Algumas semanas se passaram e a rotina do casal voltou ao normal, Scorpius se recuperou totalmente e apenas ficou com algumas cicatrizes verdes como lembrança. Assim, Rose organizou uma noite para mostrar as fotos da viagem para seus amigos na casa do casal, todos se divertiram muito com as caras e bocas do "casal apaixonado". Mais para o final da noite, depois do jantar, Daniel chamou Scorpius e Jane para conversarem a sós.

- Más notícias, amigo! – Daniel disse pesarosamente – Eu fiz uma pesquisas sobre os casos de adoção e sucesso de um pedido de adoção por um homem sozinho é um acontecimento bem raro, não existindo casos de sucesso em que o homem havia quebrado o laço matrimonial – ele olhou com pesar para o amigo – Acredita-se que esse cenário, aparentemente desestruturado, pode ser mal para a criança.

- Então eles preferem que a criança não possua pai algum? – Scorpius perguntou irritado.

- Bom, a estrutura de um orfanato não é ideal, mas pelo menos há a garantia do cuidado – Daniel disse.

- Que horrível – Jane cruzou os braços.

- Será que não pode tentar um acordo com Rose de se divorciar depois da adoção? – Daniel perguntou – Assim seria muito mais rápido e com maior garantia de sucesso, ainda mais que já possuem histórico com o menino.

- Bom, posso conversar com ela – Scorpius disse depois de um suspiro – Mas não sei o quanto ela quer se envolver.

- Fale que ficará com todas as responsabilidades – Jane aconselhou – Já está até arrumando as coisas para deixar a empresa de seu pai.

- Não custa tentar – Scorpius concordou.

- Me avise que começo a preparar o pedido – Daniel pediu – Não é minha área de atuação, mas vou continuar no seu caso.

- Eu não sei como agradecer – o loiro bateu sua mão com a do amigo.

- Não se preocupe com essa parte, eu penso em algo também – Daniel sorriu.

- Agora vamos voltar logo antes que venham nos procurar – Jane chamou os amigos já abrindo a porta.

- Só porque agora ela tem um trabalho ela pensa que pode mandar na gente – Daniel zombou a seguindo.

- Vê se pode, começa a morar sozinha e fica toda pomposa – Scorpius brincou também, Jane ficou vermelha de irritação.

- Não sei por que ainda saio com vocês! – ela disse os dois.

- Não disse que um dia ela iria se tocar? – Dominique disse levantando uma sobrancelha para Rose.

- Ela sabe que nos ama, esquentadinha! – Daniel disse piscando para a ruiva que apenas revirou os olhos.

- Cansaram de namorar a três? – Rose brincou.

- Eles não conseguem tirar as mãos de mim – Scorpius disse – Mas pode deixar que ainda sou todo seu.

- Que honra! – Rose ironizou.

- Muita, é um privilégio – Scorpius sorriu.

- Achem um quarto – Violet pediu.

- Eu prefiro o sofá – Rose brincou, os outros fizeram caretas de nojo, principalmente Dominique Albus e Violet que estavam no sofá.

Scorpius, Jane e Daniel se acomodaram na sala com e os amigos passaram um tempo a mais conversando, mas algum tempo depois o cansaço começou a tomar todos. Sendo assim, começaram a planejar o próximo jantar dali duas semanas, pensando em quem seria o chefe da vez.

- Pode ser qualquer um, menos a Dominique.

- Rose, só porque cozinhou lindamente hoje, não significa que pode humilhar sua pobre prima – Dominique cruzou os braços.

- Eu até poderia te defender, mas depois que você queimou sorvete, minha opinião é parecida com a da Rose – Albus disse rindo com a prima.

- Ela queimou um sorvete? – Daniel perguntou já explodindo em risadas.

- Eu só queria que ele derretesse um pouco, ok – Dominique disse emburrada.

- E o que exatamente estava tentando fazer quando jogou um ovo inteiro, casca e tudo, no pudim? – dessa vez Rose perguntou sem disfarçar o riso.

