Não tardou para a Dra. Hill cumpriu sua palavra e Daniel informou que a audiência tinha sido adiada e logo depois cancelada pela contestação da avó. Ao invés dela, foi marcado uma reunião oficial para os assistentes sociais avaliarem a relação entre a avó e o menino para o meio de fevereiro.

Rose notou que essa movimentação perturbou Scorpius, então para animá-lo decidiu o levar para ver uma das casas que encontrou que parecia propícia para a mudança dele, como se as coisas ainda estivessem como antes.

Deixaram Dimitri com Hugo que já havia cobrado mais de uma vez passar um tempo com o menino e seguiram para a primeira casa que na verdade era um apartamento, o imóvel seria no terceiro andar.

Scorpius havia estabelecido alguns critérios: a localização próxima que haviam combinado, no mínimo 2 quartos, um banheiro com banheira e um lugar espaçoso o suficiente para suas necessidades, quando ouviu isso Rose revirou os olhos, mas se esforçou para encontrar algo de acordo.

- E esse é o quarto principal – a agente de imóveis que haviam contratado falou finalizando o tour na casa – Como estamos no último andar o dono criou esses pontos de luz no teto que deixam a luz natural clarear mais o ambiente.

- Muito interessante, certo Scorp? – Rose sorriu para o loiro.

- Suponho que sim – Scorpius deu de ombros.

- Certo – a agente disse sorrindo amarelo – Aguardo na sala, fiquem a vontade para observar.

- Scorpius, esse lugar parece muito bom – Rose o chamou – É só três quadras da praça e realmente é bem iluminado, todo o imóvel.

- É, parece bom – Scorpius respondeu desanimado.

- Não seja assim Scorp – Rose pediu chamando a atenção dele – Ainda nada mudou, o juiz só está avaliando a contestação da Dra. Hill.

- Ou seja, o processo dela já está sendo considerado.

- Mas nada está decidido – Rose tentou animá-lo, mas ele continuou com sua expressão sombria – Ok então, Scorpius – Rose disse respirando fundo – Se você já decidiu desistir, não tem nem motivo para estarmos aqui, eu aviso a agente que…

- Não, espere – Scorpius a segurou pela mão – Desculpe, vou me recompor.

- Não quero te forçar a nada.

- Não, você tem razão – Scorpius reconheceu – Como espero ter algum sucesso se eu próprio entregar os pontos, certo? – Rose afirmou com a cabeça.

- Enquanto estivermos vendo apartamentos, não haverá nenhuma possibilidade da guarda do Dimitri ser tirada de nós, combinado? – Rose pediu.

- Combinado – Scorpius sorriu e então soltou a mão da ruiva – Mas vamos continuar na busca do melhor lugar para ficarmos depois de seu pé na bunda.

- Não fale assim que até fico com dó – Rose sorriu com a brincadeira dele – Mas então o que achou daqui?

- Eu acho que podemos ver as outras, achei o espaço como um todo meio pequeno e tem muitas escadas – Scorpius reclamou.

- É só o terceiro andar – Rose revirou os olhos.

- O piso da parede é alto – Scorpius explicou simplesmente – Prefiro ver outras.

- Certo – Rose respondeu e então seguiram para falar com a agente sobre a decisão.

…..

Fevereiro não tardou a chegar e, com ele, o dia da visita acompanhada de Dimitri à avó. Foi combinado que o encontro aconteceria na casa da Dra. Hill com 2 assistentes sociais e com Rose e Scorpius.

Ambos estavam bem nervosos com a visita, mas Scorpius escondia muito bem para a inveja de Rose. De qualquer forma, no horário combinado ali estavam eles à porta da casa, Rose reparou que ela parecia bem mais cuidada do que a última vez que estivera ali, até flores novas enfeitavam os canteiros das janelas.

Ao baterem na porta não demorou muito para serem atendidos, a doutora Clara Hill parecia melhor, mas dava para perceber que ela ainda estava em luto pelo filho. Ela os deixou entrar sorrindo um pouco mais para Dimitri que seguia curioso no colo de Scorpius, os assistentes sociais ainda não haviam chegado, portanto foi um momento desajeitado entre os adultos ali.

