Disclaimer: Nada mudou: os personagens continuam pertencendo a J.K. Rowling e eu não ganho absolutamente nada com isso.

Obrigada, Marck Evans , beta mais lindo.


Capítulo 21

Depois da conversa com Remus, Sirius resolveu pensar um pouco sobre as últimas informações que ouvira. Ao passar em frente o quarto de Draco, parou indeciso e, num impulso, entrou. O rapaz pareceria apenas adormecido se não fosse o pergaminho flutuando constantemente ao lado da cama. Aproximou-se. Nunca teve curiosidade alguma em entrar ali. Sabia sobre a existência de Draco, claro, mas tinha suposto que ele apenas estivesse na casa porque Snape era seu padrinho. Ficou um longo tempo analisando o rosto de traços perfeitos e aristocráticos, a pele alva e sem nenhuma mancha, o cabelo loiro e liso. Não pôde evitar um sentimento amargo de comparação. Eram tão diferentes... Tentou afastar aquela sensação e foi para seu próprio quarto.

Sirius estava se sentindo confuso sobre um monte de coisas. Sentia-se culpado em relação a Harry. O rapaz era seu afilhado Sirius tinha a impressão que deveria tratá-lo como a um filho. Mas não conseguia. Sempre teve muita dificuldade em separar o rapaz de James. Claro que sabia que eram pessoas diferentes e deveriam ser tratadas como tal, mas era muito mais fácil enxergar Harry como a um amigo que como um filho. Ainda mais por todo cuidado que ele sempre tinha demonstrado durante sua convalescença.

E havia Remus. No ano que passaram juntos morando em Grimmauld Place, Sirius pensou que iriam retomar o relacionamento que tinham antes de Azkaban. No entanto, isso não aconteceu. Eles até tinham tentado. Tinham ficado juntos, mas não era a mesma coisa. Não sabia precisar exatamente o porquê, mas achava que em parte a culpa era sua mesmo. Durante todo aquele ano, permaneceu frustrado e irritado por ser obrigado a se manter escondido. Além disso, Remus também parecia diferente, parecia distante, dividido, e Sirius não se sentia digno de ficar novamente com ele. Queria provar sua inocência primeiro, mas infelizmente, o tempo foi curto demais.

E ainda havia Snape. Era praticamente impossível para ele esquecer todos os anos que passou odiando o outro e aceitar que tudo que pensava sobre ele era errado. Era muito mais fácil acreditar que tudo não passava de encenação e Snape estava apenas esperando o momento certo para agir. Mas Sirius via o esforço do outro. Notava também que se Snape realmente quisesse, ele já poderia ter matado qualquer um deles das maneiras mais variadas e sem qualquer dificuldade. Tentava se conter e não provocá-lo muito porque Harry pediu, mas ficava muito irritado quando o via monopolizando a atenção de Remus e Harry.

Sirius deu um suspiro cansado. Ficou o resto da tarde no quarto e conseguiu chegar a apenas uma conclusão: precisava conversar com Remus e acertar as coisas entre eles.

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Harry finalmente tinha conseguido terminar todas as anotações e dúvidas para a próxima aula com Madame Pomfrey. Recostou-se a cadeira, massageando a testa e a nuca. Estava pregado. Estranhou um pouco o silêncio da casa. Enquanto esteve estudando nem reparou nisso, mas agora, deu-se conta que estava tudo quieto demais. Percebeu que Sirius não tinha aparecido uma vez sequer. Normalmente, seu padrinho já teria interrompido seus estudos para perguntar algo, distrai-lo ou trazer um lanche. Harry esperava que Sirius não estivesse deprimido ou trancado no quarto novamente Era engraçado, mas apesar de reclamar algumas vezes das interrupções dele, sentia falta disso.

Segundo Remus, Sirius ainda estava longe de sua personalidade alegre e cheia de vida, mas ele havia melhorado muito desde que acordara. Ele já fazia algumas brincadeiras, ria e conversava. No início, a atitude de Harry com ele, era de proteção. Queria ajudar seu padrinho a se curar e voltar a ser como antes. Tinha imaginado que à medida que Sirius se recuperasse, ele fosse assumindo seu papel de padrinho com o mesmo tipo de atitude protetora que Harry via Severus ter em relação a Draco.

