Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, porém a Toca do Baco é uma criação única e exclusiva minha para essa saga e série de crônicas, criadas voltadas para ela.


Boa Leitura!


A porta abriu-se num rompante, enquanto uma jovem de longos cabelos negros e orbes verdes entrou. Parecia um pouco impaciente. Não, estava muito impaciente.

-DIONÍSIO; ela chamou, notando que o restaurante, o bar e a pista de dança estavam vazios, provavelmente devido ao fato de ainda ser cedo e não estar completamente aberto.

Atrás de um balcão um baixinho saiu correndo até o terraço. A jovem ouviu apenas a escada em espiral tremer.

-Uhn, então está se escondendo ai; Ariadne murmurou, com um meio sorriso.

-o-o-o-o-

-Chefe; o sátiro chamou, subindo as escadas, aos tropeços.

Em uma das extremidades do terraço, o jovem de cabelos vermelhos, estava encostado no alpendre, com uma taça de vinho nas mãos, com olhar perdido.

-O que é? –Dionísio perguntou, sem dar muita atenção ao desespero do baixinho.

-Ela voltou, Sr; o sátiro falou, apontando sugestivamente para a entrada do terraço.

-Quem voltou? –a divindade perguntou, voltando-se para ele.

-Eu querido; Ariadne falou, com um largo sorriso.

Dionísio engoliu em seco, não a sentira se aproximar. Como era possível? –ele se perguntou, surpreso.

-Parece surpreso querido; a jovem falou, intimamente divertindo-se com o espanto dele.

-Pensei que estivesse no Egito, Dinamarca, sei lá, qualquer lugar longe daqui; ele falou, gesticulando nervosamente.

-Não ficou feliz em me ver? –Ariadne perguntou, fazendo beicinho.

-Claro que fiquei; ele respondeu abrandando o olhar, enquanto aproximava-se e a envolvia em um abraço caloroso. –Apenas fiquei surpreso, você não me avisou que vinha; o Deus do Vinho completou, afagando-lhe as melenas.

-Queria fazer uma surpresa; ela respondeu, erguendo a cabeça com um largo sorriso.

-Pode ter certeza, você me surpreendeu; ele falou, tocando-lhe a face ternamente. –Senti sua falta;

-E eu a sua; a jovem falou, ao sentir os lábios da divindade sobre os seus, de maneira suave e carinhosa, apenas matando a saudade que os envolvia desde que ela partira. –Mas fiquei sabendo que você andou se ocupando enquanto estive fora; ela começou, ao separarem-se.

-Bem, estive envolvido com alguns projetos e...; Ele começou.

-Eu sei, as Crônicas de Amor e Confusão; Ariadne o cortou. –A Jéssy me contou que você também andou se estranhando com Apolo, Dionísio; ela o repreendeu, puxando-o pela orelha. Como uma mãe repreendeu o filho, por alguma arte mal sucedida.

-AI. AI. AI; ele gemeu de dor, tentando soltar-se.

-Eu já não disse que não queria brigas entre vocês dois. Essa mania que vocês tem de ficar competindo um com o outro. Não sei como Dafne também agüenta o Apolo. Vê se pode, oh irmãos complicados, viu; ela bufou, soltando-o e se afastando.

-Hei! Não foi eu quem começou com isso; Dionísio se defendeu, seguindo-a para dentro da Toca.

-Puff; ela resmungou, não lhe dando ouvidos.

-Sr. Sra. Logo vamos abrir; o baixinho falou, aproximando-se com cautela.

-Ariadne; Dionísio falou, tentando alcançá-la, já que ela já tomava o rumo da saída, quando a porta abriu-se.

Os dois pararam, quando a jovem de cabelos ruivos encaracolados entrou, carregando uma discreta pasta preta na mão.

-Ahn! Pelo visto cheguei em má hora; a autora falou, notando o pequeno clima tenso entre o casal.

-Imagina, Jéssy; Ariadne falou com um largo sorriso. –Eu e o Dio só estávamos resolvendo algumas coisinhas; ela completou com um largo sorriso, completamente diferente de como estava antes.

