O dia da festa de aniversário de Dimitri estava bonito, tinham algumas nuvens a mais, mas a promessa de chuva era só para o fim da tarde. Era uma semana antes da audiência sobre o questionamento da custódia, então Scorpius e Rose andavam receosos e pensativos.

Para Scorpius estava mais pesado ainda, pois tivera a realização sobre a profundidade de seus sentimentos por Rose, mas não sabia exatamente o que fazer sobre isso ainda.

Era de fato isso que tomava conta de sua mente enquanto finalizava a coroa de papel que fazia para Dimitri quando Rose se aproximou o assustando levemente.

- Estamos nervosos por aqui? – Rose perguntou com um sorriso.

- Só estava distraído – Scorpius disse com um sorriso que não chegava nos olhos.

- Scorp, eu sei que não tem sido fácil – Rose disse simpatizando com ele – Eu sei que essa é uma festa de aniversário e, talvez, de despedida também – a voz de Rose vacilou por um momento – Mas por um ou por outro vamos comemorar, certo? Hoje é dia de festa!

Ela disse e então o puxou para se levantar com as mãos para cima como se estivesse comemorando. Scorpius então sorriu genuinamente, Dimitri realmente merecia o melhor dele nesse dia.

- Isso aí, loiro! – Rose sorriu vendo o sorriso dele.

- Vou terminar a coroa dele – Scorpius disse abaixando os braços e apontando para a mesa.

- Está ficando muito boa, estarei lá fora se precisar de algo – ela disse e apertou a mão dele e depois partiu.

Scorpius ficou um tempo pensando o quão tolo foi de não perceber seu coração disparando nestes momentos antes. O loiro então balançou a cabeça e voltou a sua tarefa, havia finalizado o projeto a pouco quando a campainha tocou e ele seguiu para atender.

- Onde está o pequeno que está mais velho hoje? – Daniel perguntou assim que a porta abriu – Ah, é só você Scorp? Cadê o Dimi?

- Ele está com os meus pais, vamos fazer uma surpresa – Scorpius explicou e os deixou entrar – Ele vai chegar um pouco antes do horário da festa, quando já estiver tudo pronto.

- Ele vai ficar muito feliz! – Jane disse sorrindo – Oi Scorp.

- Isso me leva para o questionamento, o que fazem aqui tão cedo? – Scorpius levantou uma sobrancelha.

- Viemos para ajudar – Jane respondeu entrando pela porta.

- Ah sim, e onde deixo isso? – Daniel disse dando um passo para o lado e mostrando uma caixa que chegava em sua cintura.

- Daniel, se isso for outro bichinho enorme, eu juro que te des-convido de qualquer outra visita a minha casa – Scorpius disse revirando os olhos.

- Como assim? É um presentinho simples, ele vai gostar, confia em mim – Daniel disse se fazendo de desentendido.

- O problema não é ele não gostar – Scorpius cruzou os braços, mas então suspirou abrindo a passagem para ele passar com o presente – No quintal de trás, tem uma mesa do lado da porta, coloque a monstruosidade lá.

- Você deveria ser mais incisivo em cortar as asinhas dele – Jane disse balançando a cabeça enquanto ele fechava a porta.

- E quando eu consegui isso? – Scorpius perguntou – E quando você conseguiu isso?

- As derrotas da vida – Jane disse e o abraçou rindo.

Os dois então foram abraçados ao quintal ver o que estava acontecendo por lá. Quando chegaram, viram que os enfeites das mesas estavam sendo finalizados por Hermione, Rose conversava com os monitores das atrações como mini pista de vassouras, Daniel já estava engatado em uma conversa com Ronald e Bell descansava em sua caminha que havia sido trazido para perto da mesa de presentes.

- Nossa, achei que seria algo pequeno – Jane disse notando o número de mesas.

- E vai ser pequeno, só família e amigos – Scorpius afirmou – O negócio é que isso já dá mais de 50 pessoas.

- Onde você foi se meter, querido amigo?

- Lembrando que você é uma das cúmplices da situação, então não posso aceitar toda a culpa – Jane revirou os olhos.

- Olá Jane! – Rose se aproximou dos amigos e cumprimentou a morena.

- Rose, está tudo muito lindo – Jane sorriu.

- Obrigada, meus pais estão nos ajudando com as coisas – Rose sorriu – Quem diria que festa de criança é tão complicada – ela riu – Você e Daniel chegaram tão cedo.

- Sim, pensamos em nos oferecer como ajuda para a arrumação de tudo.

- Ótimo – Rose sorriu e então pareceu pensar – Já está praticamente tudo pronto, só minha mãe está dando os toques finais, quer me ajudar trazendo a comida que já está pronta?

- Pode ser, o que precisarem.

- Bom, vou falar com Daniel e ver se Ronald precisa de algo – Scorpius disse meio nervoso.

- Claro – Rose concordou e seguiu com Jane para a casa.

Chegando lá, percebeu que Ronald e Daniel conversavam sobre o Ministério, uma vez que Ronald já havia trabalhado lá e Daniel ainda estava lá. Scorpius percebeu que naquela conversa não se inturmaria muito e então seguiu para falar com Hermione.

- Precisa de algo, Hermione? – Scorpius perguntou.

- Oi Scorpius, não preciso – ela disse abaixando a varinha e se virando para ele – Acho que está tudo pronto agora – ela sorriu.

- Que ótimo, tudo graças a vocês – Scorpius sorriu de volta.

- Foi um prazer participar desse momento, o primeiro nunca esquecemos – ela disse e o chamou para se sentar com ela em uma das mesas – É sério Scorpius, tudo passa muito rápido, ainda parece ontem que conseguia segurar Rose e Hugo nos meus braços e hoje cada um tem sua vida.

- Não posso dizer que sei o que está passando, mas eu acredito em você.

