Disclaimer: Nada mudou: os personagens continuam pertencendo a J.K. Rowling e eu não ganho absolutamente nada com isso.

Obrigada, Marck Evans , beta mais lindo.


Capítulo 22

Sirius entrou na cozinha acompanhado por Remus e encontrou Harry e Snape tomando café, sem se falarem, cada um lendo jornal. Nenhum deles parou de ler para responder os cumprimentos e assim que ele se sentou, Snape se retirou. Trocou um olhar com Remus que apenas deu de ombros.

- E então, Harry, como foi a reunião com a Ordem? – perguntou.

Cuidadosamente, Harry abaixou e dobrou o jornal, encarando-os. Sirius ficou preocupado ao notar como ele parecia um pouco mais pálido que o normal.

- Correu tudo bem.

Remus interferiu.

- Mesmo? Você demorou a chegar. Nem vimos você voltando.

- Eu voltei cedo e fui direto dormir. Agora, se me dão licença, combinei treinar com Severus.

Sirius virou-se para Remus que exibia uma expressão intrigada.

- Faz alguma idéia do que aconteceu?

- Nenhuma.

Continuaram o desjejum, silenciosamente. Durante o restante do dia, o clima na casa permaneceu estranho. Remus também não sabia o que estava acontecendo, mas era óbvio que os outros dois os estavam evitando. Não que Sirius achasse ruim ser ignorado por Snape, mas não o agradava nem um pouco o comportamento de Harry.

Na hora do jantar, encontrou Snape cozinha. Apesar de Sirius entender Remus e prometer que se comportaria, aquele era o Snivellus. E encontrá-lo sozinho era uma oportunidade boa demais para desperdiçar. Com sua voz mais educada, falou:

- Boa noite, Snape. Precisa de ajuda?

- Não, Black. Guarde-a para quem necessita dela. – Ele respondeu, ácido.

- Nossa, eu só queria colaborar para o jantar. – Fez uma voz ofendida. De repente, teve uma idéia e falou: – Sabe como é. Quero que tudo esteja perfeito no jantar de hoje, agora que eu e Remus nos entendemos.

Sirius observava apenas o perfil de Snape, mas a contração quase imperceptível no maxilar do outro foi o suficiente para confirmar suas suspeitas. Ele estava com ciúmes.

- É mesmo? E o que eu tenho com isso, Black? Não estou interessado no romance de vocês.

- Ah, Severus, - quase engasgou para dizer o nome do outro, mas conseguiu. – deixa de ser rabugento. Assim, vai deixar toda refeição tão amarga quanto você.

Snape jogou a colher sobre a pia e virou-se, os olhos brilhando de fúria.

- Eu não te autorizei a usar meu nome, Black. Se deseja agradar seu amante, fique a vontade e cozinhe. Já basta morarem sob o meu teto. Não sou obrigado a alimentá-los.

- Eu estava me perguntando quanto tempo você ia demorar para falar sobre a casa. Até que foi bem rápido. – Cada palavra de Sirius foi carregada de raiva.

- E não é a mais pura verdade, Black? Você continua sendo o mesmo inútil de sempre. Ou talvez esteja um pouco pior se escondendo atrás de um garoto e do namorado. Antes pelo menos, você ainda fingia querer sair. Agora, nem isso.

Sirius partiu para cima de Snape, mas foi detido por um feitiço que o lançou na parede da cozinha. Sacou a própria varinha, mas o outro foi bem mais rápido que ele. Snape caminhou e parou de frente para ele, a varinha apontada para sua testa.

- Você é patético, Black. Fraco, lento, uma negação. Quer saber? Resgatar você foi o maior desperdício de tempo.

A fúria de Sirius estava alcançando seu limite. Sem sequer pensar, lançou-se novamente sobre Snape, ignorando a varinha em seu rosto. Antes de tocá-lo, foi detido por um feitiço. Encarou Snape furioso, imaginando que ele iria atacá-lo, mas ele também estava paralisado. Remus entrou em seu campo de visão e sua expressão era assustadora. Ele pegou as duas varinhas e falou, numa voz que não escondia sua contrariedade:

- O que pensam que estão fazendo?

Sirius sentiu o feitiço ser retirado e caiu no chão. Viu Harry parar estrategicamente entre ele e Snape para impedi-los de continuarem brigando.

