Daniel acordou no meio da noite com alguém esmurrando sua porta, ele olhou seu relógio e fez força para pensar o que poderia ser, sem lembrar de nada concreto pegou sua varinha e seguiu alerta para a porta, só relaxando quando viu pelo olho mágico o rosto conhecido de seu amigo.
- O que… – Daniel começou abrindo a porta.
- Eu disse tudo! – Scorpius interrompeu o amigo que começava a falar.
- Do que está falando, Scorp? – Daniel disse bocejando e abrindo caminho para o amigo entrar.
- Rose! Eu disse tudo a ela… Tudo! – ele disse andando de um lado para outro.
- Tudo o quê?
- Como eu me sinto… Tudo! – Daniel arregalou os olhos esquecendo o sono.
- E então? – ele perguntou animado.
- O que você acha? – Scorpius perguntou sarcástico parando para olhar o amigo por um instante – Eu estou aqui e não lá!
- Ela respondeu que não sentia o mesmo? – Daniel perguntou – Eu sinto muito...
- Pior, ela não respondeu nada, fiquei parado lá que nem um idiota – Scorpius respondeu voltando a sua agitação.
- Ela não respondeu nada? E o que você fez?
- Eu corri e estou aqui, não? – Scorpius respondeu como se fosse óbvio.
- Você só vomitou tudo nela e depois saiu? – Daniel disse confuso e logo se enfureceu com o amigo – Tem bomba de bosta na cabeça? Onde isso parece um bom plano?
- Eu não tinha planos, só aconteceu e ela não reagiu a nada, Daniel – Scorpius parou para olhar seu amigo de novo – Devia estar pensando em como me dar um fora de uma forma gentil, eu só facilitei as coisas.
- Você não pode saber o que ela estava pensando.
- Eu sei! Vi a expressão dela – Scorpius disse se lembrando agora de como estava cansado e suspirou – Enfim, eu consegui estragar tudo entre nós em uma noite.
- Scorp, eu acho melhor você ir descansar e digerir isso amanhã, está muito tarde, você não deve estar pensando muito bem – Daniel sugeriu olhando solidariamente para o amigo.
- É, pode ser – Scorpius disse e então lembrou-se que estava temporariamente desabrigado – Por acaso posso ficar aqui?
- Nem precisa perguntar, sabe que o quarto de hóspedes está sempre a disposição – o amigo respondeu sorrindo.
- Obrigado – o loiro soltou um sorriso fraco – Talvez uma muda de roupa seria bom também.
- Claro.
Daniel então foi para o seu quarto pegar o pedido do amigo, com 3 dias para a audiência, lidar com eles separados seria um inferno, teria que entender certinho o que eles estavam passando e como isso seria abordado na corte depois. Talvez chamar a Jane seria bom também, eles atuavam melhor juntos.
- Daniel, quer explicar melhor o que é isso? – Scorpius perguntou vendo o amigo entrar pela porta.
Ele apontava para o jogo de quadribol que havia ganhado na aposta sobre Rose e Scorpius, ele realmente não era tão fã então só montou para ver e deixou esquecido no quarto que menos usava.
- Nada não, um presente na verdade – Daniel disse sem dar muita atenção.
- De alguém que claramente não te conhece – Scorpius debochou.
- Até que achei interessante – Daniel surpreendeu o amigo com sua fala – Por uns 10 minutos. Acho que tem a demonstração de todas as jogadas em loop.
- Isso é legal – Scorpius afirmou.
- Para quem liga, com certeza – Daniel sorriu e colocou a muda de roupa na cama de Scorpius.
- Se não quiser, eu tenho interesse.
- Entre na fila.
- Alguém já veio aqui e viu isso? – Scorpius estranhou.
- Amigos, amigas… – Daniel desconversou – Você sabe que não é meu único amigo, né?
- Como ousa ter outros? – Scorpius disse falsamente ultrajado.
- Enfim, a casa está a sua disposição, fique a vontade – Daniel começou a encerrar a conversa ignorando o amigo.
- Pode deixar, obrigado.
- E Scorp – Daniel o chamou da porta – Vai dar tudo certo, vai ver! – Daniel disse notando o amigo ainda cabisbaixo, Scorpius apenas acenou sem confiança.
…..
Os dias seguintes passaram se arrastando, Rose mandará algumas cartas pedindo para conversar com Scorpius, mas ele não respondeu nenhuma por não saber exatamente como encará-la. Ele seguiu o combinado e foi buscar Dimitri, o levando em sua possível ex-casa e saindo assim que ouvia Rose chegando.
Um dia antes da audiência, Daniel chamou Jane para os dois entenderem melhor a história de Scorpius e ao fazer isso ambos recriminaram o amigo por simplesmente sair, queriam saber mais o lado de Rose da história. E com Scorpius passando o tempo na casa de Daniel, ele viu as cartas que chegavam de Rose, e ficou cada vez mais irritado com o amigo não respondendo a mulher que Daniel já encarava como amiga também.
Sendo assim, chamou Dominique, Jane, Violet e Albus para um jantar para falarem melhor da situação dos amigos, a conversa no entanto, começou com Albus e Violet falando de sua lua de mel.
- Recomendo muito o lugar – Violet sorriu feliz – As praias no norte do país são incríveis e agradáveis e as pessoas estão sempre sorrindo.
- E o clima, como estava? – Jane perguntou.
- Eu até esqueci o que eram nuvens – Albus respondeu sorrindo – Mas tem que usar o tal protetor solar, eu fiquei um camarão desde o primeiro dia.
- Também, é branco que só – Violet tirou sarro do marido.
- E a comida pessoal, que comida divina – Albus continuou ignorando a esposa.
- Peixe com batata frita? – Dominique perguntou.
- Muito além – Violet falou – Frutas, doces… Tudo era bom!
- Me interessei, um dia quero ir – Daniel decidiu.
- Um dia todos nós temos que ir – Jane apoiou o amigo.
- Por falar em todos, como foi a festa do Dimi? Odiei ter perdido – Violet perguntou interessada.
