NA: Puxa! Foi mal povo! Demorei mas, o cap que vocês esperavam está aqui! O que acrescentei á história de fato! Vamos lá! Enjoy!
Capítulo 5: E o Amor Não Era o Bastante
Eu tentei, mas não houve mesmo como me encontrar com Jack em agosto. Mas novembro é nosso e teremos mais tempo só pra ficarmos juntos. A cabana de caça já está disponível. Só falta Jack responder ao postal que enviei, e aguardar o dia de partir.
Meu cartão voltou! Nele diz: pessoa falecida. Não pode ser! É impossível! Não, Jack! Não, meu Jack! Como isso aconteceu? O que eu faço?
Liguei para mulher dele, no Texas. Ela me disse que ele morreu na estrada. Que o pneu havia furado e quando tentou trocar, explodiu na cara dele. E isso provocou fraturas de nariz e mandíbula, e que teria morrido sufocado em seu próprio sangue antes que alguém aparecesse. Porém eu entendi a verdadeira história. Fraturas no rosto, no meio da estrada. Ele foi assassinado! As pessoas descobriram e o castigaram.
Ele foi cremado. Dividiram suas cinzas em uma metade que ficou com a mulher, e outra metade que foi para a família dele. Ela falou que o desejo dele era que essa metade fosse jogada em Brokeback Mountain. Preciso ir até a família dele, como a mulher sugeriu, e me oferecer para levar as cinzas para as montanhas.
Os pais de Jack me olham com alguma desconfiança. Porém, parece que sabem tudo sobre nós. Contaram que ele tinha esperanças de que um dia iria me levar pra lá e juntos ajudaríamos no rancho. Quantas vezes o ouvi dizer isso? Milhares de vezes. E quantas eu ridicularizei? Neguei? Mal disse? E ele contava com o apoio dos pais. Nunca poderia imaginar. Ele nunca me disse isso!
Ele afinal conseguiu me deixar! A constatação foi mais dolorosa sabendo que provavelmente isso causara sua morte. Depois de quase 20 anos tentando me convencer a ficar com ele, a assumir nosso relacionamento, ele desistiu. Trouxe outro homem para viver com ele e os pais. Construíram uma casa e trabalhavam juntos. No lugar que ficara guardado para mim por 19 anos. E quando ia oficializar a união, se divorciando da mulher, a crueldade da sociedade o impediu. Nunca soube o que houve com o tal amante. Mas pelo visto, deve ter ter fugido temeroso de sofrer o mesmo fim.
Uma vez eu disse a Ennis que se ele me traísse, seria capaz de matá-lo. E por fim, ele me deixou e agora está morto. E não me restou mais nada neste mundo.
Os pais dele foram muito solícitos. Vi seu quarto de quando era apenas um garoto. E uma surpresa estava lá. Preparada pra mim. Me aguardando. Ou pelo menos, foi assim que senti. Achei nossas camisas. A minha e a dele. Que conservavam o meu sangue, da briga que tivemos há 19 anos atrás em Brokeback Mountain. Uma vestindo a outra. Juntas. Após tantos anos. Não pude deixá-las lá. Eram as únicas partes de nós dois, que nunca se separaram. Ficaram juntas todo esse tempo. O legado mais precioso que Jack poderia ter me deixado. Fui convidado a voltar, para visitar os pais dele. Como se eu pudesse fazê-lo!
O tempo passou, e nem sei dizer o quanto. Sei que Alma Júnior virou mesmo mulher. Ela se casou poucos meses atrás. Minha menininha! Tenho muito orgulho das minhas filhas. Foram as únicas coisas que fiz de que tenho orgulho de fato. Mesmo não tendo participado muito da formação delas.
Hoje eu entendo algo que aconteceu em meu último encontro com Jack. Eu surtei e disse que não era ninguém. Que não estava em lugar algum. E tudo por causa dele. Mas foi meu pior engano. Na verdade eu era marido, pai, amante, empregado. E queria ser tudo, e ao mesmo tempo. Mas então, não era nada por inteiro. Talvez a única coisa que eu tenha conseguido ser mais que qualquer outra, tenha sido com Jack. Mas a culpa, o preconceito, a indignação, o medo, a dor, tudo se misturava. Hoje posso ver cada um desses sentimentos separadamente. Quisera eu ter entendido antes.
As camisas ainda estão na porta do meu armário. Junto com um postal de Brokeback Mountain, que eu mesmo comprei, há mais ou menos 1 ano.
Saber que nunca mais vamos poder ir lá, juntos, é como morrer a cada dia, a cada minuto.
Se eu pudesse voltar à trás! Agora entendo que a vida não faz sentido sem você, Jack. Que nada mais importa! Nem as pessoas, nem os empregos. Nem o mundo! Não fui muito presente em minha família. Meus pais, meus irmão, minha esposa, minhas filhas, todos seguiram suas vidas. Independente, ou apesar da minha! Até mesmo você!
E a teimosia me tirou você, Jack. A única pessoa que me importava verdadeiramente no mundo. Fui o único culpado por desistir de mim. Do meu amor. Da minha pouca disponibilidade. Acho que inconscientemente, eu queria que me deixasse. Já que eu nunca o faria. Você sempre soube tudo sobre mim. Me conhecia melhor que eu mesmo.
Não tê-lo, Jack, é como estar morto também. Então, por que fugi tanto! Se alguma vez eu me senti estúpido, agora com certeza, supera qualquer outra! Sonhar com você todas as noites não me basta! Ajuda a manter minha sanidade, mas com certeza não é o suficiente.
Ennis Del Mar! Posso observá-lo de longe. Vejo pela janela do trailer o que guarda em seu armário. Isso, ao mesmo tempo que me choca, me surpreende. Você trabalha duro, Ennis. Mais que qualquer outro rancheiro. E em sua dureza, em seu trabalho exaustivo, eu percebo um homem perdido. Que tenta se firmar diante de um par de camisas sujas e um postal velho.
Você nem percebe que está sendo observado. De longe. Com alguma frequência no acampamento de trailers. Nem nota quem chega e quem sai. Segue sua semi-vida em uma única direção. Trabalho. Mas não fica com nada. Não guarda nada pra si. Às vezes tenho a impressão de que apenas a exaustão o permite dormir. Outras nem isso. Quantas noites vi a luz acesa? Ou você sentado, como agora, na cadeira, olhando para o céu estrelado, quase tingido de amarelo e vermelho, aguardando o sol, para ir trabalhar?
Devo confessar que tentei, Deu sabe, como tentei, seguir a diante. Tentei libertá-lo. Trai. Menti. Forjei minha própria morte. Mas estou aqui. Diante de seu trailer. Observando o único e maior amor da minha vida. Que parece esperar pacientemente mais um dia nascer, para poder morrer.
Ensaiei tantas vezes esse momento, que não sei o que fazer. Se você superasse, eu juro que iria embora para sempre. Mas parece tão desorientado, agora, quanto antes. Porém há um certo amadurecimento em seu olhar. Algo que só que passou pelo que passamos é capaz de ter ou perceber.
Eu mesmo não consegui esquecer. Não depois de mais de 20 anos. Ninguém pode ocupar um espaço onde já tem alguém. É impossível. E se não consegui tirá-lo de lá, e pelo que vejo, você também não o fez, só temos uma solução. Ou a morte. Ou a vida. Escolhi a morte uma vez e não deu certo. Agora posso escolher, definitivamente, a vida. E mesmo temendo que não me perdoe, não posso mais adiar.
-Ennis Del Mar! – Jack chamou baixo e ansioso, indo na direção do loiro.
-continua-