- Eu preparei as melhores surpresas para ele – Clara se pronunciou depois de um momento em silêncio na sala.

- Que ótimo – Rose respondeu cordialmente.

- Terminei de organizar as coisas do meu... – ela pausou para engolir em seco e continuou quase sem voz – Do meu filho Henry e creio que consegui separar algumas coisas que sejam familiares a ele.

- Há coisas da mãe também? – Rose perguntou.

- Provavelmente sim, eles estavam começando a construir a vida aqui.

- E sabe se dela não teria outros avós dele para falar aqui também – Rose perguntou – O ministério não achou nada.

- Não há ninguém mesmo – Clara disse com a boca meio torcida – Ela era órfã, não imaginava que isso seria comum entre ela e meu neto – ela continuou amargurada.

- Nada disso é culpa dela – Scorpius disse de seu lugar, seco.

- Claro que não – Clara respondeu, mas na voz ainda estava o amargor, nesse momento a campainha tocou.

Os assistentes sociais chegaram e explicaram a dinâmica do dia, estavam ali para entender a relação entre avó e neto, a visita iria durar cerca de uma hora e o menino voltaria com Rose e Scorpius depois. Todos concordaram e então foram para a sala que a avó julgou como o lugar mais preciso, ali mesmo Clara aproximou uma caixa que estava mais no canto do cômodo para o tapete onde se sentou, Scorpius incentivou Dimitri a ir até ela.

- Dimitri, você realmente me lembra muito ele – ela disse com os olhos húmidos e então colocou a mão na caixa – Lembra disso? – ela perguntou retirando um soldadinho de chumbo feito de ouro, ele era pequeno do tamanho de uma mão adulta e com alguns sinais de uso inclusive a pintura do uniforme gasta.

Dimitri sorriu e pegou o brinquedo o olhando em suas mãos por um momento e então começando a brincar com ele.

- Esse soldado é uma herança familiar da família da mãe dele – ela explicou – Ele ganhou assim que nasceu, ficava na cômoda do quarto dele – Tenho isso também – ela disse pegando um quadro dela com Dimitri mais novo – Lembra desse dia?

Dimitri olhou a foto intrigado e ao se reconhecer foi animado mostrar a Rose e Scorpius o que estava ali. E isso aconteceu com alguns itens a mais, como um ursinho tema aventura que ela disse ter sido presente dela. Ao final Dimitri já parecia a ter reconhecido ou pelo menos estar familiarizado o suficiente para sentar no colo dela ao ver um livro de histórias com muitas figuras.

Os assistentes olhavam tudo e anotavam em seus papéis e Rose segurava a mão de Scorpius tentando passar confiança pois sentia ele muito tenso, não que ela estivesse muito melhor internamente. Enfim o tempo da avaliação chegou ao fim logo os assistentes se foram, mas antes de Rose e Scorpius fazerem o mesmo, Dra. Hill os chamou para dar o soldado para eles levarem uma vez que era de Dimitri.

Rose achou a atitude muito carinhosa e aceitou o presente garantindo que já tinha um lugar em mente para deixá-lo. Dimitri se animou com esse gesto também e pediu com as mãos para ficar com o soldado, Rose deixou.

- Sabe o que eu gostaria de fazer agora? – Scorpius perguntou quando estavam no carro a caminho de casa.

- Não tenho a menor ideia.

- De ver alguma casa – ele pediu e Rose sorriu.

- Bom, posso mandar uma mensagem para a agente para ver quando ela poderia nos ver, achei outra com uma localização muito boa.

- Ótimo – Scorpius sorriu sem desviar os olhos da estrada.

…...

O outro imóvel era um apartamento também, no primeiro andar em cima de uma pizzaria, era mais próximo da escola que o anterior, mas também era um pouco menor. Dimitri havia ficado com os pais de Rose.