- Oh, desculpe o momento nostálgico de minha parte, Hugo está saindo de casa e ainda estou lidando com isso – ela disse se desculpando.

- Nem precisa falar – Scorpius sorriu gentil – Rose me contou que ele decidiu dar o próximo passo com a namorada, que vão morar juntos e que ele está... como ela falou mesmo – ele disse tentando se lembrar – Ah sim, feliz como um hipogrifo bem alimentado.

- Ele está feliz mesmo – Hermione sorriu – E é isso que podemos esperar, que eles encontrem a felicidade por si só.

- Sem dúvidas.

- E por isso quero agradecer a você – Scorpius a olhou confuso – Rose está tão feliz, quando veio falar conosco sobre o plano da festa estava com um brilho que não via nela a anos, então estou muito agradecida a você.

- Que isso – Scorpius disse ficando rosado – Creio que o nome disso é Dimitri.

- Ah, sim, ele também – Hermione sorriu – Mas o mérito ainda é parte seu.

- Bom, se você diz, de nada – Scorpius sorriu e então uma sombra passou por seus olhos – Só basta torcermos para que a decisão na próxima sessão não acabe com a felicidade dela.

- Por hoje ela não vai – Hermione disse sabiamente e Scorpius sorriu agradecido a ela.

- O pequeno pode chegar a qualquer momento – Scorpius disse notando a hora em seu relógio – Vou lá na sala ver se falta arrumar algo.

- Claro – Hermione disse sorrindo e ele assim foi.

Realmente não demorou muito para Dimitri chegar, e ele ficou deslumbrado com o que tinha sido preparado para ele, ele ficou um tempo correndo entre os lugares do quintal olhando e sorrindo para tudo. Quando sentiu que tinha visto tudo, voltou a Rose e Scorpius com lágrimas nos olhos.

- É para você! – Rose disse com os olhos marejados também o pegando.

- Isso mesmo, pequeno – Scorpius sorriu bagunçando o cabelo do menino.

- Feliz aniversário! – eles disseram juntos e se olharam sorrindo.

- Agora vai lá cumprimentar quem já chegou pois logo chegará mais gente ainda.

Rose limpou as lágrimas do menino e o colocou no chão de volta.

Não tardou muito para os demais convidados chegarem e com eles a animação da festa em si. Rose e Scorpius perceberam que perderam completamente a atenção de Dimitri quando seus amigos da escola e Anne chegaram, dali em diante ele só tinha tempo para brincar com as outras crianças.

Rose e Scorpius assumiram o papel de anfitriões muito bem, se dividindo entre si para falar com todos ali.

Clara chegou já com a festa iniciada e não estava com uma expressão muito amigável, como se estivesse se obrigando a estar ali. Rose e Scorpius a cumprimentaram, mas ela só sorriu quando cumprimentou o neto, depois se sentou em uma mesa mais afastada e ali ficou. Nem todos sabiam exatamente quem ela era, então não foi incomodada.

Isso é, até Patrick chegar pela surdina e desafiadoramente sentar na mesma mesa que ela. Curiosamente, Dimitri reconheceu Patrick e seguiu para cumprimentá-lo sorridente. Rose e Scorpius se olharam surpresos e foram falar com ele.

- E não é que ele reconhece o padrinho – Scorpius sorriu e cumprimentou o homem.

- Estou surpreso como vocês, vi ele poucas vezes – Patrick disse, cumprimentando o menino desajeitadamente.

- Até parece que não sabe que havia diversas fotos sua pela casa deles – Clara resmungou a resposta.

- O curioso é não terem suas então – Patrick alfinetou e a mulher apenas resmungou.

- Hum, foi fácil chegar aqui? – Scorpius perguntou desconfortável com a conversa.

- Não tive problemas, não – ele respondeu sem se abalar com o mau humor da mulher ao seu lado – Mas não vou ficar muito, tenho que terminar uns testes no Instituto.

- Como assim? É domingo! – Rose reclamou – Dimitri gosta de você, fique pelo menos até o bolo – ela disse vendo que eles brincavam de algo batendo as mãos.

- Que é no final da festa? – Patrick perguntou entendendo a pegadinha – Vou ver, mas não prometo nada – ele disse.

- Fique sim, e o que é isso que estão fazendo? – Scorpius perguntou curioso.

- Ah, uma brincadeira que eu e o pai dele brincávamos com ele – ele disse – Se ele conseguir bater na palma da minha mão três vezes, têm direito à vassoura humana – ele disse deixando os outros confusos – Mas não é que você conseguiu?

Ele disse sorrindo olhando para Dimitri, então se levantou, então pegou o menino pela cintura e o levantou até em cima da sua cabeça e de volta para o chão, o menino gargalhou e pediu mais.

- Não, agora vá brincar com seus amigos – ele disse apontando para os brinquedos – Era mais fácil a última vez que fiz isso – ele confessou.

Dimitri ainda estava ali enquanto ele apontava para o outro lado, Rose e Scorpius estavam felizes em saber mais sobre o menino.

- Por que estão perguntando isso de qualquer forma? – Clara perguntou – Querem tirar o Dimitri da família dele mesmo.

- Como a doutora pode ser tão desagradável? – Patrick perguntou e Rose e Scorpius se olharam espantados – Eles estão sendo gentis com a história de Dimitri.

- Você é muito ingênuo garoto – ela disse o fitando mortalmente.

- Certo, vamos levar Dimitri para brincar com os bichinhos – Rose disse puxando o menino da situação – Espero que gostem da festa.

- E bem vindos – Scorpius disse a seguindo para sair do ambiente tenso ali – Temos que ficar de olho antes que eles levantam as varinhas – ele disse a Rose com a voz baixa quando chegaram a uma distância segura.

- Pelos ânimos, isso pode acontecer a qualquer momento – Rose respondeu no mesmo tom soltando Dimitri que já encontrara outra brincadeira em outro canto.

