Disclaimer: Nada mudou: os personagens continuam pertencendo a J.K. Rowling e eu não ganho absolutamente nada com isso.

Obrigada, Marck Evans , beta mais lindo.


Capítulo 17

Depois da briga com Severus, Harry vinha evitando o máximo se encontrar desnecessariamente com ele. Continuavam treinando juntos e o Mestre de Poções estava particularmente exigente naqueles dias. Harry havia explicado a Sirius apenas algumas coisas, deixando a parte difícil da conversa para depois. Agora, o olhar determinado diante dele, dizia que o 'depois' finalmente tinha chegado. Parou para pensar o 'como' e o 'quanto' deveria contar. Respirou fundo e começou.

- É uma história meio comprida.

Sirius subiu mais para a cama, dobrou as pernas e encostou-se à cabeceira.

- Sem problemas. Eu já cancelei todos os compromissos da minha agenda. Temos todo tempo do mundo.

Harry tentou sorrir, mas não conseguiu. Estava um pouco nervoso e nada ansioso para relembrar aqueles acontecimentos. Sentiu a mão de Sirius sobre seu ombro, apertando-o levemente. Tomou coragem e começou:

- No final do meu quinto ano em Hogwarts, teve aquela invasão no Ministério, você duelou com Bellatrix e atravessou o véu. Lembra disso?

Sirius franziu o cenho e Harry viu o momento exato em que a compreensão o atingiu.

- Aquela vaca! Eu...

- Sirius, eu vou te explicar tudo. Ou tentar. Calma.

Harry contou tudo que havia acontecido naquela noite e sobre a profecia. Sirius o ouviu em completo silêncio.

- Sinto muito, Harry.

- Tudo bem. Com a invasão do Ministério, o Ministro foi substituído e eles foram obrigados a admitir que Voldemort retornou.

- Bando de idiotas. Correram com Fudge?

- Sim. Agora, o Ministro é Rufus Scrimgeour.

- Rufus Scrimgeour? Eu lembro dele. Homem de ação.

Harry sorriu de lado e falou:

- Sim, mas é um babaca. Deixa para lá. Sabia que você foi inocentado?

- Sério? Então, não sou mais o inimigo público número dois da bruxandade?

Harry ficou sério imediatamente.

- Não, você perdeu esse posto para Severus.

- Como assim?

- Eu vou te contar. É melhor ouvir sem me interromper, por favor.

Sirius assentiu e Harry falou:

- No final do quinto ano, a situação ficou muito difícil. Ataques a trouxas, bruxos desaparecendo, outros assassinados, aparecimento de Inferi, os dementadores abandonaram Azkaban e se uniram a Voldemort. – Ignorou o estremecimento do outro e continuou: - O Ministério não conseguia prender nenhum culpado. Alguns membros da Ordem e aurores passaram a vigiar Hogwarts constantemente durante o ano. Infelizmente, isso não impediu a invasão dos Comensais e a morte de Dumbledore.

Nesse ponto, Sirius aprumou-se na cama e falou, chocado.

- Hogwarts foi invadida e Dumbledore morreu?

- Sim, morreu.

- Mas como? Tem certeza? Não foi um truque ou uma suposição errada como a minha morte?

Harry precisava ser cuidadoso, pois sabia que a pior parte ainda estava por vir.

- Não, eu vi quando aconteceu. Durante aquele ano, o professor Dumbledore estava me dando algumas aulas particulares. Ensinando-me sobre o meu inimigo. Estava me mostrando tudo que sabia sobre Voldemort. Na noite que ele morreu, estávamos em seu escritório quando a marca negra apareceu sobre a Torre de Astronomia. Ele mandou que eu voltasse para o dormitório e eu me recusei. Então, ele permitiu que eu fosse com ele desde que eu usasse a capa da invisibilidade. Na hora, eu não entendi muito bem porque ele fez isso. Quando chegamos lá, não havia ninguém. Ele me fez prometer não agir sob nenhuma circunstância. Ainda assim, lançou um impedimenta quando entraram na torre e eu fiquei imóvel, apenas assistindo.

Sirius continuava calado, sua expressão era sombria. Não havia um jeito fácil de dizer a verdade.

- Voldemort tinha encarregado Draco de matar Dumbledore.

- Mas ele ainda era um menino! – Sirius falou indignado.

