NA: foi mal a demora, mas o cap novo chegou!beijão e curtam...
Capítulo 6: Segredos Revelado
Ennis estava sentado em uma cadeira de plástico, voltado para o horizonte, onde o dia empurrava a noite para ir embora. Tinha os olhos fechados pela dor. Achava que tinha acabado de ouvir Jack Twist o chamando. Mas Jack estava morto. E os mortos não voltam e com certeza não falam.
-Ennis Del Mar! – chamou mais uma vez, Jack Twist.
-Jack, até parece que estou ouvindo você! – murmurou, com os cotovelos nas pernas e segurando a cabeça com as mãos. – Acho que enfim, enlouqueci! – lágrimas rolavam pelo rosto do rancheiro.
-Ennis. Eu estou vivo. – e se aproximou ficando diante dele, enfrentando corajosamente o que poderia vir.
Ennis levantou o rosto molhado e, ficou alguns segundos, olhando. Sem entender.
-Ennis! Sou eu! – insistiu
Levantando subitamente, o loiro encarou o homem que pensava estar morto.
-Jack Twist! Como... Como...
-Ennis, deixe-me explicar... eu precisei fazer isso. – determinado, mas com calma.
O outro se afastou, esbarrando e quase tropeçando na cadeira em que estava sentado há pouco.
-Como... Você está morto! – frustração e confusão juntas. – Eu falei com Lureen, com seus pais... eu vi sua lápide! – horrorizado.
-Ennis, me escute! – pediu culpado. – Você precisa me ouvir!
-Que merda! Era tudo mentira! Por quê! O que você queria com isso! Me provar alguma coisa! – andava de um lado para o outro sem tirar os olhos de Jack.
-Não! - garantiu firme. – Eu tentei libertar você!
-Porra nenhuma! – gritou.
Algumas pessoas do acampamento começavam a acordar com a movimentação no meio da madrugada.
-Ennis! Tente se acalmar para me ouvir! – insistiu com angústia.
-Me acalmar! Me acalmar! Você vem do mundo dos mortos pra me dizer que esse tempo todo que passei desde sua suposta morte era tudo uma mentira! – furioso.
-Ennis! – tentou se aproximar com determinação.
-Não se aproxime de mim! – se afastou bruscamente.
-Ennis! – segurou-o pelo braço, apesar da resistência. – Cala a boca e me escuta! Merda! – se exaltou.
-Me solta! – se debateu.
Jack conseguiu enlaçá-lo pelo troco e imobilizá-lo. Porém esse movimento tirou o equilíbrio deles e caíram no chão.
-Parem com isso! – gritaram algumas pessoas dentro dos outros trailers.
Os dois lutavam no chão. Um pra imobilizar. Outro, para se libertar. Ennis sempre foi mais forte que Jack. E acabou se soltando e deu um soco no outro, conseguindo se separar finalmente. O loiro olhava furioso para o moreno ainda caído.
-Satisfeito? – encarou Jack de volta, cuspindo o sangue no chão. – Quer me bater mais? – se levantou muito sério. – Pode vir! – limpou, coma manga da camisa, o sangue que escorria no canto da boca. Abriu os braços. – Pode vir! Quem sabe assim você se acalma e me escuta! – sério.
Ennis o olhava furioso ainda. Mas respirou fundo, lutando para conter a ira.
-Aqui não! – muito sério.
-Vamos entrar, então. – sugeriu.
Ennis respondeu com olhar de desprezo sarcástico e deu as costas para o outro, indo em direção à sua caminhonete. Entrou e esperou que Jack entrasse. Arrancou violentamente do acampamento.
Ficaram em silêncio por algum tempo, até que pararam às margens de um pequeno rio. Afastado de qualquer movimentação. Onde poderiam falar à vontade. Ennis desligou o carro e saiu. Ficou diante das águas de costas para Jack. Aguardando em silêncio. Jack compreendeu que ele estava mais controlado e que poderia começar.
-Ennis, em nosso último encontro, eu estava esgotado. – falou com alguma angústia. – Não aguentava mais viver aquela vida incompleta. Quando eu não estava com você, só bebia. Todos os dias. Sua ausência era tão intensa que às vezes eu me sentia sufocado. A dor era insuportável. E eu me afundava cada vez mais no álcool. Procurei outros amantes. – percebeu Ennis ficar mais rígido, mas continuou. – Mas nenhum me trouxe o alívio para meu sofrimento. Suas últimas frases me acusavam, me condenavam. "Eu não sou ninguém e não estou em lugar algum. E sou assim por sua causa! Eu não aguento mais, Jack!" Então percebi que ver você sofrendo era pior ainda que sofrer por você. Então, quando fomos embora, resolvi deixá-lo definitivamente.
Parou um pouco. Chutou uma pedra nas águas e olhou nos olhos verdes mais uma vez.
-Havia um capataz que conheci, certa vez, que se tornou um bom amigo e amante. – um quê de culpa no olhar. – Eu também queria seguir minha vida. Libertar você, e me libertar de você. – confessou. – Voltei para o rancho de meus pais com Randal. Construímos uma casa. – suspirou triste. – Quando Lureen descobriu, resolvemos que era melhor o divórcio que o escândalo. Mas então sofri o "acidente". Você deve imaginar que não foi bem um acidente inocente. Meu ex-sogro já havia morrido, mas deixara alguns "amigos" com a responsabilidade de cuidarem da "honra" de sua filha e seu neto. E eles ao descobrirem a razão do divórcio, resolveram que me dariam uma lição. E contrataram alguns capangas para me darem uma surra. Mas eles exageraram e me deixaram quase à morte. E de fato isso teria acontecido. Se a pessoa mais improvável, não tivesse aparecido. Lureen.
Ennis olhou confuso.