Aproximou-se de Dionísio lascando-lhe um beijo estalado na bochecha da divindade, que ficou tão ou mais vermelho que seus cabelos.

–Eu ia começar a falar para ele o que havíamos resolvido antes de vir para cá; ela falou.

-Resolvido? Do que estão falando? –ele perguntou, olhando de uma para outra, sem saber porque as duas tinham um largo sorriso nos lábios, como se à volta de Ariadne não fosse a única surpresa do dia.

-Ahn, benzinho, eu também vou contar a próxima crônica; Ariadne adiantou-se.

-Jéssy; ele falou, voltando-se para a autora, como se pedisse que ela dissesse que aquilo era um engano.

-...; Ela apenas assentiu. –Bem, resolvi voltar com o projeto e encerrá-lo em dez. Como outras fics andaram surgindo e seriam longas de mais para crônicas, o projeto ficou parado, mas agora, andei revendo algumas coisas e bem... A Toca do Baco volta a ativa; a autora falou.

-...; Dionísio piscou duas vezes, tentando colocar os pensamentos em ordem. Primeiro, Ariadne de volta. Segundo, as crônicas estão de volta, o que mais faltava acontecer? –ele se perguntou.

-AI. AI. AI; eles ouviram alguém gemer de dor, enquanto a porta da Toca abria-se num rompante.

-Quem manda ser teimoso; uma jovem de cabelos amendoados entrou, puxando Apolo pela orelha, que embora ele tentasse se soltar, a jovem parecia bem mais forte do que ele.

-Hei; ele reclamou.

Jéssy, Dionísio e Ariadne observavam a cena, curiosos. Pelo visto as surpresas ainda não haviam acabado.

-É melhor que se entendam de uma vez, ou você vai dormir no sofá; Dafne ameaçou, com um olhar entrecortado para Apolo.

-Mulheres; ele resmungou, arrumando a gola da camisa, quando ela lhe soltou.

-Creio que você esta em desvantagem aqui, irmãozinho; Dionísio falou, com um largo sorriso. Vendo que as três garotas não pareciam nada contentes com o comentário.

-Eu... Bem... Eu; ele começou, engolindo em seco. –Puff, porque tem de ser tão difícil; Apolo murmurou, aproximando-se do irmão.

-O q-...; Dionísio indagou, quando Ariadne o empurrou. Voltou-se para Apolo e o mesmo encolhia-se diante do olhar de sua ninfa. –Se é assim, então ta; ele deu de ombros.

-Isso mesmo; Dafne falou com um largo sorriso. –É tão bonitinho ver dois irmãos dando-se tão bem assim, abraçadinhos; ela completou, vendo-os trocarem um rápido abraço fraterno e afastarem-se, literalmente torcendo o nariz.

-Que isso não seja idéia sua; Dionísio falou, com os dentes serrados, forçando um sorriso.

-Digo o mesmo irmãozinho; Apolo rebateu, na mesma situação. Enquanto bagunçava os cabelos do irmão, numa leve brincadeira.

-Bem, agora que vocês já se entenderam, vamos arrumar as coisas e começar logo, daqui a pouco a Toca vai estar cheia; Ariadne falou.

-Mas...; Os irmãos começaram, mas engoliram em seco, diante do olhar das três.

-Comecem a trabalhar... Agora; Dafne falou cortante, vendo os dois praticamente saírem correndo, para supervisionar o estoque da adega e as condições do restaurante.

-Homens; as três falaram, balançando a cabeça com ar entediado.

-Bom meninas, vamos trabalhar; Jéssy falou, caminhando até uma mesa no bar e espalhando o conteúdo da pasta.

-Uhn! Quem é esse? –Dafne perguntou interessada, vendo a foto de um jovem de cabelos loiros, quase castanho claro e orbes verdes, com uma faixa vermelha na testa, impedindo a franja arrepiada de cair sobre os olhos.

-É o tema da crônica de hoje; Ariadne respondeu. –E não olha muito, Athena vai ficar brava; ela completou com um sorriso sugestivo.

