Disclaimers: Saint Seiya pertence a seus criadores... e a música é "Sete Cidades", do Legião Urbana, e está no disco "As Quatro Estações". E dá uma saudade escutar ela...

Esta é a penúltima! Eu adoro esses dois, são tão cuties... sim, foi a primeira vez escrevendo com eles, prefiro ler, mas a gente tem que tentar non? Espero que gostem!


Metal contra as nuvens

: Hyoga e Shun :

"Já me acostumei
com a tua voz
com teu rosto e teu olhar

Me partiu em dois
e procuro agora o que é
minha metade...

Quando não estás aqui...
Sinto falta de mim mesmo...
E sinto falta do teu corpo junto ao meu..."

"Alô?"

"Oi, tudo bem?"

"Tudo bem sim, e você? Estudando muito?"

"Ah, o de sempre. E você, passando muito frio?"

"Isso aqui é normal para mim, você sabe..."

"E quando você vem ao Japão? Sentimos sua falta..."

"Não sei, vou ver algo para o próximo mês... será férias escolares, certo?"

"Sim, claro. Vai ser muito bom, vamos nos divertir muito..."

"Com certeza..."

Todas as vezes que se falavam era bom e ruim. Bom porque dava para matar a saudade do amigo só de ouvir a voz. Aquele papinho rápido deles, rápido tanto porque a ligação internacional era uma fortuna, quanto pela timidez de ambos, aquela conversa curta era suficiente para lembrar-lhe de que quando decidiu voltar a morar na Sibéria, deixou algo muito grande para trás.

E essa era a parte ruim daquilo. A saudade era tanta, que depois que desligavam, sentia o coração apertado, e uma vontade imensa de chorar. Então pegava sua caixa debaixo da cama e passava a olhar as fotos e objetos dentro dela.

Alí tinha uma foto muito antiga, de quando ainda eram molequinhos. Pouco se lembrava daquele dia, sabia apenas que estavam jogando bola e alguém resolveu reuní-los para uma foto. Seiya fazia chifres com os dedos em Jabu, que por sua vez punha chifres em Shiryu, que apenas sorria. Shiryu tinha os olhos mais apertados de todos alí. Ikki também sorria naquela foto, coisa que ele logo aprendeu que seria rara, e passava o braço no pescoço de Ban e Icchi, que faziam um sinal de positivo com as mãos. Eles eram terríveis para pregar peças nos outros. Com certeza aquele Ikki levado e brincalhão pouca gente conheceu. No meio da foto estavam ele, do que ria não conseguia se lembrar, e Shun, o menorzinho de todos, o uniforme de futebol muito maior do que ele e um sorriso de bebê no rosto. Não era de se espantar que Ikki vivesse protegendo o irmão, olhando para ele perto dos outros, via-se que era mesmo o menor e mais frágil.

Nem em sonhos se imagina que ele seja o guerreiro que é, nem que possua a força que possui. E nem que tenha crescido tanto quanto cresceu. Mas os olhos continuam os mesmos.

Pegou outra foto, aquela tiraram no aeroporto, quando se separaram pela ultima vez. Shiryu ia para a China onde Shunrei o esperava, e ele vinha para a Sibéria. Shun, Ikki e Seiya fizeram questão de "despachá-los" como disse Ikki, com aquele jeito fingido de mau. E bateram algumas fotos de lembrança. Aquela ele recebeu por carta, de Shun. Apenas quatro meses separados, e já haviam trocado mais de trinta cartas! Sempre recebia uma foto ou outra de algum passeio que eles faziam lá no Japão. Era assim que acompanhava o crescimento do amigo, e via o quanto ele ia ficando mais e mais bonito. Mas seus olhos não mudavam.

Aquela foto do aeroporto mostrava rostos sorridentes, mas bastante cansados e abatidos. Aquela experiência com Hades foi uma surra que com certeza jamais esqueceriam. De novo, na foto, estava Seiya colocando chifres desta vez em Shiryu, que de novo apenas sorria, ele ao lado de Shun, e Ikky ao lado, com um sorriso discreto "de foto", e do outro lado do grupo, ao lado de Seiya, Saori sorria, extremamente tímida. Uma bonita foto. Tinha uma outra foto engraçadíssima de Seiya. Segundo Shun, eles foram a um evento de animes e mangás, e o pégaso decidiu ir a caráter. E lá estava ele na foto, vestido de Sailor Moon! Aquela foto sempre botava um sorriso no rosto do loiro, mesmo que ele estivesse na pior fossa.

Pegou então a última foto que recebeu, um bonito close de Shun em algum lugar com vista para o mar. Podia ficar olhando aquela imagem por horas, sem cansar. Estava tão bonito... e parecia feliz. Sim, ele com certeza estava feliz agora que tinha uma vida normal como qualquer outro rapaz da idade dele. Pegou o porta-retratos que estava vazio desde que chegou alí, decidiu colocar a foto do amigo para ver como ficaria. E quando estava encaixando a foto, reparou que tinha algo escrito no verso, em letras miúdas.

"O lugar é lindo, e com certeza estou muito feliz por estarmos todos vivos e bem. Sei que está feliz aí na sua terra também, mas por favor, venha me ver, sinto muito a sua falta, e a minha vida não é completa sem você por perto. Vem, por favor."

Aquilo o deixou completamente surpreso! Até então, achava que apenas ele sentia daquele jeito a falta do amigo. E aqueles dizeres, aquilo era muito mais do que sentir falta, a menos que estivesse louco. E não estava. Bem, estava, louco de saudades. Colocou tudo de volta na caixa, ainda perplexo.