- Eu não devo explicações a ninguém – ela fechou mais a cara – E acho que já vou indo, está tarde – ela se levantou, mas tropeçou no sofá ao dar o primeiro passo, claro que todos os outros riram.

- Você tem razão, passou do meu horário – Jane disse olhando o relógio da sala – Amanhã tenho que trabalhar, vou indo também.

Com essa deixa todos os outros se levantaram também e decidiram que era hora de ir. O fato estranho foi que, como a casa de Dominique era próxima, ela decidira ir andando, mas Daniel se convenceu que ela não poderia ir sozinha e mesmo ela gritando para o homem parar de segui-la, ambos foram embora juntos para o espanto dos amigos. O Albus, Violet e Jane decidiram ir por flu mesmo.

- Que noite! – Rose disse se jogando no sofá.

- Foi legal – Scorpius comentou, ele tinha bebido pouco e estava mais sóbrio.

- Muito, temos que combinar de sair na próxima vez – ela avaliou – Em casa fazemos muita bagunça – ela disse pensando na mesa de jantar.

- Isso passa em um instante – disse Scorpius agitando a varinha e no mesmo tempo a casa começou a se organizar.

- Verdade, mágica! – Rose riu entusiasmada e se jogou no sofá – Estou cansada – ela diz com a voz abafada pelo sofá – E bêbada – ela riu de si mesma.

- Rose, será que podemos conversar? – Scorpius perguntou querendo tratar logo do assunto em sua mente.

- O que foi? – ela perguntou virando a cabeça para ele e sorrindo bobamente – Vai terminar comigo?

- Terminar o que Rose? – ele levantou uma sobrancelha.

- Nosso casamento, é claro – Scorpius riu de lado – Nossa, é algo sério – ela disse se sentando certo – O que vamos discutir? – ela perguntou tentando ficar séria, mas falhando e rindo da cara de Scorpius.

- Acho melhor conversarmos depois – Scorpius disse balançando a cabeça.

- Não, eu consigo ser séria – ela disse, mas ao tentar caiu na risada novamente.

- Melhor falarmos amanhã – ele disse se levantando, ela tentou se levantar também, mas tropeçou na mesinha de centro e só não caiu porque Scorpius a segurou.

- Talvez você esteja certo – ela disse se arrumando em pé – Vou para minha cama, nos falamos depois – ela disse, mas tropeçava tanto que Scorpius a escoltou até seu quarto.

- Obrigada Scorp! – Rose disse com um risinho e beijando a bochecha do homem que se surpreendeu – Você é o melhor marido que já tive! – ela completou e riu de sua piada entrando em seu quarto, Scorpius apenas riu e entrou em seu próprio quarto.

...

Rose acordou com uma leve dor de cabeça, não sabia que horas eram, mas agradeceu pelas cortinas de seu quarto serem grossas e não deixarem o sol a incomodar. Ela se espreguiçou e pensou em voltar a dormir, entretanto sua parte certinha atacou e ela se lembrou que Bell devia estar morta de fome e com um suspiro, ela levantou. Assim que abriu a porta sentiu um cheiro bom de comida, ela levantou uma sobrancelha.

- Você está fazendo comida? – Rose perguntou com os braços cruzados no batente da porta da cozinha – Comida de verdade? Não aquelas bebidas horríveis?

- Ei, não reclame das minhas vitaminas! – ele reclamou – Você nem bebe elas!

- Sorte a minha – ela disse sorrindo – Bom, vou colocar comida para Bell e já volto para julgar seus dotes culinários.

- Não precisa, já coloquei – ele disse e se virou para ela com um copo – E aqui está uma poção para ressaca.

- Como?

- Imaginei que acordaria com dor de cabeça pelo jeito que foi dormir alegrinha – ele sorriu.

- Hum – ela disse desconfiada, mas se sentando à mesa e bebendo a poção – Você não envenenou isso, certo? – ela perguntou sentindo sua cabeça melhorar.

- Claro que não! – ele revirou os olhos.

- E esses waffles, tem alguma pegadinha neles? – Rose ainda estava desconfiada.

