O ano já havia começado a algumas semanas e Rose e Scorpius estavam de volta a suas rotinas diárias, a conversa no ano novo pareceu fazer o efeito desejado e não houveram mais "incidentes" desde então.

Nesse dia em específico era um sábado pela manhã e uma assistente social estava na casa do casal finalizando suas anotações.

- Sempre é um prazer visitar essa casa, creio que meu trabalho está finalizado – ela disse abrindo sua pasta.

- Certo, doutora, obrigado – Scorpius sorriu aliviado – Nos vemos agora quando?

- Agora, só se nos encontrarmos casualmente em algum lugar por aí – ela disse sorrindo, finalizando sua assinatura e entregando o papel em sua mão à Scorpius – Aqui está minha última avaliação, está mais que claro que aqui é o melhor lugar para Dimitri.

- Espera, isso significa o que acho que significa? – Scorpius perguntou perplexo.

- Vocês estão livres do meu lado para seguirem com a adoção – ela sorriu e Rose pegou o papel emocionada.

- Agradeço muito, doutora – Scorpius disse controlando suas emoções.

- Nem precisa, é só continuar cuidando desse jeito do menino – ela disse se levantando.

- Sem dúvidas – Scorpius sorriu se levantando também e a encaminhando para a porta.

- Eu estou vendo nos seus olhos, pode chorar, eu aguento – Rose disse vendo os olhos vermelhos do rapaz quando ele voltou da porta.

- Eu não sabia que era a última avaliação – Scorpius disse soltando algumas lágrimas e ironizando com uma careta a fala da ruiva.

- Deveria, o Daniel avisou.

- Não lembrei – Scorpius deu de ombros e pegou maravilhado o papel com Rose – Que incrível.

- Eu achei que seria antes já que ele falou janeiro – Rose disse divertida e então notou que Scorpius ainda sorria bobamente para o papel de aprovação – Vai ficar ai que nem um bobo o dia inteiro ou vai dar as boas novas para o seu filho?

- Verdade, o Dimitri! – Scorpius sorriu colocando o papel na mesa e seguindo para o quarto do menino.

Rose sorriu e guardou o papel em um lugar mais seguro na gaveta da escrivaninha no canto da sala, ali acabou encontrando o álbum da viagem deles. O pegou na mão sorrindo e pensando em como uma viagem consegue mudar uma vida então notou o envelope debaixo dele que eram as fotos que não couberam no álbum que a loja montou e lembrou que nunca as vira.

A curiosidade se fez presente e ela então pegou o envelope e foi para o sofá folheá-las.

As primeiras fotos eram algumas repetidas, daquelas que você tira em posições ligeiramente diferentes. Ela se divertiu pois a maior parte das fotos desse tipo foi em momentos que um dos dois estava infernizando o outros e fazendo o momento mais memorável.

Encontrou uma especialmente engraçada que deixou escapar algumas gargalhadas, era justamente o último dia um momento antes do caos. Scorpius estava de toga olhando emburrado para a câmera, Rose aparecia por um momento só para sorrir divertida dele, esse momento lembrou que a cara dele estava tão boa que colocou a câmera no pescoço para tirar mais fotos e por essa sorte conseguiu salvar esses registros.

Demorou um tempo sorrindo com essa e então arregalou os olhos. Ali estava uma foto que simplesmente esquecera que havia tirado, nela Rose, Scorpius e Dimitri e os pais sorriam de seus lugares na mesa de um dos jantares do navio, o Sr. Romeu havia insistido em tirar aquelas fotos deles para… Bom, algo sobre o espelho entre passado e futuro, passado dos pais e futuro dos recém casados.

Lágrimas começaram a se formar no rosto da mulher, nada daquilo era justo, os pais deveriam estar criando seu filho, não pareciam tão mais velhos que ela e estavam tão felizes.

Ficou por um tempo perplexa com aquilo até que Dimitri pulou em nela, animado.

- O que foi? – ela perguntou surpresa passando a mão nos olhos.

