Parecia que por um longo tempo, nada seria capaz de consolar Lady Sigyn, no seu próprio quarto acreditava ter ao menos o direito de liberdade de expressar o que estava sentindo. Chegou à conclusão de que todos os seus anos sendo leais a Frigga não foram suficientes para que ela tivesse algum direito a argumentar contra. Mesmo confusa, Sigyn decidiu se sentar, sentindo o rosto inchado, as lágrimas caindo, escorridas de seus olhos, as pernas e braços um tanto moles.

Já sentada, viu que não adiantava culpar a rainha, que tinha sido uma mãe para ela até então, e até tinha lamentado o que tinha acontecido. Nesse momento, seus sentimentos mudaram para vergonha. Tinha receio de encontrar Loki, do que ele devia pensar de tudo aquilo. Decidiu que não o procuraria, ao menos por enquanto. Mais algumas lágrimas caíram quando ela conjecturou que talvez perderia o amigo, que a amizade deles nunca mais seria a mesma.

- Lady Sigyn - alguém bateu na porta, chamando por ela, Sigyn reconheceu a voz como sendo de Ingrid, a velha ama do Palácio.

A pobre moça feita noiva de repente decidiu respirar fundo e ser corajosa novamente. Já estava cansada daquela postura solene, mas sabia que aquele era o seu dever.

-No que posso ajudá-la, Ingrid? - ela perguntou, querendo saber o motivo da visita.

-A rainha me pediu para que eu viesse ver como você estava - disse a ama com pena, vendo seu rosto muito vermelho.

- Eu me assustei com tamanha escolha do Pai de Todos, mas me sinto menos... surpresa agora - disse Sigyn, mantendo a compostura.

- Eu vou buscar um chá para você, me espere aqui - Ingrid ofereceu, mas depois sua expressão se tornou pesarosa outra vez - tenho outras notícias para te dar ainda.

- Não se preocupe, não irei a lugar algum - Sigyn resolveu tranquilizá-la com um sorriso.

Ingrid se sentiu melhor por ver seu esforço, e se retirou. Sigyn, por sua vez, se preparou para o pior, sabia que as tais notícias teriam a ver com o casamento.

Ingrid então retornou pouco tempo depois, trazendo um chá de hortelã. Sigyn agradeceu e o tomou lentamente, a ama a deixou se acalmar por todo tempo que fosse necessário.

-Me diga logo o que tem para me dizer - pediu a moça, surpresa em soar tão decidida.

-O rei me pediu para que viesse te avisar que os preparativos do casamento começam amanhã, ele gostaria que você supervisionasse tudo, pra que esteja tudo do seu agrado.

-Muito generoso da parte dele - murmurou Sigyn, sem mais floreios ou formas comedidas - só me admira ele mesmo não vir falar comigo depois de tomar uma decisão tão importante sobre a minha vida.

- Você sabe o quanto o Pai de Todos é ocupado, mas sua decisão não podia esperar- Ingrid respondeu.

- Eu só espero ao menos receber os parabéns do meu futuro sogro pelo meu noivado - ela resmungou mais um pouco, mas não conseguiu evitar o choro, cobrindo o rosto com as mãos

-Ah minha querida menina, eu sei que não é o que queria, mas não se sinta tão mal - a ama tentou consolá-la, a abraçando - ser da família real tem seus privilégios e ao menos se casará com seu melhor amigo, um homem que zela pelo seu bem.

-Sei disso, mas também tenho medo do que isso pode significar para nossa amizade - Sigyn expôs sua opinião.

-Ora se você encarar como uma oportunidade de estarem mais unidos, talvez isso alivie as coisas - aconselhou a ama.

- Eu vou tentar, obrigada, Ingrid - a jovem enxugou as lágrimas e sorriu.

A ama esperava que esse casamento desse certo e que Sigyn percebesse que nada daquilo era uma tortura.

Nos dias seguintes, já mais determinada, Sigyn resolveu que seguiria uma rotina rigorosa de enfrentar o seu dever. Acordaria, tomaria seu café, se reuniria com as servas e a rainha para averiguar os detalhes da cerimônia. À tarde, após o almoço, era natural que tivesse um tempo livre, era quando retornava ao trabalho na sala de cura.

No hospital do Palácio, era comum receber elogios e congratulações por seu noivado. "Fico Feliz por você estar se casando", "Você é muito sortuda por casar com um dos príncipes", " Você tem um belo noivo", "Até que enfim estão se casando". Era mais ou menos isso que ela ouvia, e sentenças como a última a assustavam um pouco. O que queriam dizer com finalmente? Será que eles estavam prometidos desde criança, sendo esse um plano de Odin desde sempre? À essa altura da situação, sinceramente ela não queria saber mais. Cumpriria seu dever.

Com o passar dos dias, se deu conta do que Loki poderia estar pensando disso tudo. Ela se sentia envergonhada, ainda lutava contra o sentimento de não querer vê-lo. Era evidente que sentia sua falta, das suas conversas diárias, de seus passeios, de sua companhia.

Um dia, durante o trabalho, ela o percebeu se aproximando, as vestes verdes se destacando ao longe, no início do corredor. Apesar da surpresa e emoção de vê-lo, acabou se escondendo. Estando de costas, não conseguiu perceber o olhar tristonho dele a procurando, mas dava para ouvir seu pesar na voz, chamando por ela, perguntando onde estava. Ouviu a resposta das outras curandeiras, Sigyn estava ali até há um minutinho atrás, mas tinha sumido. O príncipe agradeceu e então saiu dali, frustrado.

Loki a conhecia bem, estava claro que sua amiga estava completamente desconfortável com a situação, a ponto de evitá-lo desde que o contrato tinha sido feito. Fazia todo esse tempo que ele não a via. Ele mesmo não sabia o que pensar daquele casamento, tinha prometido a Sigyn que jamais a forçaria a fazer algo que não queria fazer, estava preocupado com a reação dela e como tudo aquilo era irônico. A união deles em matrimônio seria o que os afastaria.

No entanto, no fundo do seu coração, dentro de uma parte que ele não estava mostrando, estava feliz, iria se casar com a mulher que amava. Admitia que era um pensamento egoísta, mas não negava o que estava sentindo. Mesmo assim, resolveu dar o tempo que Sigyn estava pedindo sem palavras, só pelo ato de se esconder. No entanto, ela não se esconderia dele para sempre.

Ao fim do dia de trabalho e cansada, Sigyn achou que poderia se refugiar na biblioteca, o local estaria sempre aberto para ela, não importava o horário. Durante a noite, preferiu pular o jantar e ir direto para lá, acabou continuando a ler o seu já conhecido livro do autor de Vanaheim, certamente muito reconfortante agora.

Loki, por sua vez, sentindo falta dela e também sentindo que deveriam conversar sobre a situação vigente, foi procurá-la mais uma vez. Bateu a porta dos aposentos dela, mas não teve resposta. Temeu mais uma vez que ela o estivesse evitando novamente, mas resolveu sair dali e tentar outro lugar.

Entrou na biblioteca, então, silencioso como um gato, cauteloso em cada passo, na esperança de vê-la ali, e foi então que seu coração fez uma pequena pausa e voltou a bater outra vez. Lá estava ela, absorta em leitura, tranquila e calma, bem como ela estava quando se viram da última vez, antes de tudo que aconteceu. Só por vê-la ficou contente, e com medo, se aproximou. Certo de que não queria assustá-la. Só queria ter certeza de que estava bem, novamente sentiu o coração palpitar de amor por ela. Loki tinha certeza de que mesmo que não fosse correspondido, nada seria capaz de destruir o sentimento.