- Não, são apenas waffles quentinhos que vão esfriar se você continuar os evitando – Scorpius disse simplesmente.

- Você está muito suspeito – ela disse, mas pegou o waffle, quando viu que ele estava ótimo, pegou mais e mais.

- Ei, eu também quero alguns – ele reclamou.

- Oh desculpe, não notei que queria também – ela disse pegando mais um.

- Que seja. Coma logo que hoje vamos sair – ele disse olhando o relógio na parede da cozinha.

- Nós dois? – ela perguntou e ele assentiu – Eu e você? – ele acenou novamente – Juntos? No domingo?

- Eu acho que você já pegou a ideia – ele disse rindo.

- E para onde vamos? – Rose questionou estranhando – Não me entenda mal, mas é difícil você ter um dia livre, mais difícil ainda é sairmos eu e você juntos.

- Você tem razão – Scorpius concordou – Mas creio que o passeio vai lhe interessar também – ela levantou uma sobrancelha, curiosa – Vamos ver o Dimitri – ele disse simplesmente sem a encarar.

- O garotinho grego?

- Ele mesmo, lembra dele?

- Como não? – Rose sorriu triste – Fiquei com ele e você enquanto estava inconsciente, ele chorou o tempo todo, mas parou de chamar os pais quando chegamos no cais.

- Você nunca contou o que aconteceu depois que apaguei.

- Você nunca contou o que aconteceu depois que você pegou a vassoura e sumiu como um louco.

- Touché – Scorpius sorriu amarelo – Mas creio que não há tempo para essa conversa agora, melhor nos trocarmos.

- Certo – Rose disse estranhando a atitude animada do loiro.

...

- Oh, senhores Malfoy – uma atendente sorriu ao vê-los – Vieram para ver Dimitri Hill?

- Exatamente – Scorpius respondeu, Rose ainda se espantava enquanto Scorpius era sério falando com pessoas desconhecidas, nada parecido com o homem brincalhão de casa.

- Anne! – ela chamou e uma enfermeira apareceu – Leve-os ao Dimitri, sim?

- Claro! – a enfermeira sorriu para o casal – Me acompanhem – ela disse e eles a seguiram pelos corredores do orfanato – Aqui estamos – ela parou em uma porta – Com licença – ela disse abrindo a porta para uma sala com várias crianças pequenas e três mulheres vestidas de branco como Anne – Fran, onde está... – a frase foi interrompida por uma mancha pequena passar correndo por ela e parar na barra do vestido de Rose.

- Bom, olá – ela disse desconfortável abraçando o pequeno desajeitadamente.

- Acho que ele lembra de nós – Scorpius sorriu.

- Poderia apostar nisso – Anne sorriu vendo o menino que notou Scorpius e correu para ele, o loiro, por sua vez, o pegou no colo – Podem passear por toda extensão do orfanato – ela explicou e entrou na sala fechando a porta atrás de si.

- Então parece que somos nós agora – Scorpius sorriu.

- Parece que sim – Rose deu um sorriso amarelo, não gostava muito daquele ambiente, apesar de parecer que o menino estava muito melhor do que quando deixou com os oficiais.

- Que tal explorarmos por aí? – Scorpius perguntou, mas Dimitri saiu de perto de Rose e começou a puxar Scorpius – Acho que ele tem uma ideia diferente.

- Vamos ver o que ele tem a mostrar, então – Rose disse e ambos começaram a acompanhar o garotinho.

- Onde está nos levando? – Scorpius perguntou, mas o pequeno não falava nada, apenas puxava o loiro – Não acho que ele é muito de falar.

- Percebe-se – Rose afirmou, logo o menino soltou Scorpius em frente de uma porta e a abriu, Rose e Scorpius entraram logo depois de Dimitri.

- É seu quarto? – Scorpius o olhou, o menino afirmou com a cabeça e logo abriu a gaveta do criado mudo ao lado de uma das seis camas ali, tirou folhas de lá e deu todas a Rose.

