Autora: Keiko Heimei (Nathalia)
Gênero: Romance (Yusuke x Keiko)
Yu Yu Hakusho e seus personagens pertencem à Yoshihiro Togashi.
Passaram-se três dias após o desentendimento. Keiko tentara ligar para Yusuke, mas Atsuko só sabia informar que há exatos três dias ele não aparecia em casa. Após desligar o telefone pela terceira vez naquela quinta-feira, deitou na cama e ficou olhando para o teto. Já não sabia mais o que fazer, como agir. Só seu coração sabia o quanto esperou por ele, o quanto se manteve fiel, o quanto sempre amou sem pedir nada em troca, o quanto se dedicou aquele amor. Ficou recordado algumas cenas do passado, quando ainda eram crianças. Ria sozinha lembrando das tantas gracinhas que o menino fazia. Sempre fora sua única amiga e a primeira a conhecer seu lado extrovertido, seu sorriso. Lembrou-se do primeiro beijo, um selinho dado em meio ao desespero de tentar faze-lo voltar à vida. Logo depois, um abraço tão caloroso. Lembrou-se de como sentiu os sentimentos de Yusuke, pela primeira vez, só naquele abraço. Naquele e em outro, quando o menino saía da caverna na qual lutou contra Sensui. Lembrou-se do seu retorno, dos dois caindo na areia, e ela, mais uma vez, roubando-lhe um beijo. Os únicos beijos de toda sua vida. Levantou-se vagarosamente, caminhou até a janela e manteve-se pensativa, encarando as estrelas.
Yusuke não voltara pra casa depois da briga. Passou os 3 dias no meio de uma floresta, pensando na vida. Depois, tentou procurar Kuwabara, mas nem ele nem Kurama pareciam ter tempo para desabafos amorosos. No fundo, sentia-se perdido. Todos ocupados, todos com ideais e ele ali, sem muito que fazer. Queria se sentir mais útil, da mesma forma que se sentia no Makai. Gostaria de estar ajudando o novo Rei, deveria estar passando por sérios problemas para conter tantos Youkais. Cogitou a hipótese de nunca ter se sentido de fato útil no mundo dos humanos. Sua vida parecia ter ganhado sentido após a nomeação de detetive sobrenatural. Agora, nem isso tinha.
- Kurama, eu acho que o Urameshi precisa de mim. – Comentou Kuwabara, no meio da aula de Biologia celular.
- Acho que ele te procuraria, não? – continuando a anotar a aula.
- Sei não, eu estou sentindo isso desde anteontem. Até liguei pra casa dele, mas a tia disse que ele não estava. - Hmm – soltando a caneta – não seria o caso de procurarmos por ele? Acabei de pensar na possibilidade dele achar que poderia nos atrapalhar caso nos procurasse. - É, eu pensei nisso. Eu vou agora. – levantou-se da cadeira, às pressas.
- Calma Kuwabara! A aula nem termi...ah, ele já foi. – Levantou-se calmamente. Juntou o material e alcançou Kazuma.
Algumas horas passaram, a noite já virara madrugada. Acharam Yusuke sentado em uma pedra, sentado de pernas entrelaçadas, escrevendo em um pedaço de papel.
- Cara! Estamos te procurando há horas! – Kuwabara subiu na pedra, dando um soquinho na cabeça do amigo.
- Ih, nem precisavam se preocupar. Agora tô legal. – dobrando o papel – e as aulas, foram boas hoje?
- Saímos mais cedo para te procurar – respondeu Kurama – E, pelo jeito, realmente algo aconteceu.
- Ah, tomei umas decisões. E pelo jeito eu tava certo. Só atrapalho aqui. Vou voltar pro Makai.
- Como é? – Kuwabara quase cai da pedra – Tá louco? E sua mãe, e a Keiko?
- Minha mãe vai aceitar na boa, ela tá bem sem mim. Já a Keiko, ela vai ficar bem. Ela precisa achar alguém que possa faze-la feliz e blá blá blá...- olhando para o papel.
- Vocês brigaram? – Perguntou Kurama, reparando no olhar distante do amigo.
- Ah, mais ou menos. Mas foi bom, percebi que tô atrapalhando a vida dela.
- E euuuu? – berrava Kazuma, desconsolado.
- Ôh viado, você vai estar ocupado demais pra pensar no gostoso aqui. Fora que você tem que se preocupar é em se declarar pra baixinha lá, a declaração rola ou não rola?
- Aaaaah eu já pensei em tudo, vou comprar um buquê de rosas e...e eii! Não mude de assunto! Não vai pro Makai merda nenhuma!
- E desde quando você manda em mim, pastel?