Colocou na caixa, inclusive, toda a racionalidade que possuía.


Anoitecia em Tóquio, alto verão. Todas as janelas, inclusive a porta da varanda do apartamento estavam abertas por causa do calor. Shun estava sentado na sala, olhando para a TV. Chegara do colégio há alguns minutos e ainda não tinha tido coragem de ir preparar algo para comer. Preferiu tomar um banho e se deixar ficar um pouco sem fazer nada. Estava sozinho, Ikki antecipou o fim de semana e foi para o chalé com a "garota nova" dele, que ele já sabia ser June. Não entendia o porquê de o irmão ficar constrangido a ponto de não revelar a identidade da namorada, na verdade ele ficou muito feliz quando descobriu "por acaso", quando acabou vendo a moça ir embora de manhã cedinho, antes de todos acordarem. Achava bom. Porque seu irmão finalmente estava levando a vida adiante, e porque June merecia alguém tão bom como Ikki. Na verdade estava empolgado, ansioso por poder chamá-la de cunhada logo!

Uma batida na porta o fez sair da terra do esquecimento em um instante. Não estava esperando visitas, e era praticamente impossível Ikki ter desistido da viagem com aquele calor todo. Levantou-se para abrir a porta, e quando o fez, quase caiu de costas.

"Hyoga?"

Hyoga nada disse. Apenas abriu os braços, e Shun imediatamente o abraçou, a saudade fazendo os dois esquecerem completamente que estavam no corredor do prédio. E por esquecerem é que acabaram deixando acontecer alí mesmo o beijo que jamais tiveram coragem de dar, um beijo abandonado, quente e cheio de vontade e saudade. E que logo foi interrompido porque uma vizinha pigarreou, trazendo os dois de volta para a realidade. Hyoga ficou super sem-graça, mas Shun apenas riu, puxando-o para dentro.

"Quando chegou?" - Shun não cabia em sí de felicidade.

"Hoje mesmo. Eu..."

"Quando eu escreví, não achei que você fosse entender... nem que fosse me atender." - Shun o cortou, sério.

"Eu não tinha como. Era tudo o que eu queria, sabe... só não sabia..."

"Ah, mas que bom que você está aqui, sentí muito a sua falta!"

Shun o abraçou mais uma vez, sorrindo. Sim, ele também estava feliz, mas preocupado. Teve a coragem de atravessar o continente e ir até alí, mas agora não sabia o que fazer com a situação. E sua primeira preocupação era Ikki. O que ele faria quando descobrisse? Aquilo era realmente de dar medo até em cavaleiro de ouro.

"O que foi?" - Shun percebeu a leve mudança no rosto de Hyoga - "Eu disse algo errado?"

"Não, não..." - Hyoga viu que teria que explicar algumas coisas a Shun, pois ele não parecia estar pensando no que seria a vida deles dalí em diante - "Shun, olha, eu estou mesmo muito feliz... não poderia estar mais feliz, juro. Eu amo você. Mas isso não é tão simples assim... quando Ikki..."

"Ikki?" - Shun sorriu - "Não se preocupe com isso, foi ele mesmo quem me fez tomar coragem, sabe... eu estava tão desanimado, não achava de jeito nenhum que você gostasse de mim como eu gosto de você, sabia? Daí ele me falou que se eu não fosse atrás de saber, se nunca dissesse nada do que eu sinto, você nunca ia saber, e eu também... nunca ia saber se ia dar certo ou não. Por isso escreví aquele recado na foto, porque sabia que você só veria se olhasse bastante para ela."

Hyoga sorriu da estratégia do amigo. Só ele mesmo para ter uma idéia daquelas. Realmente, precisou ele olhar muito para aquela foto para achar aquele recado minúsculo. E como olhou aquela foto... passou horas olhando!

"Mas você veio... pra ficar?" - Shun parecia ansioso.

"Shun... não podemos pensar nisso agora, eu vim te ver. Foi uma coisa que fiz sem planejar absolutamente nada, então não tenho como te dizer..."

"Vem... você fica aqui com a gente..."

"Vem cá..." - Hyoga puxou o rapaz para seus braços - "Uma coisa de cada vez, está bem? Nem eu nem você sabemos direito o que vai acontecer. Pra ser sincero, saber que Ikki está do nosso lado para mim é um enorme alívio. O que posso te garantir é que nunca mais vamos ficar longe por muito tempo, combinado?"

Shun concordou com a cabeça, se aconchegando melhor do abraço do loiro. Hyoga sorriu do jeito dele, sim, cresceu bastante, mas ainda parecia um bocado ingênuo para algumas coisas.

"Você jura que não vamos ficar mais tanto tempo longe?" - Shun perguntou, baixinho.

"Eu nunca aprendí a viver longe de você. Eu juro que vamos nos ver sempre, ok?"

Quando o vento esfriou, mais tarde, os dois ainda estavam na sala, abraçados, colocando toda a conversa em dia, falando de tudo e de todos, e comendo o jantar que fizeram em equipe. E pela primeira vez dava para ver que Hyoga estava tendo a vida que qualquer rapaz da idade dele teria, e que o sorriso em seu rosto era de verdade.


Eu tentei, eu tentei... mas eles são bonitinhos, não são? E eu os imaginava exatamente assim, porque são tão novinhos, e eu vejo gente novinha assim como eles fazer quase que exatamente isso, querer o mundo tudo de uma vez mas acabar indo devagar, porque descobre que uma coisa é pegar o rato, outra coisa é saber o que fazer com ele. :-)