O tempo pareceu relativamente rápido até que chegasse o dia da coroação de Thor. Para Loki, dentro de sua mente, tinha contado as horas com precisão, as observando, esperando que chegasse o momento de colocar seus planos em prática.

Acordou calmamente, mantendo a própria ansiedade controlada, tendo mais prazer em observar Sigyn se arrumar do que qualquer outra coisa.

-Espero que não se atrase - ela avisou o marido sem olhar pra trás, vendo seu reflexo no espelho preguiçoso, enquanto terminava de colocar seus brincos - não seria elegante para o príncipe chegar depois do horário.

-Não se preocupe com isso, não vou chamar atenção nenhuma, atrasado ou pontual, meu irmão será o centro de tudo - retrucou Loki.

-Ainda assim, você deveria começar a se aprontar - ela se levantou, praticamente pronta - espero que não esteja... desapontado, de alguma forma.

-Desapontado? Diz isso por meu irmão estar sendo coroado hoje? - ele questionou - esse dia chegaria de qualquer forma, e eu sei do meu lugar, estarei lá para aponhá-lo, não se preocupe, Sigyn.

-Está bem - ela respondeu quietamente, percebendo alguns detalhes curiosos, seu marido raramente a chamava pelo nome e ele parecia tranquilo demais às vésperas de um evento que tocaria em suas questões delicadas.

Teria que redobrar a atenção e dar mais apoio a Loki nas horas e dias vindouros.

Eventualmente, o príncipe se levantou e foi comparecer ao salão principal. Ao lado de Sigyn, caminhando entre quem tinha denominado mentalmente de bajuladores de Thor, conseguia se sentir um pouco melhor por ter a esposa ao seu lado.

Logo encontraram a rainha Frigga e mãe e filho trocaram um olhar ligeiramente triste, isso durou um milissegundo e ele decidiu que seria melhor não ceder daquela maneira, não demonstrar tanta tristeza assim, o que ele considerava uma fraqueza no momento.

Não devia ficar triste, pelo contrário, deveria crer que seu plano funcionaria e Asgard não cairia nas mãos de um jovem tolo.

-É bom ver vocês, meus queridos - Frigga disse em voz alta, tentando quebrar o gelo.

-Igualmente, senhora, me sinto feliz por estarmos juntos aqui - Sigyn respondeu simplesmente, sem muitos floreios, tentando reforçar a ideia de que, mesmo Thor se tornando rei, eles ainda seriam uma família.

Loki continuou em silêncio, sem muito a dizer, apenas refletindo sobre o que aconteceria. Ele tomou um lugar de destaque ao lado da esposa e continuou calado.

-Tudo dará certo - reforçou ela - para todos.

Sigyn desejava que o marido confiasse nisso. Ao invés de argumentar, Loki apenas se virou ostentando um sorrisinho e disse:

-Obrigado querida.

Sigyn começou a ter dúvidas se seu marido ficaria bem e estável até o fim do dia.

Ela não teve mais tempo de se preocupar com isso, quando Loki de repente se ausentou do seu lugar. Como que tentando apaziguar as inquietações dela, foi atrás de seu irmão para lhe desejar sortes e felicitações. No diálogo deles, ainda havia uma parte de afeição real, Thor podia ser um tolo, mas seu irmão ainda o amava.

Assim que Loki retornou, Sigyn deu um pequeno suspiro de alívio, certamente percebido por seu marido.

-Não se preocupe, minha querida, como você mesma disse, está tudo bem.

-Claro - ela preferiu uma resposta curta do que uma muito longa que o deixasse ainda mais apreensivo, de apreensão, bastava já o que ela estava sentindo.

Com o príncipe mais velho passando pelos corredores do salão, toda a atenção do lugar se voltou para ele, andando com altivez e prepotência, completamente orguhoso de sua posição, ostentando o elmo alado e o martelo.

Odin tinha iniciado a coroação, mas foi interrompido por um ataque. Tinha visto os gigantes de gelo saqueando sua sala dos tesouros, e imediatamente tomou ações quanto a isso, tendo os dois filhos a seu lado. Por ora, o plano de Loki tinha dado certo, mas deixado seu irmão furioso, com a vontade de retalhar os miseráveis que ousaram acabar com sua coroação.

Parecia que seu plano estava saindo do controle, mas deveria evitar que as ações de Thor se tornassem um desastre diplomático maior ainda.

Decidido a ir confrontar os gigantes em seu próprio território, Thor decidiu partir com Sif, Loki e os Três Guerreiros. Depois de decidir ir com eles, só restava a Loki avisar Sigyn de sua empreitada.

Sigyn, como cunhada de Thor e próxima à família real, ficou sabendo da pressa do príncipe em fazer justiça, só não esperava que esses planos incluíssem seu marido. Loki chegou apressado à sala de cura, ela logo notou sua expressão um tanto aflita, talvez até mais que isso.

-O que está acontecendo? Ouvi algo sobre Jotunheim - ela disse assim que ele se aproximou - não me diga que pretende ir com seu irmão.

-Não era minha vontade, mas acredite, é o melhor a se fazer, é melhor acompanhá-lo e impedir que faça um estrago maior ainda - Loki se explicou.

-Eu entendo o que está fazendo, mas o camlo de batalha não é lugar pra você, sempre foi o estudioso e diplomata... - Sigyn refletiu sobre as aptidões dela, temerosa por sua vida.

-Eu sei, eu sei, mas não se preocupe, sei me cuidar - garantiu ele - saberei o que fazer caso nos metemos em apuros, confie em mim.

-Eu confio - ela acabou suspirando, querendo acreditar de fato nas próprias palavras = volte pra mim, por favor.

-Sempre voltarei - ele tomou um certo tempo para segurar as mãos dela, e depois se inclinou para um beijo.

Sigyn queria acreditar que não se tratava de uma despedida. Ela resolveu ver a partida dele, estando perto dos portões. Loki lhe deu um último aceno, a imagem que ficou gravada na mente de Sigyn foi o sorriso confiante e o cabelo negro alvoroçado por causa da cavalgada. Ficou ali, pensativa, imaginando se ele não tinha caído numa enrascada.