- Vamos sair para comemorar! – Scorpius respondeu pelo menino que o olhava – Vai escolher uma roupa bem legal, vamos – Scorpius pediu a Dimitri olhando a expressão estranha de Rose – O que houve com você?

- Você lembra disso? – Rose perguntou estendendo a foto para ele que pegou a foto e arregalou os olhos.

- Sumiu totalmente da minha mente – Scorpius balançou a cabeça sentando-se à frente dela.

- Tão injusto, certo? – Rose perguntou olhando para o chão e limpando algumas lágrimas a mais.

Scorpius não estava ouvindo Rose, em sua mente a imagem da mulher implorando para ele salvar o filho se misturavam com a imagem dela mesma sorrindo na foto. Se hoje havia conseguido dar mais um passo em ter a guarda de Dimitri era por eles, pela promessa que havia feito a eles e a si mesmo de cuidar do menino.

Sentiu braços se envolverem por seu ombro e logo Rose o abraçava, não havia percebido, mas estava com algumas lágrimas caindo pelo rosto.

- Eles que deveriam estar aqui, eles que deviam estar o levando na escola, o colocando para dormir, o deixando confortável o suficiente para falar de novo – Scorpius disse com a voz baixa meio embarcado – Eu sou só um amador que não sabe o que faz.

- Não fale assim! – Rose pediu se afastando um pouco para olhá-lo – Tudo que você fez e está fazendo por ele é maravilhoso.

- Não sei – ele sorriu fracamente – Só espero estar cumprindo bem a promessa que fiz a eles.

- Promessa? – Rose perguntou o soltando, sem antes limpar algumas lágrimas do rapaz.

- É, mais ou menos, foi a última coisa que a mãe dele falou para mim: "cuide dele" – Scorpius disse e a olhou – Essa fala dela às vezes fica ecoando na minha mente.

- Eu te asseguro – Rose disse pegando as mãos de Scorpius na sua – Que você está cumprindo com louvor o que ela te pediu.

- Não só eu – Scorpius disse e segurou a mão dela quando ela fez menção de retirar – Eu sei que há uma história que eu não sei sobre que te machuca, mas não tem como negar que você é uma ótima, qual o termo que você usou mesmo… ah sim, tutora para ele – Rose sorriu timidamente – Agora vou ver o que o pequeno está tramando tão quieto.

- Quer dar a foto para ele? – Rose perguntou quando ele se levantava e se recompunha do momento.

- Hum, quero sim, mas de uma forma especial – Scorpius sorriu e pegou a foto do sofá, e então reparou nas outras que estavam com ela – E o que é isso?

- Ah sim, algumas fotos da viagem que não foram para o álbum – Rose disse sorrindo – Tem algumas preciosas aqui.

- Tenho certeza que sim! – ele disse começando a ir para o corredor – Depois quero ver também.

- Só se você achar o envelope – Rose respondeu juntando as outras fotos para guardar novamente na gaveta.

Os grupos de família e amigos estavam animados com a notícia da última visita da assistente social, do passo que eles já estavam. Daniel se encarregou de procurar o próximo passo, uma audiência com o juiz designado para o caso, para oficializar a adoção, ele conseguiu uma data disponível no final da semana seguinte.

Ao saírem, Rose lembrou o quão divertido era levar uma câmera por aí e decidiu pegar a máquina antes de irem. Scorpius havia prometido rosquinhas recheadas então seguiram para uma doçaria do bairro que ficava próxima ao parque que costumava frequentar com o menino, perto da escola de Dimitri.

O lugar estava tranquilo, portanto conseguiram uma mesa dentro o que ajudava a fugir dos ventos ainda gélidos da reta final do inverno.

Escolheram seus doces e Rose então mostrou o que trouxera para animar mais o dia e direto já pediu algumas poses para Dimitri e então para Scorpius com Dimitri. O garçonete chegou com o pedido deles e se ofereceu para tirar fotos dos três, Rose fez menção de negar, mas Scorpius rapidamente passou a máquina para o rapaz, que tirou algumas fotos, sendo a última a mais animada com Rose passando uma parte da geléia de framboesa se seu doce no nariz de Scorpius.