- Foi muito boa, Dimitri estava muito animado tanto que… Ah sim, vocês ainda não sabem, né? – Jane começou a resposta e continuou vendo a negação de Albus e Violet – Dimitri falou!
- Mentira! – Violet disse animada.
- Sim! Ele ficou assustado com um dos presentes e acabou chamando por Rose – Jane respondeu.
- Não acredito que perdi isso – Albus reclamou.
- Mas foi só isso, só o primeiro passo – Dominique assegurou ao primo – Ele ainda tem um caminho até superar tudo.
- Mesmo assim, incrível! – Violet sorriu para os amigos, mas então fez uma cara de desânimo – Só o casal problema se acertar agora.
O clima na mesa então mudou todos lembrando do motivo de estarem ali.
- O que faremos com aqueles dois? – Violet perguntou aos amigos.
- Rose não está nada bem – Albus comentou preocupado – Scorpius é um panaca.
- Ele é um covarde, isso sim! – Dominique reclamou brava.
- Ele é, mas entendo o receio também, ele está muito pessimista quanto a audiência – Jane defendeu o amigo.
- O que ela falou para vocês? – Daniel perguntou curioso.
- Ela falou que Scorpius de repente soltou que estava apaixonado por ela e simplesmente evaporou sem deixar ela falar nada – Violet resumiu – A coitada parece um cachorrinho perdido sem saber o que fazer, e ainda disse que não sabe, ela própria, o que sente por ele.
- Eu vi as corujas, ele fica todo nervoso toda vez que aparece mais uma carta – Daniel disse balançando a cabeça – Panaca mesmo, já tem uma pilha de meias respostas no lixo.
- Será que há algo que possamos fazer para ajudar eles? – Jane perguntou incerta.
- Eles são grandinhos, tem que se entender por eles próprios! – Dominique respondeu balançando a cabeça.
- Bom, eles são grandinhos, mas ainda têm uma aptidão incrível para se meterem em confusão – Violet avaliou – Mesmo que sejam confusões só entre eles.
- Tem que ter os enrolados do grupo – Jane disse – Se não, a vida ia ser bem mais tediosa.
- Isso é – Albus concordou como os outros também, todos rindo.
- Ah, Rose e Scorpius, tão fácil só abrirem os olhos para ver o óbvio – Violet falou para o ar.
- Eles vão se acertar – Albus falou com certeza – Basta só uma boa conversa para que eles parem com essas confusões.
- Seria ótimo isso acontecer o mais rápido possível, não preciso de distrações amanhã – Daniel disse fazendo uma careta só de lembrar da situação em que estava.
- Exija isso deles então! – Jane disse certa de si.
- Como? – Daniel levantou uma sobrancelha.
- Obrigue eles a conversarem, eles ficarão na sua mão amanhã – Jane explicou.
- Isso talvez possa funcionar – Dominique avaliou – Rose já quer conversar com ele e Scorpius está inseguro, o melhor é forçar mesmo.
- Mas isso também pode explodir na nossa cara se eles decidirem brigar ali – Albus lembrou.
- Se eles brigarem eu não deixo eles nem entrarem na corte – Daniel disse já se irritando com a possibilidade.
- É isso então, Dan – Jane disse sorrindo para o amigo – Você vai forçar.
- Eu não sei se posso, eu tenho que estar focado na minha argumentação, não nas idas e vindas dos dois.
- É só um momento, depois suma para um lugar escondido – Jane pediu.
- Não sei não – Daniel estava incerto.
- Só assim para você ter eles como precisa para a audiência – Dominique insistiu.
- Ok – Daniel disse depois de um suspiro – Ah, sem eles minha vida poderia ser tão mais fácil.
- Mas tão mais tediosa também, sempre lembre disso – Violet sorriu ao amigo e todos riram.
…..
O dia da audiência chegou e Daniel estava uma pilha de nervos quanto a sua argumentação e o potencial dos amigos em desmentí-la. Como combinado com os outros amigos, ele obrigou Scorpius a seguir para seu escritório no ministério onde Rose também estava com Dimitri para tentar forçar uma conversa entre os dois.
- Obrigado aos dois por comparecer – Daniel disse olhando irritado para o amigo – Eu sei que as coisas estão estranhas entre vocês, mas hoje nada disso importa, certo? – Daniel perguntou retoricamente – Hoje vocês são o melhor casal que existe, que não possuem problemas proeminentes ou desentendimentos, portanto, o melhor ambiente para Dimitri estar.
- Daniel, é complicado… – Scorpius começou.
- Nada é complicado, não hoje – Daniel o interrompeu – O que está na linha é a guarda do Dimi, vocês entendem? – ele perguntou olhando direto para o amigo – Nos outros dias eu sou seu amigo sem problemas, mas hoje sou seu advogado, preciso que sejam os clientes perfeitos, pode ser?
- Pode – Rose disse impressionada com essa face de Daniel que nunca havia visto.
- Certo, Daniel – Scorpius disse soltando o ar e olhando para Rose – Por esse momento, seremos como antes.
- Ótimo – Daniel sorriu – Conversem suas desavenças e me encontrem em 30 minutos na corte número três.
- Podemos só ir juntos – Scorpius sugeriu.
- Conversem – Daniel insistiu – Preciso que sejam um casal, não o que quer que seja que são agora.
- Vamos conversar – Rose disse firme – Você leva o Dimitri?
- Sim, vamos Dimi – Daniel disse chamando Dimitri que foi com ele depois do incentivo de Rose.
Demorou alguns instantes depois que a porta se fechou para Rose e Scorpius demonstrarem alguma reação e a primeira foi Rose que se virou para o loiro e soltou um grunhido de frustração.
Scorpius lentamente se virou para ela, mas sem a olhar nos olhos.
- É assim mesmo que vamos conseguir a guarda, com você se comportando como se eu tivesse virado um dementador do dia para a noite – ela disse cruzando os braços.
- Deixe de falar bobagens – ele disse finalmente a encarando – Por hoje se pudéssemos fingir…
- "Fingir" – Rose repetiu com asco – Eu estou cada vez odiando mais essa palavra, não quero fingir mais nada.
- Uma última vez, precisamos, por Dimitri.
- Dimitri merece mais do que uma mentira.