- Temos que ficar alertas – Scorpius se virou de frente para ela, preocupado.

- O que estamos falando de segredinho? – Daniel se aproximou do casal se divertindo.

- Daniel! – Scorpius sorriu formando uma ideia na mente – O homem com a lábia afinadíssima, você faria um favor para seu querido amigo, certo?

- Você quer me meter em furada de novo, Scorpius? – Daniel disse fazendo uma careta.

- Não é nada demais, só preciso que faça um melhor amigo novo – Daniel o olhou confuso, Rose sorriu entendendo o plano – Está vendo aquela mesa?

- Com a velha que quer roubar o pequeno?

- É a avó dele – Rose reprimiu o amigo.

- Sim, está vendo que ela e o cara ao lado estão brigando? – Scorpius apontou – Aquilo pode ser uma bomba relógio, por favor distraia um dos dois?

- Distrair? – Daniel perguntou.

- Sim, fale com ele, fale com ela, mas mantenha os dois longe de discussões, por favor – Scorpius pediu finalmente.

- Poxa, vou perder a festa toda sendo babá? – Daniel reclamou.

- Você gosta de fazer novos contatos, é só pensar que um deles é o contato da festa de hoje – Scorpius disse e juntou as mãos – Por favor.

- Ok então – Rose e Scorpius comemoraram – Mas vou cobrar isso!

- Você é o melhor! – Rose sorriu.

Daniel então seguiu e começou a conversar com Patrick que parecia o mais receptível, entretanto como mesmo com ele ali eles ainda ficavam se alfinetando ele o chamou para a mesa em que ele estava sentando com Jane e Dominique uma vez que Albus e Violet ainda estavam em sua lua de mel e não viriam no evento.

Patrick era uma pessoa muito interessante, com uma vida diferente de todos ali, então a conversa estava agradável, e então descobriram que as meninas e ele torciam pelo mesmo time de quadribol, e a conversa realmente engatou. Daniel sorriu deixando os novos conhecidos e feliz consigo mesmo em se livrar tão facilmente dos serviços de babá.

…..

O dia estava indo bem, Scorpius conversava com sua família quando notou que a pobre Bell estava à mercê das crianças na festa: Dimitri parecia querer mostrar ela para os amigos e então segurava seu pescoço para as outras crianças que passavam a mão onde podiam dela. Rindo de como a cachorra era dócil, Scorpius encerrou a conversa e foi ao salvamento.

Chegando lá pediu para as crianças a soltarem alegando que ela provavelmente estava com fome e ele a levaria para comer em casa, Dimitri apontou que iria junto, mas Scorpius negou falando que ele tinha que aproveitar sua festa de aniversário.

Bell acompanhou Scorpius até a casa com o rabo abanando, feliz de não estar sendo atazanada mais. Ele decidiu colocar a comida para ela na cozinha como de costume e se sentou ao seu lado para descansar um pouco da festa.

Ele sabia que estava evitando Rose um pouco e estava aliviado que ela estava atribuindo esse comportamento à contestação da guarda de Dimitri. Claro que estava estressado com isso, mas quando ela entrava na mesma sala que ele, o estresse de ter entendido o que sentia por ela se fazia mais presente e fugir por enquanto estava mais fácil que a alternativa: encará-la.

- O que vou fazer, Bell? – Scorpius perguntou a cachorra.

- Falando com animais, amigo? – Scorpius ouviu Daniel e levantou o rosto vendo seus dois amigos ali.

- O que fazem aqui? – o loiro estranhou.

- Você está estranho, Scorp – Jane disse se sentando na frente dele.

- É, o que está havendo?

- Como assim pessoal, estou bem – Scorpius disse sorrindo fraco.

- Claro – Jane disse e sentou à frente de Scorpius – Excelente eu diria.

- Você quer enganar quem, babacão? – Daniel perguntou sentando-se ao lado deles também – E eu sei que não é só pelo Dimi, pois já passamos a minha estratégia e você estava bem confiante.

- Sim, isso eu vou me preocupar mais conforme for chegando mais perto.

- Ahá – Jane apontou para o amigo – Tem algo que preocupa você agora e não é a guarda.

- Está tudo nos conformes pessoal, vão aproveitar a festa.

- E porque você não vai também? – Daniel perguntou – Eu tenho certeza que a Bell sabe comer sozinha.

- Será que tenho os amigos mais irritantes do mundo?

- Só estamos preocupados com você, Scorp – Jane disse pegando a mão do amigo – Essas semanas sua cabeça tem estado nas nuvens, isso não é nada legal para enfrentar o desafio que tem pela frente.

- Eu tenho andado distraído mesmo, não?

- Eu diria que você tem andado bem longe, não sei onde, mas longe.

- Vocês notaram então – Scorpius disse passando a mão pelo rosto.

- Claro que notamos, te conhecemos desde os 11 – Daniel disse com a expressão indignada.

- É que eu me meti em uma fria e agora tenho que lidar com isso.

Jane e Daniel se olharam julgando o amigo.

- Ah não, eu não aguento mais suas bobagens! – Daniel disse jogando a cabeça para trás.

- Eu acho que vamos ter que achar uma babá para você – Jane disse olhando firme – Tá complicado cara – ela disse balançando a cabeça.

- Calma que não é assim? – os dois amigos o fitaram ameaçadoramente – Ok, minha vida é meio complicada.

- Você está sendo generoso consigo mesmo – Daniel disse balançando a cabeça – Saudade da época que o sua única falcatrua era a subsistência em ter 2 empregos.

- Ei, nessa época eu estava muito bem – Scorpius reclamou.

- Você mal comia Scorp – Jane lembrou – Tínhamos que praticamente te arrastar para sair com a gente.

- E ainda era melhor que hoje – Daniel relevou, Scorpius cruzou os braços.