Mas isso não tinha acontecido. Sirius sempre o tratava como a um igual. Aquilo o incomodou um pouco ao imaginar que poderia estar sendo confundido com seu pai. Mas depois, passou a agradá-lo. Remus já exercia bem demais o papel de responsável e até mesmo Severus tinha os seus 'lapsos' de protecionismo, como ele mesmo falava. Era interessante ter alguém com quem pudesse ser irresponsável.

Harry resolveu verificar como Sirius estava. Se ele estivesse trancado no quarto, iria conversar com ele. Não ia permitir que ele se entregasse ao desespero novamente. Sempre que aquilo acontecia, Sirius levava vários dias para voltar ao estado de ânimo anterior à depressão. E Harry definitivamente, não queria aquilo. Consultou as horas e praguejou. Estava em cima da hora de ir para a reunião da Ordem. A conversa com Sirius certamente seria bastante demorada e Harry não podia faltar. Deu um suspiro cansado, recolheu suas coisas e foi para reunião, prometendo-se procurar o padrinho assim que voltasse.

Harry entrou em casa silenciosamente. Estava tudo escuro e ele nem se preocupou em acender as luzes, dirigindo-se automaticamente para a sala. Era possível ver as chamas da lareira formando imagens na parede do corredor e estranhou que alguém a tivesse acendido. Afinal, não estava tão frio assim. Entrou na sala e parou, estarrecido, ao ver Sirius e Remus se beijando apaixonadamente no sofá. Praguejou baixinho, maldizendo sua falta de jeito. Já estava alcançando a porta quando quase caiu em cima de Severus que também entrava na sala. Encarou os olhos negros e não conseguiu decifrar qualquer emoção no rosto dele. Saíram, deixando o casal à vontade.

Harry foi para o quarto e Severus em direção ao laboratório. Ao passar pela porta do quarto de Draco, Harry hesitou alguns instantes antes de entrar. Sentia-se desconfortável com a cena que presenciara e não conseguia entender o porquê. Quando decidiu entrar, ficou pouco tempo, inquieto demais para permanecer ali.

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Assim que tomou a decisão de conversar com Remus, Sirius se sentiu cheio de energia e disposição. Tomou um banho e desceu, encontrando a casa completamente vazia e silenciosa. Depois de procurar por todos os lados, inclusive no laboratório de poções, ficou claro que estava sozinho. Afastou a sensação de solidão para longe e procurou se ocupar até que mais alguém chegasse.

Sirius estava jogando xadrez bruxo contra ele mesmo quando Remus chegou.

- Moony, que bom que chegou. – Notou que o outro estava tremendo e falou preocupado. – O que aconteceu?

Remus sorriu e respondeu:

- Oi, Padfoot. Estou ótimo, não se preocupe. Só com um pouco de frio. Mas eu já me aqueço.

Sirius o empurrou para o sofá e fez um movimento com a varinha, acendendo a lareira. Conjurou uma bebida quente e entregou para Remus que o olhava surpreendido.

- Com fome?

Remus aceitou a bebida fumegante e tomou um gole.

- Não, eu já comi. Hum, chocolate quente com rum. Quando lembrou desse feitiço?

Sirius sorriu e se sentou ao lado dele.

- Certas coisas a gente nunca esquece. É tão natural quanto voar de vassoura.

Remus apenas assentiu e continuou tomando a bebida, visivelmente satisfeito. A lareira estava criando um calor muito agradável no ambiente. Ficaram em silêncio por um tempo até que Sirius perguntou curioso:

- Onde você estava?

- Eu estava em uma missão para a Ordem. Por falar nisso, onde estão os outros?

- Não sei. Quando eu desci, não vi ninguém.

Remus franziu o cenho e se levantou preocupado.