- Eu sei, mas estou tentando aqui ao contrário de você que está com três pedras na mão.
- O que esperava de mim, Scorpius? – Rose se levantou irritada – Você fica estranho por semanas, essa audiência fica cada vez mais perto e então fala tudo aquilo que falou e simplesmente some – ela explicou seu ponto de vista – Está muito difícil não ter pedra na mão nesse momento.
- Eu não sumi, estava com Daniel – Scorpius disse meio intimidado – Achei que queria espaço.
- Eu queria falar com você, como mandei nas minhas cartas.
- Eu queria te responder – Scorpius disse e suspirou – Mas não achava as palavras certas.
- As palavras certas eram: "Certo, te encontro mais tarde em casa".
- Eu te falei o quão difícil era essa situação para mim – Scorpius disse cruzando os braços.
- E eu não consegui falar nada – e continuou sarcástica – Muito justo isso.
- Então fale o que tem para falar! – Scorpius disse se levantando – Não é como se meu mundo ainda não estivesse de ponta cabeça mesmo.
- Você é tão mimado, Scorpius – Rose disse revirando os olhos.
- Ah, isso não – Scorpius negou – Mimado não.
- Mimado sim – Rose reafirmou se levantando também – As coisas sempre tem que ser como você quer.
- Rose, nada está acontecendo como eu quero há muito tempo.
- Acho isso difícil de acreditar – Rose disse com um humor sombrio – Tudo acontece conforme você estabelece e é isso, inclusive essa conversa.
- Se essa conversa estivesse acontecendo como eu quero, ela estaria acontecendo depois da audiência, que é onde deveríamos estar focando.
Eles se olharam desafiadoramente por um momento, essa conversa não estava indo para o rumo que nenhum deles gostaria na verdade, brigar dessa forma não é como eles conduziam as coisas.
- Você está certo – Rose disse abaixando a cabeça – O foco deveria ser em Dimitri neste momento.
- Rose, eu entendo que provavelmente tenha sido um imbecil nesses últimos tempos – Scorpius admitiu e Rose sorriu de leve – Só peço nesse momento que releve isso por enquanto, para conseguirmos algum tipo de chance lá dentro.
- Scorpius, esse seu pessimismo um dia vai te matar – Rose disse revirando os olhos – Mas enfim, sim, colocamos uma pausa nessa conversa, que ainda vamos ter – ela assegurou – Por Dimitri.
- Por Dimitri – Scorpius ecoou e estendeu a mão para ela.
Rose ignorou a mão estendida e o abraçou, estava tão ansiosa com tudo que só o abraço reconfortante de Scorpius a daria alguma confiança naquele momento e ela precisava disso. Scorpius a abraçou de volta se permitindo suspirar aliviado por um momento, saber que mesmo depois de tudo Rose ainda estava disposta em abraçá-lo era uma preocupação a menos em sua mente.
- Vamos ganhar a custódia? – Scorpius perguntou mais uma vez com a voz insegura.
- Não sei – pela primeira vez Rose não respondeu afirmativamente, deixando o coração de Scorpius apertado – Mas com certeza vamos até o fim.
…..
Rose e Scorpius encontraram seus amigos e seus pais na entrada do salão onde seria a audiência, Patrick estava ali também e logo Scorpius o puxou para onde estavam. Tomaram um tempo para recarregar os ânimos e rir da peruca grisalha que Daniel era obrigado a usar.
Clara Hill chegou faltando poucos minutos para audiência e passou direto por eles sem cumprimentar ninguém e se posicionou onde deveria na sala. Com essa interrupção, o grupo ali decidiu tomar seus lugares no salão também.
E então o horário da reunião chegou e logo o juiz entrou.
- A partir desse momento está em julgamento a ação de Hill versus Malfoy referente a guarda de Dimitri Hill, menor de 5 anos atualmente sob o cuidado dos Malfoy. A custódia está sendo contestada pela avó paterna, Clara Hill – o juiz leu o papel em em sua mesa – Ambas as parte estão prontas para iniciarmos? – Daniel e o advogado de Clara afirmaram ao juiz com a cabeça – Certo, então pode iniciar suas considerações iniciais Doutor Zabine.
Daniel se levantou respirando fundo para começar sua argumentação, mas antes que ele começasse a falar o advogado de Clara se levantou também.
- Desculpe a interrupção Doutor Zabine, mas gostaria de falar junto a você e ao excelentíssimo juiz nesse momento, podemos nos aproximar? – o advogado pediu.
- Pois bem, mas seja breve – o juiz concedeu acenando para os dois se aproximarem.
Uma vez à frente, o advogado falou primeiro e Daniel fez cara de surpresa, o juiz se espantou também. Falaram mais um pouco e então chamaram Clara para conversar também. Uma vez chegando lá ela afirmou com a cabeça e falou algumas poucas palavras. Sendo assim o juiz e os advogados voltaram a se falar parecendo estabelecer um acordo comum.
Nesse meio tempo, Rose e Scorpius iam ficando cada vez mais nervosos. Scorpius pegou a mão de Rose em algum momento aflito, Rose apertou a mão dele em resposta.
- Certo, sendo assim podem voltar – o juiz proferiu.
Clara estava com a cabeça baixa, Daniel ainda parecia surpreso.
- A doutora Clara Hill decidiu retirar sua contestação de guarda, portanto declaro essa sessão finalizada – ele disse batendo seu martelo e todos os presentes se levantaram para sua saída.
- Como assim? – Scorpius falou quando ele e Rose se voltaram para Daniel.
- É isso, ela falou que desistiu da moção, pedindo desculpas pelo incômodo de todos – Daniel disse balançando a cabeça.
- Não faz sentido – Rose disse confusa.
- Não sei o que deu nela, mas o lado bom é o que isso significa – Daniel disse agora abrindo um sorriso – Dimitri é de vocês! – ele finalizou e puxou os amigos para um abraço.
Então a ficha caiu, era isso mesmo, agora não havia mais impedimentos para eles finalizarem o processo de adoção.
Scorpius suspirou aliviado, quase não acreditando que realmente havia conseguido passar por isso. Rose abriu um enorme sorriso, estava mais leve, um peso que ela nem sabia que tinha pareceu sair de suas costas.