- Eu avisei, Potter. Eu não quero que Black permaneça em minha casa. Eu o quero fora daqui o mais rápido possível. E isso vale para quem quiser acompanhá-lo.

Snape saiu, enfunando a capa atrás dele e Sirius viu os outros dois o encarar, sérios.

- O que aconteceu, Sirius? – Remus repetiu a pergunta.

- Nós discutimos. Para variar.

- Isso eu percebi, Sirius. Eu quero saber por que? – Remus insistiu.

Harry se sentou, apoiando a cabeça entre as mãos, visivelmente cansado. Sirius ignorou a pergunta de Remus e aproximou-se do afilhado, preocupado.

- Harry, você está se sentindo bem?

O rapaz ergueu os olhos esmeraldas cansados e preocupados, a testa franzida e disse:

- Estou bem. - virou-se para o licantropo – Remus, o que vamos fazer?

- Não sei, Harry.

- Como assim 'o que vamos fazer'? – Sirius disse impaciente. – Vamos embora daqui. Não precisamos da ajuda dele.

- Sirius, você pode não precisar dele, mas nós precisamos. – Remus falou irritado.

- Chega, tá bom? – Harry parecia cada vez mais esgotado. Levantou-se. – Eu vou conversar com ele. Sozinho.

Sirius observou o afilhado sair e só não o impediu porque Remus o olhava de modo assassino.

- O que você fez, Sirius?

- E por que a culpa sempre tem de ser minha?

- Porque eu sei que Severus não faria nada para te provocar desnecessariamente.

Sirius explodiu:

- Só porque você está interessado naquele babaca ele não virou nenhum santo, tá legal? Ele continua sendo o mesmo Snivellus de sempre. Só não vê quem não quer.

- Não, Sirius. O único que ainda age como um idiota aqui é você. Podia parar de ser tão egoísta e pensar, por exemplo, em como Harry vai se sentir se tiver de escolher entre te acompanhar a Grimmauld Place ou ficar com Draco, que é quem realmente precisa dele.

Remus terminou de falar e saiu da cozinha, deixando um Sirius pensativo e culpado atrás de si.

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Harry seguiu Severus até o laboratório sem saber realmente o que dizer. Estava se sentindo tão esgotado que tinha medo de cair a qualquer momento. A noite anterior tinha sido a pior dos últimos tempos. Passara boa parte do tempo tentando ler, mas seus pensamentos eram interrompidos pela lembrança do beijo de Sirius e Remus. Além disso, o treinamento daquele dia tinha sido extremamente puxado. Encontrou Severus retirando alguns ingredientes dos armários. Parou alguns passos atrás dele, indeciso quanto ao que dizer.

- Não perca seu tempo, Potter. Não pretendo mudar de idéia.

- Não vou pedir que faça isso, Severus. Eu sei quando uma causa está perdida.

Recebeu um olhar perscrutador do outro. A raiva de Severus já estava controlada, mas ainda havia sinais mínimos de irritação em seus gestos.

- Então, se não tem nada a dizer, poderia se retirar?

Harry se sentou, pois não tinha certeza se agüentaria ficar muito mais tempo de pé.

- Não posso te obrigar a aceitar Sirius na sua casa. Sequer posso te pedir isso novamente, mas nós precisamos de sua ajuda.

- Em relação a que?

- Remus. Não sei o que ele te contou, mas as últimas luas cheias foram muito desgastantes para ele. A wolfsbane não perdeu o efeito, mas o lobo se tornou mais violento. Ele mal conseguiu voltar para casa da última vez. Eu tinha pensado em ir com ele e deixar Sirius te ajudando, mas isso não é mais possível.

A preocupação de Harry era genuína. Quando veio morar ali, certa vez eles tentaram que Remus permanecesse em um quarto da casa durante a lua cheia, mas o efeito tinha sido tão negativo que no dia seguinte, levaram-no de volta a cabana. O lobo tinha destruído todo o quarto tentando sair e se não fosse os feitiços que fizeram, ele teria conseguido. Quando teve suas tentativas frustradas, feriu o próprio corpo violentamente. Tinha sido tão sério que consideraram a possibilidade da poção ter perdido o efeito.

- Ele não me falou nada. Você não está inventando isso?

- Por favor, Severus. Você acha que eu seria capaz de uma fazer uma coisa dessas?