- Droga, esqueci que Harry ia a uma reunião da Ordem hoje. Kingsley se atrasou para me substituir e eu demorei a voltar para casa. Preciso dar a poção para Draco.

Sirius o puxou de volta para o sofá.

- Não se preocupe. Eu já fiz isso.

- Já? – disse espantado.

- Já. Quando vi que estava sozinho, achei melhor verificar os horários dele e como ninguém chegava, eu fiz conforme as instruções que estavam lá.

Remus sorriu e se recostou.

- Obrigado, Padfoot.

Sirius ficou calado. Queria conversar com Remus, mas não sabia como. Virou-se para ele e o encontrou encarando as chamas, pensativo.

Ao perceber que era observado, ele se voltou e sorriu. Então, Sirius resolveu agir. Era um homem mais de ação que palavras. E o beijou. O beijo era como ele se lembrava: doce, quente e dava uma sensação de familiariadade. Tudo que Sirius associava a Remus. O beijo se tornou mais desesperado, com gosto de saudade, tristeza e de uma longa separação.

Sirius se afastou, encostando a testa na de Remus que ainda mantinha os olhos fechados. O beijo tinha sido muito melhor que se lembrava. Quando se encararam, cinza no âmbar, Sirius sentiu um aperto no peito e se separou completamente, dizendo infeliz:

- O que houve, Moony?

- Como assim, Padfoot?

Sirius passou a mão pelo cabelo desesperado. Como poderia explicar uma sensação para Remus, quando ele nem ao menos a conseguia entender? E se estivesse enganado?

- Moony, te beijar foi tão bom como sempre...

Remus assentiu, encarando o sério.

- Mas?

- Eu não sei. – disse impaciente. – Tive a impressão que não era o certo. Que algo estava errado. – Encarou Remus. – Você parecia distante.

- Desculpe, Padfoot. – A voz de Remus mal passava de um murmúrio infeliz.

- Droga, Remus. Não é para pedir desculpas. É só para me dizer o que há. Você ainda está se culpando por não ter acreditado na minha inocência. Porque nós já conversamos sobre isso antes e nada mudou.

- Não, não é isso. Acho que conseguimos resolver tudo daquela vez. Eu ainda me sinto um pouco culpado, mas não é isso.

- Então, o que é? – perguntou impaciente.

Sirius observou o conflito de emoções no rosto de Remus. Procurou não pressioná-lo e falou numa voz mais tranqüila.

- Moony, nós nos conhecemos desde os 11 anos. Antes de tudo, somos amigos.

- Eu sei, Padfoot. – Remus suspirou e continuou, numa voz baixa. – É o Severus.

Sirius ficou tão surpreso com a resposta que pensou ter entendido errado.

- Quem? O que o Snivellus tem a ver com isso? Ele te fez alguma coisa?

Remus o encarou e disse contrariado.

- Poderia parar de chamá-lo assim?

E então Sirius entendeu e todas as peças se encaixaram na sua cabeça. Entendeu porque de Remus parecia dividido durante o tempo que ficaram junto em Grimmauld Place, entendeu as reações dele quando Snape estava perto e percebeu o porquê parecia tão errado beijá-lo. Remus já não o amava mais. Se fosse honesto consigo mesmo, Sirius tinha de admitir que procurou o outro mais por achar que era o certo a fazer. Sentia muito carinho por ele, mas provavelmente não passava disso. Não era mais como antigamente. Algo tinha mudado nos dois e só agora ele percebia isso. Mas ainda assim não podia ser Snivellus! Não era possível. Devia estar enganado.

- E então, ele te fez alguma coisa? Eu mato o desgraçado, se ele fez algo com você.

Remus pareceu mais chateado ainda ao responder:

- Não, Sirius. Ele não fez nada. Quer parar com isso?

Sirius conhecia remus muito bem e seria capaz de qualquer coisa pela felicidade dele. Ainda assim, estava dividido entre apoiar o amigo e se enfurecer por ser trocado por Snape. Ao encarar a tristeza nos olhos de Remus, a amizade falou mais alto.