- Lindo! – Rose sorriu vendo os rabiscos nas páginas, mas mal terminou de olhar a primeira e o menino começou a puxar Scorpius para fora dali, Rose se apressou para acompanhá-los enquanto guardava os desenhos em sua bolsa.

O menino os levou pelos corredores como se já soubesse de cor o mapa do orfanato. Ao final estavam em um jardim com parquinho que parecia ser nos fundos da construção. O menino parou em frente do parquinho e apontou para o balanço.

- Você quer que eu empurre? – Scorpius perguntou abaixando o olhar, o menino assentiu correndo para se sentar no balanço, Scorpius olhou para Rose e ela incentivou a ele ir.

Rose se sentou no balanço ao lado do que Dimitri estava, se antes parecia calado, no balanço parecia a criança mais normal possível. O menino agora sorria e suas bochechas estavam coradas, Rose sorriu levemente também, já Scorpius sorriu largamente para a diversão do menino.

- Parece que ele gosta mesmo de ser balançado – Scorpius comentou.

- Não sei o que te deu essa pista – Rose o olhou um pouco cínica e um pouco brincalhona, Scorpius apenas balançou a cabeça.

Passaram um tempo no balanço até Dimitri se cansar e resolver ir em outro brinquedo,

- Preciso ir no banheiro, já volto – Rose assentiu olhando o garoto, Scorpius, então, seguiu para dentro do prédio em busca de Anne – Olá Anne, tudo certo?

- Sou sim, algum problema? – ela o olhou.

- Na última vez que vi Dimitri, ele podia falar – ela suspirou – O que aconteceu?

- Isso é uma conversa complicada, que tal irmos no meu escritório? – ela sugeriu, ele a acompanhou.

...

Rose observava o menino na caixa de areia, queria falar algo, mas simplesmente não achava um assunto, não era muito ligada a crianças que não pertenciam a sua família. Estava prestes a perguntar algo quando sentiu um corpinho se chocar contra a sua perna.

Rose pegou Dimitri no colo se assustando com o que podia ter acontecido para o menino estar chorando agarrado em seu pescoço, olhou em volta, mas apenas viu outras crianças brincando e alguns funcionários. Olhando para trás, no entanto, viu um homem sendo reprimido por um funcionário aparentemente pelo cigarro em sua mão, ela entendeu imediatamente: o fogo o assustava.

- Calma, Dimitri – ela disse meio sem jeito – Está tudo bem – ela disse com uma voz suave.

Rose se sentou em um banco e colocou Dimitri em pé em seu colo para o olhar nos olhos. O menino estava com os olhos vermelhos e com a expressão aflita, ela sentiu uma pontada no peito ao notar o quão assustado ele estava.

- Não vai acontecer nada com você – ela disse com um sorriso encorajador – Pode deixar que eu não vou deixar nada acontecer com você, ok? – o menino assentiu e a abraçou, ela se assustou por um momento, mas aumentou o aperto nas costas do menino suas costas levemente.

Assim que Dimitri abriu os olhos, viu o balanço novamente. Ele então se desvencilhou de Rose e rapidamente desceu para o chão saindo correndo até o brinquedo, Rose se assustou com o gesto repentino, mas assim que se virou alarmada para ver onde ele estava indo deu um sorriso.

- Não quero nem saber o que foi fazer no banheiro durante todo esse tempo – Rose disse vendo Scorpius se sentar ao lado dela.

- Coisas que se faz no banheiro, ora – ele disse sério.

- O que aconteceu? – ela perguntou o olhando com uma sobrancelha levantada.

- Bom – Scorpius disse e suspirou – Parece que o menino não tem passado nada bem.

- Como assim? – Rose se alarmou.

- Ele tem muitas noites de pesadelos e a enfermeira me contou que coisas estranhas acontecem durantes os pesadelos – ele começou – Parece que sempre tem que ter alguém de vigia no quarto pois as cortinas começam a chamuscar frequentemente e as cobertas dos colegas de quarto dele nunca estão do jeito que deixaram.

- A mágica dele está se manifestando – Rose disse olhando o nada – E aos três anos! – ela se impressionou.