- Localização excelente, não? – Rose comentou sorrindo, estavam na sala de dois ambientes, a cozinha também ficava próxima, separada com um balcão.

- Pode até ser – Scorpius disse não tão animado – Aqui é menor ainda Rose, e um pouco escuro.

- Sim, mas só comparativamente com o anterior – Rose disse – E esse tem uma pizzaria embaixo, imagina que prático pedir pizza!

- Imagino só que o cheiro diário de pizza não seja tão prático – Scorpius torceu o nariz.

- Ok, não nessa também então? – Rose perguntou divertida.

- Isso, não – Scorpius esclareceu e olhou para janela ao longo da parede onde os últimos raios dourados de sol passavam – Sabe? Eu achei muito interessante saber mais sobre a mãe de Dimitri – Rose ficou surpresa com a fala.

- Na verdade, eu também – Rose admitiu depois de um momento refletindo.

- E ainda ele ter algo dela, acho que acalma um pouco a voz dela na minha mente – Scorpius disse olhando para o chão, Rose apertou sua mão em conforto.

- Repito, ela amaria o que está fazendo por ele – Rose assegurou – E bem, eu não vejo problemas em sabermos mais.

- Do que está falando?

- Não sei, pode ser meio estranho, mas podemos pedir para a Dra. Hill nos falar mais deles – ela disse meio incerta de sua sugestão.

- Como assim? Falar com ela de propósito?

- Sim, ela tem a informação – Scorpius pensou na proposta por uns minutos.

- Bom, não acho que faria mal perguntar, certo? – Scorpius refletiu – E podemos avaliar por nós mesmos se ela seria uma boa opção para Dimitri.

- Claro, seria bom isso também, mas não que o juiz leve em conta nossa opinião.

- Tem isso, mas ainda sim seria bom.

- Ótimo, eu mando uma coruja – Rose sorriu.

…..

Rose, Scorpius e Clara Hill estavam em um restaurante sem saber exatamente como começar a conversa, todos os tópicos amenos como saúde, o que iam pedir e o clima já haviam sido abordados.

- Pois bem, o que querem de mim? – Clara perguntou intrigada – Espero que saibam que se for algum acordo monetário envolvendo a retirada da ação ou algo assim eu saio em um instante.

- Oh, não se preocupe, sabemos de seu apreço por Dimitri, não é nada nesse sentido – Rose respondeu levantando as mãos.

- Sim, na verdade não é tanto sobre o Dimitri, mas sim sobre os pais dele – Scorpius disse e continuou quando viu a expressão de confusão da senhora – Gostaríamos de saber mais sobre seu filho e sua nora, como eles eram e como eram eles com o Dimitri.

- Sim, saber mais sobre a origem de Dimitri – Rose resumiu.

- Querem saber mais sobre meu Henry e Alexandra? – Clara ainda estava confusa com o pedido – O que exatamente gostariam de saber?

- Talvez como eles eram ou como se conheceram para começar – Rose sugeriu.

- Como eram eles? – Clara disse refletindo sobre a pergunta – Bom, sobre meu filho tenho que dizer a verdade, ele era um grande nerd – ela disse sorrindo para si mesma – E não há ninguém além de mim para culpar, meu marido morreu quando ele era bem novo.

- Oh, sentimos muito – Rose e Scorpius pediram.

- Foi há muito tempo, está tudo bem – Clara disse – Mas sim, praticamente criei ele sozinha, bom eu e a escola – ela sorriu levemente – Vejam bem, eu sou pesquisadora e professora do Instituto Mágico de Ciências e Pesquisa desde antes dele nascer então era lá que ele estava comigo quando não havia com quem o deixá-lo, foi no meio dos livros que ele cresceu.

- Ele então se tornou um homem da ciência como a mãe? – Rose palpitou.

- Não teve como não – ela sorriu para a ruiva – Depois de Hogwarts veio direto para o Instituto de volta, mas a paixão dele não estava no campo como eu, mas sim nos experimentos em laboratório – ela explicou – E foi lá que ele conheceu Alexandra, que era uma estudante Russa de intercâmbio.