Logo, seus amigos e pais vieram os felicitar também.
Mas Scorpius ainda sentia que havia algo estranho no ar, não fazia sentido nenhum a decisão de Clara. Por isso que quando notou a doutora saindo da corte, decidiu segui-la.
Rose estranhou sua saída, mas notando onde ele olhava, pediu para as pessoas ali olharem Dimitri e seguiu com Scorpius atrás de Clara.
- Doutora Hill! – Rose chamou no corredor, Scorpius ecoou seu chamado apressando o passo uma vez que ela não parecia ter diminuído a marcha.
Eles a perseguiram entre alguns corredores até ela se encontrar em uma varanda sem saída, obrigando-a a encarar o casal. Clara Hill estava com os olhos húmidos e constantemente levava o lenço em sua mão direita aos olhos, seu nariz estava vermelho e seus olhos sem luz, ela não parecia bem.
- Eu gostaria de ficar sozinha nesse momento, por favor – ela pediu com a voz falha.
- Eu estou muito agradecido pela sua decisão, doutora, mesmo – Scorpius começou com cuidado – Mas não consigo entender, espero que nada do que tenhamos feito tenha à intimidado de forma alguma, tem seu direito como avó e…
- Eu não fui obrigada a nada, foi uma decisão que tomei – ela assegurou e continuou para si – A mais difícil da minha vida.
- Não entendo – Scorpius repetiu perplexo, ela parecia tão machucada.
- Então apenas aceite.
- Se quiser ainda ser parte da vida dele, estamos de portas abertas – Rose disse timidamente.
Clara Hill riu em meio às lágrimas e então suspirou com alívio fechando os olhos por um momento.
- É por isso, vocês são pessoas boas e amáveis – ela disse encarando o saguão principal do ministério abaixo sem realmente o ver – Se tratam uma inimiga assim, quem dirá um filho.
- Por Merlin, você não é uma inimiga! – Rose disse se assustando com o peso da palavra – Você é a avó de Dimitri, não tenho como pôr um limite em sua relação com ele.
Depois da conversa com Patrick, Clara passou o dia inteiro observando Rose e Scorpius e, odiava admitir para si mesma, mas encontrou a razão nas palavras do amigo de seu filho. Viu Dimitri derrubar um prato inteiro de petiscos e Rose reclamar com ele, viu ele pedir colo para Scorpius enquanto ele falava com a família e então o loiro o colocar sentado em seus ombros sem se abalar, viu Scorpius reclamar com Rose quando ela enfeitiçou as vassouras infantis para subirem meio metro a mais que deveriam.
Enfim, viu uma dinâmica familiar orgânica e harmoniosa que sabia que sabia que dificilmente poderia dar a Dimitri. Viu alegria genuína no rosto de seu neto.
O ponto final foi seu presente, Rose estava ao seu lado antes mesmo que ela notasse que tinha algo errado e certeiramente sabia exatamente o que era, aquilo era uma atenção, um carinho maternal; ela sabia pois se identificava com aquilo. Depois de tudo que Dimitri passou, ela não tinha como tirar esse lugar do neto, de forma alguma.
Passou a semana então amadurecendo a decisão, não queria, mas teria que retirar sua moção, por Dimitri, tinha que reconhecer que seu lugar era mais distante.
- Eu que fico grata a vocês, por assumir com tanto afinco o lugar de meu filho e nora – ela disse genuína – É isso que ele precisa, uma família inteira que o estima e que se ama.
- Você é da família dele – Scorpius assegurou.
- Não pretendo desaparecer da vida dele, tenham certeza – ela disse com um rápido brilho no olhar, olhando de Rose para Scorpius – Portanto é melhor que quando eu apareça para checar, ele esteja bem cuidado – ela finalizou e estendeu a mão.
- Pode deixar, doutora – Scorpius sorriu apertando sua mão firme.
- Tem minha palavra – Rose apertou a mão dela em seguida.
- Ótimo, agora se puderem me deixar – ela pediu voltando a olhar varanda fora – Preciso de um tempo só.
- Claro – Rose assegurou voltando pela porta que entraram.
O casal então começou o retorno para a sala da audiência em silêncio, ambos em dúvida do que fazer ou falar, felizes sobre a questão de Dimitri, mas incertos do que aconteceria em relação a eles próprios.
- Rose – Scorpius tomou coragem e a parou no meio do caminho.
- Sim?
- Acabaram os impeditivos? Ele realmente vai ser nosso?
Rose olhou Scorpius com os olhos brilhando de lágrimas contidas.
- Sim Scorpius, agora é praticamente certo.
Ela mal terminou de falar quando Scorpius a envolveu em um abraço apertado. Eles dois estavam muito felizes, ainda um pouco desacreditando no que tinha acabado de acontecer, mas felizes de qualquer forma.
- Eu estava com tanto medo – Scorpius disse baixo no abraço.
- E eu não sei? – Rose provocou o loiro – No final foi só mais uma prova de nervos.
Ambos riram e se soltaram voltando a ficar envergonhados um com o outro, Scorpius então tomou a palavra.
- Com a questão de Dimitri fechada, creio que podemos ter aquela conversa.
- Certo.
Ambos estavam inseguros, se antes Rose só queria gritar até Scorpius criar algum senso, agora estava meio extasiada com os acontecimentos, ainda surpresa com a decisão de Clara. Ela respirou fundo tentando organizar seus pensamentos para poder expressar o que estava sentindo e pensar de uma forma clara.
- Isso realmente é difícil – Rose concordou com Scorpius e ambos sorriram levemente – Gostaria de começar lembrando tudo que aconteceu entre nós nesses últimos tempos.
Scorpius levantou uma sobrancelha não sabendo bem o caminho que tal conversa ia dar.
- Primeiro que casamos bêbados depois uns 5 anos sem nos falar e mesmo quando falamos em Hogwarts a maior parte era desavenças – Rose iniciou – E daí decidimos, como dois dementes, assumir esse erro como algo premeditado para todos – ela disse balançando a cabeça e revirando os olhos – Então fomos para a "lua de mel" e voltamos com um filho, você tem que concordar comigo que no nosso caso isso não faz sentido algum.