Kurama ria dos dois, brigando. Sabia que Yusuke se arrependeria de tal decisão, mas também tinha consciência que o amigo só descobriria isso depois de partir. Talvez precisasse largar Keiko e vê-la com outro para perceber seus verdadeiros objetivos. Os três passaram toda madrugada conversando, brigando, rindo. Antes de raiar o dia, Yusuke fez um pedido para o melhor amigo.
- Pastel, entrega isso aqui pra Keiko – estendeu o braço, com o papel dobrado na mão.
- Não vai nem se despedir dela? Urameshi, você vai acabar perdendo ela de verdade, ela vai perder a paciência de ficar te esperando até a próxima encarnação – Kuwabara evitara pegar a carta.
- E quem disse que eu quero que ela espere? – jogou a carta no colo do amigo – Faz esse favor pra mim, vai ser melhor assim.
- Yusuke.
- Fala Kurama.
- O risco é amigo íntimo da curiosidade. Porém, também pode ser do arrependimento. Tem certeza que é necessário correr esse risco de voltar e não ter mais nada, nem aqui nem lá?
- Ah, não tô afim de pensar muito. Depois que eu fizer eu penso se fiz merda ou não. Só sei que agora eu preciso ir. Falow pra quem fica, volto em mais ou menos um ano, sei lá. Preciso descobrir qual meu objetivo nessa vida.
- Seu cabeçudo filho da mãe, vai se arrepender pro resto da vida! Eles não precisam de você lá. As pessoas aqui precisam de você!
- Cala boca Kuwabara, tu só quer que eu fique pra te intimar pra Yukina. Aí óh, o do cabelo vermelho sabe fazer isso melhor do que eu. Os "come quieto" são os melhores nisso.
Os três riram. Urameshi levantou-se da pedra, acenou com a mão e partiu. Não sabia quando voltaria, mas sabia que, lá no fundo, tinha a esperança de retornar e ter Keiko em seus braços. "Preciso muito descobrir meus objetivos. Isso se eu tiver um. Preciso, no mínimo, ter algum sonho nessa vida que não seja ser Rei do inferno. Eu volto Keiko. Desculpa sempre te deixar, mas dessa vez eu volto com objetivos. Quem sabe eu ganhe coragem pra você ser um deles sem que eu me preocupe 24 horas com sua segurança. Quem sabe eu consiga ser um namorado mais aceitável. Acho que não nasci pra isso, mas quem sabe um dia. Quem sabe eu volte pra ficar, mas sem nenhuma dúvida."
Kuwabara respirava fundo antes de tocar a campainha de Keiko. Quando pensou em recuar, Kurama já havia apertado o bendito botão.
- Não piora as coisas. Se for para ela sofrer e seguir a vida, que seja o quanto antes.
- Mas o Yusuke.
- Ele quis assim meu amigo. Temos que respeitar.
A menina atendeu, surpresa. Kuwabara não quis falar muito, apenas entregou o papel e saiu, disse que estava com pressa e que ele e Kurama tinham um compromisso. Nem ao menos informou quem mandara o papel. Ela abriu, cuidadosamente. Reconheceu a letra de Yusuke. Sentou-se no meio fio da calçada e começou a ler, preocupada.
keiko, eu não sei nem como te falar isso, mas voltei pro Makai (ou mundo dos monstros, sei lá como você chama). Me perdoa por parecer tão fraco, mas acho que não posso te fazer feliz. Talvez eu não saiba ser como você quer. Você precisa de um humano, alguém com vida normal, não alguém com uma vida estranha como eu. Me perdoa por não ter coragem de me despedir, mas acho que vai ser melhor assim, aí você fica com ódio de uma vez e parte pra outra. Não que eu queira isso, mas não posso ficar te fazendo esperar pra sempre. Acho que você vai me entender, porque você sempre foi a única que me entendeu. Desculpa. Preciso buscar algumas respostas que não estão aí, preciso me achar, ah, não sou bom em descrever o que sinto. Você sabe bem disso né...desculpa. Abraços, Yusuke.
- Abraços...- as lágrimas pareciam não ter freios – mais uma vez me deixou aqui. Sozinha. Eu te entendo Yusuke...te entendo...mas não vou mais te esperar – abraçou o papel, agora todo amassado, e chorou, principalmente por achar que ele não voltaria mais. Esqueceu-se até que estava na rua, esqueceu-se do mundo. O chão parecia ter sumido. Sentiu os sentidos sumirem, um a um. - Ei, menina, você está bem? Eii, menina! – um rapaz ajoelhou-se no chão, segurando Keiko, agora desacordada.
(Continua)
