O sol tinha nascido há pouco na casa em que Rose e Scorpius moravam, ambos dormiam na cama de Rose, entretanto foram despertados pela campainha.

Assim que acordou, Rose arregalou os olhos lembrando da noite anterior e do que havia feito. "Você é uma idiota, Rose Weasley" foi o que ela pensou para si.

Scorpius acordou sorrindo, não havia tido uma noite de sono boa como aquela há tempos, então tudo sobre a noite anterior voltou e ele virou para o lado com receio, Rose percebeu seu olhar com uma cara aflita.

- Ontem nós… – Scorpius começou a falar com a voz rouca, mas foi interrompido pela campainha soando novamente.

- Já falamos sobre, tem alguém na porta – Rose respondeu com o rosto queimando notando naquele momento sua nudez.

Achou uma camisa grande no chão, provavelmente de Scorpius, e se vestiu com ela mesmo. No mesmo momento Scorpius colocava sua calça.

- Você vai assim? – Scorpius perguntou a olhando.

- Pare de encher – Rose retrucou ficando mais vermelha – Não deve ser nada, está tão cedo.

Eles então seguiram para a sala, ainda despertando enquanto a campainha continuava a soar, Scorpius estava a frente com Rose logo atrás.

- Olá, bom dia, eu sei que combinamos de eu o levar direto para a escola, mas eu precisava da mochila... – Astoria estava a porta e começou a se explicar assim que essa se abriu, mas parou aos poucos realmente percebendo como o casal estava.

- Bom dia, certo, vou buscá-la – Rose disse meio atrapalhada e seguindo para o quarto de Dimitri.

- Olá mãe, olá Dimi – Scorpius cumprimentou sem graça, e olhou melhor para a criança – Ele está com uma roupa nova?

- Ah, está sim – Astória respondeu olhando-o – Comprei umas coisas para ele, nada muito extra.

- Mãe, eu pedi para segurar a animação…

- Segurar até a animação até a decisão do tribunal, eu sei – ela disse olhando para cima – Mas veja pelo meu lado, eu estava sem uma troca limpa e eu acredito muito no sucesso de vocês em ficar com ele.

- Mãe, isso não é prudente – Scorpius repreendeu

- Bem, agora já foi – Astória deu de ombros – E pelo que estou vendo, vocês até aproveitaram o tempo sem ele.

- Mãe, por favor – Scorpius pediu corando.

- Estou falando o que vejo – Astória deu de ombros – E não tem crime nenhum.

- Aqui está – Rose disse chegando com a mochila de Dimitri – Eu peguei uma banana para o intervalo, ok – ela disse se abaixando para falar com a criança que afirmou com a cabeça, ela sorriu e deu um beijo em sua testa antes de se levantar.

- Ótimo, obrigada Rose – Astória agradeceu pegando a mochila – Vamos indo então, vocês buscam ele depois, certo?

- Sim, volta tudo ao normal – Scorpius garantiu.

- Certo, podem voltar à vida a dois – Astória piscou e pegou a mão de Dimitri para levar o menino deixando Rose e Scorpius envergonhados para trás.

- Então ontem a noite aconteceu – Scorpius foi o primeiro a falar depois da porta ser fechada.

- Sim – Rose disse e um silêncio constrangedor se instaurou – Parece que não conseguimos ficar muito tempo sem complicar as coisas, certo?

- Sem dúvidas – Scorpius disse rindo um pouco e então voltando a ficar sério para enfrentar a conversa – Ontem...

- Ontem teve muito vinho – Rose interrompeu – Muito sentimentos, muita dança e muita proximidade – Scorpius levantou uma sobrancelha para a mulher – Racionalizando dá para entender, estamos na seca há algum tempo, o vinho, a música, as condições estavam muito favoráveis e sugestivas.

- As condições? – Scorpius questionou.

- Sim – Rose disse, estava com os olhos brilhando como se estivesse encontrado a resposta que queria – Você me chamou para dançar minha música favorita, foi provocativo.

- Você me acha provocativo?

- Já passamos por isso, mas se quer saber, sim você é provocante Scorpius – Rose disse revirando os olhos – Pois isso…

- Você também é – Scorpius disse e Rose o olhou perdendo sua linha de pensamento.

- Enfim – Rose disse vermelha depois de balançar a cabeça – O que aconteceu foi um produto da situação em que estávamos.

- Pelo que entendi, a situação de você estar atraída por mim e eu por você.

- Sim, por causa da seca, da atmosfera e do vinho – Rose completou.

- Bem pensado – Scorpius afirmou com a cabeça – Mas isso não explica por que ainda quero beijar você hoje.

Rose arregalou os olhos olhando Scorpius que a olhava desafiador. Rose abriu e fechou a boca algumas vezes em busca do que responder aquela afirmação.