- Vocês tão ganhando por hora por essa azucrinação ou está sendo gratuita? – Scorpius perguntou.

- É gratuita mesmo, só aceita que é melhor – Daniel respondeu e então suspirou – Mas fale, o que foi agora?

Scorpius fitou seus amigos indecisos se abria o jogo com eles ou não, mas então lembrou da amizade deles, eles realmente eram parceiros do loiro. Ele tinha certeza que se ele falasse que tinha matado uma pessoa e precisava enterrar o defunto em algum lugar que não levantasse suspeitas, os dois apareceriam com pás já em mãos. Acabariam com a moral dele, mas o ajudariam a se livrar da situação. Sendo assim, quem melhor para ele aliviar um pouco seu peito?

- Então? – Jane perguntou com um pouco de impaciência, Scorpius suspirou.

- O problema é que – ele disse e então baixou o tom – Acho que estou apaixonado pela Rose.

- O quê? – os amigos perguntaram e se aproximaram dele.

- Eu acho que estou gostando da Rose – ele disse pausadamente também se aproximando dos amigos.

Jane e Daniel se olharam.

- Ele falou mesmo o que eu ouvi? – Jane perguntou.

- É um milagre divino? – Daniel continuou.

- Ah, já sei, vai chover! – Jane lembrou.

- Pode parar com a palhaçada – Scorpius disse emburrado.

- O negócio é que faz uma vida que eu acompanho esse xaveco de um lado por outro, finalmente alguém decidiu raciocinar entre vocês – Daniel disse e Scorpius fez cara de confusão – Ah, qual é? Vai falar que não sabe do que estou falando?

- Scorpius, todo mundo já percebeu há tempos que vocês se curtem, estava além do "casamento" há muito tempo – Jane falou.

- Percebeu o que pessoal? Ela claramente me vê como amigo, eu que compliquei para mim as coisas.

- "Claramente" – Daniel debochou – Escolha melhor seus adjetivos, Scorp.

- Faz o seguinte, fala com ela – Jane disse decidindo falar em um tom mais empático com Scorpius – Se você já percebeu e ela não, talvez você falando faça a chave dela virar.

- "Fala com ela"! – Scorpius debochou como o amigo – Como se fosse fácil.

- É fácil, acredite em nós – Jane disse afirmando com a cabeça – Tudo entre vocês aponta "casal" e eu sei por um fato que você não é tão bom ator, então claramente tem uma química rolando.

- É Scorp, fale com ela – Daniel incentivou – O máximo que vai receber é um belo "Não" e talvez um "chega para lá" – ele brincou e viu a face de Scorpius ficar rígida – Mas isso não vai acontecer e, se acontecer, o tempo cura tudo.

- Está conhecido dos corações machucados, Dan – Jane provocou.

- Eu tenho conhecimentos em tudo – Daniel se vangloriou.

- Ah sim, os diversos "nãos" desde Hogwarts têm a ver com isso? – Jane perguntou levantando as sobrancelhas e sorrindo divertida.

- Enfim, Scorp – Daniel desconversou – Você não está numa fria, ou pelo menos gostaria que todas as suas "frias" fossem fáceis como essa.

- É, relaxe e fale de seus sentimentos com ela, acho que na verdade vai facilitar as coisas na sua vida – Jane disse e apertou a mão do amigo que estava pensativo – Bom, com isso creio que chegou a hora de voltar para a festa.

- É – Daniel disse e se levantou junto com a amiga – E Scorp – o loiro o olhou – Sempre que precisar, para qualquer coisa mesmo, basta chamar.

- Sim, estamos aqui por você – Jane apoiou o amigo – Mesmo que tenhamos que ser a babá de um adulto.

- Vocês são os melhores, pessoal – Scorpius sorriu para os amigos – Obrigado pelo papo, vou pensar no que disseram.

- Não pensa muito não, é só seguir o que falamos – Daniel lembrou o amigo.

- Você vem? – Jane perguntou, percebendo que Scorpius ainda estava no chão.

- Vou logo – ele disse e os amigos sorriram entendendo que ele precisava de espaço e saíram para o quintal de volta.

A mente de Scorpius não demorou nem um segundo antes de voltar a fervilhar com a fala dos amigos, ao contrário do conselho deles. Claro que falar com ela era o caminho mais lógico, mas para ele esse também era o caminho mais difícil.

Gostava muito dela, não tinha como negar, mas estava muito incerto do quanto ela gostava dele, e, com os nervos acionados pela perspectiva de perder a guarda de Dimitri - o que era algo quase certo em sua mente -, também pensar em abalar a relação dele com Rose era muito, só era muito para ele lidar naquele momento.

- O que será de mim, não Bell? – Scorpius perguntou a cachorra que não havia deixado o lado dele mesmo depois de terminar de comer pelo afago que ele fazia nela.

…..

- Olá doutora Hill, podemos falar?

- Você está me seguindo? Eu poderia acabar com você com um feitiço.

Patrick sabia que Clara Hill o estava evitando, seja por cartas não respondidas, seja por horários sempre cheios no local de trabalho deles, ele nunca conseguia um horário sequer para falar com ela. Na verdade era mais por isso que havia aceitado o convite para a festa, claro que estava se divertindo mais do que se permitia admitir, mas finalmente havia chegado um momento oportuno para falar o que queria, e ela iria ouvir.

- Eu não precisaria seguir a doutora, se concordasse em falar comigo.

- Pois eu não tenho nada para discutir com você.

- Pois eu tenho – ele disse e ela passou por ele trombando em seu ombro – E a doutora me deve uma conversa, nem que seja pela memória da única amizade que seu filho teve na vida – ele disse e ela parou de costas para ele.

- Meu filho nunca precisou de amigos – ela disse fria.

- Essa fala só prova o quanto você o desconhecia – ela se virou protestando e ele apenas apontou para uma outra porta no final do corredor com o olhar incisivo – É só uma conversa e depois prometo que a doutora nunca mais precisará me dirigir sequer um olhar.

