Numa coisa Loki sentia que tinha razão, as coisas se sairiam muito pior se ele não estivesse ali, mas nunca teria previsto os desdobramentos que aconteceram. Por sua resposta rebelde e ousada, Thor tinha sido banido.

Loki conhecia seu pai muito bem, sabia da sua sabedoria, ou melhor, astúcia. Era como se a vida fosse um jogo meticuloso e suas ações eram completamente bem pensadas para levar ao fim que queria. Era claro como ele favorecia Thor, mas o banimento era algo que surpreendeu Loki. Dali, viu surgir novas oportunidades, mas antes, precisa de esclarecimentos sobre sua própria origem.

De repente, tudo que sentia estar errado em sua vida começou a fazer sentido, não se sentia parte da família porque realmente não era da família. Era um monstro, o mpnstro que sempre foi inimigo de Asgard, e por isso entendeu porque seu pai sempre o tinha rejeitado. Rejeitado duas vezes, sua origem escondida, não sabia o que pensar, só o quanto tudo tinha sido uma mentira até então.

Se isolar foi sua primeira opção, precisava de um tempo sozinho para pensar sobre o que tinha descoberto. Conhecia passagens secretas nos limites do reino, e foi para lá que decidiu ir, ali podia gritar, chutar, esperniar o quanto quisesse, ninguém veria sua dor, ninguém veria sua aflição. Quando achou que estava sozinho, se lembrou de Sigyn. Sua amada esposa realmente não o merecia, dada em casamento a um gigante de gelo, o que ela iria pensar se descobrisse?

Sigyn, que no momento retornava de mais um dia ocupado, ficou um pouco aflita e remexida por não ver o marido nos seus aposentos. Podia ser que ele estava em outro lugar, na biblioteca, ou em uma audiência com o rei, mas essa também não era uma opção. Logo se espalhou aqui e ali que o Pai de Todos tinha entrado no sono de Odin. Talvez isso tenha perturbado Loki, notícias graves estavam se espalhando sobre a família real e Sigyn temia como tudo estava afetando seu marido.

Pensando um pouco mais a fundo no assunto, ela percebeu que ele poderia estar em um lugar em particular, pra onde sempre ia quando se sentia chateado. Sem pemsar mais, ela foi até lá.

Era uma passagem secreta numa caverna sombria e escura, porém, mesmo assim, deu para vê-lo. Uma silhueta em meio à escuridão.

-Loki... - ela tentou baixinho, mas parecia que a atenção dele estava em outro lugar.

Não satisfeita, ela decidiu seguir em diante, chegando a se mover lentamente atrás dele.

-Quem está aí? - ele se virou de uma vez, o que assustou a ambos - Sigyn, o que faz aqui?

-Eu não o vi o dia inteiro, imaginei que estivesse aqui por causa do seu pai, mas parece que há algo mais... - ela refletiu, olhando para a expressão pesarosa e o rosto marcado dele.

-Eu não sei por onde começar, eu temo descobrir sua reação... - ele confessou, melancólico.

-Experimente me dizer e então veremos o que eu acharei - ela foi firme, instigada a descobrir do que se tratava tudo aquilo.

-Eu descobri porque sempre fui o desfavorecido, eu não nasci como asgardiano... - a voz dele estava cheia de mágoa - eu fui tomado da minha verdadeira casa, Jotunheim.

-Jotuheim? Como assim? - ela ficou confusa.

-Eu sou um deles, uma abominação, um gigante de gelo... - Loki falou, com um pouco mais de raiva transparecendo.

-Você? Como isso é possível? - Sigyn não conseguia compreender.

-Odin escondeu a verdade de mim o tempo todo, ele alega ter me resgatado, mas me tirou do meu povo de origem, ele disse que eu era o filho rejeitado de Laufey, por ser pequeno demais, ele acabou me criando aqui, escondido... proibido de saber da verdade sobre mim até entâo... - mais dor apareceu na voz do príncipe.

-Isso... é certamente grave, eu... não consigo imaginar sua dor, mas se serve de consolo, isso não muda o que sinto por você, me apaixonei por sua essência, eu amo quem você é, asgardiano ou não - Sigyn disse docemente, mesmo abalada por tudo que seu marido contou.

Loki então deu um longo suspiro e se aproximou dela com cuidado.

-Isso só faz eu continuar não te merecendo... - murmurou ele.

Sigyn aproveitou a proximidade para abraçá-lo. Sabia que ele continuaria lamentando se ela não agisse assim, e francamente, ela sabia que era disso que ele precisava.

-Eu amo você - ela o abraçou ainda mais apertado depois de dizer isso.

-Eu amo você - Loki respondeu em outro sussurro.

Ficaram em silêncio por um tempo, ela sentiu que era necessário ficar ali e segurá-lo, assegurar que ela era real, estava presente, e que não o abandonaria nesse momento difícil.

Mesmo com tudo aparentemente conciliado por um tempo, Sigyn sabia que as notícias iriam continuar abalando seu marido mais e mais e, com o tempo, se comprovou isso. Loki não mudou a maneira como a tratava, mas com certeza, se tornou muito mais sombrio. De repente, tinha se tornado rei, o que aparentemente nunca aconteceria, e ali estava ela, numa posição de rainha consorte temporária que a deixava muito desconfortável.

Não sabia deduzir o que aconteceria com Thor, exilado e sem auxílio aparentemente. A ela, restava se dedicar ao trabalho nas salas de cura. No entanto, algo a deixou irrequieta. Ao se deitar, percebeu Loki distante, um olhar longe, profundo e ligeiramente diferente de tudo que tinha visto e sentido.

-O que o perturba? - ela teve coragem de perguntar, mesmo que baixinho.

-Nada, só as preocupaçôes de um rei... - ele balbuciou algo, meio distraído.

-Isso é tudo novo pra você, mas... eu não sei como dizer isso... - Sigyn tinha uma ideia do que estava acontecendo, mas hesitou.

-Deixe-me adivinhar, me acha um incapaz para estar no trono? - Loki soou irritado e magoado.

-Não, de maneira nenhuma - Sigyn negou, um pouco assustada - era só algo que você nunca esperou acontecer, isso... pode mexer com a cabeça de alguém.

-Entendo, mas o que pretendo fazer aqui é corrigir os erros do meu pai, garantir a paz e prosperidade de Asgard, é tudo que quero... - ele afirmou.

Sigyn pensou um pouco mais sobre a situação, talvez Loki estivesse certo ao dizer que estava preocupado com o reino, mas talvez os meios que estava usando para isso não eram os mais apropriados.

Não havia notícia do exílio de Thor, nem quando esse período terminaria, nem quando Odin acordaria. Mesmo ocupada conforme os dias se passavam, Sigyn notou as ausências misteriosas de seu marido, imaginando onde ele poderia estar e o que tinha feito.

Os dias se passaram e ela o sentia cada vez mais distante dela, como se barreira que nunca houve entre eles se construísse por ele ter se tornado rei. Havia planos na mente de Loki e Sigyn temia pelo que fossem.