- Me pergunto às vezes quem é a criança da situação – Scorpius reclamou limpando seu nariz.

- Não queria foto minha? Elas são nos meus termos – Rose sorriu provando sua sobremesa – E aproveita que o sabor está ótimo.

- Você é uma das piores influências para o Dimi – ele reclamou apontando para a criança divertida.

- Eu sou uma das melhores! – Rose rebateu – Quem mais vai ensinar do mundo para ele?

- Esse mundo ele não precisa conhecer.

- Como ousa! – Rose reclamou e brincando colocou as mão em volta dos ouvidos de Dimitri que tirou divertido – Não dê ouvidos a ele, você não será um almofadinhas não.

- Tente me impedir – Scorpius provocou e então provou um pouco da sobremesa de Rose – Está bem bom.

- O seu também – Rose disse fazendo o mesmo que o loiro – Mas prefiro o meu.

- Que bom, porque o meu é melhor.

- Que paladar equivocado Scorpius – Rose fingiu pesar.

- Posso dizer o mesmo – o loiro reclamou – Mas temos um juiz aqui – Scorpius apontou para Dimitri que se animou.

- Boa, e aí Dimi, qual o melhor? – Dimitri sem pestanejar apontou para o seu, os adultos riram – Isso com certeza, mas qual o segundo melhor então?

Dimitri olhou as duas sobremesas curioso, pegou um pedaço da pertencente a Rose primeiro, saboreou e afirmou com a cabeça, Rose levantou as sobrancelhas para Scorpius. Dimitri então pegou um pedaço da de Scorpius e olhou de um para outro divertido e misterioso.

- E então? – Scorpius perguntou e Dimitri apontou para o prato do loiro, que comemorou passando a mão carinhosamente na cabeça do menino.

- Não vale! Isso foi roubado! – Rose protestou.

- Não seja uma má perdedora, Rose – Scorpius pediu divertido.

- Complô é como isso chama – Rose reclamou e fez cócegas na barriga de Dimitri que riu mais.

- Não, é bom gosto que se chama – Scorpius sorriu para Dimitri – Muito bem filho.

A palavra simplesmente saiu em um deslize da boca de Scorpius, que se surpreendeu com ela arregalando os olhos, era a primeira vez que ele próprio chamava Dimitri de "filho". Rose também notou a importância do momento e sorriu para Scorpius dando suporte ao momento.

Dimitri continuou se lambuzando com sua sobremesa sem estranhar nada.

Após finalizarem suas refeições, Scorpius sugeriu continuarem para uma volta no parque ali próximo, Rose protestou pela temperatura baixa, mas Scorpius a convenceu prometendo cuidar de Dimitri ou ela em caso de algum resfriado. Dimitri se animou com a ideia e logo já estavam chegando na área de crianças do parque.

Scorpius e Rose decidiram sentar-se em um banco próximo para observá-lo.

- Então, temos que conversar – Rose chamou Scorpius enquanto Dimitri se entretinha com os brinquedos.

- Esse tom não parece bom – Scorpius fez uma careta – Manda.

- Bom, em vista da notícia que recebemos hoje, sabe o que vem agora né?

- A adoção oficial? – Scorpius respondeu confuso.

- Isso também, mas não em relação a nós.

- Nós?

- É, você sabe – ela disse e então tirou a aliança que estava em seu dedo e a colocou novamente

- Ah sim, o fim do nosso casamento – ele respondeu meio perdido, essa parte de sua situação havia ficado em um canto bem distante de sua mente – Como vamos fazer isso?

- Hum, temos que pensar em um plano.

- Tenho que ir atrás de uma casa, pode ser depois de eu achar um lugar legal?

- Pode sim, mas não demore – Rose acrescentou rápido – Vou procurar com você para garantir.

- Vai ser ótimo, como ele já vai na escola por aqui, seria bom ser um lugar perto – Rose afirmou com a cabeça – Daí você poderia vir visitar.

- Visitar ele, só se for – Rose disse apontando para Dimitri.

- Nem tente esconder, sei que vai morrer de saudades minhas – Scorpius levantou uma sobrancelha.

