Rose olhou para os lados desesperada, Scorpius era louco, mas não sabia o quanto até aquele momento. O que sabia é que essa loucura poderia estar passando para ela, pois apenas o que queria era algum modo de voltar ao navio e encontrá-lo.

Olhou em volta a procura de um barco ou uma vassoura. Percebeu que um barco que parecia ser da guarda costeira estava prestes a sair. Sem pensar duas vezes saiu correndo em direção a ele.

- Eu preciso embarcar! – ela gritou tentando ser ouvida apesar do barulho em volta, as pessoas ali presentes a olharam confusas por um minuto e então continuaram suas atividades.

- Desculpe, moça, você não pode entrar – uma mulher de uniforme branco a avisou em inglês chegando perto do pier onde ela estava e onde o barco ainda estava preso.

- Eu tenho que entrar! – ela disse se aproximando mais do barco.

- Não estamos brincando aqui, ainda há várias pessoas em perigo!

- Meu amigo está lá, preciso ajudá-lo! – Rose disse percebendo que seu rosto estava inundado em lágrimas.

- O melhor é você ficar aqui – ela disse e o barco começou a se distanciar.

Rose limpou as bochechas e saiu correndo e pulou no barco, sobre o protesto de todos ali.

- Moça, você...

- Eu posso ajudar, de verdade, não sabem o que vão encontrar ali – Rose disse se levantando.

- Somos treinados para qualquer emergência...

- Por acaso notaram que o fogo é verde? – Rose perguntou séria.

- Verde? Mas isso é impossível... – a voz da mulher se perdeu enquanto se virava para o navio e chamas.

- Essa fumaça é tóxica, o fogo é tóxico – Rose disse seriamente – Não se pode chegar muito perto pois o fogo se espalha rapidamente.

- Você tem certeza disso? – a mulher a olhou desconfiada.

- Absoluta, eu posso ajudar – Rose disse ainda com o desespero rondando suas feições.

- Certo – a policial concordou e então gritou algo em grego para os outros – Como nos aproximamos?

Rose explicou rapidamente ao que os guardas deviam se preocupar e em como se aproximar e não demorou muito para chegarem perto do navio, mas não perto o suficiente para que o Fogo Maldito conseguisse chegar ao barco. Algumas pessoas estavam na água com coletes salva-vidas, e Rose tentava procurar Scorpius entre elas enquanto o barco se enchia de vítimas.

- Rose? – a ruiva ficou surpresa em ouvir uma voz conhecida entre os sobreviventes.

- Stella? – Rose correu a caminho da senhora.

- Fico feliz que esteja bem – a mais velha sorriu.

- Digo o mesmo – Rose sorriu também – Onde está o Romeu?

- Não estávamos juntos quando tudo aconteceu, só espero que esteja bem – a senhora disse com a voz falha.

- Eu tenho certeza que ele está bem.

- Eu conto com isso – Stella disse apertando as mãos de Rose – E seu marido, onde está?

- Ele se meteu em voltar para o navio de vassoura, só espero que esteja vivo – Rose disse com pesar.

- Ele há de estar.

- Parece que o navio não vai aguentar muito mais tempo – a guarda se aproximou de Rose – Seu amigo já está aqui?

- Ainda não – Rose ainda olhava as os sobreviventes nas águas.

- O barco já está bem cheio, essas pessoas precisam de hospital, vamos voltar – ela disse simplesmente, Rose sentiu novas lágrimas se formando.

- O que é aquilo? – alguém perguntou olhando para cima e todos se viraram para a beira do navio.

Alguém estava parado na borda do andar mais alto, se preparando para pular. Rose se virou para ver o que acontecia e notou que o cruzeiro estava prestes a sucumbir nas chamas e o barco da guarda costeira estava perigosamente perto.

Rose levantou sua varinha com 2 feitiços em mente, não importando com a problemática dos guardas trouxas naquele momento. Fez ambos silenciosamente pois não poderia arriscar errar um feitiço por má pronunciação, já bastava a tremedeira que a tomava por inteiro. O primeiro foi em direção a pessoa que acabara de pular e o segundo foi para o barco em si, ambos de proteção.