- Scorpius, já falamos sobre isso, esse envolvimento romântico é errado.

- Sim, mas parece que não conseguimos deixar as mãos longe um do outro por muito tempo – Rose soltou um muxoxo de contrariedade – E algo que é tão bom não pode ser tão errado, certo?

- Essa atração é provavelmente por estarmos passando tanto tempo juntos – Rose voltou a racionalizar – Podemos estar confundindo essa atração no meio da nossa amizade, ou vai me falar que está apaixonado por mim? Me amando talvez?

Scorpius não havia pensado nisso, ele com certeza se sentia atraído por ela e a admirava muito, mas amor? Paixão? Não tinha certeza se o que sentia podia ser rotulado por palavras tão fortes.

- Eu não sei – Scorpius respondeu abaixando a cabeça.

- É esse o problema – Rose disse e pegou a mão dele – Gostaria de focar na adoção do Dimitri que tanto eu quanto você temos 100% de certeza que temos que ganhar e depois pensamos em outras coisas, beleza?

- Pode ser – Scorpius disse tentando fazer sentido no turbilhão de emoções que sentia – Quando a vida ficou tão complicada?

- Sinceramente não sei – Rose disse com um sorriso singelo.

- Mas fico feliz de estar passando essa confusão com você – Scorpius disse e a abraçou.

- Não escolheria outro alguém também – Rose sorriu no abraço e então o alarme de Scorpius tocou – Turno de 12 horas hoje?

- Infelizmente sim – Scorpius disse e se afastaram – Temos um tempo, hoje não tem que levar o Dimi.

- Não sei você, mas vou usar esse tempo para começar o dia com mais calma – Rose disse se espreguiçando e seguindo para seu quarto.

Cada um, então, seguiu seu caminho naquela manhã, ambos confusos e incertos com a situação em que estavam, com o que estavam sentindo e com o que o futuro teria guardado para eles.

...

O dia da reunião de pais chegou e logo no final da tarde Rose e Scorpius já se encontravam na sala de aula de Dimitri para ouvir sobre o desempenho dos alunos e das próximas atividades importantes junto com os outros pais, após esse anuncio geral a professora chamaria cada um para falar mais sobre a criança.

- Bom, como eu não canso de falar, o Dimitri é um menino ótimo – ela sorriu pegando uma pasta de atividades de Dimitri – Ele parece estar sempre atento nas aulas, é gentil com os colegas e entrega todas as tarefas sem falta.

- Isso é muito bom – Scorpius sorriu.

- Sem dúvidas – ela concordou e começou a folhear nas pastas – Mas algo curioso que gostaria de mostrar a vocês são os desenhos que ele tem feito em aula – ela disse e pegou algumas folhas e começou a expô-las na mesa – Como sabem, já me foi passado o suficiente sobre o passado dele e acredito que já esteja sendo acompanhado, certo?

- Sim, ele passa por um terapeuta toda semana – Rose respondeu.

- Ótimo – a professora continuou – E é um palpite, mas creio que esteja funcionando, olhem os desenhos, estão do antigo para o mais novo.

O casal então fez o pedido, nos primeiros haviam muitas cores frias e traços brutos quase sempre verdes com algumas sombras, os mais recentes no entanto já tinham tonalidades mais brandas e em quase todos haviam pessoas e sempre com um casal moreno em algum lugar da ilustração, Rose e Scorpius os reconheceram como os pais de Dimitri.

- Como podem ver ele já mudou o foco do acidente para seu dia a dia e as novas pessoas ao seu redor – ela sorriu.

- Fico muito feliz – Scorpius sorriu – Espero que cada vez fiquem mais leves.

- Sim e é muito interessante que mesmo sem a fala ele consiga se expressar tão bem pelos desenhos – a professora apontou – Muita engenhosidade do menino.

- Inteligente como os pais – Rose conectou.

- Sem dúvidas, você trabalha com livros, certo?

- Sim – Rose estranhou a pergunta, mas então percebeu – Ah, não, eu não me referia a nós, não que sejamos burros, mas os pais biológicos dele eram pesquisadores, me referia a eles.

- Ah sim, desculpe-me pela confusão – a professora corou – Claro, é que ele é tão apegado a vocês que até esqueço da adoção.

- Sem problemas – Scorpius garantiu.

- Pois bem, esse é o resumo, ele se adaptou bem a nossa rotina, já parece enturmado e esperto nas atividades.

- Certo, obrigada professora e ficamos a disposição – Scorpius disse se levantando, se despedindo com Rose e então seguindo com ela pelo corredor – Acha que há algo mais que possamos fazer para ele se desenvolver melhor? Digo, sei que ainda é pouco tempo para ser preocupante, segundo a terapeuta, mas… Você está me ouvindo? – Scorpius disse vendo a falta de reação dela – Alô? Rose?