- Será? – Rose fingiu pensar – É, acho que só do pequeno mesmo – ela sorriu divertida enquanto Scorpius a retribuía com uma careta.

- Se engane sozinha então – ele respondeu dando de ombros.

- Mas é sério, precisamos de um plano – Rose disse mais séria.

- Sim, certo – Scorpius respondeu e começou a pensar – Bom tem que ser depois da sessão com o juiz, é claro.

- Concordo – Rose afirmou – E como Daniel é bem eficiente, vai ser logo.

- E então temos mais uns 15 dias para achar um lugar bom – Scorpius constatou – Mas também posso ficar uns dias na Mansão para ter aquele drama de problema no relacionamento.

- Vai ir e voltar todo dia para levar ele na escola, falamos de aparatar depois dos 5 anos, certo?

- Vamos ter que madrugar, mas é factível de carro – Scorpius balançou a cabeça.

- Isso é muito estressante, para vocês dois – Rose negou.

- Não é o ideal, mas não tem muito o que fazer – Scorpius cruzou os braços – Não vou alugar um hotel só pelo drama.

- Dorme no hospital, você adora perder o tempo lá mesmo.

- Que tom é esse? Sentindo minha falta, Rosinha?

- Eu? Sentindo sua falta? Você está sonhando muito Scorp – Rose reclamou – E "Rosinha" é reservado para família.

- Me magoa você não me considerar família.

- Deixa de ser besta – Rose empurrou o ombro dele levemente – Enfim, acho que eu vou ter que sair de casa então, posso passar uns dias com os meus pais sem problemas.

- Claro que não, a casa é sua! – Scorpius negou.

- Pode ser, mas não posso deixar você transformar aquela coisinha em um zumbi – ela disse apontando para Dimitri.

- Então me ajude a achar um lugar logo!

- Claro que vou, você procura no jornal e eu procuro na Internet – Rose respondeu.

- Ah sim, no mundo mágico dos Trouxas – Scorpius afirmou.

- Quantas vezes terei que te falar que não é magia, só tecnologia?

- Até fazer sentido, o que não faz, portanto é magia Trouxa.

- Você é impossível.

- Eu sou racional, é diferente – Scorpius respondeu e Rose balançou a cabeça.

- Só espero que ele cresça com a cabeça menos dura.

- Acho difícil, só se tiver alguém que apareça e fale sobre mágica Trouxa com ele.

- Você fica repetindo esse termo de "mágica trouxa" só para me irritar?

- Talvez, não nego nem afirmo nada! – ele disse levantando as mãos.

- Sempre que você fica bem feliz você fica atacadinho assim?

- Isso eu realmente não sei – Scorpius disse pensando – Mas sobre o assunto principal, fica fechado em uma semana depois da audiência começarmos os sinais – Rose afirmou com a cabeça – Ah, e você me ajuda a achar uma casa.

- Fechado – e voltaram a focar em Dimitri – Vamos, hora de tirar umas fotos legais, ele está muito fofo.

O domingo começou preguiçoso, os amigos haviam combinado de comemorar a notícia mais tarde na casa de Rose e Scorpius, portanto eles estavam aproveitando esse tempo para descansar. Haviam almoçado há pouco quando a campainha tocou, eles se olharam estranhando.

- Ainda está um pouco cedo, não? – Rose perguntou colocando o marca página em seu livro e o fechando, a campainha tocou novamente.

- Nossa, que impaciência – Scorpius reclamou colocando Bell um pouco para o lado no sofa já que a cabeça dela estava em seu colo e ele iria levantar.

- Eu atendo – Rose se prontificou.

Na porta estava uma mulher mais velha, mais perto dos 70 anos. Seus olhos estavam vermelhos e inchados como se estivesse chorando há pouco, sua expressão era de muita tristeza, estava bem pálida também.

- Aqui é a casa dos Malfoy? – ela perguntou e Rose se espantou.

- Bom, creio que tecnicamente sim – Rose respondeu.

- Estão com a guarda provisória de Dimitri? – ela perguntou.

- Sim, mas quem está perguntando? – Scorpius, que estava logo atrás de Rose, perguntou cruzando os braços.