-Lureen?
-Exatamente. Ela descobriu o que os amigos do pai haviam feito e foi me procurar. Me encontrou na estrada, onde os capangas me armaram uma emboscada. Me colocou no carro dela e me levou para um hospital no México. A idéia de me manter morto, foi dela. Nunca fomos tão próximos, mas também não éramos inimigos. Aliás, acho que fomos mais amigos que marido e mulher. E apesar dos ressentimentos por meu alcoolismo, minha ausência, me ajudou forjando minha morte, enquanto eu me recuperava em outro país.
Jack parou um pouco e virou completamente para Ennis.
-Quando eu me recuperei, você já havia ligado para ela e como Lureen não sabia o que eu pretendia ou para quem contaria a verdade, ela disse pra você a história do acidente que cotou para todo mundo. Mas sugeriu sua ida à casa dos meus pais. Quando eu soube, você já tinha passado lá. Meus pais ainda não sabiam se poderiam contar algo, já que no fim das contas, você, que era tão esperado por mim, lá, nunca apareceu. Nunca assumiu qualquer compromisso. Eles não confiavam em você! – tentou se explicar.
O moreno tornou a se virar para o rio, sabendo que não poderia encarar o loiro agora, com o que ia dizer a seguir.
-Quanto a Randal, ele fugiu apavorado. Acho que temia que o mesmo acontecesse com ele. Acho que no fim, ele pensava como você. - e o encarou novamente. – Que o mundo não aceitaria nosso relacionamento. – riu com tristeza. – Bem, - continuou. – quando vi o rumo que as coisas tinham tomado, decidi deixar como estavam. Afinal, tinha recebido a chance perfeita! Não havia uma maneira melhor de libertar você, do sofrimento que eu lhe causava. Você poderia, então, viver sem essa "maldição" e essa "anormalidade", como sempre disse! – acusou com ressentimento.
Jack se calou um pouco, e ficou aguardando uma reação. Um sinal. Enquanto via o semblante do outro armazenando as informações. Raciocinando e analisando cada uma. Ele tinha a expressão quase indiferente. Mas Jack sabia ler seus olhos. E nos olhos verdes, percebeu que não havia mais ira. Apenas culpa e uma certa calma.
A esperança voltou como uma onda de calor pelo corpo do ex-cawboy. Que sentiu o peito pesado. Difícil de respirar. Mas não o pressionou. E continuou aguardando.
Ennis chutou uma pedrinha nas águas e se aproximou. Ficou diante de Jack e se manteve afastado dele por centímetros. E estudou seu rosto. Descobrindo cicatrizes que não estavam ali da última vez em que o vira. Podia imaginar, agora, como tinha sido difícil fazer tudo aquilo. Passar por tudo aquilo. Sozinho.
Jack se manteve imóvel o tempo todo. Permitindo que Ennis examinasse seu rosto, sua cabeça, com uma determinação sobre-humana. Mais do que respirar, queria beijá-lo, abraçá-lo! Mas aguardou.
Ennis tornou a se afastar. Um passo os separava agora. Mas para Jack, era como um abismo.
-Por que voltou, Jack? – inexpressivo.
-Porque eu não consegui ficar longe. – foi sincero. – Quis vê-lo. Ver como estava. Se sentia minha falta. Se estava bem. – agora gesticulava inseguro. – Porque depois que voltei para casa, meus pais falaram de sua visita, e eu mais uma vez sonhei com nossa vida juntos. A que gostaria de ter tido, a que poderíamos ter ainda. E esse sonho não me deixava. Todas as noites ele vinha me atormentar. Então arrumei um trailer e vim procurar por você. Jurei pra mim mesmo que se você estivesse bem, se tivesse superado, que iria embora mais uma vez. E definitivamente. Mas... – parou.
-Mas... – insistiu.
-Mas eu vi como está, Ennis Del Mar. – sorriu com tristeza. – Que sua vida também continua incompleta. Cheguei e em um minuto percebi que tinha sido um idiota e que deveria voltar!
-Não está sendo um pouco seguro demais! – desafiou. – Não é porque não estou com ninguém, que exista algum espaço para ser ocupado. Eu posso viver o resto de minha vida assim. Sozinho. Com meu trabalho e minhas filhas. – sugeriu desafiador.
-Não. Não estou sendo seguro demais, não, Ennis. – e sorriu com ironia ainda triste. – Vi você mais de uma vez ao dia diante do armário. – percebeu que o outro estranhou. – Sei o que guarda lá, Ennis. Pude er através de sua janela.
Ennis deu um passo para trás espantado.
-Além de mentir, ainda me espiona! – ultrajado mais uma vez.
-Eu precisava saber! – angústia tomando conta. – Eu precisava ver! E vi. Ainda estou impregnado em você, cawboy! – desistiu de manter distancia e se aproximou até quase tocá-lo. – Me perdoe, Ennis! – segurou o rosto do loiro com as duas mãos. – Eu aceito o que você puder me oferecer! Três encontros no ano. Dois. Hum. Eu aceito qualquer coisa! Porque minha dor é ainda maior sem você! – confessou suplicante.
E Ennis, que já havia se controlado além de suas forças, o beijou. Beijou com todo desespero e com todo seu amor e sofrimento guardados em seu peito. Não conseguia falar. Tinha que agir. Tinha que compensar o tempo perdido.
Estavam de volta ao lugar certo. Um no corpo do outro. E como da primeira vez, Ennis assumiu o controle e dominou o moreno sem muito cuidado e com pressa. Os corpos suados não se cansavam de se movimentar, até que todo prazer fosse alcançado. E finalmente atingirem a exaustão.
Ficaram abraçados, um bom tempo ainda. Curtindo a realidade. E não um sonho. A vida. E não o sofrimento.
-continua-