- A mãe de Dimitri.

- Ela mesma – ela afirmou para Scorpius e então os pratos chegaram.

- Como foi que aconteceu?

- Pelo que me foi contado – ela continuou – Ela entrou na equipe de pesquisa que ele estava, mas falava bem pouco e mal nossa língua, ele se ofereceu para ajudá-la – e ela sorriu com a lembrança – Ele era um menino ótimo, muito solicito e preparado para ajudar quem precisasse.

- Parece um verdadeiro cavalheiro – Rose sorriu para a mulher.

- Sim, mas muito ingênuo também, com ambições pequenas – ela complementou mais falando consigo mesma – Não me admira a Alexandra conseguir levá-lo em tão pouco tempo, em quatro anos que se conheceram, já estavam noivando.

- Se apaixonaram rápido então? – Rose perguntou meio incerta.

- Isso e eram jovens demais se me perguntar, mas sim – ela voltou a encarar o casal.

- Um belo começo, um jovem ajudando uma outra jovem a se adaptar ao novo ambiente, que se apaixonam no processo – Scorpius sintetizou.

- Sim, creio que tenha sido isso – a mulher concordou.

- E ela era da Russia, certo? Acabou ficando por aqui? – Rose perguntou interessada.

- Foi toda uma história – Clara deu um riso singelo – Eles demoraram para entender que estava rolando algo além de amizade entre eles, tanto que quando finalmente perceberam o estudo já estava em seu fim, assim como o visto dela – e ela continuou – Nesse momento tive que me ausentar por um trabalho, mas pelo que acompanhei houveram algumas idas e vindas entre Russia e Inglaterra, vezes ele, vezes ela indo atrás até que se acertaram, engataram em um namoro de início à distância, mas depois ele foi para a Russia e viveram lá desde então.

- O Dimitri é de lá então? – Scorpius perguntou.

- Nasceu lá sim, eles na verdade estavam voltando para morar aqui quando... – a voz de Clara falhou por um momento – Bem, iriam tirar umas férias e depois se estabelecer aqui em Londres, eu recebi uma carta do meu filho falando disso, mas só vi depois de voltar da expedição.

- Entendi – Rose tomou a palavra depois de um momento em silêncio da senhora olhando para sua comida perdida em seus pensamentos – E você costuma a viajar muito dessa forma?

- Ah sim, sempre que a oportunidade aparece – ela respondeu saindo de seus pensamentos – Nos últimos 6 anos consegui ir em 3 expedições, muito mais que média no Instituto.

- Ora, muito bem – Scorpius se impressionou – E todas elas foram em lugares remotos?

- Não todas, mas não é simples me achar nesses momentos, precisa de muito foco e comprometimento para encontrar e observar as esplêndidas criaturas.

- Bem interessante – Scorpius disse.

- É sim, pois bem, possuem mais alguma pergunta? – Clara disse finalizando seu prato.

- Nada especifico vem na minha mente agora – Scorpius respondeu e olhou para Rose que negou com a cabeça.

- Sendo assim, creio que já me vou.

- Não vai ficar para a sobremesa? – Rose indagou.

- Não, creio que estou satisfeita e não sou tão fã de doces assim – ela respondeu e pegou sua carteira.

- Não, por favor, a conta fica por nossa conta – Scorpius pediu.

- Bom, se insistem – ela disse guardando a cadeira e se levantando – Foi, bem, agradável almoçar com vocês, mas minha decisão se mantém.

- Me assustaria se tivesse, Doutora – Scorpius garantiu.

- Certo, boa tarde aos dois então – ela se despediu e então saiu.

- Sobremesa? – Scorpius perguntou a Rose.

- Sem dúvidas.

- Bonita a história dos pais do Dimi, não? – Rose perguntou enquanto eles saboreavam a sobremesa.

- Sem dúvidas, mas não sei, achei o modo que ela contou meio raso, como se ela soubesse mais por cima o que aconteceu – Scorpius reclamou.

- Sim, notei isso também, pode ser que ela tenha dado uma resumida, ela não vai com a nossa cara Scorp – Rose lembrou.