- Eu sou Clara Hill, a avó dele – ela disse e Rose arregalou os olhos e olhou para Scorpius que estava sem expressão.

- A avó dele que estava desaparecida é incomunicável? – Scorpius perguntou neutro.

- Eu explico o que quiserem – ela disse rapidamente e então engoliu em seco – Mas antes, posso vê-lo?

Rose olhou para Scorpius que afirmou, Rose abriu um pouco mais a porta permitindo a entrada da mulher. O menino estava dormindo em seu quarto, Scorpius a guiou com Rose logo atrás. Assim que viu o menino, começou a chorar silenciosamente com um sorriso triste, Rose a chamou com a voz baixa para a sala para conversarem à mesa.

- Desculpem-me – a senhora pediu limpando as lágrimas com um lenço.

- Não precisa nem pedir – Rose disse com empatia.

- Bom, primeiramente quero agradecer por terem cuidado dele todo esse tempo – ela disse se recompondo, o máximo que conseguia – Imagino que estar em um orfanato seria bem mais traumático para ele.

- Foi uma alegria – Rose respondeu depois de ficarem um tempo em silêncio com ela esperando Scorpius responder – Ele é uma criança adorável e…

- Onde estava? Ficaram semanas tentando te contactar até que a contínua ausência o levou ao orfanato – Scorpius interrompeu Rose com a voz ainda neutra.

- Desculpe a grosseria dele.

- Não tem problema, é uma pergunta justa – ela interrompeu Rose olhando para o loiro – Eu realmente estava incomunicável, estava em uma área remota na Rússia, trabalhando. Veja bem, eu sou uma naturalista de campo, às vezes preciso estar em lugares não usuais.

- Você é a Dra. Hill que estava com Charlie – Scorpius se deu conta.

- Você conhece a família que me patrocinou e acompanhou a expedição – ela se espantou.

- Não só conheço como eles são minha família, meus tios – Scorpius disse ainda incrédulo com a coincidência.

- Uma família abençoada mesmo – ela comemorou – Me permitem realizar um trabalho incrível e ainda cuidam do meu neto para mim.

- Para a senhora? – Scorpius perguntou levantando uma sobrancelha.

- Naturalmente, eu sou a avó dele, eu vou cuidar dele agora – ela respondeu com um tom de que aquilo era óbvio – Agradeço muito esse tempo que cuidaram dele, mas eu sou a família dele.

Aquela frase veio como um soco no estômago de ambos, Rose se surpreendeu por aquele sentimento, não havia notado o quão apegada ao menino já estava e se repreendeu mentalmente. Scorpius passou a mão no cabelo ansiosamente, Rose notou que apesar de sua expressão ainda estar neutra, ele estava bem tenso.

- Sobre isso, creio que vamos chegar a um impasse – ele formulou então – Veja bem, nós entramos com um pedido de adoção dele, adoção definitiva.

- E o que estou dizendo é que não é mais necessário – ela respondeu firme – Estou aqui agora, ele já tem alguém da família para estar com ele – e ela se reclinou para se aproximar para falar mais baixo com eles – E fazem poucos meses apenas de tudo, não é como se já tivessem uma história com o menino.

- Ok, acho que já está na hora da senhora se retirar – Rose falou em um tom mais alto vendo a mão de Scorpius se fechar em um punho em seu colo.

- Vocês entendem que ele é filho do meu filho, certo? – ela perguntou no mesmo tom de Rose falhando a voz na palavra "filho" – Que talvez ele seja a única lembrança viva que me resta dele – ela perguntou e novamente lágrimas caíram de seus olhos.

- Ele não é uma lembrança, ele é uma criança – Scorpius disse ainda com a voz controlada.

- É uma criança sangue do meu sangue – ela disse e se levantou, Scorpius e Rose fizeram o mesmo.

Estando de pé, Rose notou uma pequena figura que estava na entrada do corredor olhando curioso as vozes alteradas na sala. Rose se apressou para pegá-lo, assegurando que estava tudo bem. Scorpius ainda olhava a senhora que tinha os olhos mais húmidos ainda vendo Dimitri nos braços da ruiva.