Clara respirou fundo pensando em suas possibilidades e afirmou com a cabeça, o seguindo porta adentro.

- Esse… esse é o quarto dele? – Clara perguntou notando ao redor a temática infantil delicada.

- Parece que sim – Patrick disse surpreso também e então balançou a cabeça – Mas bom pois é sobre ele que quero falar.

- Desembuche então – Clara disse voltando a voz firme e cruzando os braços.

- Quero começar pedindo para você não interromper pois o que vou dizer não vai ser de seu agrado, mas alguém precisa falar – ele disse e ela revirou os olhos.

- Eu não vou prometer não me defender se me ofender.

- Bom, vai ser mais difícil então.

Patrick respirou fundo tomando coragem.

- A doutora não é uma boa mãe – ele disse de uma vez, o rosto de Clara ficou vermelho e ele continuou sobre o protesto dela – Pode ser uma ótima pesquisadora, aventureira e tudo mais, mas mãe não.

- Como ousa?

- Você tem que saber disso – ele disse e continuou – Henry era um desastre, e você sabe disso – ele disse a olhando acusadoramente – Ele não tinha quase nada se habilidades sociais…

- Ele era tímido.

- Ele tinha uma necessidade de te perguntar tudo e era ignorado quase sempre, o deixando sem ação constantemente – ele continuou ignorando a interrupção – Ele só conseguiu ir em Hogsmeade a partir do quinto ano!

- Ele só me pediu no quinto ano para assinar a permissão.

- Pois eu insisti muito, ele tinha medo…

- Medo do quê? Pare de falar bobagens, garoto.

- Medo de você ir embora de vez, é claro – ela o olhou sem entender completamente o que ele falava.

- Como assim?

- Obviamente ele te amava, era a mãe dele e tudo mais – ele explicou e continuou – Mas ele sabia que a doutora era inconstante, ele nunca estava certo de quando a senhora iria estar lá ou não, então tentava sempre te agradar e se virar para fazer seus caprichos.

- Você está inventando coisas, garoto, ele era um menino muito bom…

- Terceiro ano, aula de bicho papão, você sabe qual era o maior medo do seu filho? – ela balançou a cabeça negando – Eu lembro até hoje, pois ele não conseguiu fazer o feitiço, só se encolheu no chão, era você o olhando com desprezo falando que nunca mais queria ver ele.

- Eu nunca faria isso.

- Não é o que você faria, mas o que ele acreditava que poderia acontecer – ele disse – Ele acreditava pois pela sua inconsistência na vida dele deixou dúvidas e medos profundos.

- Você fala muito do que não conhece, garoto.

- Então me explique.

- Eu não devo nada a você – ela o cortou – Mas se quer saber eu era ocupada, ok? E não possuía nenhum suporte, era apenas eu e ele – ela desabafou – Quantas exploradoras mãe solteiras você conhece? Foi o que achei – ela disse quando ele se calou.

- Mas isso não é sobre a doutora, é sobre o Henry e agora o filho dele – Patrick disse depois de alguns instantes – Eu sei que foi difícil para a senhora, mas quero que entenda que foi difícil para o Henry também.

- Eu entendo.

- Então me prometa que se for seguir com essa ação da guarda, que se ganhar fará diferente – Patrick pediu com algumas lágrimas no rosto – Prometa que demonstrará estar lá por ele antes que pela tarefa que aparecer do Instituto, você já virou uma lenda lá e na história do mundo mágico – ele garantiu e então continuou – Mas me prometa que ele nunca sentirá que precisa continuamente se provar digno se seu amor e afeto, mas que esse será incondicional, me prometa tudo isso que eu até viro testemunha a seu favor na audiência.

O pedido dele foi quase uma súplica, Patrick sabia dos medos do amigo e o quanto esse queria simplesmente que o filho se sentisse amado, nada além disso. Ele só queria garantir que o desejo do amigo seria seguido, precisava ouvir de Clara para acalmar seus ânimos quanto ao futuro do afilhado na possibilidade que ele fosse para ela.

Clara pela primeira vez era obrigada a encarar suas inseguranças quanto a Henry. Amava sua carreira e em algum momento acabou deixando Henry em segundo lugar, ele nunca reclamou então ela sempre achou que as coisas estavam certas entre os dois. Mas será que ela precisava ouvir ele reclamar? Será que ela própria não devia ter percebido?

- Eu não sei Patrick – ela disse sincera com a voz embargada – Eu não sei se sei ser uma mãe diferente da que fui.

- Dimitri precisa que você seja – ele disse com a voz firme – Olhe ao nosso redor – ele pediu.

O quarto de Dimitri era bem aconchegante, parecia que todos os detalhes haviam sido olhados para acolher e divertir a criança.

- É isso que ele estará perdendo se for com você, você precisa ser melhor ou igual a isso – ele disse sério – E eu falei com o casal e eles parecem realmente se importar com Dimitri e demonstram isso constantemente – ele disse e deu um sorriso de lado – Por Mérlin eles nos convidaram para essa festa, querem que eu continue como padrinho, eles estão cuidando da memória de Henry pelo Dimitri – ele evidenciou – Você precisa ser assim também, entende?

- Eu entendo – Clara suspirou.

- É isso que o Dimitri merece, é isso que Henry e Alex merecem – ele completou – Você tem que ser a melhor mãe do mundo pois é isso que eles três merecem que a doutora seja.

- Eu entendo – ela repetiu.

- Que bom, pois Henry te amava muito, muito mesmo, para ele você sim era a melhor mãe do mundo, ele te admirava muito, como eu também – ele disse e ela piscou os olhos que se inundaram novamente – Eu sei pois o bicho papão dele nunca mudou, tivemos o desprazer de achar um no sótão da casa deles na Russia, Alex teve que lidar com ele por nós – ele riu levemente por um instante.