Ela e Scorpius riram, se pensar dessa forma que Rose colocou, realmente fica muito cômica a situação em que eles estavam. Tudo que pareciam fazer era contra o acordado fim daquele matrimônio.
- Eu digo, você foi ver casas para morar sozinho, um sinal claro que logo esperava o divórcio.
- Divórcio?
Rose e Scorpius congelaram, estavam tão concentrados um no outro que falharam ao perceber que seus pais estavam se aproximando. Hermione, Ronald, Astória e Draco haviam decidido procurar os filhos depois do estranho desaparecimento deles e a demora de seu regresso, encontraram os dois há alguns corredores do lugar da audiência, e acabaram ouvindo a última frase de Rose, a pergunta havia vindo de Astória, mas todos os quatro estavam chocados.
Rose e Scorpius se olharam em busca de respostas do que fazer a seguir, mas então viram as expressões gêmeas de desespero e dúvida.
- Como assim divórcio? – Hermione ecoou o questionamento de Astória.
- É que… O que vocês ouviram era… Não... – Rose tentou iniciar alguma frase, mas não sabia o que exatamente queria dizer.
- Então? – Draco perguntou, olhava apenas para Scorpius – O que tem a dizer?
Scorpius viu novamente decepção na expressão de Draco, mas naquele dia ele não estava preparado para ouvir mais um sermão.
- Isso não lhe diz respeito, pai – Scorpius interrompeu seu pai com a mão cerrada em um punho – Isso é sobre eu e Rose e lhe comunico assim que for pertinente – ele continuou firme – Agora vou pegar meu filho e o levar para casa, Rose quando quiser estarei lá para conversarmos – ele disse e deixou os presentes pisando fundo.
Astória olhou para Draco o recriminando e seguiu o filho, Draco seguiu logo atrás, ainda estava surpreso com a resposta desafiadora de Scorpius.
Ficando ali os Weasleys então, Hermione voltou seu olhar para a filha com preocupação. Em sua mente veio o momento depois do primeiro noivado da filha e estava muito temerosa desta possibilidade.
- Rose, o que está acontecendo?
- Mãe, por favor, não fale assim.
- Assim como?
- Como se eu fosse uma criança de porcelana que pode se quebrar a qualquer momento.
- Filha, eu não…
- Eu sei que passei por uns momentos sombrios, mas quero que saiba que eu estou bem e vou ficar bem – Rose interrompeu sua mãe – Eu não sou tão frágil quanto pensa – ela completou.
Rose desviou o olhar de sua mãe, tinha falado o quê estava entalado há um tempo, sentiu-se por um momento aliviada, mas também ficou temerosa da resposta da mãe. Hermione a olhou pasma e então olhou para Ronald vendo se ele ouviu o mesmo que ela.
- Rose, de onde veio isso? Eu…
- Desde que descobri sobre a minha situação, vocês ficam me rondando como se eu tivesse voltado a ser criança e precisasse de cuidado – Rose falou – Sempre parecendo pisar em ovos ao falar comigo de coisas sérias e sempre idealizando como deveria ser minha vida perfeita, o que ela não é e dificilmente vai ser.
- Filha, estávamos tentando ajudar – Ronald disse com a cabeça baixa.
- Eu sei pai, mas as vezes fica evidente o porquê dessa ajuda a mais – Rose disse se abraçando – Por eu estar sempre frágil e...
- Oh Rose, eu não acho você fraca – Hermione pegou a mão da filha – De forma alguma.
Rose riu de lado, desacreditando das palavras da mãe.
- Se algo, você é forte, já passou por tanta coisa e ainda é tão nova – Hermione disse apertando a mão da filha – Só não consigo não me preocupar com você, e entendo agora que minha forma de me preocupar pode ser sufocante.
- Eu sei mãe – Rose disse desviando o olhar – Mas eu consigo me cuidar.
- Tenho certeza que sim, mas não precisa passar pelas coisas sozinha, é apenas isso que quero que saiba – Hermione disse com os olhos marejados.
- Nós podemos dar um passo para trás, mas ainda estaremos aqui – Ronald assegurou olhando-a nos olhos.
Rose então abraçou os pais, ambos retribuíram buscando passar todo o amor que sentiam por ela. Rose ficou mais leve ainda.
- Você é maravilhosa, filha – Ronald disse no meio do abraço – É a melhor em tudo que se propõe a fazer, não importa o que seja.
- E nós vemos sua força, Rose, vemos sim – Hermione disse.
Ficaram ali mais uns instantes antes de se separarem, todos ainda emocionados.
- Vou tentar me preocupar um pouco menos – Hermione prometeu – Mas você tem que prometer diminuir o ritmo das emoções, eu não aguento assim – Rose deu um sorriso amarelo à mãe.
- Você realmente vai se separar do Scorpius? – Ronald perguntou depois de uns instantes.
- É complicado pai, mas é o caminho que estava traçado, é o que deveríamos seguir – Rose disse desviando o olhar.
- Me permite uma opinião? – Hermione perguntou incerta.
- Claro, mãe – Rose disse sorrindo amarelo sem olhá-la.
- Infelizmente, você herdou a visão emocional limitada do seu pai – Hermione disse e os ruivos protestaram – Mas mais agravante, você tende a racionalizar demais tudo, só que tem algumas coisas que não são racionalizáveis.
- Como assim mãe?
- Tem coisas, momentos, que são regidos e explicados apenas por aqui – Hermione disse apontando para o coração de Rose – E que parecem sem sentido aqui – ela finalizou apontando para a cabeça de Rose – Saber quais são eles não é simples e muitas podem parecer difíceis de seguir, mas garanto a você que esses momentos valem a pena.
- Eu sei disso mãe – Rose disse ficando vermelha de vergonha.
- Sabe realmente? – Hermione perguntou encarando divertida a filha.
- Eu sei que não sei, Mione sempre tem que me guiar – Ronald deu de ombros.
- Sempre – Hermione revirou os olhos, mas se divertindo com as lembranças da vida com o marido.