- Ei, Moony. Tudo bem. Desde quando?

Remus o encarou surpreso, mas não tentou negar.

- Nós não temos nada, Padfoot. Só ficamos juntos por um ano, aquele em que você fugiu, mas ele não acreditou quando eu disse não saber nada sobre você e acabamos brigando.

Sirius disse surpreso:

- Mas vocês moram juntos agora. Depois desse tempo todo, ele ainda não confia em você?

Remus negou.

- É um idiota mesmo! Não te merece.

Remus deu uma risadinha baixa.

- O que é isso, Padfoot? Você está me apoiando com Severus?

- Você é meu amigo, Moony. Eu sempre ficarei ao seu lado. Só porque você regrediu em seu bom gosto ao me trocar pelo Snape, não significa não te apóie. Assim é mais fácil de te chamar a razão.

Remus o encarou curioso.

- Mas você não sente ciúmes?

- Ah, um pouco. É difícil ver como ele monopoliza sua atenção.Poxa, você mal conversa comigo. – Sirius disse em tom queixoso. - Mas acho que a nossa vez já passou. Você merece ser feliz. Ainda que eu não acredite que alguém possa conseguir isso com ele. – completou, fazendo cara de nojo.

Entre risos, Remus falou:

- Obrigado, Padfoot. Seu apoio é muito importante para mim. Mas não era isso ao que eu me referia. Você não sente ciúmes do Severus?

- Como assim? – disse perplexo. – Você pensa... Acha que eu sinto alguma coisa pelo Snivellus? – concluiu horrorizado.

- Não? Eu sempre tive essa impressão. Sabe, aquelas brigas todas...

- Não! Merlin, não. Só porque você perdeu toda sua noção de senso estético, não significa que o resto da humanidade também perdeu. Nunca senti nada pelo Snivellus além da bom e velho ódio.

Remus o encarou ainda parecendo um pouco desconfiado e Sirius retribuiu seu olhar. Nunca tinha sentido nada diferente por Snape e estava bem tranqüilo quanto a isso. Remus pareceu satisfeito com o que viu e disse:

- Acho que me enganei, então. Agora, você poderia parar de chamá-lo desse jeito? E tentar não provocá-lo tanto.

Sirius ergueu as duas mãos em sinal de rendição, mas exibindo descaradamente os dedos cruzados.

- Ok, ok. Tentarei não chamá-lo mais assim e farei o possível para me comportar bem, mas não prometo nada. Ele gosta de me irritar.

Remus riu e balançou a cabeça.

- Ele diz a mesma coisa de você.

- É? Sei. – Fez uma pausa. – E vocês já estão se entendendo?

Remus negou, visivelmente desanimado.

- Ele acha que você e eu ainda temos algo.

- É. Se eu fosse ele, também teria ciúmes de mim com você. Afinal, eu sou... – Interrompeu-se com o soco de Remus. –Tá bom. Já parei. Mas bem que você podia dar um trato nele, Moony. Para ver se ele fica com um humor melhor. – Sirius fez um som chocado. – Merlin, Snivellus transando. Que visão do inferno. Chega, vamos mudar de assunto.

- Padfoot, você não muda. – Apontou para o tabuleiro de xadrez. – Estava jogando sozinho?

Deu um suspiro desanimado ao olhar para o jogo.

- É. Encantei as peças. Acredita que eu estava perdendo?

Remus riu com gosto.

- Venha, vamos jogar uma partida antes de dormir.

- Ta. Vai ser uma ótima oportunidade para eu começar a campanha para trazê-lo de volta a razão.

Remus somente sorriu e reorganizou as peças para jogarem.


Muito obrigada pelas reviews: Fernanda Kuhn, Maaya M, Pandora III, Mathew Potter Malfoy, Magalud (quatro!). No lj: Nicolle Snape, Paula Lírio, Marck Evans, Lilly W Malfoy.. Mil perdões se eu ainda não respondi. Nem estou conseguindo atualizar por absoluta falta de tempo. Mas foram dois para pedir perdão. xD

Beijos e até!