-Ahn? Espera, ele me é familiar; a ninfa dos loureiros comentou. –Não é aquele cavaleiro q-...;

-...; As duas a cortaram, apenas assentindo.

-Uhn, muito bom gosto, diga-se de passagem; ela completou, com um sorriso maroto. –Sabe, acho que vou passar uma temporada no santuário esse ano;

-HEI, eu ouvi isso. Que historia é essa de, muito bom gosto e santuário? -Apolo reclamou, saindo da adega, com algumas garrafas de vinho da mão. Estancou, diante do olhar da jovem, sorrindo nervoso. –Ahn, não esta mais aqui quem falou; ele completou, saindo rapidamente para o restaurante.

-Mas me contem mais sobre ele; Dafne pediu.

-Bem, ele era o mais fiel e que morreria de olhos fechados por ela; Jéssy comentou.

-Foi até o fim lutando por seus princípios, sem hesitar ou temer o que viria depois; Ariadne falou, vendo Dafne puxar um banco para sentar-se e ouvir melhor. –Morreu como traidor, mas nos corações daqueles que ficaram e realmente o conheciam, ele tornou-se um herói.

-O mais fiel, o mais forte e o mais sábio... Assim o consideravam, embora ainda fosse jovem quando as coisas aconteceram, mas no fim, ele é tão mortal e frágil, quanto qualquer um de nós; a autora falou.

-Bem, vamos começar. Sejam bem-vindos a Toca do Baco; Ariadne falou, recendo o primeiro grupo de pessoas que entravam no local. –Abram sua mente, deixem que esse mundo ilimitado de contos e palavras revelem-lhes segredos dos quais o tempo esconde e nós também; ela completou com um sorriso.

-Seguindo a direita você terá o restaurante com um modesto dec, voltado para as montanhas, à esquerda, o bar e a pista de dança. Mas permitam-me indicar-lhes um local mais apropriado para esta noite; Dionísio falou, parando ao lado de Ariadne. –Sigam reto, subam a escada em espiral e vão para o terraço. Posso lhes garantir que vão descobrir coisas incríveis por lá.

Viram o grupo de pessoas passar por eles, assentindo. Voltou-se para a jovem que lhe fitava curiosamente.

-Temos uma crônica pra contar, vamos lá; ele falou, com um doce sorriso, mantendo-a em um meio abraço, enquanto seguiam para o terraço.

O

OO

OXO

OO

O

Crônicas de Amor e Confusão VII

Superman

Capitulo 1: Apenas Mortais.

I – Feliz Aniversario Maninho.

Respirou fundo. Arrumando a gola da camisa preta. Ainda não sabia o porque de ter aceitado aquele convite maluco de Milo. Ah sim, claro que sabia, não podia recusar-se, afinal, era o aniversario de seu irmão e nunca deixaria essa data passar longe dele, mesmo que estivessem agora, diante do templo de Escorpião, onde isso iria acontecer; Aioros pensou, passando a mão pelos cabelos rebeldes, tentando inutilmente alinhá-los.

Colocou a mão sobre a maçaneta da porta, abriu-a com calma, ouvindo uma pequena sineta anunciar que alguém estava na porta.

Nunca vira a casa de Escorpião tão movimentada; ele pensou, vendo todos os amigos andando pela casa com copos vazios ou apenas pela metade. Realmente, a festa parecia animada.

-Aioros, meu amigo, tava demorando; o Escorpião surgiu de repente a sua frente, abraçando-o pelos ombros e puxando-o para dentro da casa. –O pessoal ainda ta chegando, mas fica a vontade, a Marin ainda foi buscar o Leo, então temos algum tempo antes da festa começar de verdade; ele completou com um largo sorriso.

-Ta certo; foi a única coisa que ele conseguiu balbuciar.

-Fiquei a vontade, a casa é sua, vou ver se esta tudo certo ali, até depois; Milo falou, despedindo-se.

Seguiu para a sala central no centro do tempo. Uma mesa fora colocada em um canto qualquer com alguns copos, bebidas e o imenso bolo, com o desenho nada discreto de um leãozinho.