- Tem isso, mas não sei gostaria de saber mais e não sei se ela seria a pessoa mais indicada.

- Bom, você pode ir bisbilhotar no Instituto que ela falou – Rose disse debochada.

- Isso na verdade é uma boa ideia.

- Não Scorpius, eu estava brincando – Rose revirou os olhos.

- Não importa, acho que vou sim atrás disso.

- Olha lá onde vai se meter.

- Você não está curiosa também?

- Estou sim, mas não acho que vai ser simples encontrar alguém que tenha trabalhado no projeto com eles, sabe-se lá quantas áreas o instituto tem.

- Mas o reitor ou chefe, não sei, de lá deve saber disso.

- Bom, como você já pensou em tudo, pode tentar achar algo sobre, me chame que vou falar com o pessoal com você se quiser.

- Claro que quero, é uma investigação de duas pessoas agora.

- Não chamaria esse "fuxico" de investigação, mas tudo bem.

…..

Scorpius recorreu aos tios para saber se eles sabiam mais do Instituto e descobriu que foi pelo próprio Diretor Geral que eles financiaram a expedição e passaram os dados que tinham.

Ao entrar em contato com o diretor, ele pareceu bastante solicito, afinal se tratava de um Malfoy, e aceitou falar mais sobre o passado antes de Dimitri, mas garantiu que a Dra. Hill era uma amiga e uma expoente do lugar.

O diretor foi solícito, reforçou que tanto mãe quanto filho eram conhecidos do lugar e que tinha sido uma perda lastimável. Ao final apontou uma outra pessoa, o melhor amigo do pai de Dimitri, que podia ajudar e estava no Instituto, saindo de lá Rose e Scorpius então seguiram direto para falar com ele.

- Patrick, certo? – Scorpius perguntou encontrando um homem sozinho no laboratório indicado.

- Eu mesmo – o homem levantou a cabeça para olhá-lo.

- Você tem alguns minutos para falar sobre Henry Hill?

- Veja só, esse nome está mais ativo recentemente – ele comentou – Muito bem, tenho um tempo para o almoço, pode ser?

- Claro, quanto tempo seria isso? – Scorpius perguntou.

- O tempo de comer um sanduíche – ele respondeu sorrindo levantando um pote retangular.

- Não tanto então – Rose respondeu atrás de Scorpius, ela estava com um carrinho levando um Dimitri adormecido.

- Vejam só, ele é a cara do pai mesmo – Patrick disse se aproximando para olhar Dimitri – Boa sorte menino, vai precisar – ele brincou e se levantou com os olhos úmidos – Sigam-me, vamos conversar em um lugar melhor.

Eles então o seguiram para uma pequena praça perto do instituto e se sentaram em uma mesa de piquenique para conversar.

- Pois bem, o que gostariam de saber? – ele perguntou e então mordeu seu sanduíche.

- Bom, você era o melhor amigo de Henry, certo? – Scorpius perguntou.

- Era o único então creio que entro em melhor e pior amigo – ele brincou.

- Certo, como ele era?

- Como ele era? Bom, complicado essa, não? – ele disse abaixando o sanduíche por um momento – Ele era tímido, ao extremo, e bem fechado na dele, antes da Alex era do instituto para sua casa, com exceção de uma ou outra noite que eu o convencia a sair comigo ou com o time.

- A mãe dele citou que ele podia ser considerado um nerd – Rose sorriu.

-A mãe dele? – ele disse com amargura – O que ela pode saber dele?

- Como assim? – Scorpius perguntou.

- Bom, vou falar isso, mas fica entre nós – ele disse e mordeu mais um pedaço de seu sanduíche, Rose e Scorpius se olharam confusos – Como mãe ela é uma ótima doutora exploradora.

- Não parece tão mal.

- Não parece? Imagine ter uma mãe como ela, a exploradora estrela do instituto, que está constantemente em expedições e constantemente cobrando mais por só ver metade de sua jornada – ele disse amargurado – Não é estranho ele ter tantos problemas com relações interpessoal, não conhecia nenhuma até euzinho.