- Sim, mas num orfanato trouxa – Scorpius lembrou – E desde que chegou, não pronunciou uma única palavra, entende tudo, mas não responde nada.

- Deve ser o trauma, tantas pessoas gritando naquele dia – ela disse e um calafrio passou pela espinha de Rose.

- Não está sendo a época mais fácil da vida dele – Scorpius completou e voltou a observar o menino que agora escalava uma construção de travessas de metal, o trepa trepa infantil.

- E ele ainda consegue rir – Rose disse observando Dimitri sorrir ao chegar ao topo do brinquedo.

- Mas não dura muito – Scorpius sorriu vendo que o menino agora olhava para baixo sem saber como descer, ele foi ao socorro – Quer ajuda para descer? – o loiro perguntou estendendo os braços.

Dimitri rapidamente se segurou em Scorpius que o pôs no chão. O menininho saiu correndo, então, para a caixa de areia. Scorpius sorriu com a inocência dele e se virou para sentar onde estava antes.

- Eu sei que gritei muito com você, mas estou feliz que tenha salvado ele – Rose sorriu para Scorpius – Acho que ele terá uma nova vida agora.

- Só espero que uma vida feliz – Scorpius a olhou.

- Ele está em meio a muitas crianças como ele, creio que vai se divertir bastante – Rose sorriu e Scorpius desviou o olhar – Como uma vida dentro de uma creche com amigos.

- Parece ótimo – Scorpius assentiu.

- Oh não, o que ele está pegando? – Rose perguntou retoricamente e saiu correndo para evitar que Dimitri colocasse o que tinha pego na boca – Dimitri! – ela chamou e ele a olhou assustado, a mulher se abaixou ao seu lado – Não se coloca na boca coisas que se encontra no chão – Rose pegou delicadamente a mão do menino e passou a sua própria tentando limpar.

- Crise evitada? – Scorpius perguntou chegando, Rose apenas o olhou com a cara fechada – Vamos no escorregador? – Scorpius sugeriu.

Rose aproveitou que Scorpius guiava Dimitri para, discretamente lançar um feitiço de limpeza no menino e em si mesma.

O dia passou rápido e logo Rose e Scorpius já teriam de se despedir, Scorpius se encantou mais e mais com o menino frágil que salvou e Rose teve uma tarde muito boa. Quando foram embora, prometeram voltar e ambos perceberam o quão triste o menino ficou com a ida deles. Rose planejava voltar dali muito tempo, afinal não queria ver aquela expressão triste tão cedo.

...

- Então, o que achou da nossa saída? – Scorpius perguntou quando ambos já estavam descansando na sala, Rose jogada em seu sofá vendo algo na tevê e Scorpius em uma poltrona a olhando.

- Foi ótima, o menino é encantador – ela sorriu o olhando por um instante.

- Maravilha, sobre isso que quero falar – ele soltou com custo.

- Isso o quê? – Rose perguntou ainda sem lhe dar importância.

- Eu quero adotá-lo.

- Nossa – ela o olhou finalmente – Passo sério, não? – ela disse meio incerta do que dizer – Passo para visitar as vezes, mas quero deixar bem claro que visitarei ele, não... – ela começou brincalhona.

- Enquanto ainda estamos casados – ele disse de uma vez, o sorriso de Rose morreu e ela se sentou o encarando – Eu sei que é de surpresa, mas...

- Eu não tenho nem terei filhos, Malfoy – ela disse bem séria.

- Mas ele está sozinho e precisa de um lar, nós...

- Nós não somos um lar, nem perto – ela se levantou, nervosa – Fique a vontade para adotá-lo, quando estivermos oficialmente separados, o que será logo – ela cruzou os braços.

- Esse era o meu plano inicial, mas sabe o percentual de homens separados que conseguem adotar uma criança? – ele levantou também não entendendo a aversão dela.

- Não quero saber, eu não tenho filhos, nunca tive e nunca terei, fim de papo – ela ficou brava.

- Quando nos separarmos, eu vou ficar com a custódia dele, você não precisa se preocupar com nada dele, apenas quero que fiquemos casados por mais algum tempo para garantir que conseguirei a custódia – ele se levantou também a encarando em súplica.