Deu um meio sorriso, só queria ver a cara do irmão quando visse que a cobertura do bolo era igualzinho a fantasia que usara na ultima festa de Dionísio.

-Aioros, que bom que veio; uma voz suave falou atrás de si. Sentiu a gola da camisa apertar-se ainda mais em sua garganta.

-Uhn; ele murmurou, virando-se para a jovem que lhe chamara.

Sentiu o chão sumir de baixo de seus pés. Não, aquela não poderia ser aquela garotinha que bem... Pegou no colo a alguns anos atrás; ele pensou, intimamente recriminando-se por ter aquele tipo de pensamento, justamente agora.

O branco fora trocado pelo preto. Saori estava completamente diferente de como ele a via nos dias comuns. Vestia um longo vestido preto, com as costas nuas. Uma pequena gargantilha com algumas pedrinhas azuis no pescoço, que desciam numa corrente fina e longa até o final das costas, com um decote discreto na frente.

Os longos cabelos lilases estavam presos num coque de fios soltos. Uma tênue coloração em carmim definia-lhe os lábios e nos orbes, o verde intenso fora mais definido por uma fina linha preta.

Deixou seus olhos instintivamente correrem pela jovem quase hipnotizado, viu-a corar diante disso. Balançou a cabeça de forma imperceptível, tentando colocar os pensamentos em ordem.

-Como vai Srta? –Aioros perguntou, com um olhar embevecido.

-Vou bem Aioros, mas já não te pedi pra me chamar só de Saori; a jovem deusa falou, numa pequena reprimenda, vendo-o sorrir sem graça.

-Velhos hábitos;

-Sei; Saori falou meio descrente. –Ahn! Sabe se Aiolia já chegou? –ela perguntou, desviando o olhar dele, como se estivesse realmente procurando pelo leonino no templo.

-Não, Milo acabou de me dizer que a Marin foi buscá-lo; Aioros respondeu.

-Uhn, certo então; ela falou sem graça, ainda mantendo uma caixa entre as mãos, provavelmente o presente de aniversário do cavaleiro; Aioros concluiu. –Bem, vou falar com Aishi, da licença; Saori falou, afastando-se rapidamente.

-...; Aioros assentiu, vendo-a se distanciar e acompanhando-a com o olhar. –"Idiota, como você pode ser tão idiota?"; ele se perguntou, caminhando até um barzinho onde Aldebaran distribuía as bebidas.

-Que cara é essa, Aioros? –o taurino perguntou, vendo-o se aproximar com um ar desanimado.

-Nada não; Aioros respondeu. –Obrigado; ele completou, aceitando um copo que o cavaleiro lhe entregara, levou-o aos lábios, tomando de uma vez um gole. –Arg, o que é isso? –Aioros perguntou, torcendo o nariz.

-Caipirinha; Aldebaran respondeu, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

-O que? –Aioros perguntou surpreso, devolvendo o copo para ele, que riu da expressão do amigo.

-Dois limões cortados. Seis colheres de açúcar. Alguns cubos de gelo. Smirnoff e gelo. Mistura tudo, amassa um pouco o limão e como diz o Kamus, vualá; ele falou, erguendo o corpo.

-Arg, é um veneno, isso sim; ele insistiu.

-AH, AH, AH. Aioros você me diverte; Aldebaran falou rindo do amigo, que parecia passar a quilômetros de distancia de qualquer coisa que fosse mais de cinco por cento de álcool.

-Puff; o sagitariano resmungou.

-Mas me diga, esse seu mau humor recente tem motivo, ou é só o inferno astral te atacando mais cedo esse ano? –Aldebaran perguntou, sentando-se em um banco e indicando outro a ele.

-Não estou de mau humor; ele respondeu, quase fazendo bico.

Aldebaran arqueou a sobrancelha, viu-o desviar o olhar e acompanhou-o, notando que no canto mais afastado da sala, uma bela jovem de cabelos lilases conversava com Aishi e Ilyria.

-Uhnnnnnnnnnnnnn; ele murmurou com um sorriso maroto.

