SHAMAN KING – "RÉQUIEM"
Série Original: Shaman King, by Hiroyuki Takei, 1998.
Editora: Shueisha Inc., Tokyo
Escrito por: Calerom
Início: 12/15/2004
Fim?
CAPÍTULO 1: UM ANO DEPOIS...
O Sol já havia se despedido no horizonte e as primeiras estrelas apareciam no vasto céu azul-escuro com tons avermelhados. Era verão no hemisfério norte e o calor se fazia sentir, mesmo naquelas paragens.
A silhueta pétrea de um enorme castelo medieval se impunha nos rochedos que circundavam aquele enorme rio no interior da Alemanha. Aquela enorme fortaleza era testemunho da inexorável passagem do tempo, tendo sido demolida e reedificada inúmeras vezes ao longo dos séculos. Mas nem as sucessivas guerras, as catástrofes naturais e as crises econômicas foram capazes de destruí-lo.
De certa forma, aquela construção monumental era, ao mesmo tempo, um sobrevivente e um testemunho da passagem das eras e dos tempos.
Ao seu redor, estendia-se uma paisagem tão majestosa quanto dramática. O enorme rio prosseguia em seu ritmo caudaloso, enquanto minúsculas barcaças e botes tentavam vencer a forte correnteza. Florestas de abetos e carvalhos preenchiam a sua margem direita, formando claro contraste com as superfícies escarpadas dos rochedos perigosos que cercavam a outra margem destas águas.
Mais ao fundo, era possível ver as frondosas vinhas de uvas e outras de culturas, plantadas pelos camponeses que viviam de forma pouco diferente aos de seus ancestrais. Embora fosse o final do século XX e os habitantes daquele lugar gozassem de várias comodidades da vida moderna e da tecnologia – eletricidade, TV a cabo, automóveis, eletrodomésticos e até Internet – alguns hábitos eram difíceis de serem mudados, no decorrer dos séculos.
Muitos dos moradores daquela região insistiam em viver suas existências simples à parte e manter os seus olhos o mais distante possível daquele castelo e das terras circunvizinhas, que pertencera a várias personalidades que comandaram com mão de ferro esta região. E era com um respeito excessivo, um medo quase arcaico que eles apenas sussurravam o nome mais conhecido daquela construção imponente:
"Der Unterhalt des Dämons". Ou,
"A Fortaleza do Demônio".
Contudo, isto em pouco incomodava o atual proprietário atual do castelo, o qual lhe foi passado como herança. Embora ele vivesse a maior parte do tempo numa elegante e confortável casa numa metrópole germânica, o mesmo costumava passar as suas férias naquele lugar, sempre quando podia.
Na torre principal da fortaleza, havia uma sacada de pedra que dava para a vista do enorme rio, cujas águas estavam sendo banhadas pelos últimos reflexos avermelhados do sol poente. Fazia um pouco de calor e aquele lugar era como um convite ao descanso e a reflexão.
Uma mesa tinha acabado de ser preparada e posta, como que para um jantar leve, típico de verão. A toalha, de um branco imaculado, cobria toda a sua extensão secular. Carnes de aves de caça, uma salada refrescante, queijos finos e frutas da estação permaneciam dispostas de forma harmoniosa. Finalmente, a indispensável garrafa de vinho estava devidamente colocada num balde de gelo.
Como que esperasse por alguém, uma jovem na casa de 26 para 27 anos estava sentada num dos cantos da mesa. Ela era linda e parecia contemplar o rio abaixo, com seu olhar sonhador e impenetrável. Seus cabelos loiros e longos estavam impecavelmente penteados e ela estava com um lindo e caríssimo vestido de festa branco.
A seus pés, um cão descansava placidamente. Ao que tudo indica, o seu anfitrião tinha se atrasado um pouco, mas a linda jovem não parecia se importar com isto. Seus olhos pareciam apenas buscar o infinito... aquele espaço de paixões indizíveis e de anseios mal-revelados.
E ela se mantém imóvel mesmo quando a porta dupla de madeira se abre, dando passagem para uma pessoa sentada numa cadeira de rodas. O seu anfitrião.
Com uma certa dificuldade, esta figura enigmática esboça um sorriso ao vislumbrar a beleza inefável de sua convidada e toma o seu lugar na mesa. O seu fiel cão – que estava deitado, descansando aos pés do móvel - dá um latido de satisfação, satisfeito por ver o seu mestre.
O anfitrião tratava-se de um jovem com pouco menos de trinta anos e cuja aparência seria até atraente se não fossem as olheiras profundas em seu rosto, denotando padecer de insônia profunda. Sua compleição era frágil e algo enfermiça, embora seus olhos parecessem reluzir com uma força interior fora do normal, entre a esperança e a insanidade.
Ele estava vestido com uma impecável camisa branca com abotoaduras de ouro, gravata borboleta preta, casaca de igual cor e calças cinza-escuro, como que trajado para uma festa a rigor. A sua pele pálida e pouco acostumada ao calor do Sol contrastava com a cor de sua roupa.
O jovem trazia em suas mãos uma pequenina caixa de joalheria, magnificamente trabalhada e gravada a ouro. Afixada a ela, estava um pequeno cartão, em cujo interior estava escrito, com uma letra de caligrafia impecável: "Pour Elise".
O nome do jovem era Faustus, Faustus VIII. E a sua convidada se chamava Elise. Sua amada imortal, sua melhor amiga, a razão de existir de sua vida, sua esposa e atualmente, a sua seguidora mais fiel.
Perdoe-me pelo meu atraso, minha querida Elise, mas, espero que a espera tenha valido a pena. Afinal de contas, hoje é um dia muito especial, não acha?
A jovem parece não responder, embora um observador mais atento notasse um ligeiro esboço de sorriso em sua face, até então fria e inexpressiva. O seu companheiro coloca delicadamente a caixa perto dela e a abre com cuidado.
Mostrando que havia um impressionante anel de brilhantes dentro de si. Aquilo valia uma fortuna, embora dinheiro não fosse problema para Faustus VIII, até porque ele podia se dar ao luxo de viver de rendas, pelo resto de sua vida.
Sim, são belos, não acha, querida? Como estrelas reluzindo numa noite escura... Contudo, estas jóias jamais se podem comparar a sua beleza, meu amor...
E em seguida, aproximando-se da jovem, ele troca um rápido e terno beijo, sussurrando...
"Feliz aniversário, meu amor! Faz exatamente um ano que a retirei do mundo dos mortos e a trouxe à vida! para sempre... ao meu lado!"
(Fim do prólogo).
Notas do Capítulo:
Esta fanfic surgiu originariamente de um desafio proposto no fórum e a idéia era a de cada participante desenvolver um tema que nunca havia escrito antes. No sorteio, acabaram escolhendo a obra "Shaman King" (publicada no Brasil pela editora JBC) para mim.
Após consultar o manga e as referências na internet, decidi desenvolver uma fic centrada no personagem Faustus VIII, que possui um "background" muito interessante, além da referência óbvia ao Fausto histórico e o protagonista da obra de Goethe. Deixo avisado aos fãs de Shaman King que esta história foge um pouco da cronologia tanto do anime como do mangàembora procurei respeitar as características físicas e psicológicas do protagonista.
Dedico esta fanfic à Gabriela, que me fez interessar pela temática de Shaman King; e a Márcia Fantini, que me ajudou a revisar e corrigir os capítulos iniciais, bem como dar comentários e sugestões que me foram muito úteis. Para estas duas talentosas escritoras, os meus agradecimentos.
