Com um pouco mais de treino, Sigyn decidiu empregar seus esforços e habilidades mágicas para se tornar uma curandeira. Ela sempre preferiria a cura do que a violência e sabia que era a decisão certa a se tomar, o que deixaria seus pais orgulhosos.
Agora que seu treinamento estava completo, ela tinha retornado para a casa dos pais. Reencontrar seu quarto do mesmo jeito, até mesmo com suas bonecas devidamente enfileiradas, aqueceu seu coração.
-Sei que faz tempo que não as vejo e agora eu nem preciso mais delas, mas mesmo assim, é bom vê-las aqui - Sigyn riu enquanto disse isso à sua mãe - na verdade, é maravilhoso estar de volta.
-Não sente falta dos seus aposentos do palácio? - Freyja perguntou por curiosidade.
-Ah não, eram lindos e confortáveis, mas eu senti falta foi daqui, de você, do papai - disse a jovem.
-Mas você não estava sozinha no palácio, todos comentam da sua amizade com os príncipes - a mãe mencionou - como eles são?
-São ótimos, claro que eles tem um pouco de arrogância, mas me tratam com todo respeito e amizade - Sigyn contou sobre os amigos - eu aprendi muito com o Loki também, ele era aprendiz da rainha como eu, dividimos encantos juntos.
-Viu? Estava em boa companhia - constatou sua mãe.
-É, fico contente por agora poder vir pra casa e ainda ver os príncipes enquanto trabalho no palácio - a jovem contou os motivos da sua alegria presente.
Como uma das protegidas de Frigga, ela também tinha acesso à corte e era justamente por isso que tinha sido a convidada para um grande banquete, onde haveria música, dança, e é claro, comentários pertinentes sobre a vida na corte entre os ciclos sociais. Sigyn não tinha muita paciência para essas coisas, socializar não era bem o forte dela, mas para não fazer desfeitas à rainha e poder rever seus amigos, faria esse esforço.
Freyja a ajudou a se arrumar para a ocasião naquela noite, usaria um lindo vestido verde água, os braceletes e cinturão de prata, deixaria o cabelo solto cair em cascatas perfeitamente onduladas pelas costas. Na cabeça, usaria a tiara mais linda que já tinha visto, um presente único da rainha, uma peça formal que indicava que ela fazia parte da corte, formada pelo aro na cabeça e as laterais pontudas emoldurando seu rosto.
Olhando no espelho, Sigyn mal pôde se reconhecer.
-Isso é... inacreditável - exclamou ela sobre sua própria forma.
-Não, é você mesma, uma verdadeira princesa - a mãe completou seus elogios.
-Não, não sou, nem me comparo às damas de Vanaheim, elas sim são impecáveis - Sigyn citou.
-Não importa, você também é tão linda quanto elas - Freyja reafirmou seus elogios.
-Tudo bem, vou aceitar isso, obrigada, mamãe - ela disse por fim, se levantando e apressando-se para sair.
Os corredores do palácio já não eram tão estranhos para Sigyn, mas encontrar um rosto familiar ali em meio a um grande banquete, era algo mais complicado. Era de se esperar que procurasse sua benfeitora, a rainha estava em seu posto, um lugar de destaque ao lado do rei.
-Majestades-= a jovem se curvou para os dois.
-Seja bem vinda, Sigyn, filha de Ivaldi, espero que aprecie a noite e possa desfrutar de tudo que lhe oferecemos, depois de tantos serviços bem prestados a nós - Odin disse a ela.
-Obrigada, meu rei - ela deu um sorriso singelo, ainda um pouco intimidada pela figura de Odin.
Estando perto da família real, procurou por Thor e Loki, mas nenhum deles estava à sua vista. Era de se esperar que o mais velho já estava banqueteando com os amigos, foi assim que Sigyn o viu ao longe, mas Loki não estava em lugar nenhum até agora.
Antes que ela continuasse com sua procura, Thor veio conversar com ela.
-Boa noite, Lady Sigyn, se me permite dizer, está deslumbrante - ele a elogiou.
-Obrigada pelo elogio - ela quase revirou os olhos, estava cansada de ouvir isso à essa altura, mas o incômodo não passou despercebido por seu amigo.
-Sei que não gosta muito desse tipo de coisa, mas não se preocupe - ele lhe deu um sorriso compreensível - talvez se encontrar alguém interessante para conversar, pode ficar bem ocupada até que o banquete termine.
-É o que eu esperava encontrar - Sigyn confessou em partes, pensando que Loki encaixava nessa descrição.
-Pode ficar conosco por enquanto, se quiser - Thor ofereceu.
Sigyn suspirou e pensou um pouco, era melhor estar na companhia de conhecidos do que tentando dar atenção a quem nem sabia quem ela era.
