Ela não estava errada quanto a Loki estar vivo, mas por enquanto, ela não tinha conhecimento disso. Já ele, na pele de Odin, tomando o lugar do governante, se mostrou um "avô" muito preocupado e presente, mais do que Sigyn esperaria de Odin. Uma frase, um gesto, um leve levantar de lábios aos sorrir o entregava. Em sua próxima visita, ela decidiu desmascarar sua farsa.
-Como vai, milady? - ele disse cordialmente, observando o agora ventre protuberante.
-Eu vou bem, majestade, obrigada por tanta gentileza e preocupação - ela agradeceu mais uma vez - isso me conforta, já que Thor está longe, acredito que ele não retornará, talvez quando as crianças nascerem ele possa fazer uma visita.
-É uma pena Thor ter nos deixado, mas por fim, a decisão foi dele - resumiu "Odin" - acredito que Loki lhe faz muita falta também, talvez esteja muito abalada ainda para admitir em voz alta.
-Não, agora não sinto tanto a falta dele - declarou ela - ainda mais quando ele veio me visitar regularmente até hoje, não é mesmo, meu marido?
-Sabia que não poderia enganá-la tanto tempo - ele desfez a magia, gargalhando de maneira que mostrava o quanto estava se divertindo com a situação - me perdoe por isso Sigyn, mas mais uma vez, tive que fazer o necessário para sobreviver.
Ela lutou contra a vontade de estapeá-lo, mas se contentou com um belo esmurro no braço dele. Ao menos ele fez uma careta de dor.
-O que está pensando? O que quer agora? Eu... estou beirando à loucura ao tentar te entender - ela deixou claro o que pensava.
-Eu sei que abuso da sua boa vontade em relação a mim - ele admitiu - mas eu não podia deixar essa oportunidade passar, eu sempre tive o direito de ser rei deste lugar.
-Já pensou que talvez você tivesse uma vida boa, uma vida feliz, se abandonasse apenas seu desejo de reinar? - ela fez a pergunta chave, completamente zangada.
-Eu sei, Sigyn, eu sei, mas talvez eu me sentisse incompleto - ele confessou - ainda assim, tem que admitir que o que fiz por Asgard até aqui foi algo bom.
-O reino prosperou sob o seu governo, você se mostrou um governante melhor que Odin ou Thor, era isso que queria ouvir? - ela disse, ainda irada.
-Talvez de maneira mais dócil - ele admitiu.
-Eu nunca vou ser dócil com você, não mais, e isso acaba aqui - ela declarou com firmeza, não dando nenhuma brecha para ser contrariada.
Sigyn estava disposta a contactar Thor e resolver toda essa questão, mas foi interrompida pelas leis da natureza. Ela soltou um suspiro de dor, incômodo. Sabia o que significava.
-Você está bem? - Loki perguntou, genuinamente preocupado.
-Estou, vou ficar, preciso ir para a sala de cura, os bebês estão a caminho - Sigyn tentou manter a calma.
-Bebês? Quer dizer que são gêmeos? A quanto tempo sabe? - ele ficou assustado com a notícia.
-Não importa, o que importa é que estão a caminho, eu preciso de ajuda! - ela deu um grito na última palavra, sentindo dor outra vez.
-Eu vou chamar a parteira não se preocupe - Loki voltou ao seu disfarce e correu para ajudar a esposa.
Sigyn e Loki se reencontraram novamente na sala de cura. A princesa foi rodeada por parteiras, sendo atendida o mais rápido possível. Quanto a Loki, mesmo sob a pele de Odin, se viu obrigado a sair dali, atendendo ao pedido das servas. Talvez se insistisse demais para ficar ali, se entregaria.
-Cuidem da minha nora e dos meus netos - ele pediu veementemente, saindo dali.
Ele ficou a postos, esperando para ver o que aconteceria, querendo ser o primeiro na corte a vê-los.
Quanto a Sigyn, restou o processo de dar à luz os seus filhos. A dor se expandia a cada esforço que ela fazia, a cada movimento que as crianças faziam. Ela ouviu o choro do primeiro, forte e estridente, desesparado. Seu instinto materno foi querer acalentá-lo, mas antes ela tinha outra criança requerendo seus reforços. Um tempo depois, o outro menino veio ao mundo, chorando também, de forma mais profunda e sentida.
Sigyn deitou a cabeça de uma vez para trás, se deixando levar pela exaustão. Respirou fundo, tentando recuperar algum fôlego. Os olhos foram se fechando lentamente, até que sentiu que ainda não podia deacansar, precisava ver os meninos.
-Me dê eles aqui - ela pediu, com voz cansada e vacilante.
As parteiras a obedeceram, e ela viu os filhos pela primeira vez. O mais velho tinha os traços dela, ela conseguiu perceber isso, mas os olhos, verdes e brilhantes, certamente eran do pai. Já o mais novo era como Loki, exceto pelos olhos mais escuros.
-Narfi, Vali - Sigyn murmurou os nomeando - Narfi Lokison, Vali Lokison.
Ela beijou a testa dos bebês delicadamente e deixou a exaustão a deixar descansar.
-Majestade - uma das parteiras encontrou Loki de pé, ainda paciente e insistente - as crianças nasceram, são dois meninos, fortes e saudáveis.
-Deixe-me vê-los, por favor - ele pediu, ansioso.
-Claro, senhor - a moça lhe deu passagem.
Ao entrar, Loki viu Sigyn desfalecida. Aquela própria imagem o encheu de raiva e desespero, pensando que o pior tinha acontecido. Mas ele então viu os meninos, pareciam tão bonzinhos, quietos e curiosos. Uma lágrima se formou em seus olhos, não chegando a cair, mas era a prova viva do que sua esposa tinha dito, ser feliz com o que já tinham.
-Como está Lady Sigyn? - ele reuniu coragem para perguntar.
-Está exausta, senhor, repousando, mas está bem, foi um trabalho e tanto dar à luz aos gêmeos - a parteira explicou - ela só precisa de descanso.
-Entendo - ele assentiu.
Resolveu olhar sua família por mais um breve instante e sair dali. Precisou chorar isoladamente. Ter o que qualquer homem comum gostaria de ter o comoveu. Não seria ruim ter sua própria família. Pessoas que ele sentia que o amavam de verdade.
