Mesmo com tudo aparentemente conciliado por um tempo, Sigyn sabia que as notícias iriam continuar abalando seu marido mais e mais e, com o tempo, se comprovou isso. Loki não mudou a maneira como a tratava, mas com certeza, se tornou muito mais sombrio. De repente, tinha se tornado rei, o que aparentemente nunca aconteceria, e ali estava ela, numa posição de rainha consorte temporária que a deixava muito desconfortável.
Não sabia deduzir o que aconteceria com Thor, exilado e sem auxílio aparentemente. A ela, restava se dedicar ao trabalho nas salas de cura. No entanto, algo a deixou irrequieta. Ao se deitar, percebeu Loki distante, um olhar longe, profundo e ligeiramente diferente de tudo que tinha visto e sentido.
-O que o perturba? - ela teve coragem de perguntar, mesmo que baixinho.
-Nada, só as preocupações de um rei... - ele balbuciou algo, meio distraído.
-Isso é tudo novo pra você, mas... eu não sei como dizer isso... - Sigyn tinha uma ideia do que estava acontecendo, mas hesitou.
-Deixe-me adivinhar, me acha um incapaz para estar no trono? - Loki soou irritado e magoado.
-Não, de maneira nenhuma - Sigyn negou, um pouco assustada - era só algo que você nunca esperou acontecer, isso... pode mexer com a cabeça de alguém.
-Entendo, mas o que pretendo fazer aqui é corrigir os erros do meu pai, garantir a paz e prosperidade de Asgard, é tudo que quero... - ele afirmou.
Sigyn pensou um pouco mais sobre a situação, talvez Loki estivesse certo ao dizer que estava preocupado com o reino, mas talvez os meios que estava usando para isso não eram os mais apropriados.
Não havia notícia do exílio de Thor, nem quando esse período terminaria, nem quando Odin acordaria. Mesmo ocupada conforme os dias se passavam, Sigyn notou as ausências misteriosas de seu marido, imaginando onde ele poderia estar e o que tinha feito.
Os dias se passaram e ela o sentia cada vez mais distante dela, como se barreira que nunca houve entre eles se construísse por ele ter se tornado rei. Havia planos na mente de Loki e Sigyn temia pelo que fossem.
Sem mais esperar pelo pior, ela preferiu confrontá-lo.
-Eu falo isso com muito pesar no meu coração, mas você não tem sido o mesmo, eu vejo que tem prazer em ser rei, prazer esse que pode estar te cegando - ela disse com pesar na voz.
-Me cegando? O que é que eu não estou enxergando? Será que é você que não enxerga que só estou exercendo meu direito de nascença? Meu irmão está ausente, meu pai está ausente, estou governando por eles! - Loki ergueu a voz gradativamente, deixando sair uma angústia de muito tempo.
-Ao mesmo tempo que gosta disso, me é claro que adoraria ter esse lugar permanentemente - ela confessou o que a preocupava.
-E se for? Essa é minha verdade, estou aproveitando, mas porque pela primeira vez na vida sou alguém de relevância para esse reino! - ele se alterou ainda mais.
-Você não entende que não precisa disso? Eu... me importo com você, sempre me importei com você, desde o primeiro momento que pus meus pés aqui você foi meu amigo, meu companheiro, sempre o amei como você é, com prestígios ou não... - Sigyn tentou argumentar, sentindo que estava perdendo as forças.
-Talvez você não entenda completamente o que é estar no meu lugar, recanteado, excluído, completamente esquecido... eu quero esse trono e eu o terei porque ele está disponível. - ele deixou claro sua posição.
-Não seria tarde demais para desistir, seria? - Sigyn tentou uma última vez.
-É sim, tarde demais - ele afirmou sinceramente.
Compreendendo a gravidade da situação, ela o deixou sozinho, lamentando o que sentia que estava para acontecer.
Realmente, a vida como Sigyn conheceu desmoronou diante dos seus olhos gradualmente. Ficou sabendo que Thor havia retornado a Asgard e Loki não lhe entregaria o trono, o conflito entre os dois irmãos cresceu de maneira exponencial, mas distante de Sigyn, de modo que ela não ficou sabendo de muita coisa do que aconteceu até rever seu cunhado outra vez, depois de muito tempo.
Parte do seu coração se preocupou com Thor, queria saber e deseja que ele estivesse bem, mas a maior parte de suas preocupações estava voltada para Loki, onde ele estava e se estava bem. O olhar de Thor dizia muito, raramente o via tão sério daquele jeito.
-Eu sinto muito... - murmurou ele com voz embargada.
-Me diga o que aconteceu - ela pediu, mesmo deduzindo o pior.
-Não era minha intenção lutar contra o meu irmão, de jeito nenhum, mas... eu não tive outra escolha - Thor se explicou, com clara tristeza - ele... no meio da batalha, Loki decidiu despencar da Bifrost. Não há como ele ter sobrevivido.
Não tiveram palavras que Sigyn conseguisse pronunciar, declarar para descrever ou reagir ao tamanho da sua dor. De repente, se viu viúva, com o marido desperdiçando a vida em troca de sua ambição, sua reparação procurada pelas próprias mãos, que cavou aquele final triste e tortuoso. Só restou a ela cair de joelhos e chorar.
Thor ficou sem reação por um tempo, mas depois conseguiu abraçá-la. Sabia da responsabilidade que caía sobre seus ombros agora, zelar pela viúva do irmão. Sigyn aceitou o abraço, vendo que o que lhe restava era sentir a dor e a devastação da perda do marido, aceitando o conforto que o cunhado lhe ofereceu no momento.