-Está bem - acabou concordando.
-Lady Sigyn - Sif a cumprimentou - é bom revê-la.
-Digo o mesmo, Lady Sif - a jovem curandeira conseguiu sorrir - está gostando do banquete?
-Já vi alguns mais animados, mas este está ótimo - a guerreira sorriu, tomando um gole de vinho logo em seguida - como vai o trabalho como curandeira? Imagino que os últimos combates a deixaram bastante ocupada.
-Sim, nem me fale - Sigyn foi sincera - o nosso povo ser extremamente guerreiro não me deixa desocupada, mas é um trabalho que eu amo fazer, assim como eu imagino que empunhar uma espada seja para você.
-Sem dúvida - Sif concordou, assentindo - acredito que todos nós temos nossa própria vocação, e é um prazer e dever cumpri-los.
-Sim, acredito que sim - Sigyn encerrou o argumento, quando notou um estranho se aproximando.
Certamente se tratava de um guerreiro, o jovem era alto, ruivo e robusto, com uma barba trançada de dar inveja. Nas costas, carregava um machado afiado, asgardianos e sua mania infinita de carregar armas até mesmo em festas. Mesmo não sendo a favor da violência, Sigyn tinha que admitir que o jovem tinha chamado sua atenção.
-Milady, creio não tê=la visto antes, me daria a honra de saber seu nome? - ele praticamente se atirou aos pés da curandeira, mas com toda graça possível, chegando a beijar sua mão, que ela ofereceu por educação.
-Sou Lady Sigyn Ivaldidottir - ela se apresentou - e o senhor seria...?
-Theoric Baldson, o conquistador de Alfheim, a seu dispor - ele respondeu - por onde andava, Lady Sigyn? Pois nunca a encontrei antes.
-Digo o mesmo do senhor - ela chegou a dar um sorrisinho nervoso, seu coração estava dando palpitações e ela parecia estar gostando daquilo - sou uma das protegidas da rainha.
-Sim, as aprendizes de magia - ele compreendeu - assim como eu estou aperfeiçoando minha arte de lutar.
-Acha mesmo que lutar é uma arte? - ela ousou perguntar, interessada na conversa.
-Lutar exige tanto graça como precisão, além da mera força bruta - ele respondeu de forma graciosa, o que arrancou outro sorriso dela, Theoric resolveu não perder tempo - me reservaria uma dança nessa noite, Lady Sigyn?
-Oh.. eu... - a pergunta a fez tremer, mas ela o estava considerando interessante - sim, sim, Theoric.
Ele beijou a mão dela mais uma vez, indo se encontrar com seus amigos guerreiros. Sigyn deu um sorriso bobo, tentando imaginar onde exatamente tinha se metido.
Enquanto isso, Loki chegava ao salão, impunha certo respeito e chamava atenção no seu jeito elegante de andar, exibindo os trajes reais, com direito à capa verde esvoaçante atrás dele e o elmo de chifres. Ao procurar por Sigyn, sabendo que ela viria ao banquete, teve tempo de reparar em Theoric se despedindo dela. Não sabia quem era o guerreiro, mas a raiva dele logo lhe subiu. Apressado em ter satisfações, se aproximou da amiga.
-Lady Sigyn, como vai? - ele foi bem formal, já que estavam em corte.
-Oh, Loki - ela se assustou um pouco, claramente corada, o que ele achou estranho e atipicamente repulsivo - quer dizer, Alteza, que bom que chegou, eu estava te procurando.
-Mesmo? Achei que já estava ocupada e bem acompanhada - ele não conseguiu deixar de usar o sarcasmo.
-Você se refere ao Theoric? Eu o acabei de conhecer, ele só foi gentil - ela se conteve mais um pouco, sem mostrar seu interesse no guerreiro de forma exagerada.
-Muito bem - Loki encerrou o assunto, meio confuso com os próprios sentimentos - preciso cumprimentar mais pessoas, mas já volto, espero poder te fazer companhia também.
-Sim, vou esperar ansiosamente - ela lhe deu o mesmo sorriso doce de sempre.
Com um aceno de cabeça, ele se afastou, muito perturbado. Sigyn sempre foi sua amiga próxima desde que se conheceram, e todo aquele tipo de atenção que ela estava desprendendo a Theoric geralmente era dele, mas não, havia algo a mais na expressão boba e perdida de Sigyn. Era inacreditável, uma garota tão centrada e esperta como ela tinha se deixado levar pelo charme de um bruto como qualquer outra desmiolada. As coisas não podiam ficar assim, ele tinha que colocar algum juízo na cabeça de sua amiga e lhe abrir os olhos. Com certeza, ele colocaria um plano em prática naquela noite.