Assim que a pessoa entrou completamente na água o navio explodiu, o barco, entretanto, não sofreu sequer um arranhão graças ao escudo conjurado por Rose, que caiu de joelhos exausta e angustiada.

Scorpius tinha que estar em terra, longe, nada na superfície sem proteção sobreviveria às chamas que ainda circundaram a água por uns momentos à procura de novas vítimas antes de sumirem por completo como se nunca tivessem passado por ali.

...

Por sorte, o loiro caiu em uma parte do convés em que as chamas ainda não haviam tomado e, então, correu em direção a borda para mergulhar, seria um pulo arriscado devido a altura em que estava e a vivacidade do fogo, mas com alguma atenção poderia ser feito.

- Espere! – ele ouviu uma voz atrás de si quebrando seus pensamentos de sobrevivência.

Com o coração batendo forte Scorpius se virou. Ali estava a família que tomava as refeições com ele e Rose praticamente rastejando no chão, o homem segurava um embrulho que deveria ser o menino. Scorpius se apressou em puxá-los para chegarem mais rápido para a borda.

- Não, leve ele! – o homem pediu empurrando o embrulho para Scorpius.

- Não há tempo para nós – a mulher disse com lágrimas verdes caindo pelos olhos, o veneno na fumaça já estava em suas veias.

- Ele está bem, leve-o – o homem disse fraquejando e demonstrando os mesmos sinais que a esposa, Scorpius segurou o embrulho para que não caísse.

- Vamos, vocês conseguem... – ele disse mesmo sabendo que no estágio que estavam, muito dificilmente se recuperariam.

- Se isso for verdade, estaremos logo atrás de você – o homem disse tossindo sangue.

- Mas...

- Quanto mais tempo ficar aqui, menos chance tem de se salvar – a mulher disse entre as lágrimas – Apenas vá e cuide dele!

Scorpius ficou com o coração na mão, e então uma explosão forte foi ouvida distraindo o loiro, quando ele voltou a olhar para a mesma direção, o casal não mais estava ali. Pensou por um segundo ser uma ilusão vinda de muito exposição às chamas, mas o embrulho em seu colo lhe assegurava que não.

Scorpius o segurou mais perto de si e novamente seguiu apressado para a beira do navio não pensando muito antes de pular para as águas salgadas do mar. O impacto não foi não violento quanto esperou, mas não havia tempo para pensar nisso.

Sabia que o cruzeiro iria explodir então precisava sair logo dali para não fazer parte da explosão, sendo assim, agitou sua varinha para trás e apenas pensou em uma propulsão que o levasse longe dali. Quando não mais aguentou a falta de ar subiu a superfície implorando para não mais estar no alcance do fogo.

Mas com sua primeira respiração, veio também a percepção que a água em que estava estava extremamente gelada e seus músculos não mais queriam responder, um braço estava firme em volta do menino e o outro quase não respondia, nadar seria quase impossível.

- Scorpius! – ouviu uma voz familiar, mas sua visão já estava turva.

Sentiu seu corpo deixar a água e flutuar rapidamente para algo branco piscante, um barco.

- Cansou de bancar o herói? – Rose perguntou colocando uma manta em volta do loiro que tremia levemente – O navio estava em chamas, o que estava pesando?

- Acho que o curso de Medibruxo faz lavagem cerebral para pensarmos como Grifinórios – Scorpius disse entre tremedeiras e então liberou um pouco o pacote que tinha no colo, o qual Rose pensara ser algo flutuante que Scorpius usou como apoio.

- Isso é... – Rose perguntou vendo o embrulho se mexer.

- Os pais dele me pediram para salva-lo ao invés de si mesmos – Scorpius disse finalmente tirando a manta que cobria o menino de não mais que três anos que haviam conhecido nas refeições.

- Merlin Scorpius! – Rose disse pegando a criança do colo dele, vendo se a criança respirava.

- As chamas já tinham chegado ao convés, queimaram minha vassoura e quando me preparava para pular o casal me chamou, eles estavam no chão e estavam verdes, imploraram para eu levá-lo – Scorpius disse soltando algumas lágrimas – Então pulei apenas com ele.