- Ele não deveria achar que um dia eu iria o deixar – Clara disse mais para si mesmo.

- E para Dimitri isso vai ter que ser uma verdade concreta – ele disse e eles voltaram a se encarar – Enfim, é só me prometer que eu estou com a doutora.

- Entendo – ela disse absorta em pensamentos.

- Tem até o dia da audiência, você sabe onde me encontrar – ele completou e a deixou no quarto.

Clara olhou pelo quarto se demorando entre os brinquedos, livros, roupas e móveis, se demorando no quarto como um todo. Ela tinha ciência que Henry merecia mais do que ela podia dar, então ela sim teria que ser melhor para o filho dele.

Será que ela conseguiria mudar? Será que seria diferente?

Henry teve que se contentar com ela, mas Dimitri não precisava. Seu neto parecia feliz, será que ela poderia provocar o mesmo sorriso? O mesmo acolhimento? Será que ela havia conseguido dar algo como isso a Henry?

Se uma coisa Patrick havia conseguido foi ter a deixado cheia de dúvidas.

…...

A festa ocorreu em harmonia pela tarde e seu ponto alto realmente foi o bolo e todos cantando em homenagem a Dimitri que estava muito feliz com sua coroa de papel e a atenção de todos. Seu bolo era bem grande para não faltar para ninguém e ao final da música ao invés das velas ele estourou um balão que estava em sua mão.

Isso pareceu dar a permissão que as crianças para elas próprias começarem a estourar os demais balões da festa também. Rindo com o efeito cascata, Rose usou a varinha para cortar o bolo e servir para todos ali, o que funcionou uma vez que as crianças foram atrás de seus pedaços deixando os balões de lado.

Não demorou muito depois desse momento para a chuva que estava prometida o dia inteiro iniciar finalizando a festa de uma vez. Os convidados começaram a se despedir apressados, exceto a família mais próxima e a avó de Dimitri que queriam ficar para a abertura dos presentes.

A sala de estar então ficou tomada pelos pais de Scorpius e Rose, Hugo, os 3 amigos próximos que estavam ali e Clara Hill, que ficou mais distante.

- O que está esperando? Pode abrir – Scorpius incentivou Dimitri que olhava a pilha de presentes incertos.

Dentre brinquedos e roupas, Dimitri estava muito animado em ganhar tantas coisas novas. Ele se animava com tudo, até quando ganhou uma garrafinha de água verde foi correndo mostrar para Draco e Astória pois sabia que eles gostavam dessa cor.

Abriu o presente de Daniel que era vários balões e um simples brinquedo de montar peças em baixo, a caixa foi apenas para despistar Scorpius que revirou os olhos para o amigo.

Outro presente que gerou controvérsia foi o de Rony e Hermione que era um pijama do Chudley Cannons, a controvérsia foi que os outros além de Ronald e Hugo não concordavam do menino sendo "desvirtuado" para esse time uma vez que os times deles próprios eram melhores.

Rose olhou o pai balançando a cabeça com um sorriso divertido e teve que levantar sua voz para apaziguar o lugar para conseguirem continuar com a abertura dos demais presentes, que ocorreu sem maiores emoções.

- Foi isso? – Scorpius perguntou pegando alguns papéis de embrulho rasgados pelo chão – No geral, gostei dos presentes, o que achou Dimi? – o menino nem prestou atenção nele escolhendo qual dos brinquedos ia abrir primeiro.

- Ainda falta o meu! – do fundo da sala, Clara soou.

- Ah sim, doutora Hill – Scorpius disse olhando de volta para o chão em busca do presente – Desculpe, mas não o estou encontrando.

- Ele está aqui – ela disse e tirando de sua bolsa um embrulho colorido.

- Certo – Scorpius disse e então chamou a atenção de Dimitri – Tem mais um, vai lá receber – ele disse apontando para a mulher – E não esqueça de agradecer.

Dimitri já estava indo, feliz com mais um presente. Clara sorriu e se abaixou para ficar mais próximo do menino.

- Isso é da minha última expedição – ela explicou para Dimitri que já começava a rasgar o embrulho, com todos os outros na sala olhando com curiosidade – Veja bem, lá é muito frio e uma das invenções que eles criaram foi o encantamento de uma chama que duraria para sempre…

Ela parou de falar pois nesse momento Dimitri gritou, Rose já estava na metade do caminho pois a palavra "chama" a alertou, Scorpius estava logo atrás.

Rose chegou próxima e estendeu os braços para o menino que aceitou chorando em seu colo enquanto Rose murmurava palavras reconfortantes. Scorpius se aproximou preocupado, mas Rose acenou com a cabeça dizendo que estava tudo bem.

- Ela não é perigosa, não queima de verdade, só deixa o ambiente aquecido – Clara se explicou confusa e assustada com a reação do menino enquanto se levantava com o presente em mãos.

- Imagino, é que ele tem medo de fogo – Scorpius explicou meio sem graça – Ainda mais fogo verde – ele disse notando a coloração da chama nos braços dela.

- Fogo verde não! – Dimitri pediu com a voz embargada.

Rose e Scorpius se olharam surpresos, estariam eles escutando coisas ou o menino realmente falara?

Pelo visto não foram só eles que ouviram algo pois todos ali se levantaram espantados com o que acabara de acontecer.

- Dimitri, está tudo bem – Rose assegurou com algumas lágrimas descendo pela face.

- Fogo verde não, por favor mamãe – ele pediu se soltando um pouco para a olhar.

Rose ficou paralisada, naquele momento seu coração batia tão forte que ela sentia que estava prestes a perder seus sentidos. Olhou para Scorpius e ele sorria com os olhos húmidos afirmando com a cabeça para uma pergunta que ela nem percebia estar fazendo em sua mente, se ele realmente havia falado o que ela ouvira.