- E com o risco de entrar no papel de pai urso novamente, então me avise – Ronald pediu – E como você está com isso?
- Eu? – Rose perguntou e parou para pensar um pouco – Eu estou confusa.
- A mulher que vi no final de semana passado não parecia confusa, parecia feliz – Ronald sorriu para a filha – Acho que vale a pena entender o que a deixou tão feliz.
- O que, ou quem – Hermione sorriu.
Rose olhou seus pais com um brilho diferente no olhar e abraçou eles de novo, aqueles eram os melhores pais que ela podia ter sem dúvida alguma.
…..
Scorpius estava irritado, mais uma vez sentia o julgamento e frustração de seu pai, será que nunca iria fazer algo certo na visão dele?
Encontrou Dimitri com seus amigos na saída do salão onde aconteceu a audiência. Scorpius agradeceu a presença e o apoio de todos e em especial agradeceu Daniel que ajudou com tudo que nem sabiam que precisavam. Os amigos perguntaram sobre Rose, mas Scorpius apenas balançou a cabeça falando que não sabia.
Scorpius então se desculpou e pediu para levar Dimitri para casa, disse que falariam mais depois. Ele saiu tão rápido que, uma vez a sós, eles se questionaram entre si sobre o que poderia ter acontecido para aborrecer tanto Scorpius naquele momento feliz. Daniel e Jane seguraram os amigos de irem atrás do loiro naquele instante, sabiam que pelo modo que ele estava, precisava de espaço por enquanto.
Ele chegou na casa de Rose que ainda encarava como lar e finalmente suspirou, o que aliviou um pouco a angústia que sentia. Angústia pelo julgamento de seus pais, angústia pela conversa não tida com Rose, só não sentia angústia por Dimitri e então sorriu.
- Dimi, sabe que dia é hoje? – ele perguntou se abaixando para ficar com os olhos na mesma altura dos do menino – Hoje você oficialmente pode ser meu filho sem impedimento algum, gostaria disso?
- Papai – ele disse sorrindo para Scorpius e colocando as mãozinhas em seu rosto.
Scorpius se permitiu deixar algumas lágrimas caírem por seu rosto naquele momento, Dimitri era a única coisa boa que via naquele momento e ele ainda pela primeira vez o chamava de pai. Scorpius sentou no chão com as costas apoiadas na parte de trás do sofá e abraçou o menino bem forte, tentando se concentrar apenas nele.
Não demorou muito para Dimitri se mexer incomodado com o aperto e Scorpius o deixar seguir seu caminho. Bell então apareceu ao seu lado e começou a lamber seu rosto.
- Bell, não – Scorpius pediu tentando conter a Husky, sem muito sucesso só com as mãos, decidiu se levantar – Você é muito carente.
Ele reclamou e seguiu para a pia para lavar seu rosto das lágrimas e da baba, assim que trouxe água ao rosto a campainha tocou. Scorpius reclamou com sigo mesmo secando o rosto rapidamente com uma toalha e seguiu para atender.
A leve felicidade e tranquilidade momentânea se esvaiu, ali estavam seus pais, em sua porta. Astória o olhava preocupada, mas Draco estava impassível, Scorpius resmungou, mas deu passagem para eles entrarem.
Dimitri apareceu de seu quarto pelo barulho da campainha e sorriu cumprimentando com um abraço os recém chegados. Scorpius pediu para Dimitri voltar a brincar em seu quarto e ele assentiu seguindo o pedido.
Sendo assim, os três adultos se sentaram na sala em silêncio, Scorpius estava evidentemente incomodado e aborrecido.
- Filho, o que está acontecendo? – Astória perguntou finalmente.
- Mãe é algo entre eu e Rose, é complicado e temos que entender juntos o que está acontecendo.
- Divórcio, Scorpius? – Draco perguntou.
- Sim, pai, é algo que pode acontecer – Scorpius deu de ombros – Pode não ser o que você tenha esperado, mas é a minha vida.
- O que quer dizer com isso?
- O que eu falei, minha vida não é a ideal para seus padrões, mas é o que tenho – Scorpius o olhava ainda em desafio.
- Meus padrões? – Draco levantou uma sobrancelha.
- Exato, cansei de tentar parecer um filho aceitável, então é com isso que terá que se contentar – Scorpius disse sentindo que um peso tinha saído de seus ombros.
- É isso que você pensa de mim? – Draco perguntou.
- Não é isso que você pensa de mim? – Scorpius perguntou enfatizando a palavra "você".
Draco se levantou começando a andar de um lado para o outro, pela primeira vez naquele dia Scorpius viu alguma emoção diferente no rosto de seu pai, ele estava triste. Scorpius se sentiu afundado na poltrona em que estava, ele havia deixado seu pai triste.
- Eu prometi, quando ele nasceu, Astória, eu prometi e não cumpri – ele disse olhando para a esposa, ela sorriu empatica tentando confortar o marido sem, no entanto, saber muito bem o que fazer.
- Prometeu o quê? – Scorpius perguntou com a voz baixa, Draco o olhou parando em seu lugar.
- Eu prometi que não ia colocar expectativas sobre você, que você seria livre – Draco explicou – Mas não consegui, certo? Eu sou igual ao meu pai – ele completou se sentindo derrotado e se sentando.
- Pai, não…
- Scorpius, me desculpe – ele disse o interrompendo – Em nenhum momento queria que se sentisse que precisava ser alguém que não era para me agradar, não era isso que eu queria.
Astória abraçou de lado o marido enquanto Draco enterrou o rosto em suas mãos com os cotovelos nas pernas. Scorpius estava perplexo, não entendia o que estava acontecendo.
- Pai? – Scorpius então se agachou perto das pernas do pai, odiou o ver daquela forma – Desculpe, eu não queria…
- Não se desculpe Scorpius, não para mim – Draco pediu abaixando as mãos para olhar seu filho – Eu entendo muito bem como a pressão vinda dos pais pode ser dura, acredite, e eu nunca quis que você sentisse isso também, me desculpe.
Scorpius notou que os olhos de seu pai estavam úmidos e se sentiu mais mal ainda.