-O que foi? –Aioros perguntou, engolindo em seco, não gostando nada-nada daquele sorriso.

-Olha cara, sabe que sou teu amigo; o cavaleiro começou, com ar serio. –Por isso preciso te falar uma coisa séria;

-Se é o que eu já sei, não obrigado, dispenso isso; Aioros falou, fechando a cara e se levantando. Quem sabe se fosse embora e depois explicasse para o irmão, ele viesse a entender, porque fora antes dele chegar.

-Me deixe terminar; Aldebaran falou, colocando a mão sobre o ombro dele, impedindo-o de se afastar.

Aioros voltou-se para ele, já se preparando para o terço que seria rezado em cima de si, sobre seus deveres, obrigações, códigos de ética escritos há séculos atrás e todo um monte de lixo que era a única coisa que ele não desejava ouvir, para terminar de arruinar sua noite.

-Você não é um Deus cara; Aldebaran falou. –É um mortal...;

-Nossa, como você me ajudou muito com isso, sabia? -ele rebateu sarcástico, puxou o ombro, afastando-se.

-Espera, eu nã-...; Ele parou, vendo que o sagitariano não mais o ouvia. –Droga, como é teimoso; suspirou frustrado, não era isso que tinha para falar a ele, mas agora sabia que o sagitariano não iria mesmo lhe ouvir.

Aioros caminhou a passos firmes para fora do templo de Escorpião, esperava encontrar com o irmão ali fora, dar-lhe os parabéns e voltar para a casa, sua noite já rendera mais do que desejava; ele pensou, novamente levando as mãos à gola da camisa, tentando acertá-la.

Olhou para todos os lados, não havia sinal de ninguém, suspirou frustrado, caminhou até as escadarias que levavam a Libra. Sabia que Dohko estava em Rozan e de lá não pretendia sair por um bom tempo.

Ainda se perguntava como ele agüentava ficar confinando entre as montanhas daquele jeito, mas balançou a cabeça, esse era o tipo de coisa que não iria entender mesmo.

Parou observando um caminho de tochas iluminar as escadarias, como era noite, era melhor que fosse assim, não seria legal alguém escorregar nos degraus e cair; ele concluiu, com um sorriso maroto, pensando na possibilidade.

Sentiu alguém se aproximar com cautela, respirou fundo, tentando lutar contra a vontade de virar-se para trás e só constatar que era realmente ela.

-Aioros; Saori chamou hesitante, parando atrás dele.

-Deseja algo Srta? –ele perguntou polidamente, voltando-se para ela com um olhar indiferente.

Saori recuou alguns passos, surpresa com a atitude do cavaleiro, porém agora já estava ali.

-Você não me parecia bem, só vim ver se... Ahn, se você estava bem; ela falou, sentindo a face esquentar.

-Estou perfeitamente bem, Srta; Aioros respondeu, fitando-lhe os orbes com tal intensidade que a única coisa que a jovem foi capaz de ver, era um brilho frio, que nem mesmo Kamus tinha em seus olhos.

-Está certo, eu já vou então; ela falou sem graça.

-Boa noite; ele falou, dando-lhe as costas e voltando-se novamente para as escadarias de Libra.

-Boa noite; ela respondeu.

Sentiu o olhar triste da jovem sobre si, mas não podia fazer nada quanto a isso. Infelizmente desde que se tornara cavaleiro descobrira que não importa quanto o tempo passasse, ainda existiriam algumas batalhas que já começavam perdidas, pelo menos era o que pensava.

Saori afastou-se, não tentaria mais falar com ele, agora que Aioros deixara evidente que seu humor estava de mal a pior.

Passou por Aishi, Kamus e Milo que estavam na porta do templo, possivelmente esperando por Aiolia e Marin.

Entrou em Escorpião, apenas esperaria pelo aniversariante antes de ir para a casa; ela pensou, sem ouvir o chamado da jovem e seguiu para o terraço, único lugar silencioso que poderia ficar.