- Essa parte eu vi – ela disse e se abaixou para abraçá-lo, tendo um pouco de dificuldade por causa da criança que parecia bem, embora dormisse profundamente quase sem respirar, provavelmente por um feitiço – E nunca mais faça isso! – foi mais um pedido que uma ordem.

- Pode deixar, agora só vou salvar pessoas na maca – ele sorriu e tossiu um pouco.

- Salvar nada, você vai pra maca! – Rose disse e vendo o barco em que estavam a caminho da praia – Oh não, ele está acordando – o menino arregalou os olhos.

- Ok, garoto, o perigo passou – o loiro disse tentando chamar atenção do garoto – Agora vai ficar tudo bem – o menino olhou para Scorpius.

- Cadê a mamãe? – ele perguntou em inglês.

- Ela – Scorpius o olhou com pena – Ela não está aqui.

- Eu quero minha mamãe! Eu quero meu pai! – o menino começou a chorar.

- Eu sei – ele disse e Rose sentiu um peso imenso nessas palavras – Mas você vai ficar bem – Scorpius disse o abraçando, Rose abraçou junto. Logo o barco em que estavam chegou ao seu destino.

- Espere aqui que vou chamar ajuda, certo? – Rose disse quando o barco parou e as pessoas começaram a descer, o menino parecia estar em choque sem reagir a nada, apenas se mantendo no abraço de Scorpius e Rose.

- Ok – Scorpius disse com a voz fraca, sentia-se muito cansado.

- Só não durma, ok – Rose pediu – Você precisa sorrir para suas fãs, você é um herói.

- Sei que é para você ficar encarando meus belos olhos – ele brincou cansado.

- É, você me pegou – Rose sorriu e então saiu do barco em busca de Medibruxos.

...

- Ai minha cabeça – Scorpius piscou os olhos levemente.

- Oh, Scorpius! – logo foi abraçado por braços familiares e invadido por um cheiro maternal.

- Mãe? – ele Scorpius perguntou começando a se orientar.

- Não faça isso com meu coração, garoto – ela disse o soltando para olhar nos olhos do filho – Quando me ligaram falando que você estava desacordado no hospital... – Scorpius notou, com um pouco de desespero, lágrimas grossas rondando os olhos de sua mãe.

- Estou acordado agora! – ele assegurou a abraçando novamente o mais forte que podia.

- Sim, está! – Scorpius a sentou sorrir em meio às lágrimas, eles ficaram por um minuto apenas perdidos no abraço familiar.

- Agora, pode me falar onde estou? E há quanto tempo estou desacordado? – ele perguntou se separando.

- Está no St. Mungus é claro e está a quase uma semana se recuperando – Sua mãe esclareceu pegando um lenço para secar as lágrimas – Quase uma semana que eu e seu pai não dormimos e vivemos aqui.

- Meu pai, ele está aqui? – o loiro perguntou confuso.

- Claro que está Scorpius – ela disse enfática – Eu e ele estavámos...

- Scorpius? – Draco derrubou o copo que trazia no chão ao entrar no quarto.

- Oi pai – ele disse sorrindo minimamente.

- Eles falaram que se você não acordasse até amanhã, teriam de estimular sua ação com poções fortes – Draco disse se aproximando do filho – Aparentemente você além de inalar fumaça de Fogo Maldito, também engoliu um pouco de água.

- Não notei essa parte – Scorpius se encolheu pelo tom de preocupação, nunca tinha o ouvido nas palavras de seu pai.

- Sem contar a queimadura na sua perna... – Scorpius viu com espanto os olhos de seu pai brilharem húmidos.

- Pai, eu estou bem!

- Bem? Você ouviu o que eu falei? – Draco perguntou se virando de costas para Scorpius e balançando a cabeça – O que se passou foi algo sério, você quase… – Draco engasgou no final da frase.

- Mas não aconteceu nada de mais, estou aqui pai – Scorpius não sabia como agir nessa situação.

- Scorpius, estou falando sério – Draco o olhou firme, sem nenhum vestígio de lágrimas – Você já é grandinho para entrar nesse tipo de perigo sem pensar – Agora Scorpius começara a se familiarizar com o que via, decepção.