- Eu me preocupei tanto em não colocar as expectativas do meu pai, do nome da nossa família, em você que acabei não vendo que estava colocando outras, as minhas próprias, não? – Draco reconheceu – Eu sou o pior pai do mundo mesmo.
- Não fale assim – Scorpius pediu.
- Enfim, o que eu quero para você é apenas o melhor que pode ter e ser – Draco disse ignorando a fala dele – E eu não deveria ter criado na minha mente o que seria isso para você.
Draco abaixou as mãos, os três ficaram em silêncio por um momento. Draco tentava encontrar as palavras para se explicar para o filho.
- Scorpius, desde criança você foi muito impulsivo, isso trazia coisas boas, mas também coisas ruins, nessa época que eu e sua mãe nos tornamos experts em feitiços de cura simples
Astoria riu levemente junto com Draco, se lembrando da infância de seu filho. Scorpius estava confuso para onde a conversa estava indo.
- Sendo assim, acho que fiquei um pouco receoso do que você poderia fazer com você mesmo, se isso fizer algum sentido – Draco disse com um sorriso que não chegava nos olhos – Só gostaria de evitar que se machuque, física ou emocionalmente, mas creio que isso está fora do meu alcance há um tempo já.
- Eu te entendo, pai – Scorpius disse e Draco o olhou nos olhos – Creio que agora te entendo – ele disse acenando para uns brinquedos ali próximos.
- Ah sim, é uma jornada e tanto a paternidade, filho, você verá – Draco avisou.
- Estou vendo.
- E eu prometo me observar melhor sobre as expectativas que eu coloco sobre você.
- Obrigado – Scorpius disse sincero e se levantou, Draco e Astória se levantaram também – E pai, você não é o pior pai do mundo, só é o mais difícil de entender.
- Tentarei melhorar, mas eu só quero que você fique bem, de verdade – Draco assegurou – Seja se casando na calada da noite, seja adotando uma criança, seja sendo medibruxo… – ele brincou – O importante é que você esteja feliz.
- Minha vida é uma loucura mesmo, não? – Scorpius sorriu e abraçou o pai no impulso, Draco se assustou, mas retribuiu o abraço.
Astória abraçou os dois, em algum momento começara a chorar durante a conversa deles e ainda não tinha parado, aquele momento era o que mais sonhava há algum tempo. Eles se afastaram depois de alguns instantes.
- E sobre o divórcio, filho, você está buscando casas? Sabe que pode voltar a mansão a qualquer momento – Astória se lembrou.
- Sobre isso – Scorpius suspirou – Sobre isso é mais uma confusão que eu criei.
- Nada tão severo que ela não possa te perdoar?
- É só complicado mãe – Scorpius sorriu triste para a mãe.
- Bom, você gosta muito dela? – Astória perguntou.
- Sim, eu gosto muito dela – Scorpius sorriu para o termos que a mãe usou.
- Então invista, insista mais um pouco – ela aconselhou – Todos os relacionamentos têm altos e baixos, o que muda é a perseverança do casal em escolher insistir um no outro.
- Insistir um no outro – Scorpius repetiu reflexivo e então voltou a olhar os pais – Vou ver como as coisas andam, mãe – Scorpius assegurou.
- E filho – Draco o chamou – Iríamos adorar saber de qualquer novo rumo da sua vida por você, não pelos jornais outra vez, tentarei policiar minha reação.
- Obrigado e desculpe, pai – Scorpius pediu – Pode deixar, qualquer novidade vocês serão os primeiros a saber e por mim.
…..
Os pais de Scorpius saíram quando o sol começou a se pôr e foi a primeira vez em muito tempo que Scorpius se sentiu leve na companhia do pai. Dimitri havia se juntado a eles na sala pois precisava mostrar à Scorpius sua nova construção com as peças de encaixar que havia ganhado de Daniel e então ali ficou sendo apreciado por Astória e Draco também.
- Não precisam ir se não quiserem – Scorpius sugeriu enquanto os pais se arrumavam para sair.
- Não queremos atrapalhar quando Rose chegar – Astória sorriu – E podemos ficar um tempo com Dimitri para distrair ele se quiser.
- Estou tentando deixar ele menos com você – Astoria levantou as sobrancelhas– Você mima ele demais.
- Eu? Mentira – Astória respondeu falsamente indignada – Mas como dizer não para essa carinha?
- É a mesma coisa com você – Draco balançou a cabeça.
- Eu não sou mimado, pai.
- Eu estranharia se não fosse, é nosso único filho – Draco riu para o filho, deixando Scorpius um pouco pensativo – E agora nós vamos de verdade, até mais filho.
- Até mais querido – Astória disse e ambos se foram pela lareira via pó de flu.
- E agora, pequeno, que tal um bom banho? – Scorpius perguntou para Dimitri que assentiu.
Scorpius foi até o banheiro e começou a encher a banheira, Dimitri havia ido pegar sua caixa de brinquedos aquáticos para usar. Dimitri já se banhava sozinho, mas ou Scorpius ou Rose, sempre o observavam para se assegurar que ele estava se limpando direito e não apenas brincando.
Sabendo disso, Dimitri deu a Scorpius um tubarão enquanto ele próprio estava com um barco para eles brincarem. Ambos se entretiveram tanto com a brincadeira que logo Scorpius também estava coberto por bolhas e água, foi nesse estado que Rose encontrou os dois.
- O banho em si, aconteceu? – Rose perguntou divertida, assustando momentaneamente Scorpius.
- Ah, sim – ele respondeu – Foi a primeira coisa.
- Entendi – ela respondeu e continuou – Acha que está encaminhando para o fim ai?
- Está sim.
- Ótimo – ela disse, pegando a toalha de Dimitri e colocando a frente de seu corpo.
Dimitri sorriu entendendo o gesto e se levantou pulando em Rose para ela o secar. Rose demorou alguns instantes a mais o abraçando, mas logo o soltou para realmente o secar. Scorpius levantou do chão meio incerto do que fazer.
- Você limpa aqui enquanto eu cuido dele? – Rose perguntou e Scorpius assentiu.