- Vocês se conheceram aqui no instituto? – Rose perguntou.

- Não, isso foi em Hogwarts, ambos da Lufa-lufa, ambos os melhores em poções e feitiços e ambos que estavam na biblioteca ou no salão comunal nas partidas de quadribol.

- Uma dupla criada pelas semelhanças então – Rose sorriu.

- Sim, um irmão que a vida me deu, de verdade – ele disse reflexivo olhando para o nada e completou depois de uns instantes – E que me tirou sem aviso prévio.

- Nossos sentimentos pela sua perda – Scorpius disse empático.

- Ah, um dia acredito que vou superar – ele disse e virou o rosto para limpar uma lágrima – Mas finalizando sua pergunta, quem ele era, ele era o cara mais gente boa, inquieto intelectualmente e parceiro que eu já conheci, o melhor amigo que alguém poderia ter.

- E como ele e Alexandra se conheceram?

- Ah sim, ela veio como uma pesquisadora de intercâmbio para o nosso projeto, a parte do Henry tinha muita dependência da parte dela e ele ficou impaciente – ele riu – ele reclamando sem parar é um som que me atormenta até hoje de vez enquanto.

- Eles tiveram atrito no início então? – Rose perguntou.

- Não, isso era só ele – Patrick garantiu – Mas me encheu tanto que fiz ele ir conversar com ela e entender o problema, ele estava relutante, mas eu dei um empurrãozinho.

- Isso deve ser bom – Rose riu.

- Falei para ela que ele estava se oferecendo para ajudar, daí ele ficou sem saída, afinal ele nunca se atreveria a me chamar de mentiroso – ele riu consigo – Ela não tinha problemas com a ciência por trás, mas sim com a tradução, ele então começou a passar um tempo a mais com ela e creio que a química aconteceu.

- Eles se apaixonaram – Rose sorriu.

- Sim e eu nem notei direito, o que mais estranhei é que em todos os momentos ela estava lá, almoços, trabalhos, saídas esporádicas, lá estava Alex – ele disse – E não vou mentir, eu gostava, ela era divertida, inteligente, atrapalhada com nosso idioma, realmente o fazia sair do casulo.

- Ela parece legal também.

- Sim, os dois eram minhas pessoas favoritas – ele concordou melancólico – Não mereciam nada do que aconteceram com eles, nem serem órfãos nem terem partido.

- Tenho certeza que não – Rose disse com um sorriso falho.

- Não mesmo, mas enfim – ele disse finalizando seu lanche – Eles eram ótimos e creio que Dimitri será igual.

- Eu sei que combinado é combinado e o lanche já se foi, mas você já conhecia Dimitri?

- Ah, sim,tenho uns minutos a mais, eu saí duas vezes do país as duas para a Rússia – ele começou – A primeira foi para o casamento deles, eu era o padrinho, e a segunda foi para conhecer o pequeno, de quem eu também sou padrinho.

Rose e Scorpius arregalaram os olhos.

- Eu não devia ter falado isso, desculpe – ele disse envergonhado – Eu era na verdade, agora é decisão de vocês.

- Não, se você é o padrinho, é o padrinho, é decisão dos pais dele – Scorpius disse veemente.

- Bom, se for isso mesmo, agradeço – ele disse e se abaixou para olhar o menino dormente no carrinho – Eu fui vê-lo no orfanato, sabem, eu estava determinado a ficar com ele e fazer meu papel de padrinho mesmo, mas olhar para ele era muito doloroso, ainda é, então dei um tempo, quando voltei vocês já estavam na fila.

- Oh, não sabia – Scorpius disse surpreso.

- Nem precisa falar, fico muito feliz de conhecer vocês, pelas perguntas que me fizeram realmente estão interessados nele – ele disse ainda olhando o menino – O que infelizmente é mais do que os pais dele tiveram.

- Bom, vamos fazer o melhor para continuarmos com esse papel – Scorpius assegurou.

- Como assim?