- Não foi bem assim, pai.

- E deixou sua pobre esposa muito preocupada, era para ser a lua de mel de vocês, por Merlin! – Draco o encarava sério, sua voz sem subir um tom sequer.

- Draco! – Astória o repreendeu.

- Ele tem que aprender a ter responsabilidade.

- Pai, eu acabei de acordar, será que pode adiar o sermão? – Scorpius pediu passando a mão pelo rosto, Draco respirou fundo.

- Só quero o melhor para você, filho – ele disse – Enfim, conversamos depois – ele completou saindo dali, não sem antes Scorpius notar seus olhos ficando vermelhos.

- Parece que continuo só fazendo besteira para ele, hum? – Scorpius disse amargo.

- Ele ficou muito nervoso por você não acordar, falava com os Medibruxos todo o dia – Astória disse calmamente, Scorpius desacreditou – Apenas não esqueça que ele te ama – Scorpius soltou um muxoxo – Vou falar com ele e chamar a Rose.

- Ela está aqui? – Scorpius perguntou surpreso.

- Ela é uma graça, deixou nós ficarmos aqui e se instalou na sala de espera – Astória disse sorrindo – Ótima garota, Scorp – ela piscou para o filho.

Scorpius olhou sua mãe sair pela porta pensando que Rose deveria ter deixado eles ficarem para poder sair e voltar da sala de espera quando quisesse. Ele sorriu com a esperteza da mulher. Mas quem veio depois dos pais não foi Rose e sim seu médico, ele fez várias perguntas que Scorpius já sabia de cor então respondeu de prontidão. Quando o médico se sentiu satisfeito com as informações, ele saiu e Rose pode entrar.

- Finalmente acordou, belo adormecido? – Rose sorriu entrando no quarto.

- Sabia que você me achava belo – Scorpius disse se sentando.

- Como está? – Rose ignorou seu gracejo.

- Fora a dor de cabeça e um pouco de tontura, estou bem – ele sorriu.

- Você é louco, já disseram isso?

- Algumas vezes.

- Não tente se matar de novo, sou muito nova para ser uma viúva – Rose disse sorrindo, mas com algo de sério.

- Da próxima vez vou levar isso em consideração – Scorpius então se virou preocupado se lembrando da criança – O que aconteceu no navio? E com o menino que estava comigo?

- Houve uma explosão na casa de máquinas e o dispositivo que acabava com o fogo Maldito não funciono, o fogo consumiu o navio inteiro – ela disse com pesar – Oh, o menino também veio para cá, mas melhorou bem mais rápido que você – ela levantou uma sobrancelha – Ele se chama Dimitri Hill.

- E onde ele está agora? – Scorpius perguntou preocupado.

- Bom, até onde eu ser quando receber alta, ele vai para um orfanato, a única família viva que ele tem é a avó paterna, mas ela é uma naturalista que vive a vida em busca de novas criaturas e não há como contatá-la facilmente.

- Isso é horrível!

- Sim, mas não há nada que podemos fazer – Rose suspirou – Agora tente descansar, não sei como a fumaça de Fogo Maldito age e você inalou muita.

- Ela é venenosa, se não cuidada rapidamente e tomar conta da corrente sanguínea, pode ser letal – ele disse tossindo um pouco – Mas estava minimamente protegido pela toga no meu rosto.

- Eu sou ótima mesmo – Rose sorriu – Mas então respire ar puro do hospital – Rose piscou – Vou avisar à Daniel e Jane que acordou, creio que terá visitas amanhã cedo.

- Droga! – ele brincou.

- Prometo não contar essa reação a eles – ela disse e, para a surpresa do loiro, o abraçou – Durma bem.

- Mas eu acabei de acordar – ele reclamou quando ela o soltou.

- Faça um esforço – ela disse e sorriu já perto da porta – São quase meia noite.

Scorpius, entretanto não dormiu, passou a noite inteira pensando no infortúnio do garoto que havia salvado. Por mais que tentasse não conseguia parar de pensar na mãe do menino pedindo para que Scorpius cuide dele e em quão perdido e sozinho o menino ficaria em um orfanato.