- Os mesmos cachos, a mesma feição que o meu menino – Clara falou para si e deu dois passos em direção a ele, mas parou impedida por Scorpius que ficou em sua frente, ela deu um passo para o lado e chamou o menino – Pequeno Urso, sou eu, a vovó.

Dimitri olhava para ela com curiosidade, mas não parecia reconhecê-la tão bem ao ponto de tentar ir até ela.

- Eu realmente acho que chegou a hora da doutora ir – Scorpius pediu no mesmo tom neutro seguindo para abrir a porta.

- Certo, eu vou, mas eu volto – ela disse depois de respirar fundo – Vocês podem ter dinheiro e tudo mais que essa família tem, mas aquele é o meu neto e não está à venda para ninguém – ela falou amargurada para o loiro ao sair.

Scorpius fechou a porta e passou a mão no rosto e cabelo fazendo uma cara de cansaço, ele realmente não precisava daquele drama nesse momento. Ele bateu a mão na parede ao lado da porta em frustração, milhões de pensamentos inundavam sua mente nesse momento.

Rose havia deixado Dimitri voltar ao chão e pedido para ele ir brincar em seu quarto, logo depois chamou Bell para o acompanhar uma vez que ela estava observando a situação seguindo Scorpius.

Rose se aproximou cautelosamente do loiro, como ele estava de costas não sabia o que esperar. Passou a mão levemente nas costas dele até o ombro, onde ele colocou a própria mão sobre a dela, ficaram assim por alguns instantes até Rose apertar levemente o ombro dele e ele se virar, sua expressão estava perdida.

- Eu não sei exatamente o que acabou de acontecer – ele disse em um suspiro.

- Bom, acho melhor você se sentar antes de qualquer outra coisa – ela disse e o puxou para o sofá.

- Isso complica muito a situação – Scorpius disse nervoso passando a mão pelos cabelos novamente.

- Complica massivamente – Rose afirmou – Mas não sabemos se realmente é avó dele.

- Eles tem o mesmo tom de cabelo e o nariz e o queixo parecido, além disso Charlie falou esse nome, deveria ter me tocado que deveria ter algo relacionado.

- Essa parte eu não entendi nada, como vocês se conhecem?

- Não nos conhecemos, Charlie estava em uma expedição com os pais nesses últimos tempos e pelo que entendi ela era a naturalista chefe que levou eles lá, estavam realmente incomunicáveis – Scorpius explicou – Ele a chamou de Doutora Hill, mas não percebi que poderia ter algo a ver.

- Como poderia? O modo que falaram da avó era como se ela tivesse morrido – Rose afirmou – Eu lembro que eu até fui na casa dela quando você estava desacordado para ver se conseguia contactar alguém, mas só vi algumas correspondências no chão e nenhum sinal de um ser humano ali.

- Não sabia disso.

- Ah sim, o Ministério falou que não tinham conseguido achá-la e como fui eu que havia trazido o menino para Londres ficou a culpa, então tentei ver se eu mesma achava alguma pista, sem sucesso – ela lembrou – Daí foi o orfanato e tudo mais que você já sabe.

- Sei – Scorpius respondeu e seus ombros caíram – Eu não tenho ideia do que fazer, sobre nada.

- Não teria como ser diferente, o quanto você se esforçou e correu para cuidar de Dimitri não está escrito – Rose ofereceu um sorriso fraco.

- Pode até ser, mas tudo foi por nada, certo? – Scorpius respondeu amargurado – A família dele voltou, não tem muito o que fazer.

- Não diga isso – Rose pediu – Nós nem conhecemos ela, vai desistir assim tão fácil?

- Ela é a avó dele, Rose.

- Supostamente, e ainda uma avó que não estava aqui quando ele mais precisou, ao contrário de você.

- É diferente…

- Com certeza é diferente – Rose o interrompeu – E não vai ser fácil entender qual o melhor cenário para ele, mas eu não descartaria você tão facilmente.

- É isso, o que temos que decidir é o que é o melhor para ele – Scorpius disse determinado.