- Não, acho que não. Você é Gryffindor demais para isso. Eu vou com ele e você toma conta de Draco. Vou levar alguns ingredientes, pois se o lobo se tornar muito violento, posso procurar alterar a poção.

Harry suspirou aliviado.

- Obrigado, Severus. E Sirius pode permanecer aqui até a volta de vocês?

Severus o encarou pensativo.

- Pode. Mas se Black me irritar mais uma vez, não vou pensar duas vezes em acabar com ele, e é só até voltarmos. Fui claro?

- Perfeitamente, Severus. Você quer ajuda?

- Não, Potter. Deveria comer algo e ir se deitar, você parece péssimo.

Harry sorriu e levantou, saindo dali.

- Pode deixar. Não trabalhe até tarde.

Não esperou a reposta dele e se retirou do laboratório. Ao lado de fora, encostado à parede, estava Remus. Os dois se encararam e seguiram silenciosamente até a sala. Lá chegando, Harry serviu-se de uma dose generosa de firewhisky e tomou de um gole só. Foi Remus quem quebrou o silêncio, dizendo:

- Isso foi muito Slytherin de sua parte.

Harry deu de ombros e se serviu de uma dose menor, e foi sentar no sofá.

- Não foi. Eu não menti para ele.

- Não estava nada decidido quanto a você me acompanhar. Inclusive, eu fui bem claro quanto a não desejar isso.

- Remus, eu vi o estado que você voltou da última vez. Acha mesmo que eu deixaria você ir sozinho para lá?

- É, acho que não. – Remus o olhou, preocupado. – Você não devia beber sem comer algo.

- Não estou com fome. – disse indiferente. – Não pretendo beber nada mais além disso. – Voltou-se para Remus. – Sirius te contou o que aconteceu?

- Não, ele não disse. Mas eu acho que talvez você saiba.

- Eu? – A surpresa era evidente na pergunta.

- Tanto você quanto Severus estão nos tratando estranhamente hoje.

- Não sei sobre o que você está falando. Eu só estive muito ocupado hoje. – Harry fez uma pausa e tomou mais um gole da bebida. – Mas eu acho que sei o que aconteceu com Severus. Você e Sirius se acertaram.

Harry ficou observando as reações de Remus e viu espanto verdadeiro tomar conta dos olhos claros.

- Nos acertamos como?

- Ontem, quando eu cheguei, sem querer acabei vendo vocês se beijando na sala. Severus também viu.

Remus empalideceu e praguejou baixinho, fazendo Harry erguer uma sobrancelha.

- Acho que agora as coisas começam a fazer algum sentido.

Harry assentiu e terminou a bebida.

- Sim. Esses dias longe daqui, sem Sirius e sem interrupções, será bom para você tentar fazê-lo mudar de idéia. –Levantou-se. – Remus, espero que me desculpe, mas estou realmente cansado. Preciso me deitar um pouco.

Harry viu a preocupação evidente do outro homem e tentou sorrir, sem sucesso.

- Sim, faça isso. Quer que eu leve algo para você comer?

- Não, não é necessário. Se eu sentir fome, desço mais tarde. Boa noite, Remus.

Boa noite, Harry.

Ao sair dali, pensou em conversar com Sirius, mas mudou de idéia. Que Remus explicasse para ele o que havia acontecido, se quisesse. Passou no quarto de Draco e ficou algum tempo por lá. Harry sentia muita falta dele. Das provocações, das brigas, de se sentir vivo. De um suspiro e acariciou levemente o cabelo loiro, antes de se retirar. Não adiantava ficar pensando sobre isso.

Em seu próprio quarto, ficou um tempo sentado à janela, olhando a lua. Deitou-se para tentar descansar, sem querer realmente dormir. Quando estava quase sendo vencido pelo sono, ouviu um barulho na porta. Instintivamente pegou a varinha, abaixando-a ao reconhecer a figura indecisa entre sair ou entrar.


Muito obrigada pelas reviews: Fernanda Kuhn, Mathew W. Potter, Bibis Black, Maaya M., Sea Potter- Malfoy, Marck Evans, Samantha, Hermione Seixas. E no lj: Nicole Snape, Paula Lírio, Youkai Alada, Aniannka. Fiquei muito feliz!

Beijos e obrigada!