- Sem fogo verde, pequeno – ela disse e o abraçou mais forte sorrindo feliz.

Ela então passou Dimitri para Scorpius e se virou para Clara que estava ainda confusa sem entender muito bem o que estava acontecendo.

- Verde é a coloração do fogo maldito, que consumiu o cruzeiro que estavamos – Rose explicou para ela sem entender muito bem de onde vinha a força para falar qualquer coisa com sentido nesse momento – Agradescemos pelo presente, Doutora, mas infelizmente ele não vai conseguir apreciá-lo agora.

- Eu não sabia – Clara disse com uma sombra no olhar.

- Não tinha como mesmo, está tudo bem – ela disse compreensiva virando o embrulho para que o efeito da chama não aparecesse mais – Obrigada de verdade – Rose disse sincera.

- Eu preciso ir agora – Clara disse olhando para a porta.

- Não precisa se não quiser – Rose assegurou.

- Eu preciso – ela disse se distanciando do casal e seguindo porta afora sem falar mais nada.

Mas as atenções não estavam nela, mas sim no garoto no colo de Scorpius que começava a se acalmar. O loiro havia se sentado em uma poltrona e passava a mão nas costas da criança tentando passar conforto. Dimitri se acalmou aos poucos e se separou de Scorpius olhando ao redor com os olhos alertas.

- Estamos seguros, não tem mais nada – Scorpius assegurou.

Dimitri sorriu e Scorpius limpou as lágrimas que já começavam a secar.

- Você está bem? – Scorpius perguntou e o menino assentiu – Quer voltar a ver os novos brinquedos? – ele assentiu novamente e Scorpius o deixou sair.

- Ele está bem? – Rose perguntou.

- Creio que sim – Scorpius respondeu.

- Mas o melhor é que ele está e vai ficar bem – Hermione disse, limpando as lágrimas de si própria também, Rose olhou para a mãe sorrindo – E agora, creio que chegou nosso horário.

- Não precisa mãe.

O protesto entretanto foi em vão pois então todos decidiram se despedir e encerrar a noite. Na despedida todos felicitaram novamente Dimitri pelo aniversário e desejaram boa sorte para Rose e Scorpius na audiência.

- Foi um dia agradável – Rose comentou quando fechou a porta.

- Eu diria que foi um dia excelente – Scorpius comemorou – Ele falou, Rose, ele falou! – ele comemorou a abraçando.

- Eu sei, eu ouvi! – ela disse retribuindo o entusiasmo dele – Mas sem forçar, ele vai desenvolver no ritmo dele – ela disse o soltando para o olhar nos olhos.

- Eu sei, prometo me comportar – Scorpius respondeu levantando a mão.

- Ótimo, ele já está pronto para o boa noite também – ela disse apontando para Dimitri que bocejava em meio a seus novos pertences.

- Não, ainda falta uma coisa – Scorpius sorriu e seguiu para seu quarto deixando Rose confusa para trás.

- Está com sono, não Dimi? – Rose deu de ombros e seguiu para a criança – O dia foi cheio.

- Mas ainda temos tempo para um presente? – Scorpius voltou para sala com um embrulho retangular em suas mãos – Aqui está.

Dimitri pegou o embrulho animado, o sono momentaneamente esquecido. Assim que desembrulhou, seus olhos brilharam.

- Papai e mamãe! – ele comemorou abraçando o porta retrato e a foto que acabara de ganhar.

Scorpius havia decidido que o aniversário de Dimitri era o melhor momento para dar a foto deles com os pais de Dimitri e eles próprios do navio.

Ele a tinha colocado em um porta retratos delicado e esperava que com isso seja positiva, seja negativa a resposta que tiverem no tribunal, pelo menos o menino sempre teria uma lembrança daquele momento com eles.

- Sim, são seus pais – Scorpius sorriu para o menino.

Dimitri sorriu voltando a olhar o retrato, estava olhando para todos os detalhes, tudo que podia distinguir daquela foto. Os sorrisos, os acenos, onde estavam, tudo encantava a criança.

- Ótimo presente – Rose aplaudiu Scorpius.

- Uma lembrança de nós, do tempinho que ele ficou conosco, algo que ele tem como levar – Scorpius sorriu triste – Onde quer que ele vá.

Rose pegou na mão de Scorpius tentando confortá-lo, Scorpius rapidamente tirou a mão dele de perto a deixando confusa com a reação.

- Enfim, vou colocar ele para dormir, já está na hora – ele disse sem graça e pegou Dimitri pela mão.

…..

Alguns dias se passaram e Rose começou a estranhar mais e mais as esquivas de Scorpius quanto para ela, nesses dias se trocaram 10 palavras foi muito, algo que nunca acontecera antes. Ela entendia que ele estava balançado pelo dia da audiência cada vez mais perto, mas aquilo parecia algo a mais.

E sem contar que ela estava, também, perturbada com a situação e não ajudava nada a pessoa que ela mais queria falar sobre a estar ignorando. Decidindo que precisava resolver as coisas com ele, aproveitou que era dia de plantão quando ele chegava geralmente depois que todos já estavam dormindo e esperou na sala a chegada dele.

Estava quase pegando no sono no sofá mesmo quando acordou de supetão com Scorpius chegando pela rede de flu. Ele parecia exausto, mas isso não a iria impedir de confrontá-lo, ela se levantou chamando atenção para si e Scorpius a olhou confuso.

- Rose? O que faz acordada a essa hora? – ele disse checando a hora em seu relógio – Está bem tarde.

- Pode até estar, mas precisamos conversar – ela disse e cruzou os braços – E como não consigo sua atenção de nenhuma outra forma, aqui estou cultivando olheiras.

- Não está falando nada com nada – ele disse em um tom culpado ficando vermelho, para disfarçar ele começou a tirar seu casaco para ficar mais confortável em casa.