Fechou os olhos, sentindo uma lagrima pender deles com tanta amargura que nunca pensou sentir-se assim antes. Procurou apagá-la o mais rápido que pode, ao notar Marin e Aiolia aproximarem-se.

-Porque ele tem que fazer isso? –Kamus perguntou num sussurro para a noiva, que junto com ele e Milo presenciaram a cena.

-Ele só esta com medo; Aishi falou compreensiva.

-Como? –Milo perguntou, voltando-se para a jovem, surpreso.

-Ele tem medo; Aishi repetiu. –Medo de descobrir que não está errado, que existe uma segunda chance e que ninguém pode mudar o que ela sente;

Kamus voltou-se para a jovem, entendendo aonde ela queria chegar. Viu o sagitariano cumprimentar o irmão e a cunhada forçando um sorriso, Aiolia percebeu que havia algo errado, mas preferiu não comentar, pois ao mínimo olhar, Aioros esquivou-se.

-Isso não ta certo; Milo falou, passando os dedos nervosamente pelos cabelos.

-O melhor que fazemos é deixar que ele se encontre sozinho; Kamus falou, porém parou surpreso, ao ver o Escorpião abrir os dois primeiros botões da camisa e os da manga, dobrando-as perfeitamente até o ante-braço. –O que vai fazer?

-Apenas fazer esse idiota tomar uma atitude decente; Milo falou, estalando os dedos. Viu Aiolia e Marin tomarem a entrada dos fundos do templo.

Aishi observou-o, surpresa. Não era normal ver Milo agindo daquela forma, mas seria interessante esperar para ver; ela concluiu, colocando a mão sobre o braço de Kamus e com um olhar, impediu-o de interferir.

Balançou a cabeça com um olhar compreensivo, pedindo que ele a seguisse para dentro do templo e deixasse os dois sozinhos.

I can't stand to fly

Eu não posso levantar para voar

I'm not that naive

Eu não sou tão ingênuo

I'm just out to find

Estou só na procura

The better part of me

Da melhor parte de mim

-"Droga"; ele pensou, serrando os punhos nervosamente. Ela só estava preocupada, mas fora um idiota ao responder daquela forma, mas era preciso; ele concluiu.

-Nunca pensei que auto-piedade fosse mal do signo; alguém comentou debochado atrás de si.

-O que quer Milo? –Aioros perguntou, dando um suspiro cansado, arregalou os olhos e mal teve tempo de desviar, sendo acertado por um soco certeiro do cavaleiro no estomago.

I'm more than a bird... I'm more than a plane

Eu sou mais que um pássaro... Sou mais que um avião

More than some pretty face beside a train

Mais do que alguma cara bonita ao lado do trem

It's not easy to be me

Não é fácil ser eu

A respiração falhou, fazendo-o cair de joelhos no chão. Fechou os olhos, tentando manter os batimentos cardíacos estáveis e respirar com mais facilidade, porém estava difícil, Milo tinha uma ótima pontaria e sabia que o cavaleiro calculara o ponto certo para lhe atingir e impedi-lo de se levantar.

-Sabe, quando me tornei cavaleiro, só tinha uma pessoa que eu me dignava a ter como exemplo; ele começou, parando em frente ao cavaleiro. –O mais fiel, o mais forte, o mais sábio. O mais-mais...; Milo continuou, gesticulando com displicência.

Wish that I could cry

Queria poder chorar

Fall upon my knees

Cair de joelhos

Find a way to lie

Encontrar uma maneira de mentir

About a home I'll never see

Sobre uma casa que nunca verei

-O que quer dizer com isso? –Aioros perguntou, mantendo o braço sobre o estomago tentando aliviar a dor.

-Mas ai, eu descobri que ele era mortal, tão mortal quanto eu; o Escorpião continuou, calmamente.

It may sound absurd... but don't be naive

Pode soar como absurdo... Mas não seja ingênuo

Even Heroes have the right to bleed

Até mesmo Heróis têm o direito de sangrar

Aioros sentiu o sangue ferver-lhe nas veias. Se tinha algo que não queria, era ouvir aquilo, muito menos dele. Ignorando a dor, ergueu-se ficando frente a frente com o cavaleiro. Ergueu o punho para acerta-o, porém Milo reteu-lhe o golpe apenas com uma mão, mantendo o ar impassível.