- O que dizia? – Rose respondeu balançando a cabeça.

- Melhor, o que você pensava?

- Nada não, devaneios da minha cabeça – Rose desconversou, mas ele continuou olhando-a com uma sobrancelha levantada – É sério, não é nada, o que você estava falando?

- Bom, estava falando se acha que podemos fazer algo para acelerar a melhora de Dimitri.

- Ele vai melhorar no ritmo dele Scorpius, quando estiver pronto, não tem como apressarmos isso, é no tempo dele, não no nosso – Rose assegurou sorrindo para ele.

- Eu sei o que o terapeuta disse, Rose.

- Então, é bom ouvi-lo que ele sabe bem melhor sobre que eu e você – Rose piscou para o homem e então chegaram ao parque da escola onde as crianças brincavam enquanto esperavam os pais.

- Onde ele está? – Scorpius perguntou não o vendo.

- Procurando – Rose disse olhando em volta – Oh não – Rose disse e então saiu andando para o canto onde havia uma árvore com um balanço.

Scorpius a seguiu procurando o que podia estar errado e então viu que Dimitri estava entre os galhos, apertou o passo.

- Dimitri – Rose chamou alto, o menino a olhou com os olhos arregalados – O que faz aí em cima?

- Ele foi pegar nossa bola que ficou presa na árvore – uma menina aparentemente da idade do menino disse mostrando uma bola laranja em sua mão.

- Mas ali é muito alto, pode ser perigoso – Scorpius disse olhando o menino que começava seu caminho de descida.

- Ele que decidiu subir – a menina se defendeu.

- Entendo – Scorpius respondeu balançando a cabeça.

- Por que não chamaram algum adulto? – Rose perguntou.

- Não sei – a menina respondeu envergonhada.

- Certo, pode ir brincar, cuidamos dele agora – Rose a dispensou amigavelmente.

- Obrigada senhora mãe do Dimitri – ela respondeu e seguiu para sua brincadeira.

- Pode me chamar de senhorita We… pode me chamar de Rose – ela respondeu depois de uns instantes muda e então viu Dimitri pulando em Scorpius – Scorpius!

- O quê? – Scorpius perguntou com o menino no colo.

- Não faça o menino pular assim.

- Ele está bem, são e salvo – Scorpius disse e o menino sorriu, mas então fez uma cara de dor – O que foi? – relutante, Dimitri mostrou as mão raladas de subir na árvore.

- Salvo, hum? – Rose levantou as sobrancelhas.

- É só lavar, foi um raladinho de nada – Scorpius desmereceu.

- Certo, mas você poderia ter se machucado mais Dimi – Rose recriminou o menino – Imagina se tivesse caído e quebrado algo?

- Sim, quando acontecer algo assim chame as professoras, certo? – Dimitri afirmou com uma expressão de culpa – Certo então.

- Ótimo, agora vamos lavar antes que infeccione ou algo assim – Rose disse e o guiou para uma torneira na parede do prédio.

Dimitri lavou as mãos e sorriu quando a dor aliviou, a supervisora que olhava as crianças se aproximou deles e ao entender a situação se desculpou pela desatenção ao menino na árvore, o casal relevou pois o lugar estava cheio de crianças e olhar todas realmente devia ser um trabalho difícil.

Assim, seguiram a noite como nos outros dias, em casa com tranquilidade. Dimitri já ressonava depois de uma longa história de ninar quando Scorpius resolveu tocar no assunto que de tempos em tempos voltava a sua mente.

- Rose – Scorpius chamou de seu lugar no sofá.

- Diga – Rose disse ainda concentrada no feitiço que realizava para organizar os brinquedos de Dimitri.

- Queria só lembrar que o que falamos ainda está de pé, estou aqui se quiser conversar.

- Não entendi – Rose levantou a sobrancelha dividindo sua atenção.

- Sobre seus "monstros", se não me engano foi esse o termo que falou quando se referem a sua relação com Dimitri – os brinquedos arrumados tremeram no ar e ela se apressou em sua tarefa.

- Está imaginando coisas.

- Eu não estou, sei que te incomoda, só queria saber exatamente o quê – Scorpius explicou e continuou calmo – Sei que pediu seu tempo, então só para lembrar.

Rose respirou fundo e sentou no sofá também, de lado, olhando-o nos olhos.

- Você quer saber mesmo? – Rose deixou uma lágrima escorrer.

- Sim, mas apenas se realmente quiser falar algo – Scorpius respondeu incerto, ela sorriu leve e respirou fundo desviando o olhar por um instante.

- Eu não posso ter filhos, Scorpius – Rose respondeu diretamente – Descobri algum tempo depois da formatura de Hogwarts, fiquei deprimida, conheci um cara, noivei, ele terminou comigo por isso, fiquei duplamente deprimida, cai nessa situação com você, apareceu o Dimitri para me dar um gosto do que não posso ter e sinto que logo mais vou ficar triplamente deprimida, e isso dói Scorpius – Rose soltou de uma vez, não querendo se alongar na explicação – Constantemente.

