próprias mãos, relembrando que Mestre Watanabe e Cam as havia recebido sem nunca censurá-las por seu passado, mas respirou fundo e continuou sua história, voltando a encará-lo. — Ela é a minha irmã mais nova e eu tinha que protegê-la, então fui até L-Lothor, contei a ele o que a Marah ia fazer e ele concordou em aceitá-la de volta, se ela conseguisse te enganar, provando que ela era má. Eu a chamei de volta à nave e disse que era o melhor a fazer, que ela deveria ficar junto da família, porque sabíamos o que era melhor pra ela. Ela não queria, mas acabei conseguindo convencê-la. Foi apenas depois dela ter traído vocês, que eu percebi que os sentimentos dela eram de verdade.
— É, tá legal, então a sua irmã era uma boa pessoa antes. Não quer dizer que eu ou ela... — 'Especialmente agora', concluiu ele em pensamentos.
— É impossível que nunca tenha passado pela sua cabeça que ela ainda não deixou seu verdadeiro elemento ser conhecido porque sabe que vai ter que deixar as suas aulas! Ela é Neve, mas como não existe esse elemento nessa academia, ela vai ter que ser transferida para outra ou tentar se adaptar ao elemento Água e passar para a Turma da Sensei Tori.
Aquela possibilidade não havia passado pela cabeça de Dustin. Com a falha em determinarem a qual elemento Marah pertencia e a forma como a garota agira quando se conheceram, o jovem Sensei começara a suspeitar que os poderes ocultos houvessem contaminado Marah além da possibilidade de qualquer purificação. Mas, se o que Kapri estava dizendo era mesmo verdade, isso significaria exatamente o contrário; que aqueles poderes negros jamais a haviam tocado verdadeiramente, ela tinha um coração puro e apenas poderia continuar seu treinamento na academia secreta ninja exclusiva do elemento Neve, no Monte Fuji, Japão. Pensar nela se mudando para tão longe fez o coração de Dustin se apertar no peito e ele não soube o que pensar.
— Por que você está me contando tudo isso, Kapri? — Ele tentou ganhar tempo, escondendo seus verdadeiros sentimentos quanto ao assunto sob um manto de frieza.
— Porque Marah é a única família de verdade que eu tenho e você pode não acreditar, mas eu a amo, e o outro lado da galáxia com o irmão de Zurgane não é uma opção. Além disso, eu sei que existe algo entre vocês, o jeito que se olham nas aulas me dá vontade de vomitar!
— Eu estou alucinando ou você acabou de dizer que a Marah vai se casar com o irmão do Zurgane?
— Não, você está ouvindo muito bem, Sensei, ela vai mesmo se casar com o irmão de Zurgane em três semanas, se você não fizer nada para impedir. É quando a Marah vai completar dezoito anos — ela o informou, levando-se. — Bem, eu tenho que ir agora ou ela vai desconfiar de alguma coisa, mas sei que vai pensar alguma coisa nessa sua linda cabecinha. — Kapri concluiu sorrindo pela primeira vez, como se não tivesse acabado de jogar uma bomba sobre o instrutor, curvou-se novamente e saiu, deixando-o sozinho com muita coisa em que pensar.
Assim, naturalmente, ao final das aulas daquele dia, ao pôr-do-sol, Dustin desceu até a recém reconstruída base ninja, onde se reuniu a Tori e Shane para conversar. Quando terminou de contar as novas sobre o casamento que se avizinhava, olhou para os amigos em busca de apoio.
— Dustin, Marah é... – Tori começou a dizer, calando-se abruptamente em seguida, sem saber como continuar.
— Marah é uma estudante da Academia! — Shane exclamou, agitando os braços, menos reservado que Tori. — Sua aluna! Cara, isso não tem como dar certo...
A ninja do vento azul deu um passo para trás ante a franqueza do amigo e apertou os lábios, olhando para o outro lado, mas não refutou o que ele disse.
— Exato! E, como nossa aluna, não deveríamos deixar que ela se case com um ninja espacial do mal, especialmente quando ela nem tem dezoito anos ainda. — Dustin não deixou se abalar e aproveitou a deixa.
— Dustin... Este é mesmo o seu único motivo para se importar com isso? — Tori passou o braço pela cintura do amigo e lhe deu um apertãozinho para exprimir simpatia.
— Tor, é complicado. — ele respondeu, olhando-a nos olhos e ela pode comprovar o quanto aquilo o estava incomodando. — Se você está querendo saber se eu gosto da Marah, a resposta é sim, gosto muito. Mas o problema não é só esse. Kapri veio a minha sala hoje para me contar sobre o casamento e também me disse que a irmã vem escondendo seu elemento desde que entrou na Academia do Vento. Segundo ela, Marah é Neve.
— Neve? Ela deve estar enganada. Ou mentindo, um dos dois. — Shane refutou.
— Marah, uma ninja da neve! Isso é impossível, você tem idéia de quanto é raro um ninja da neve? — Tori disse sem pensar, torcendo o nariz para a revelação.
— Cara, sabendo que sou eu quem dá aula de História Ninja aqui nessa escola, eu acho que tenho uma idéia disso, sim... — Dustin ironizou levemente.
— Você sabe o que eu quero dizer — Tori murmurou em tom de desculpas.
— Bem, isso explica por que ela estava fazendo nevar no jardim do meu pai hoje de manhã... — comentou Cam, juntando-se a eles e pegando o final da conversa. — Ela também estava perturbando as carpas ao jogar pedaços de gelo no tanque.
— Fazendo nevar, hein? Confere com o que um ninja da neve faria, não acham? — Dustin apontou para os amigos, sentindo-se vingado.
— Dustin, minha prima te contou que vai se casar? Ela pareceu muito perturbada com isso.
'Então, todos já sabem', pensou Dustin. Marah sentia que podia confiar em Cam, mas não nele. Fazia sentido, já que Cam era seu primo e ele era o quê? Nada, aparentemente. Vendo que os outros esperavam por sua resposta, sacudiu a cabeça e disse:
— Não, mas a Kapri contou. Não sei o que fazer, cara!
— O que você vai fazer, eu não sei, mas meu pai e eu, aparentemente, vamos ter que estar no tal jantar de noivado amanhã à noite.
— Cara, pode ter certeza que eu vou nesse jantar também.
— É só para a família, Dustin... — o jovem samurai tentou explicar.
— Não importa, eu vou.
— Bem, se você vai, eu vou também, para evitar que você faça alguma coisa mais idiota do que está acostumado — Shane observou.
— Bem, parece que todos vamos, então. E temos que chamar dois trovões para se juntarem a nós. — Tori sorriu para os amigos.
— Espero que tenham bastante comida nesse jantar... — Cam jogou as mãos para cima num gesto de derrota e encerrou a discussão, sabendo ser inútil continuar a discutir com os três ninjas.
CONTINUA
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