Era comum os banquetes de Asgard serem acompanhados por música e dança, músicos ganhavam um bom salário por justamente animarem as festas dos nobres e a ocasião da noite não era diferente. Certamente, música era um dos interesses do príncipe mais novo, mas ao perceber as melodias e vozes cantando, em vez de apreciar a canção, Loki a usou como estratégia.

-Lady Sigyn – ele foi depressa até a amiga sem perder a elegância – pode me dar a honra de me acompanhar na primeira dança?

-Loki, eu... – realmente a jovem não estava esperando um pedido assim, mas sendo ele seu amigo e claro, o príncipe, resolveu não recusar – sim.

A resposta curta saiu meio esganiçada, ela só estava surpresa com o pedido, admitiu a si mesma. Loki a conduziu até o pátio, se separaram em suas respectivas filas, se cumprimentaram, e então, com passos para frente e para trás, dançaram graciosamente. Num certo trecho da dança, ele aproveitou para fazer uma pergunta.

-O que exatamente Theoric queria com você? – disse ele, discreto, mas direto.

-Nada, apenas me convidou para dançar – Sigyn estreitou os olhos, estranhando a pergunta.

-Você pareceu bastante feliz ao aceitar, mais feliz do que quando eu a tirei para dançar – observou Loki.

-Deveria estar feliz? Bem, felicidade não é exatamente o que eu sinto no momento, estou é mais curiosa para saber porque me tirou para dançar – foi a vez dela de instigá-lo.

Loki foi rápido ao elaborar uma resposta, embora a pergunta o deixasse constrangido.

-É tradição e educação, uma honra uma lady dançar com os príncipes – ele disse com ar esnobe, mas seu desconforto não passou despercebido por ela.

-Thor será meu próximo parceiro então? - Sigyn experimentou provocar.

-Não antes de Theoric, suponho – Loki rebateu à altura.

-Está muito estranho hoje, mais que o comum – comentou Sigyn, de repente.

-Talvez esteja certa – ele respondeu de má vontade, perdendo a paciência e se enchendo de raiva de vez.

Por educação, continuou a dança, em silêncio, se prendendo aos olhos de Sigyn. Ao olhar de volta para eles, via sua cor de amêndoas, único castanho que nunca tinha visto em nenhum outro lugar, cheios de ternura, compreensão, paciência, mesmo quando ele estava bem ali, com raiva dele. Chocado e um tanto trêmulo, Loki se afastou quando a dança terminou, percebeu que ela tinha razão, ele estava realmente estranho, mas talvez a culpa tinha sido da própria Sigyn esse tempo todo.

Ela o deixou ir, sabia que era melhor Loki espairecer a cabeça longe dela, depois, checaria como ele estava. Theoric não demorou muito para tomar sua atenção, ao som da música seguinte, eles estavam no pátio. Ele estava mais para um dançarino silencioso, mas dava para ver como estava interessado na jovem Lady.

Em contraponto a Loki, Sigyn passava por uma espécie de transe enquanto observava o rosto de Theoric, era galante, escultural, belo. Aquele guerreiro estava ali, lhe dando atenção ao invés de qualquer outra que estava ali, era difícil ignorar esse fato.

Depois da dança, passaram a conversar. Era verdade que Theoric falava muito mais que Sigyn, mas ela estava completamente encantada e disposta a ouvi-lo.

Em outro canto do pátio, Loki aparentava estar amargurado e de mau humor, bebendo goles de vinho uma vez ou outra.

-O que aconteceu, irmão? Estava ótimo até um tempo atrás – Thor veio até ele, com o ar de quem estava se divertindo com os amigos.

-Não é nada – Loki deu seu melhor sorriso travesso – só acho que já me cansei da festa, sabe que não sei aproveitar tanto quanto você.

-Você sabe sim, até que algo te incomode - Thor retrucou – ou alguém nesse caso...

-Deixe-me ver se está certo – Loki o desafiou, vendo se era capaz disso.

-Você não gostou em nada que Theoric está dando mais atenção a Sigyn, afinal ela é sua – Thor coçou a barba distraidamente enquanto respondia.

-Minha? Minha amiga, claro, nunca prendi Sigyn a mim – Loki respondeu, irritado.

-Não, mas a companhia dela é uma das coisas que mais preza e não aguenta perder isso para outro – seu irmão mais velho notou.

-Sigyn é livre para conversar com quem quiser – o mais novo deixou claro, o que Thor aceitou com um sorrisinho.

Sabia o quanto o irmão podia ser ciumento, e estava certo de que era justamente esse o caso. Quando Thor se afastou, Loki admitiu que algo mais tinha despertado dentro dele a respeito de Sigyn, era delicado demais para dizer em voz alta, forte demais para se ignorar.

Por ora, se comportaria como o príncipe de Asgard no banquete, mas conforme os dias passassem, teria que lidar com um dilema ainda mais complexo.