- Nossa – Scorpius arregalou os olhos e passou a mão em seus cabelos – É um diagnóstico final? E sinto muito pelo seu relacionamento.

- Sim, já vi alguns médicos, é algo sobre o formato do meu útero – Rose explicou por cima – E agora tudo bem sobre o noivado, só foi um momento difícil eu já tinha falado disso para ele, mas ele só foi compreender significado de "não ter filhos" depois de ter pedido minha mão, pelo menos foi antes de marcarmos a cerimônia e ter todo o drama.

- Que pesado – Scorpius disse com pesar – Mas com o Dimi, o que é exatamente?

- Não é uma dor exatamente física – e então Rose tentou explicar – Acontece que cada momento que alguém fala do "meu filho" ou de como eu sou "mãe" parece uma forma do mundo tirar com a minha cara.

- E eu que forcei isso a você – Scorpius arregalou os olhos se soltando em seu lugar – Eu sou uma pessoa horrível.

- Pare de falar bobagens – Rose sorriu fracamente para ele – Sou bem grandinha para saber que fui eu que aceitei o papel, se estou assim agora, é minha culpa – ela disse e olhou para suas mãos que torciam sua varinha sem ela ter notado, ela a colocou de lado antes que a quebrasse – E que veja bem, o Dimitri é um encanto, tão carinhoso e com tantos problemas que você só quer o segurar em seus braços e proteger de tudo – Rose o olhou – A culpa é minha se me apeguei mais do que deveria.

- Não diga isso, Rose.

- Mas é verdade, desde que soube da minha condição, eu raciocine comigo mesmo que eu não seria mãe, minha sina, aceitei isso – ela disse mais para si mesma – E aqui estou eu: sofrendo por acreditar inconscientemente na própria mentira que eu criei – ela disse melancólica – Mãe Rose – ela continuou com sarcasmo.

- Não fale assim – Scorpius pediu novamente e então teve uma ideia – Pois se se sente tão mal assim, pare de mentir.

- Como? – Rose torceu as sobrancelhas – Quer que eu saia por aí explicando essa bagunça para todos e dissolvendo tudo? Meio tarde para isso.

- Não, para de mentir e seja a mãe dele.

- Não está falando nada com nada.

- Escute-me bem, Rose Weasley – Scorpius pediu e pegou as mãos da mulher nas suas – Eu sinto muito pelo que passou e vejo seu receio, mas, se me permitir, quero te oferecer o papel que já é seu, de ser a figura materna de Dimitri.

- Scorpius, não brinque…

- Não estou brincando, se tivermos sucesso, não é só meu nome que estará na adoção, mas o seu também então não importa o que aconteça comigo, com você ou conosco, ele vai ser seu filho no papel – Scorpius explicou – E, se quiser, ele pode também ser seu na vida também, como eu vejo que já é.

- Scorpius é cruel alimentar esse desejo tolo, já te expliquei que eu entendo tudo, só dói as vezes, é só – Rose pediu cética.

- Rose, você salvou a vida dele – ele lembrou – Trouxe ele para Londres, supervisionou para que o caso fosse bem cuidado enquanto eu só dormia – e ele continuou quando ela fez menção de o interromper – Você cuida dele em todo o momento, no dia a dia, quando tenho plantões, lembra de seus medos e preferências, consegue lidar com sua dificuldade, é até mais responsável que eu em alguns momentos – ele disse sorrindo – Qualquer pessoa com olhos vê o quanto você já ama o garoto.

- Como não? – Rose disse sorrindo de leve, mas então balançou a cabeça – Não, mas nossa situação é muito complicada, como...

- Rose eu lhe prometo que, se quiser isso, eu nunca vou apresentar outra como mãe dele, não importa o que aconteça – Scorpius assegurou – Esse lugar é seu e eu nem tenho o que nomear ou tirar na verdade, é entre você e ele, hoje e para sempre.

Rose ficou muda, milhões de pensamentos passavam por sua mente assim como milhões de emoções a assolavam. Era uma oferta que nunca esperou receber de um espaço que há anos tinha desistido de ocupar.

Ficaram um tempo em silêncio, Rose digerindo a proposta e Scorpius respeitando seu momento.

- Você está falando sério? – Rose perguntou enfim.

- Extremamente sério – Scorpius assegurou – E é isso, a única coisa que pode impedir você de ser a mãe de Dimitri é uma derrota no tribunal, se isso não ocorrer ele será meu e seu filho por completo – Scorpius disse a olhando diretamente sem desvios – Isso é, se for isso que quiser.