- Não Malfoy – ela disse simplesmente e se virou para seu quarto.

- Mas você viu como ele está sofrendo lá – ele a seguia.

- Esse não é problema meu! – ela disse sem o olhar.

- Será que você não tem coração? Você sabe que o lugar dele não é com trouxas! – Scorpius disse exasperado.

- Não sei se você nota o quão séria é essa decisão – ela disse virando sem aviso prévio – Eu e você não somos um casal que se ama e quer formar uma família, somos dois irresponsáveis com bebidas que têm ainda medo do papai, esse não é nem de longe o melhor lugar para uma criança crescer, sem contar que logo nos separaremos e o que ela vai pensar? Acaba de ser adotada e seu novos "pais" se separam?

- E você acha que o melhor lugar para ele é em meio de trouxas? Sofrendo por ser diferente e por tudo que aconteceu consigo? Por não ter ninguém a sua volta com capacidade de ajudá-lo? – Scorpius perguntou no mesmo tom – Nossa relação não é de casal, mas hoje em dia uma pessoa pode lidar facilmente com pais separados ou apenas com um pai.

- Minha resposta ainda é não! – ela disse e se soltou dele – E não me importune mais com esse assunto! – ela disse entrando em seu quarto e fechando a porta com um feitiço.

Uma vez fechada, Rose escorregou com suas costas na porta até sentar no chão abraçando seus joelhos, não demorou muito para grossas lágrimas começarem a inundar de seus olhos. Do outro lado da porta, Scorpius socou a parede em frustração, mas não iria desistir, era obstinado e queria cuidar daquele menino desamparado com o fundo de seu coração.

...

Passaram-se alguns dias e Rose e Scorpius pouco se falavam, sempre que Scorpius estava em um local, Rose fugia, não queria falar com o loiro novamente tão cedo. Scorpius tentava a todo custo falar com Rose, tinha adiantado com Daniel para segunda, mas do jeito que as coisas iam era mais fácil ele tentar adotar depois do divórcio mesmo, Rose estava arisca.

Quando era mais nova, havia descoberto que nunca poderia ter filhos. Nesse dia seu mundo virou de cabeça para baixo, afinal sempre pensou em ter filhos, vinha de família grande e sempre achou que a maternidade seria parte de sua vida.

Portanto quando descobriu ficou bem deprimida por sua impotência, não importando o enorme suporte de sua família. Mas com o tempo foi aceitando o fato de que nunca seria mãe e enraizando em sua mente. Por isso que a situação apresentado por Scorpius foi uma surpresa ruim, entrava em conflito direto com o que sempre lutou para se convencer.

Entretanto o rostinho de Dimitri constantemente interrompia seus pensamentos, era tão novinho e já tinha tantos traumas, aquilo não era nada justo. Mas o destino já havia determinado que ela não seria mãe... Mãe, Rose se surpreendeu com a palavra direcionada a ela, se achou uma idiota por se quer pensar em um cenário que ela seria mãe.

Entretanto na tarde de sábado Rose estava em seu quarto com a porta separando as roupas que lavaria no dia seguinte, e em um dos casacos encontrou os desenhos que ganhara de Dimitri. Rose respirou fundo pensando se veria ou não o que estava ali, mas a curiosidade a tomou e ela se sentou na cama com os desenhos a mão.

Rose sorriu ao ver o primeiro, era um homem com uma capa de super-herói, o homem era loiro e Rose supôs que era Scorpius por ter um menino de cabelos castanhos em seu colo, o próprio Dimitri. O segundo fez um aperto surgir no peito de Rose, a página estava cheia de rabiscos verdes e amarelos e um menininho castanho estava com uma cara triste no meio, Rose supôs que aquele era Dimitri em meio do Fogo Maldito.

O próximo desenho era bem parecido com o primeiro só que o menino não estava mais sozinho, uma mulher ruiva o segurava. Rose lembrou como insistiu em ficar com o menino até chegarem em território londrino conhecido, insistiu para não ser separada nem de Dimitri nem de Scorpius que simplesmente não acordava. Foram momentos apavorantes, mas ter que cuidar do menino e de Scorpius a ajudou a manter o foco.

