Não sabia direito porque chorava, se era pela condição de Loki ou por ela ser tolo o bastante para deixar suas ações o levarem até ali. Tentou se recompor, para estar apresentável o suficiente para ir atrás das respostas que queria. Procurou então a pessoa em quem mais confiava naquele momento difícil. Frigga seria gentil o bastante para dizer o que fazer.

-Senhora, obrigada por concordar em me ver, eu não sabia mais onde buscar notícias - agradeceu Sigyn por poder visitá-la.

-Não se preocupe minha querida, foi um prazer vê-la e sempre será - a rainha deixou claro a ela - sei que a situação não é a mais propícia de todas, mas, saiba que sempre poderá contar comigo.

-Eu sei, é por isso que estou aqui - Sigyn respirou fundo antes de continuar - eu queria ver o Loki, preciso vê-lo e entender de uma vez por todas o que foi que aconteceu com ele, ouvindo dele mesmo.

-Quer fazer uma visita a ele, eu entendo - Frigga ponderou - não há problema nisso, Odin não proibiu visitas, ainda mais da esposa dele, eu mesma o visitarei, mas creio que será melhor você fazer isso sozinha, há muito que vocês precisam falar.

-Sim, está completamente certa - Sigyn afirmou.

Ela ficou um tempo a mais ali com sua sogra, procurando se acalmar, o que Frigga a ajudou a fazer. Então, a princesa se levantou e foi até as masmorras, ignorando os próprios medos ou receios. Precisava de respostas e as teria.

Ela o observou por um tempo dentro da cela, absorto em um livro, o que causou um aperto em seu coração, era como se por um breve momento, ele estava livre, como na época em que liam juntos. Sigyn sabia que esses tempos não voltariam.

-Sigyn - ele percebeu a presença dela e se levantou lentamente, a observando fixamente.

Havia uma malícia exacerbada em seu olhar, algo que antes era oculto e velado e agora estava completamente escancarado.

-Eu vim vê-lo - apesar do medo que sentiu, resolveu prosseguir - a última coisa que soube de você é que estava morto, depois da Bifrost ser destruída, porque você lutou com seu irmão.

-Veio aqui defender ele, é isso? - ele disse de forma amarga - você tinha suas dúvidas quanto a mim antes mesmo de eu "morrer", agora está claro que defende toda a mentira que eles sempre me contaram.

-Você mal me deu uma chance de falar, não pode adivinhar o que está na minha mente - ela respondeu, tentando se manter firme.

-Houve um tempo que sabíamos exatamente o que um e o outro estava pensando, creio que esses dias ficaram para trás - ele respondeu, magoado.

-Isso porque a escolha é sua, eu ainda estou aqui, eu ainda queria viver ao seu lado para sempre, mas agora, como posso fazer isso se você conseguiu ir preso? - Sigyn questionou as atitudes dele.

-Me prometeram um trono e eu fui buscá-lo, eu deveria governar Midgard já que Asgard me foi negada - ele continuou sustentando esse argumento.

-Midgard, ouvi dizer que esteve lá - ela respondeu quietamente - exatamente o que você fez em Midgard?

-Não ficaria contente em ouvir, mas causei um alvoroço, com certeza - ele chegou a rir de forma cruel.

-Por que? Por que subjugar um povo? Que benefício isso lhe traria? - ela continuou questionando.

-Eu finalmente seria rei, foi pra isso que eu nasci! - Loki finalmente se alterou, dizendo em alta voz o que no momento era o desejo mais enraizado de seu coração.

-Só enxerga essa atribuição a você? - Sigyn disse baixinho, também se sentindo magoada - é uma pena então, nunca se sentiu feliz por ser meu marido, então?

-Isso não é verdade - ele fez questão de dizer - com você eu tive alegria verdadeira, mas depois eu percebi que eu poderia ter mais, não quer dizer que eu não te ame, Sigyn.

-E eu me sinto estúpida por te amar, por competir com suas ambições quando poderíamos ter uma vida completamente pacata - ela abriu o coração também.

-Aí é que está, Sigyn, se me conhecesse bem, saberia que eu tenho o desejo insaciável de reinar, é meu direito, e ainda o terei - Loki fez questão de enfatizar mais uma vez.

-Eu sei disso, eu te conheço bem, só queria que isso mudasse, quem sabe um dia - ela ainda deixou um pouco de esperança aparecer - espero que não se importe de eu ainda vir vê-lo.

Ela se virou para trás, cansada da discussão, mais agitada e abalada do que quando tinha chegado.

-Como eu disse, Sigyn, eu a amo e isso não mudou - Loki disse a ela, vendo-a se virar para olhá-lo outra vez - isso não vai mudar.

-Não sei se é bom ou ruim, mas eu posso dizer o mesmo - ela lutou contra uma lágrima em vão, a gota escorreu por seu rosto.

Antes que pudesse evitar, usou um dos truques que menos gostava. Conseguiu se materializar dentro da cela e com todas as forças, o beijou. Ele era um egocêntrico criminoso, um príncipe rejeitado, mas ainda assim, o amor da vida de Sigyn, e apesar de tudo que tinha acontecido, sentia falta dele e estava aliviada por ele estar vivo. O gesto surpreendeu Loki, mas ele se aproveitou do beijo, afinal, também tinha sentido falta da esposa.

-Eu vou voltar - ela então se despediu, sem estar arrependida do que tinha feito, mas pesarosa pelo homem que o marido tinha se tornado.

-Eu sei que sim - ele concordou - até a próxima vez, Sigyn.

Ele a observou se afastar, se apegando ao momento de poder tê-la visto outra vez e a beijado. Ela podia estar decepcionada, mas ainda o amava. Era tudo que importava para ele.