- Eu? Mãe de verdade? – Rose perguntou com os olhos marejados.

- Nada diferente do que já vejo acontecendo hoje em dia – Scorpius sorriu para ela, seus olhos úmidos também, ela o abraçou – E Rose, você já é uma mãe de verdade – Scorpius disse no abraço.

- Eu não tenho nem palavras para agradecer esse gesto.

- E não precisa, pois eu que sou grato, o que você já fez para eu conseguir a chance de pedir a guarda, depois o tratando com o maior carinho do mundo – Scorpius lembrou – Sei que não falo muito, mas você é incrível.

- Igualmente, Scorp, igualmente – ela disse e então desfizeram o abraço, mas continuaram próximos no sofá.

- Acha que Dimitri preferiria ficar conosco ou com a avó dele? – Rose sorriu levemente com a pergunta do loiro, sempre achou divertido como externamente ele tinha uma confiança invejável, mas que sumia nesses momentos mais íntimos.

- Repito, para mim você é a melhor opção para ele.

- Não apenas eu, certo? – Rose o olhou confusa – Nós dois agora temos que ser a melhor opção para ele.

…..

O dia do casamento de Albus e Violet estava bem agradável, parecia que ele havia sido feito para a celebração. O casal havia decidido casar em uma propriedade mais afastada de Londres que cujas maiores atrações eram o jardim extenso e muito bem cuidado e o castelo que continha os quartos de quem iria dormir ali e os salões onde se teriam as cerimônias e festas.

Scorpius e Rose se encontravam na categoria de quem iria dormir ali, então chegaram com algumas malas. Comentaram entre si como tudo estava bonito e calmo, o que mudou quando entraram onde tudo estava agitado.

Várias pessoas de uniformes iam e viam e geralmente acompanhados de decorações voando consigo e, no meio de tudo, James, o padrinho principal e organizador geral do evento parecia ocupado olhando tudo e falando com pessoas. Rose resolveu ir cumprimentar, Scorpius achou melhor não interromper nada e levou Dimitri e as malas pela escadaria em busca de onde seria o quarto deles.

- Como assim as flores vão atrasar? O casamento é em 5 horas e preciso delas aqui o quanto antes – James estava exasperado falando com um funcionário – Faça as flores com sua varinha se precisar, mas elas precisam estar aqui perfeitas e em 3 horas, você me entendeu? – a pessoa afirmou com a cabeça e se retirou.

- Nesse casamento então não terá uma "noivazilla", mas sim um "padrinhozilla" pelo que vejo – ela disse chamando a atenção, James abriu um sorriso.

- Rosinha! – ele então se aproximou para abraçá-la, a caneta acoplada na prancheta na mão do moreno a espetou, mas ela suprimiu para não estressá-lo mais ainda – Digo uma coisa, entendo agora porque você casou na calada da noite, acho que estou cultivando meus primeiros cabelos brancos neste momento – Rose riu.

- Ah, sei que é complexo, mas deve estar fazendo um bom trabalho, esse lugar é incrível – Rose sorriu.

- É, eu sei, eu que insisti nesse dentre as opções que eles levantaram – James explicou – Aqueles dois estariam perdidos sem mim.

- Acertou em cheio – Rose sorriu e então reparou mais na prancheta – E olhe só, quase tudo checado!

- Sim, estamos nos últimos detalhes, os mais desafiadores que ficam sempre dando errado – ele reclamou – O que é aquilo? – ele reclamou e então saiu andando para algum lugar atrás de Rose – O que esse bolo está fazendo aqui? Eu especificamente pedi para trazer em 4 horas, eu quero um bolo sólido, não uma sopa de bolo.

Rose sentiu que essa era a deixa para ir buscar seu caminho, era uma das damas de honra, tinha que encontrar logo seu lugar antes que se atrasasse e ficasse na mira de seu primo. Uma vez no andar de cima, não foi difícil se encontrar, ali já havia uma placa com os dizeres "noiva" e uma seta para a direita e outra ao lado com "noivo" e a seta para a esquerda.

Foi primeiro para a direita ver como sua amiga estava primeiro, afinal sabia que ao chegarem na área do noivo, só sairia pronta para o casamento. Na ala encontrou uma porta promissora toda enfeitada para a ocasião, bateu nela e esperou.

- Rose, olá! – a mãe de Violet abriu a porta – Como vai?

- Vou bem! E como estão por ai?

- Estamos bem também – ela sorriu – Tudo nos trilhos para mais tarde?

- Acabei de chegar, mas pelo que acompanhei estão com o melhor na supervisão.

- O Potter mais velho, sim, ele está bem empenhado – ela sorriu – Melhor até ficar longe.

- Quem é mãe? – Rose ouviu Violet e logo a porta se abriu um pouco mais para revelar a amiga, ela abraçou Rose fortemente e a ruiva percebeu que ela tremia – Rose, como está?