- Exatamente – Rose concordou.

Passou um minuto e então Scorpius abraçou Rose, bem forte. Rose assustou com o gesto no início e então retribuiu apertando de volta também.

- Eu estou completamente perdido – e ele confessou a ela em um sussurro – E com medo.

- Scorpius, olhe para mim – ela pediu e eles se afastaram um pouco – Não importa o futuro, tudo que fez pelo menino, você literalmente salvou a vida dele, ele sempre estará com você.

- Não foi apenas eu, Rose – Scorpius sorriu de lado, uma lágrima escorreu pela bochecha de Rose, Scorpius a limpou deixando sua mão ali em seu rosto, eles se olhavam intensamente.

Nesse momento Dimitri apareceu abraçando as pernas de Rose, que sorriu e o pegou no colo. Ela e Scorpius o abraçaram forte, mas ele logo ficou incomodado e esperneou para sair, Rose permitiu sorrindo fraco.

- Como assim a avó dele apareceu? – Albus perguntou incrédulo.

Os amigos haviam chegado trazendo o jantar combinado, Rose e Scorpius estavam bem abatidos então então a conversa não ficou longe da notícia nova por muito tempo. Todos estavam sentados na mesa de jantar compartilhando aflições.

- Sim, ela estava na mesma expedição que meus tios – Scorpius respondeu olhando para seu prato.

- A Inglaterra é uma bolha mesmo – Jane se inconformou.

- Ele a reconheceu? – Albus perguntou.

- Não particularmente, não estava tão íntimos não – Rose tomou a palavra.

- E aí, ela quer o Dimi? – Violet perguntou pesaroso.

- Pelo que ela saiu gritando, sim – Rose respondeu por Scorpius.

- O que vão fazer? – Dominique perguntou com pesar.

‐ Não tem muito o que fazer, tenho certeza que o pedido dela como avó é bem mais forte que o nosso – Scorpius respondeu pela primeira vez, sua voz sem esperança – Cuidamos dele por alguns meses, agora sua família real pode assumir.

- Não fale assim – Rose pediu colocando a mão sob a de Scorpius.

- Sim, não desistam – Violet pediu com os olhos húmidos.

- Não tem nada a se fazer mesmo? – Dominique perguntou triste, os olhares então aos poucos se voltaram para Daniel que estava absorto em pensamentos.

- An? É comigo?

- Há algo a se fazer? – Dominique perguntou novamente revirando os olhos.

- Bom, creio que vou ter de descobrir – Daniel respondeu – Nosso caso para a guarda é meio frágil, já que a dona é aparentemente a avó, mas como ela estava sumida, é claramente um ambiente instável, além disso, se o menino não é tão apegado, pode-se, talvez, contestar a relação próxima...

Ele explicou alguns caminhos que iam aparecendo em sua cabeça às formulando no momento, portanto algumas um pouco confusas, outras bem soltas. Todos os ouviam tentando entender, mas sem tanto sucesso em fazer sentido no "tecniquês" legislativo do amigo.

- Mas resumindo, o sonho não morreu, certo? – Dominique o interrompeu.

- Bem, sim, a guarda provisória está com eles e os especialistas incentivam o seguimento do processo, pontos muitos positivos para eles – todos ouvindo sorriram esperançosos – Mas ela ainda é a avó, parentesco forte – e Daniel resumiu – Não, o sonho não morreu, mas não vai mais ser tão assegurado quanto antes.

- Que timing o dela – Scorpius falou amargurado.

- Não importa, eu ainda acredito que você não pode desistir tão fácil – Rose disse colocando sua mão sob a de Scorpius em conforto.

- Ah, ele não vai – Daniel assegurou com um brilho no olhar do desafio – Pode deixar que na corte eu faço o seu caso.

- E vamos estar aqui para apoiar tudo – Jane disse sorrindo para o amigo, os outros concordaram.

- Vocês são definitivamente os melhores – Scorpius sorriu.

N.A.: ptrc sim, eles são muito fofos! E agora tem mais isso para lidar, hehe. Mas está tudo bem, já estamos na reta final da história :).