Rose sorriu entre as lágrimas que só agora percebia que caiam por seu rosto e então olhou o último desenho, eram cinco pessoas ali, Rose, Dimitri e Scorpius estavam sorrindo e flutuando em volta deles estavam um casal de cabelos castanhos que Rose supôs serem os pais do menino.

Rose deixou os desenhos de lado e abraçou os joelhos chorando compulsivamente. Achava tão injusto um menininho de três anos já ter passado por tantos traumas e agora ter de se ajustar em um mundo totalmente novo e chorava também por estar pensando na proposta de Scorpius, corava pelo que ela significava, por como tal proposta a fazia sentir.

Com um susto, Rose percebeu que era envolvida em um abraço.

- Por favor, não chore, Rose – ele disse meio desesperado, ela se virou e o abraçou bem forte molhando sua blusa com lágrimas – Se acalme, vai ficar tudo bem, não te importuno mais com a ideia – ele disse e começou a passar a mão pelos cabelos de Rose – Por favor, pare de chorar – ele pediu ternamente.

- Como você sabe que vai ficar tudo bem? – ela perguntou com a voz embargada, mas tentando se controlar.

- Porque minha mãe diz que tudo sempre fica bem no final – ele disse simplesmente ainda um pouco em pânico.

- Nunca vou me cansar do seu desespero com choros – ela disse com um fraco tom de riso, Scorpius respirou aliviado.

- Pelo menos diminuiu – ele respondeu com um sorriso de canto – Desculpe por te pressionar, te pedir para "ser mãe" é impróprio.

- Repentinamente desse jeito, é totalmente impróprio – Rose concordou se soltando do loiro – Obrigada.

- Sem problemas – ele disse secando a camisa com um aceno da varinha – Me desculpe.

- Mas realmente não podemos deixar ele como está – ela disse sem o olhá-lo, Scorpius arregalou os olhos – Eu aceito ficarmos mais um tempo casados, mas não serei mãe de Dimitri – Scorpius levantou uma sobrancelha – Apenas sua... tutora temporária.

- Oh, Rose! – ele exclamou se levantando e abraçando a mulher e a girando pelo quarto – Você não sabe como estou feliz!

- Estou percebendo! – ela falou rindo do entusiasmo do loiro.

- Só não acho que nossos pais vão aprovar.

- E quem liga para eles – Scorpius disse ainda em êxtase – O importante é que Dimi terá um lar.

- Dimi?

- Dimitri é muito formal para uma criança – ele respondeu e a soltou – Escolha o que quiser, comprarei o melhor presente para você! Quer o golfinho?

- Não, Scorp – ela disse rindo – Não preciso de nada.

- Pois guarde esse pedido que farei o que quiser – ele disse e a abraçou novamente – Vou falar agora mesmo para Daniel dar entrada no pedido de adoção, ele disse que como bruxos procuram não deixar crianças bruxas muito deslocadas do nosso mundo, nossa chance de conseguir é muito alta.

- Sério? – Rose riu com a animação dele.

- Ele disse que a preocupação é tanta que talvez conseguimos a guarda provisória em um mês – Scorpius disse animado – Se fizermos tudo certinho, é claro.

- Um mês? – Rose se espantou, sempre pareceu que demorava-se muito para adotar uma criança.

- Sim, há o interesse do ministério em crianças mágicas ficarem com os seus, portanto conseguem adiantar a avaliação de afinidade, estrutura familiar e bem estar infantil e como você já tem o histórico dos Weasleys, não creio que empaque muito – ele disse saindo do quarto – Teremos que fazer mudanças nessa casa, tenho que ajustar minha rotina, tenho que... – Rose riu ouvindo Scorpius falando consigo mesmo.

Mas então Rose perdeu o sorriso pensando na loucura que tinha aceitado, só esperava que ao final o menino passasse bem, não só ele, mas ela também.