- Estou bem, mas o que importa é você hoje – ela disse e pegou as mãos da amiga, a mãe de Violet às deixou a sós – E pelo que vejo, o nervosismo está levando a melhor.

- Acho que não tem como não estar né? – ela perguntou retoricamente – Nem acredito que hoje chegou.

- Você e eu também. Demorou, mas chegou – Rose disse sorrindo – E vai ser tudo perfeito, vai ver.

- Eu sei, mas creio que não vou acreditar até acontecer – as duas sorriram.

- Verá por si só, logo – Rose sorriu – Agora melhor eu ir indo me arrumar, creio que meu lado é o do noivo, certo?

- Sangue ainda fala mais alto – Violet sorriu e elas se abraçaram uma última vez antes de Rose seguir seu caminho para a ala direita do local.

Como a outra porta, a porta do noivo também estava decorada, Rose sorriu e bateu nela.

- Irmanzona! – Hugo a cumprimentou após abrir a porta.

- Olá maninho, como estamos por aqui? – Rose perguntou o abraçando.

- Sem problemas – Hugo sorriu abrindo espaço para ela entrar.

A sala era ampla, mas estava lotada, ao entrar ouviu uma chuva de "Oi Rosinha" de seus primos, primas, tias e tios pareciam estar todos ali juntos com outros amigos de Albus, incluindo Daniel. A arrumação de cada um parecia ter começado, mas timidamente.

- Mais calmo que lá embaixo pelo menos está – Rose sorriu.

- Passou por James então – quem falou foi Lily – ele está pagando por todas as roubadas que já meteu Albus se me perguntar.

- Não fale assim dele, foi bem legal ele se oferecer para supervisionar tudo – Albus se intrometeu quando foi abraçar a prima recém chegada.

- Você sempre foi muito trouxa para notar as intenções malignas dele – a caçula falou.

- E você sempre foi igual a ele, se ele é maligno, você também é – Albus levantou a sobrancelha.

- Opa opa que eu não te ofendi, eu não sou nada igual aquele lá – Lily reclamou, os outros três na conversa se olharam divertidos – Não mesmo – ela bufou e se retirou, os outros riram.

- Vou atrás dela antes que ela quebre algo – Hugo se retirou também.

- Meu amigo e primo noivo, como estão os ânimos?

- Creio que, no geral, bem. Minhas mãos estão suando? Sim. Sinto que vou ter um ataque a qualquer minuto? Também – Albus desabafou – Mas o importante é o pensamento positivo que tudo vai dar certo, não?

- Albus, você não precisa de pensamento positivo – ela o olhou nos olhos – Olha a quantidade de pessoas que te ama só nesse quarto, ninguém vai permitir que nada dê errado – ambos sorriram um para o outro – Violet vai casar nem que seja em uma jaula, forçada – Albus levantou as sobrancelhas – Mas tenho certeza que esse não vai ser o caso.

- Essa minha família é terrível – os dois riram.

- Daniel parece estar se entrosando bem – Rose disse observando o homem conversando e sorrindo com Louis e Fred.

- Poderíamos deixar Daniel com uma pedra que depois de 30 minutos ele já está quase virando padrinho do inexistente filho dela – os dois riram entre si de novo, nisso alguém bateu a porta novamente, ao abrir viram Scorpius com Dimitri.

- É aqui que nos aprontamos? Podemos nos arrumar no quarto, ele é bem legal – Scorpius perguntou olhando um pouco acanhado pela quantidade de pessoas.

- Você é "praticamente" família, Scorpius – Albus disse fazendo aspas no ar – É junto com a gangue mesmo.

- Bom, então beleza – Scorpius disse soltando Dimitri para se enturmar com os conhecidos da sala.

Uma tradição nos casamentos bruxos era a família próxima se aprontar em um mesmo ambiente, era acreditado que essa comunhão era importante para se despedir e encorajar o noivo ou noiva em questão. A sala tinha diversas portas que levavam a salinhas menores para se trocar de roupa, mas fora isso todos se arrumariam na sala principal que continha diversos sofás para a socialização e penteadeiras para os toques mais específicos como maquiagem.

Era um momento que Rose gostava muito, às vezes o pessoal cantava músicas antigas para animar os espíritos de Albus ou tirar uma com sua cara, era um momento de muita felicidade. Mas com o avançar das horas as pessoas começaram a se despedir de Albus e sua comitiva, padrinhos e madrinhas, com votos de felicidades. Scorpius se foi também com Dimitri, deixando Rose que era uma das madrinhas.

A cerimônia que se seguiu foi impecável, casaram em um salão mais à direita da propriedade em que atrás do altar havia uma parede de vidro com vista para o jardim e o fim da tarde. Albus entrou acompanhado de seus pais e então os padrinhos e madrinha entraram, então um pequeno primo de Violet com os anéis e Anne com flores anunciando a chegada da noiva.