-Não disse que isso era algo ruim; o Escorpião continuou. –Acho que isso foi um quesito a mais, para me estimular a ser tão bom quanto ele;

Aioros abrandou o olhar, fitando-o com confusão.

-Sempre pensei que não poderia hesitar, ter medo ou até mesmo pensar quando deveria agir, mas estava errado, sabe porque eu estava errado Aioros? –Milo perguntou, apertando-lhe o punho tão forte, que fê-lo cair novamente no chão, emitindo um baixo gemido de dor.

I may be disturbed... but won't you concede

Eu posso ser perturbado... Mas você não vai admitir?

Even Heroes have the right to dream

Até mesmo Heróis têm o direito de sonhar

It's not easy to be me

Não é fácil ser eu

-Arg, não; ele falou, sentindo a dor do estomago aliviar, porém a do punhos aumentar.

-Porque isso é impossível. Eu nunca poderia ser perfeito, da mesma forma que descobri que aquele que eu tinha como exemplo, também nunca o seria, ou melhor, a deusa que ambos protegíamos não era perfeita também. Pelo contrario; ele falou, fitando-lhe por cima.

Up, up and away... away from me

Pra cima, pra cima e longe... Longe de mim

–Não passava de uma menina mimada que foi obrigada a amadurecer ao ser jogada no meio de um inferno, ao descobrir-se reencarnação de alguém que lhe serviu de exemplo durante anos, mas que sabia que nunca poderia se equiparar;

-Aonde quer chegar com isso? –Aioros perguntou, respirando aliviado ao vê-lo afastar-se.

It's all right...You can all sleep sound tonight

Tudo bem... Você pode dormir profundamente toda à noite

I'm not crazy...or anything...

Não sou maluco... Ou coisa parecida...

-Que você é um idiota que sabe lutar contra titãs, menos lidar com seus próprios sentimentos sem fugir; ele completou, dando-lhe as costas, caminhando para o templo, ao mesmo tempo que tornava a baixar as mangas da camisa, ainda mantendo os botões da gola aberta.

-Milo; ele sussurrou surpreso, dificilmente via o cavaleiro agir de forma tão seria assim, muito menos lhe falar daquela forma.

I can't stand to fly

Eu não posso levantar pra voar

I'm not that naive

Eu não sou tão ingênuo

Ergueu-se do chão, batendo as mãos sobre os próprios joelhos retirando a poeira que ficara ali. Voltou-se para o templo, balançou a cabeça, cansado. Só esperava não cometer mais nenhuma besteira pelo resto da noite; ele pensou, encaminhando-se para dentro do templo novamente.

-o-o-o-o-

-O que aconteceu lá fora? –Kamus perguntou, ao ver Milo entrar com um ar sério.

-Nada muito serio, ele vai sobreviver; o cavaleiro respondeu com um meio sorriso.

-...; Kamus arqueou a sobrancelha, mas logo viu o sagitariano passar por eles indo até o irmão. –O que você disse a ele?

-Bem...; Milo começou, se contasse era bem capaz de estragar sua reputação, nunca fora de ser muito sério, mas ultimamente isso já estava virando rotina; ele pensou, engolindo em seco, estremecendo. Era melhor parar de pensar como Shaka. –Isadora, finalmente chegou; Milo falou, ao notar a jovem entrar no templo, com certa timidez.

-Milo. Oi; a jovem respondeu sorrindo.

-Kamus da licença; o Escorpião falou com um largo sorriso, enquanto ia até a jovem.

-Porque esta com essa cara? –Aishi perguntou, enlaçando-o pelo pescoço.

-O Milo esta diferente? –Kamus comentou.

-Quem sabe ele já tenha mudado e só agora você esta percebendo; ela comentou de forma enigmática.

-Uhn? –ele murmurou confuso.

-...; A jovem balançou a cabeça, com um meio sorriso, indicando que não falariam sobre aquilo, não agora.

Continua...