Harry meneou a cabeça, concordando. Continuou:

- Com Lucius preso, a família Malfoy estava em desgraça junto a Voldemort. Foi a vingança perfeita encontrada por ele. Durante o ano, aconteceram duas tentativas de assassinato que deram errado. No final, Draco conseguiu infiltrar alguns Comensais na escola, conjurar a Marca Negra sobre a Torre para atrair Dumbledore e ficar cara a cara com ele.

- Foi Draco quem...?

- Não, não foi. Ou melhor, de certa forma, sim. Quando Narcissa Malfoy descobriu os planos de Voldemort, ela foi atrás de Severus e eles fizeram um Voto Perpétuo com o qual ele se via obrigado a completar a missão de Draco, em caso de falha.

Sirius empalideceu visivelmente e sua voz saiu carregada de fúria.

- Snivellus. Só podia ser aquele traidor.

Ele estava a ponto de descer da cama, mas Harry o impediu.

- Por favor, pode ouvir tudo? Sim, você tem razão. Foi Severus quem o matou.

- Mas que droga, Harry. Como você pode chamar o assassino de Dumbledore de Severus e conviver com ele? E com o cúmplice? Malfoy também não é flor que se cheire. Eu não entendo.

Harry começou a perder a paciência. Apertou com mais força o braço de Sirius até conseguir que ele o encarasse.

- Se você não ficar quieto, nunca vai saber. Qual você acha que foi a minha reação? Eu vi Dumbledore ser morto e não pude fazer nada. Nada! Quando ele morreu e o efeito passou, eu corri atrás de Severus e Draco tentando atingi-los e eu os teria matado, sem pensar duas vezes, se os alcançasse. Mas eu fui derrotado por Severus sem qualquer esforço dele. Ele poderia ter me matado e não o fez. Eu estava puto com tudo aquilo. Depois, eu fiquei sabendo que Dumbledore já estava morrendo desde o início do ano. Só recentemente, eu soube que, ao tentar descobrir um modo de te trazer de volta, ele caiu numa armadilha de Voldemort. Severus conseguiu retardar o efeito da maldição, mas era apenas questão de tempo. Foi o próprio Dumbledore quem pediu a Severus que o matasse.

A expressão de Sirius mostrava toda a sua descrença.

- E foi o Snivellus quem te disse isso? Assim a culpa fica sendo minha.

- Não, Sirius. Foi o próprio Dumbledore quem me contou. E a culpa não é sua. Ele subestimou Voldemort e pagou o preço por isso. Mas sabendo que estava morrendo, ele tentou tirar o melhor proveito da situação. Conseguiu trazer Draco para o nosso lado e colocou Severus em posição de destaque entre os Comensais.

Harry ficou observando a sucessão de emoções passarem pelo rosto do padrinho. Era visível o esforço que ele fazia para se controlar.

- Sei que é difícil para você entender. Se quiser, podemos continuar depois.

- Não, eu quero saber tudo agora. Eu não entendo como você pôde vir morar aqui. Com ele. – Sirius disse a última frase quase com nojo.

- Sirius, eu entendo o que você está sentindo. Quando Dumbledore morreu, eu pirei. Pirei de verdade.

Sirius pareceu se conter e o encarou preocupado.

- Como assim?

- Eu achei que tudo era culpa minha. Não via como poderíamos vencer essa guerra sem ele. E havia a maldita profecia a ser cumprida. Eu perdi a cabeça. Eu voltei para a casa dos meus tios e Voldemort voltou a fazer o que queria na minha mente. Passei a ter visões horríveis com os Comensais matando e torturando pessoas. Uma noite, eu acordei com eles atacando um vilarejo trouxa e eu fiz a coisa mais estúpida que eu poderia fazer na minha vida: eu aparatei direto lá.

Sirius fez um som de surpresa, mas Harry o ignorou. Precisava contar aquilo o mais rápido possível antes que perdesse a coragem.

- Eu me senti entrando dentro de um dos meus pesadelos. Mas nenhum deles era tão real quanto aquilo. Havia tanta gente morta e ferida. Tantas crianças. E os Comensais rindo. Quando notaram a minha presença, a situação se descontrolou completamente. Os membros da Ordem e os Aurores se distraíram tentando me salvar e os Comensais queriam me alcançar de todo jeito. – Harry deu um riso amargo. – Foi a lição mais difícil que eu poderia aprender: perceber que eu não estava preparado para um confronto de verdade. Por mais rápido que eu fosse, não conseguia lutar contra várias pessoas ao mesmo tempo. E havia os corpos por todos os lados que pareciam me acusar. – Fechou os olhos, mas as imagens pareceram mais vívidas que nunca. Voltou a abri-los e encarar a parede. – Um Comensal lançou uma maldição que me acertou em cheio e eu voei longe. Um outro se aproximou e eu achei que estava morto. Para ser honesto, pouco importava. Mas ele me jogou uma chave de portal e eu fui parar direto em Grimmauld Place. Remus foi quem me achou.