Violet entrou com os pais também e ela estava estonteante, parecia brilhar e flutuar em seu caminho para o altar. Uma vez lá o oficial começou seu discurso sobre amor e casamento apontando como aquelas alianças significavam não apenas o amor entre os dois, mas além: a união, o compromisso de estar junto e o cuidado entre si e sobre qualquer fruto que fosse gerado.

Rose olhou para sua aliança, será que a dela tinha o mesmo significado? Em poucos meses o que deveria ser apenas três meses iria fazer aniversário e isso não incomodava Rose de modo algum como ela esperaria. Estaria ela tão perdida em suas mentiras que não sabia mais o que era verdade e o que era ilusão? Rose olhou para Scorpius, ele retribuía o olhar.

A mente de Scorpius estava no mesmo caminho, ouvindo as palavras do oficial e refletindo sobre si. O que mais o inquietava é como aquele discurso era familiar para sua situação: união, compromisso e cuidado, isso tudo sentia que vivia dia a dia ao lado de Rose. Eles construíram essas virtudes naturalmente, sem ninguém forçar, sem ninguém apontar.

Era algo muito recente? Sim. Era sólido? Só o tempo diria. Mas será que teriam tempo para descobrir isso, até onde aquele casamento aguentaria? O negócio é que a primeira parte era sobre amor e isso era parte complicada, ele olhou para Rose e em instantes ela o olhou também.

Mas um brilho ofuscante os tirou do transe, Albus e Violet haviam trocado alianças e agora se beijavam finalizando a cerimônia.

…..

A festa a noite seguiu animada, o espaço era amplo e estava muito bem decorado e iluminado. A noite havia começado com discursos emocionantes e embaraçosos dos familiares e amigos próximos. Rose e Scorpius estavam sentados junto com seus amigos e se divertiam muito com a conversa e então Albus e Violet se aproximaram da mesa fazendo todos levantarem.

- O casal do momento! – Daniel cumprimentou, sorridente.

- Tudo está esplêndido, parabéns – Dominique sorriu com os olhos marejando.

- Ela chorou a cerimônia inteira – Daniel debochou e a mulher bateu levemente em seu braço.

- Vocês dois andam muito próximos, não? – Albus os olhou desconfiado.

- Jane estava lá também, mas chorou menos – Daniel deu de ombros.

- Não sei o que ele está falando, os olhos dele não estavam secos de forma alguma – Jane debochou de volta – E como poderiam? Realmente foi lindo.

- Muito obrigada pessoal, ficamos muito felizes que vieram – Violet estava emocionada.

- Não perderíamos por nada – Rose sorriu gentil – Parabéns!

- Realmente é uma festa incrível pessoal, meus votos de felicidade eterna – Scorpius sorriu e pegou Dimitri – E claro, do Dimi também.

- Que bom que essa coisa fofa veio – Violet sorriu e pegou o menino de Scorpius para abraçá-lo – Por falar nele, como estão as coisas?

- Ainda estou montando o caso deles, mas ele está bem sólido – Daniel respondeu – Digo, longe do meu ramo de expertise, mas tenho um bom sentimento.

- Nada do que te peço é do seu ramo, o que faz exatamente Daniel? – Scorpius perguntou e o grupo riu.

- Eu trabalho no Departamento de Execução das Leis da Magia Scorp, o que acha que é minha área? – ele perguntou olhando o amigo.

- Enfim, estamos nos preparando – Rose afirmou e o grupo ficou desanimado – Mas hoje ele ainda está conosco e está curtindo muito esse lugar maravilhoso.

- E assim vai continuar – Jane disse confiante e os amigos apoiaram.

- Isso – Scorpius sorriu.

- Então cuidem bem do pequeno, fiquei muito feliz que ele apareceu na sessão de fotos – Violet apertou a criança um pouco mais e então a soltou.

Algumas horas antes, logo depois da cerimônia houve a sessão de fotos dos noivos e em algumas com as madrinhas Dimitri também apareceu seguindo Rose.

- Ah, me desculpe de novo sobre essa, Dimi estava realmente sentindo falta da mãe – Scorpius pediu e Rose se espantou com a fala, mas aceitou feliz pegando a mão do loiro discretamente que sorriu.

- De novo também: não precisa, foi ótimo – Violet assegurou.

- E sobre a situação de vocês?

- E a situação de vocês dois, qual o novo plano mesmo? – Albus perguntou.

- A mesma até resolver a guarda de Dimi – Rose respondeu sem hesitação.

- Maio então? – Daniel perguntou

- Acho que faz sentido, espero já termos passado por tudo – Rose tomou a palavra de novo.