- Ah, por acaso não está me evitando esses dias? – Rose perguntou se aproximando do loiro e tentando encontrar seu olhar.

- Está imaginando coisas – ele disse se esquivando dos olhos de Rose – Muito trabalho, o julgamento, pode ser que esteja atarefado demais, só isso.

- E desde quando "ficar atarefado" te obrigou a responder meu "Como foi o dia?" com só "Bom"? – ela perguntou fazendo aspas no ar – Antes sempre tinha um caso interessante para contar.

- Ah, não tem muita coisa acontecendo – ele disse dando de ombros e se encaminhando para seu quarto – De qualquer forma está tarde e realmente precisamos dormir.

- Foi algo que eu disse? Algo que fiz? – Rose perguntou com a voz incerta.

- Algo que fez? Está imaginando coisas, você não fez nada – ele disse parando em seu caminho e se virando para ela ainda evitando seu olhar direto.

- Então o que é essa sua estranheza toda? – Rose disse ficando irritada – Quer cancelar alguns dos acordos que fizemos e não tem coragem de falar? Encontrou alguma candidata melhor para ser a mãe de Dimitri?

- Rose, não! – Scorpius disse notando as inseguranças da ruiva aparecerem – Isso já está certo, ele até te chamou de "mãe" – Scorpius disse se aproximando dela que estava olhando para o chão.

- Então o que é? – ela disse e finalmente conseguiu capturar o olhar de Scorpius, os olhos dela estavam úmidos – Você não pode simplesmente me ignorar assim, não você, não nesse momento, achei que estávamos juntos nessa situação.

- E estamos – Scorpius disse e depois de uma breve relutância interna pegou suas mãos – Eu, você e Dimitri para a vida, se o tribunal permitir é claro – ele disse com a voz firme e rindo levemente no final.

- Não é isso que estou sentindo há algum tempo – ela disse – Você está diferente loiro, você está distante e não está me deixando entrar para te ajudar com o que quer que seja, parece que nossa amizade está pouco a pouco se findando.

Scorpius suspirou soltando a mão de Rose que ficou temerosa sobre o motivo daquele gesto. Eles se olharam por alguns instantes, Rose com receios e Scorpius em conflito com o que falar para ela naquele momento.

- O que há é que eu sou um idiota – Scorpius enfim falou.

- Como? – Rose estava confusa.

- Um minuto, preciso tomar coragem para falar o que vou falar – ele disse e passou as mãos no rosto.

- Você está me assustando.

- Rose, demorou muito para eu admitir isso para mim mesmo, mas em algum momento acabei confundindo as coisas – Scorpius sorriu fraco a olhando nos olhos e respirando fundo decidindo falar de uma vez – Não sei exatamente quando foi, mas eu acabei me apaixonando por você.

- O que você..?

- Deixe-me terminar agora – Scorpius a interrompeu sentindo que se parasse de falar a coragem o deixaria – Não sei qual momento exato foi, só sei que me apaixonei pela sua personalidade dinâmica, pela sua empatia com os outros, por como adora me irritar a qualquer momento, pelo modo que cuida de mim e Dimitri – Scorpius sorriu, Rose estava em choque – Mas eu não sou ingênuo e sei que do seu lado a correspondência é uma grande amizade e companheirismo.

- Scorpius… – tentou falar, mas ele a interrompeu novamente.

- Enfim, uma relação é formada de dois então eu nunca pediria para você ir além do que se sente confortável, e eu sinto demais ter colocado isso em cima de você, mas ficar diariamente tão perto de você sem poder… Sendo só um amigo está cada dia mais difícil – Scorpius admitiu sorrindo fracamente – Eu tentei me afastar, mas agora vejo que só a deixou com impressões erradas.

Ele disse e então começou a andar de um lado para o outro.

- E além disso tem toda a questão da audiência que não para de martelar na minha mente, é muita coisa para uma pessoa só, sabe? – ele perguntou retoricamente e então suspirou novamente encarando o vazio – Me declarar é muito difícil, isso é muito difícil – ele disse e riu sem muito humor – Mas o mais difícil é ouvir o "não", com tudo que está acontecendo eu não aguentaria perder tudo de uma vez, ouvir um "não" hoje e outro "não" na corte, seria demais, você me entende?

Ele finalmente voltou a encarar Rose esperando alguma reação de Rose, mas ela estava em choque, registrava as palavras, mas processando tudo lentamente. "Ele disse que sentia o que por mim? O que está acontecendo nesse momento?" eram os pensamentos mais concretos que conseguia discernir de sua mente.

- É isso então que está acontecendo comigo, e sendo assim Adeus – Scorpius disse passando a mão no cabelo envergonhado – Depois do que eu falei nem tem como continuarmos na mesma casa, certo? Seria muito estranho – ele disse e voltou para perto da lareira pegando seu casaco de volta – Hum, não sei bem onde vou então cuide por um tempo de Dimitri por mim? Eu o pego na escola nos meus dias sem problemas e o trago aqui, depois do tribunal falamos mais sobre o futuro – ele se aproximou sem jeito de Rose e deu um beijo em sua bochecha – De qualquer forma, do fundo do meu coração eu espero que seja feliz e que eventualmente possamos deixar essa noite para trás e voltar a ser amigos, talvez? – ele disse e então balançou a cabeça se recriminando – Enfim, até mais.

Ele então seguiu para a lareira, deixando Rose ainda estática, as palavras de protesto contra a saída dele presa em sua garganta, ainda tentava organizar seus sentimentos e pensamentos para tentar fazer sentido no que acabou de acontecer.

Bell foi quem quebrou sua paralisia pulando na dona e a fazendo se desequilibrar caindo sentada no chão.

- O que acabou de acontecer, Bell?

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N/A: ptrc, SIIM, finalmente alguém pensou ali, certo? E agora está tudo aberto, Rose vai ter o que digerir agora.