- A Doutora Hill entrou com um pedido de custódia também.

- Não, por favor não deixem ela descuidar de outra pessoa – ele pediu se levantando de supetão.

- Vamos fazer o possível, mas quem sabe, Henry não parece tão mau – Rose disse tentando descontrair.

- Você ouviu a parte do "problemas de relação interpessoal"? Ele de longe não merecia ter só um amigo, e foi bem difícil virarmos amigos mesmo, só depois de alguns anos como colegas – Patrick disse exasperado.

- Ok, ok, vamos fazer o possível.

- Ah, que se lasque o Instituto, podem contar comigo, para qualquer coisa – ele disse.

- Ótimo, muito obrigado – Scorpius disse oferecendo a mão a Patrick que retribuiu – Mas o que o instituto tem a ver?

- Ah, ela pediu para algumas pessoas falarem a favor dela, agora entendo onde e porquê – ele respondeu simplesmente.

- Olha só – Rose levantou as sobrancelhas.

- Sim, e agora realmente vou ter que ir, como disse, fiquei muito feliz de conhecê-los.

- Igualmente – Rose disse e ele se foi.

…..

- Um galeão por seus pensamentos – Rose despertou Scorpius de seus pensamentos.

- Se soubesse que a cotação deles estava alta assim abriria negócio antes – Scorpius disse voltando sua atenção a ela.

- Contanto que não seja simplesmente sobre o jardim, está ótimo.

O casal estava vendo outro imóvel, desta vez uma casa de dois andares em que a sala de estar superior tinha uma pequena varanda para a parte de trás da casa. No meio da apresentação da casa ele acabou distraído em seus pensamentos e Rose tentava resgatá-lo.

- Não, só estou pensando em toda a história que Dimitri tem, é um livro – Scorpius riu levemente – A mãe é russa e órfã, o pai tinha problemas com a mãe, que por falar aparentemente é ausente, mas quer a custódia do garoto e aparentemente tem algo a esconder em seu Instituto – ele disse enumerando pessoas na mão – Além disso, ele tem um padrinho que talvez nos ajude no caso, é toda uma história antes se quer dele nascer.

- Sem sombra de dúvidas, mas todos nós temos isso, quer dizer meus pais estavam na linha de frente da batalha – Rose lembrou – O Voldemort já passou uma "temporada" na Mansão da sua família – Scorpius fez uma careta – Todos temos bagagem que podem vir de antes de nascermos mesmo.

- Não é justo, isso eu sei – Scorpius disse lembrando de seus primeiros anos de Hogwarts.

- Não é, mas é o que temos que viver – Rose disse pegando sua mão e apertando em conforto.

- Verdade, você às vezes é muito sábia, Weasley.

- Eu faço meu melhor – Rose sorriu – Mas e quanto a casa, o que achou?

- É um pouco longe, não?

- Não tão longe quanto a Mansão – Rose lembrou – E você tem um carro – Scorpius fez uma careta.

- É, pelo menos é bem espaçosa – Scorpius relevou – Mas é a mais cara também.

- Porque é melhor que as outras – Rose respondeu – E não é como se isso fosse um problema para você.

- Porque sou consciente com meu dinheiro – Scorpius levantou as sobrancelhas – E lembrando que o aluguel seria eu sozinho.

- Você é um Medi-bruxo – Rose revirou os olhos – Me recuso a ter dó das suas finanças.

- Chata – Scorpius reclamou – Creio que já deu para ter uma noção dessa casa, vamos?

E assim se foram e ao chegar Scorpius recebeu uma mensagem de sua mãe pedindo para Dimitri ficar até o dia seguinte em sua casa e ele concordou.

- Casa para nós hoje então? – Rose perguntou.

- Como nos velhos tempos – Scorpius sorriu cumprimentando Bell.

- Com esse monte de coisas de crianças acho difícil – Rose respondeu colocando ração para a cachorra.

- Ah, isso é facil de arrumar – ele disse e então acenou a varinha e os brinquedos e utensílios de crianças começaram a voar para o quarto de Dimitri.