Daniel deu um soco no ar de vitória, os outros fizeram careta para ele enquanto Rose os olhava com a expressão confusa e Scorpius seguia estranhamente pensativo.

- Enfim, infelizmente vamos ter que ir indo – Albus disse antes que Rose perguntasse algo – De quem foi a ideia de convidar esse monte de gente?

- Você aprovou a lista – Violet deu de ombros – Até mais então pessoal, aproveitem a festa e os salgadinhos, todos são ótimos.

O grupo então se despediu dos noivos, falaram mais um tempo entre si e então Dominique decidiu ir falar com seus pais e irmãos e Daniel chamou Jane para a pista de dança.

- Linda cerimônia – Rose comentou.

- De fato – Scorpius então soltou uma risada – Bem melhor do que a nossa pelo menos.

- Estrondosamente melhor – Rose sorriu – Se for ver, o nosso nem valeu.

- Se não tivesse valido ia ser todo um problema a menos – Scorpius sorriu.

- Nem me fale – Rose confirmou e então Dimitri chamou sua atenção tentando subir sozinho em uma cadeira – Mas teve seus momentos bons.

- Isso teve sim – Scorpius sorriu – Conhecer o Egito foi uns dos pontos altos.

- Andar de tapete voador – Rose lembrou – Confesso que achei melhor que andar de vassoura.

- Mais confortável definitivamente foi – Scorpius levantou a sobrancelha, Rose ajudou Dimitri a subir – Você quer dançar?

- Claro – e ela olhou em volta – Hugo parece que não está fazendo nada, vamos deixar Dimi com ele.

Rose e Scorpius dançaram umas 3 músicas juntos se divertindo muito na companhia um do outro e praticamente esquecendo do mundo ao redor. No final da terceira estavam já sem ar, então decidiram ir ao jardim para respirar um ar refrescante. Lá, desceram uma escada para um belo chafariz sentaram-se no banco em frente a fonte.

- Essa noite está linda – Rose sorriu olhando para cima.

- Não só a noite – Scorpius disse a encarando com um sorriso de lado.

- Para Scorp – Rose disse sentindo suas bochechas esquentarem.

- É a verdade – Scorpius deu de ombros.

- Bom, se esse é o caso, você também está muito bonito – Rose sorriu sustentando o olhar do loiro.

- Você acha? – Scorpius perguntou divertido.

- Você tem uma coisa de ficar me perguntando isso, não? – Rose disse revirando os olhos – Mas para o bem da sua auto estima, sim, você fica bem arrumadinho.

- Só arrumadinho?

- E essa resposta já foi respondida diversas vezes – Rose então lembrou – Acho que em um momento até ganhou um concurso de beleza numa piscina.

- Foi de dança – Scorpius fez uma careta, Rose levantou uma sobrancelha – E estamos nostálgicos hoje, não?

- Esse último ano pareceu durar uma vida – Rose riu consigo.

- Nem me fale – Scorpius sorriu.

Passaram um tempo conversando amenidades e então Hugo apareceu chamando Rose para conversarem, Rose se despediu de Scorpius e seguiu com seu irmão.

Scorpius tomou esse momento para refletir. Estar em um casamento de verdade o fez pensar sobre o seu próprio. Ainda era estranho pensar que estava casado, mas ao mesmo tempo se sentia tão confortável nessa posição que o assustava.

Mas não era apenas sobre ser um marido, mas ser o marido de Rose. Era confortável para ele ser o marido de Rose Weasley. Ela era uma mulher linda, gentil, companheira, carinhosa e o desafiava constantemente, nunca deixando a rotina ficar monótona.

Mas não era só disso que um casamento deveria ser baseado, certo? Tinha uma coisa anterior…

Scorpius suspirou. Ele se pegava pensando nela em diversos momentos soltos ultimamente. Desde o início desse "casamento" ele e Rose tinham se aproximado cada vez mais e não só porque moravam juntos, a amizade entre eles estava bem mais forte. Mas Scorpius sabia que ele sentia algo diferente, algo mais forte. Um sentimento aconchegante e caloroso que fazia seu coração bater mais forte sempre que ele a via. Uma sensação de felicidade que se fazia presente sempre que ela estava no mesmo local que ele. O que ele sentia é o que fazia ele pensar nela frequentemente, fazia ele a achar incrivelmente bela tanto por dentro quanto por fora.

E em seu âmago ele sabia o que era.

Sabia o porquê ele não conseguia encontrar uma casa para si, o porquê em um instante ela conseguia o transformar em um adolescente com os sentimentos a flor da pele, o porquê se identificava com os discurso do oficial mais cedo.

Ele estava apaixonado por sua esposa, Rose Weasley.

...

N/A: Faltam apenas mais dis capítulos (nem acredito que estou acabando O.o)/

Obrigada pelos comentários ptrc, espero que goste desse também.