- Um Comensal? Snivellus? – A voz dele demonstrava completa descrença.

- Não, Draco. Ele me jogou um anel com o brasão da família dele. Mas ele me contou, depois, que foi Severus quem preparou a chave de portal tão rápido. Eu passei três meses me recuperando. Quando eu pude me levantar, Remus veio conversar comigo. Voldemort estava tendo acesso a minha mente novamente e eu precisava treinar Oclumência de qualquer jeito, bem como feitiços defensivos. Nós tivemos uma discussão feia quando ele quis que eu voltasse a Hogwarts e eu me recusei. Eu já era de maior e ninguém poderia me obrigar.

- Você não voltou para o seu sétimo ano?

- Não. Mione e Ron voltaram. Os pais os obrigaram. Remus bem que tentou, mas não conseguiu nada de mim.

- Mas, Harry, como você ia aprender tudo que precisava longe da escola?

Harry bagunçou ainda mais o cabelo ao passar a mão por ele.

- Eu estava pouco me lixando para isso, Sirius. Na metade do tempo, eu ficava olhando para o maldito anel, procurando entender o que tinha acontecido e na outra, eu tentava esquecer de tudo. Mas então, Remus veio conversar comigo. Ele tentou me explicar o que tinha acontecido com Dumbledore e que eu deveria ser treinado por Severus.

Sirius o encarou, espantado.

- Tá brincando?

- Não. Eu nem ouvi nada da explicação de Remus. Fiquei tão furioso com aquela sugestão que falei um monte de absurdos para ele. Tá, não me olha com essa cara. Eu estava com muita raiva. Mas não foi nem um terço do que eu disse para Dumbledore. Com tudo que aconteceu, eu fiquei um pouco, digamos, alterado.

- Alterado como? – Sirius perguntou, curioso, inclinando a cabeça de lado para o olhar melhor.

- Alterado do tipo que grita com o professor Dumbledore e derruba coisas no chão.

- Você gritou com Dumbledore? – disse espantado.

- Sim, Sirius. Eu fui até Hogwarts só para gritar com o quadro dele e redecorar a sala da professora McGonagall.

- Você não fez isso.

- Fiz. E Dumbledore ouviu tudo em silêncio até que ele, com a voz mais calma e irritante do mundo, me colocou no meu lugar.

Sirius deu um sorrisinho.

- Posso imaginar.

- É, talvez você possa. Aí, ele me explicou que já estava morrendo, mas não quis me contar como tinha recebido a maldição. Me explicou como tinha convencido Severus e tudo isso que eu já te falei. A verdade, é que havia poucas pessoas tão competentes e com tempo para me ensinar quanto Severus. Eu poderia voltar, excepcionalmente, para Hogwarts, mas eu não queria isso de jeito nenhum.

- E como ele convenceu você a vir morar aqui? Você preferiu Snivellus à Escola? Não entendo.

- Eu não 'preferi' Severus. Mas tem algo que Dumbledore não consiga? Eu saí da sala dele mais furioso que nunca. Mas me mudei naquela mesma tarde e parei de conversar com Remus por quase um ano. Pára de me olhar com essa cara. Eu fui injusto, mas estava com raiva. Não foi fácil para Severus e Draco me aceitarem aqui também. A gente não confiava um no outro e no início, mais brigávamos que treinávamos. Por fim, acabei engolindo meu orgulho e as coisas foram se ajeitando.

- Isso foi há quanto tempo?

- Há mais de dois anos. – A voz de Harry não passou de um sussurro.

- Isso significa que eu passei quase quatro anos preso naquele véu?

Harry apenas assentiu em silêncio. Sirius estava visivelmente abatido.

- Eu... Preciso pensar um pouco sobre isso. São muitas informações. Poderia me deixar sozinho?

Harry concordou e saiu do quarto, deixando Sirius confuso atrás de si.


Observação: Bem, se notaram, não há horcruxes nessa fic. Todos os outros acontecimentos que não envolvem horcruxes aconteceram.