E assim Rose se foi com Dimitri em seus braços para o quarto da criança. Uma vez ali, deixou o menino na cama e foi pegar as roupas para o vestir, se pegou sorrindo olhando as pequenas roupas, Dimitri estava ali para ficar.
- O de dragão, certo? – Rose perguntou mostrando o pijama com pequenos dragões estampados.
- Dragão! – Dimitri sorriu confirmando a escolha.
Rose sorriu e lhe deu a roupa para ele se vestir, ela então inconscientemente voltou seu olhar para a foto que Scorpius deu para o menino e o soldadinho de Alexandra, prometeu silenciosamente naquele momento que agora que provavelmente seria a mãe de Dimitri, iria se dedicar para ser a melhor possível, por ela.
- Pronto? – Rose perguntou vendo Dimitri totalmente vestido, ele afirmou – Vamos ver o que podemos achar para jantar.
O menino confirmou e então foram para a cozinha, lá encontraram Scorpius no meio da preparação de sanduíches de frango.
- Estão com fome? – ele perguntou sorrindo.
- Leu nossas mentes – Rose sorriu sentando na pequena mesa da cozinha mesmo, ajudou Dimitri em sua cadeira também.
Eles comeram em silêncio, ainda incertos de como iniciar a conversa, ficaram apenas aproveitando a companhia de cada um. Dimitri parecia estar bem satisfeito enquanto devorava seu lanche, Rose sorriu e o foi limpando conforme ele se lambuzava mais com o molho do prato.
Quando terminaram, Dimitri voltou a brincar com os blocos de brincar de mais cedo na sala, mas não demorou muito para ele demonstrar os sinais de sono, Scorpius então chamou o menino para ir dormir. Ele negou no início, mas logo eles convenceram a ir. Dimitri estava ressonando tranquilo depois de uma história e meia.
- Ganhamos, como eu te disse – Rose falou baixo sorrindo observando o menino.
- Eu nunca deveria duvidar de suas palavras – Scorpius respondeu no mesmo tom.
- Você aprende rápido – ela brincou – Vamos? – ela perguntou apontando para a saída do quarto.
Scorpius afirmou com a cabeça e assim seguiram para a sala, uma vez ali ambos pararam incertos, se viraram de frente um para o outro, mas sem realmente se olhar diretamente nos olhos.
- Então – Scorpius começou.
- Então – Rose ecoou e eles riram.
- A tal conversa – Scorpius começou – Certo, eu gostaria de começar pedindo desculpas por como eu agi nesses últimos tempos, principalmente por…
- Sobre isso, tudo bem – Rose o interrompeu – Eu entendi quando falou mais cedo sobre você ser um imbecil – ela riu e Scorpius revirou os olhos.
- Usando minhas palavras contra mim – Scorpius disse falsamente ofendido.
- Só quando elas fazem algum sentido – Rose sorriu e então decidiu falar logo o resultado dos pensamentos da semana e de depois da conversa com os pais – Eu queria dizer...
- Rose, eu... – Scorpius começou a falar no mesmo tempo que ela e ambos riram sem jeito.
- Deixe-me falar agora, por favor – Rose pediu, Scorpius levantou as mãos ficando em silêncio, ambos finalmente se olhando – O que queria falar é que eu teria dito sim.
- Como? – Scorpius perguntou confuso.
- Eu diria sim para você, Scorpius, cada dia tento me enganar do que está bem na minha frente, você não é só um grande amigo, é bem além disso há um tempo – ela riu um pouco – Você tem sido o herói da minha vida há quase um ano agora, simplesmente impossível não me apaixonar, é irritante na verdade – Scorpius sorriu de volta desacreditando da situação.
- Rose, você…
- É claro que com o seu desaparecimento e tudo que aconteceu hoje, eu acabei ficando meio confusa – ela disse meio brava com Scorpius ainda – Mas a minha resposta seria sim para ficar com você, e hoje ela ainda é sim e por quanto tempo você quiser.
- Você está dizendo o que eu estou ouvindo mesmo? – Scorpius perguntou sorrindo de orelha a orelha.
- Mas... – Rose começou, o coração de Scorpius diminuiu um pouco nessa palavra.
- Mas?
- Scorpius, você tem que entender os meus limites, entender bem – Rose disse com um sorriso triste – Eu realmente não posso ter filhos, Scorpius, quero que entenda que se ficar comigo, essa parte de nosso futuro é bem limitada.
- Rose eu entendo isso, de verdade – Scorpius disse pegando as mãos dela nas suas – Eu quero você no meu futuro, você e Dimitri, o que vier ou não junto é lucro – Scorpius disse firme de cada palavra, Rose encheu os olhos de lágrimas – Não chore por favor, acredite em mim, é você, Rose – ele disse colocando a mão na bochecha de Rose para limpar sua lágrima.
- Eu acredito em você, Scorpius – Rose sorriu para ele colocando sua mão sobre a dele.
- E pense, com Dimitri, o que mais poderíamos pedir?
- Você tem certeza, Scop? – Rose perguntou olhando-o nos olhos – Não sei se aguentaria você indo embora.
- Eu não vou a lugar algum – Scorpius assegurou – Não sem você, não sem Dimitri – e então ele riu um pouco se lembrando – Não sem Bell – isso fez Rose rir um momento também.
- Você é maravilhoso – Rose sorriu feliz.
- E você é incrível – ele disse e enfim a beijou.
Scorpius sentia que poderia explodir de felicidade a qualquer momento, se antes o futuro parecia enevoado e solitário, agora estava brilhante e aconchegante. As pessoas que ele amava estavam com ele e assim ficariam até alguém falar o contrário.
Rose estava extasiada, tinha muito medo ainda de se permitir viver aquilo, mas estando naquele beijo, naqueles braços, decidiu que o risco valia a pena. Encontrou seu lugar e sua felicidade, seu destino era ali.
Rose e Scorpius se completavam, a força que puxava um para o outro era forte e o laço que os mantinha unidos ainda maior. Eles estavam refém dessa situação desde o início, mesmo sem saber, o futuro mantinha eles inevitavelmente juntos.
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N/A: Obrigada por ler ptrc, espero que curta esse final depois de tanto tempo, hehe.