- Perfeito – Rose sorriu – E é bom estarmos sozinhos pois temos que conversar.

- Oh não – Scorpius reclamou de ouvir essas palavras.

- O que foi? Ainda não falei nada.

- Da última vez que ouvi isso, fui expulso de casa.

- O seu drama é interminável – Rose reclamou revirando os olhos – Mas prometo que é algo bom.

- Hum, deixe-me ser o juiz disso – ele pediu – Pode soltar a bomba.

- Você sabe que data está chegando, certo? – Rose perguntou.

- Tem várias delas, têm 15 de fevereiro, 30 de março.

- Vou fingir que não ouvi isso.

- Eu sei, o casamento de Albus, vou me comportar bem.

- Bom, ótimo saber disso, mas não é só essa data que está chegando – Rose respondeu – Vou te ajudar: envolve bolo, chapeuzinhos pontudos, uma coroa de papel…

- Verdade, o aniversário de Dimitri, no final do mês que vem.

- Isso – Rose comemorou sarcasticamente – E eu estava pensando em fazer uma festa.

- Uma festa?

- Sim, de aniversário.

- Não acho má ideia.

- E como deve ser próximo da audiência, pode ser uma de despedida na pior das hipóteses – Rose disse e desviou o olhar de Scorpius – Um momento memorável antes da decisão, sabe?

- Ei, não faz isso comigo, é você que fala que tudo vai dar certo – Scorpius pediu se aproximando para confortar Rose.

- Você tem razão – Rose sorriu, Scorpius percebeu que os olhos dela estavam úmidos.

- Vamos lá, se vamos planejar uma festa temos que animar o momento, não? – ele perguntou e então apontou a varinha para o aparelho de som na sala e uma música animada começou a tocar.

- Você tem razão – Rose disse sorrindo.

- Eu amei ouvir esses sons saindo de sua boca – Scorpius brincou – Deveria perceber isso mais vezes.

- Besta – Rose balançou a cabeça – Mas então, por onde começamos?

- Ah, isso minha mãe me ensinou bem.

E eles foram para mesa começar a planejar o evento. Acompanhado de música, algumas pequenas taças de vinho e muita discussão, o dia começou a tomar forma: seria ali na casa de Rose mesmo, no quintal, iriam chamar família e amigos, da escola de Dimitri também, e Patrick e a avó de Dimitri, concordaram que era o justo e seria um almoço que se estenderia pela parte. O impasse então foi pelas atrações infantis.

- Ele gosta de dinossauros, qual o problema de ter uns de brinquedo encantados por aí? – Rose reclamou.

- Imagina o trabalho em monitorar tudo – Scorpius reclamou – Vão ter outras crianças, o melhor é deixar alguns brinquedos seguros em uma área e deixar as crianças ali e só.

- Crianças saem correndo por aí Scorp.

- Eu sei, só não acho que precisa ser…

- Shh, espera – Rose o silenciou colocando seu dedo na frente dos lábios de Scorpius – Essa é minha música favorita – ela sorriu e fechou os olhos murmurando a música para si enquanto sorria.

Passou uns instantes e Scorpius pingarreu chamando a atenção de Rose, quando ela abriu os olhos viu que ele estava de pé oferecendo a mão para ela, que a aceitou e então ele a puxou levemente para começarem a dançar. A música era lenta então os movimentos da dança deles eram simples e próximos.

A discussão anterior estava esquecida, na verdade tudo externo naquele momento estava esquecido, eram apenas a música, os passos e um casal. Dançaram até a última nota da música e então se olharam, ficaram em um transe de olhares até que Scorpius subiu a mão para a bochecha de Rose, ela por sua vez fechou os olhos nesse contato e se aproximou mais dele que então a beijou.

O beijo que começou singelo logo se intensificou, ambos sedentos por mais. No meio dele perceberam que estavam na ponta da cama de Rose, Scorpius parou então um momento e a olhou.

- Você tem certeza? – ele perguntou esbaforido.

- Completamente – ela respondeu e o puxou para si novamente.