Capítulo 2: Droga de hospital.
--Halie, se você não se apressar para ir para escola você vai se atrasar de novo. E a Sra.Atwood vai te deixar de castigo mais uma vez. –A professora dela sempre a deixava de castigo quando ela chegava atrasada, o que eu acho muito severo, considerando a idade dela. Mas quem sou eu para achar alguma coisa do método de ensino?
--Mãe, eu não quero ir pro colégio hoje. Por favor.—Ela ta com mania de ir dormir tarde todo dia, aí quando chega na hora de ir para aula fica com manha.
--Nem pensar, Halie. Engole esse cereal, e vem pro banheiro para eu escovar os seus dentes. Vamos, minha filha, desse jeito eu vou chegar atrasada.
Escovei os dentes dela, peguei a minha bolsa e a dela junto com a lancheira, coloquei ela no colo, pelo fato de ela ser magrinha ainda podia me dar esse luxo, e corri pro carro. Ela foi o caminho todo para escola fazendo manha, dizendo que não ia sair do carro, que não queria ir para aula, quando ela começa com isso, eu prefiro ficar calada que é para não deixá-la chateada comigo. Depois de um sacrifício para tirá-la do carro, ela finalmente entrou na sala, e eu mais uma vez cheguei atrasada.
--Eu sei, eu sei. To atrasada mais uma vez. Sério, desculpa. A Halie me atrasou.
--Claro, culpe a Halie!—Paul tinha mania de dizer que eu demorava na frente do espelho, e que era por isso que eu me atrasava para qualquer lugar.--Cheguei atrasada, o Paul tinha um reunião para ir junto com o residente-chefe, com menos dois médicos, um monte de estudantes de medicina que pareciam completamente perdidos, o dia foi um caos.
--Oi. Sou a Dra. Lockhart, e você são..Marina e Robert, certo?—Peguei duas crianças que estavam com febre, parecia só uma gripe, coitadinhos, estavam sozinhos, o mais velho devia ter uns 11 anos.—Posso saber por que vocês estão sozinhos?
--A mamãe foi embora ainda agora. Ela não queria encontrar o papai, eles tão se separando, sabe?—É incrível como as crianças adoram contar detalhes da vida dos pais, sempre quando pego casos infantis antes de terminar o dia eu já sei toda a história da família.
--Parece que vocês só estão com uma gripezinha, vou pedir mais uns exames, a enfermeira vai vim aqui para falar com vocês daqui a pouco, ta? Hãn...Ok, o pai de vocês ta aqui?
--Não, ele trabalha aqui.—O garoto que parecia muito quieto até então, finalmente falou.
--Verdade? Qual o nome dele, talvez eu o conheça.
--Paul...Paul Robison.—Como? Não conheço os filhos do Paul, mas sei que são todos adultos. Será que tem outro Paul Robison no hospital?
--Vocês sabem em que ele trabalha? Cirurgião, pediatra...
--Não tenho certeza, mas sei que ele é o chefe aqui.—A garota parecia muito boazinha, mas vi que o menino não estava muito confortável. E como podia? Só podia ser o Paul...mas como?
--Dra. Lockhart, podemos ir embora agora? Você disse que só era uma gripe.
--Não, vocês tem que fazer alguns exames e tomar o remédio para a febre abaixar.
--Que droga. Eu quero ir embora agora dessa droga de hospital.—Nenhuma criança gosta de hospital, mas até o estudante de medicina que estava comigo na sala viu que ele parecia muito irritado de estar no trabalho do pai.
--Qual o problema? Por que você ta tão irritado, Robert?
--Quer saber? É tudo culpa desse maldito hospital...
--Culpa de quê?
--Minha mãe disse que o papai ta saindo de casa por que ele trabalha muito e não tem tempo para gente. E ela também disse que ele gosta mais de uma médica dessa droga de hospital do que da gente.—Nesse momento uma enfermeira invadiu a sala e ficou olhando pro garoto irritado, para menina que começou a chorar e para mim e para o estudante que estávamos paralisados.
--Lockhart, você pode ficar de olhos nos filhos do Dr.Robison enquanto ele não volta da reunião? Estamos tentando bipar ele.
--Desculpa, mas eles são filhos de quem mesmo?
--Do Dr.Robison.—Ela viu o quanto eu fiquei branca e nervosa...não podia ser, como? Ele nunca me falou nada.—Abby, seu namorado, lembra?—Pronto. O circo estava armado, corri pro banheiro sentindo nojo de mim mesma. Sou uma destruidora de lares. A carinha daquelas crianças. O Paul me disse que estava se divorciando, mas ele falou que seu filho mais novo tinha 25 anos e morava em Nova York. Ele escondeu isso de mim o tempo todo.
Eu sou muito idiota, via quando ligavam para ele de noite e ele era todo gentil, ele dizia que era sua mãe cobrando as visitas. Meu Deus, e eu achando que o conhecia...aparentemente todos nesse hospital sabiam disso. Menos a idiota da Abby.
Que droga...achei que tinha colocado o celular no silencioso.
--Alô?
--Posso falar com a responsável por Halie Wyzcenki?
--É ela.
--Sra.Wyzcenki, queremos lhe avisar que houve um pequeno acidente com sua filha durante o intervalo. Não foi nada sério, ela foi levado ao hospital mais próximo.—Senti minhas pernas tremerem, minha cabeça doer, meu coração acelerar, o que pode ter acontecido? É tudo minha culpa, ela nem queria ir para aula hoje, eu obriguei-a.
--O QUE ACONTECEU? ONDE ELA ESTÁ? ELA ESTÁ BEM?
--Sra. Tente manter a calma, ela foi levada ao hospital County General. Fizemos os primeiros socorros aqui na escola, mas ela parecia bem.
Nesse momento nem ouvia o que ela falava, sai correndo pro estacionamento. Meu Deus, por que não a trouxeram para cá? Será que ela está bem? Quem ta bem não vai pro hospital. Ela deve estar assustada. Deve ta me chamando, sentindo minha falta, achando que eu a abandonei-a. Meu amor agüenta, a mamãe ta chegando.
Entrei que nem uma louca no hospital. De repente veio um flashback na minha cabeça, não parecia ter mudado nada lá. O Jerry e a recepção continuavam no mesmo lugar, um bando de gente doente, as cosas um pouco fora de controle, e uma desorganização total. Minha sorte que o hospital continuava exatamente do mesmo jeito, então encontrei logo a ala pediátrica, não queria parar e encontrar alguém conhecido para me encher de perguntas.
Quando cheguei na frente da sala, vi a minha pequena sentada numa maca com um gesso todo rosa no bracinho esquerdo, os olhos estava vermelhos, parecia que ela tinha chorado.
--Meu amor, o que aconteceu?
--Mamãe, até que enfim você chegou. Não agüentava mais esperar. Eu caí do parquinho lá no colégio e doeu muito.
--Linda, calma a mamãe ta aqui, já ta tudo bem.—Ela se jogou em cima de mim querendo colo, ela começou a chorar e eu também. Só de pensar que ela já estava bem, que estava nos meus braços e nada mais podia fazer mal à ela, isso me deu um grande alívio, finalmente consegui respirar de novo.
--Sra.Wyzcenski, sou a Dra.Lweis, eu cuidei da Halie, ela me disse que a senhora é médica, também. Ela teve uma fratura leve e poderá retirar o gesso em 15 dias.—Cada vez que ela falava eu apoiava mais minha cabeça no ombro da Halie, na esperança que ela não visse meu rosto, mas sei que era só perca de tempo. Levantei a cabeça e a olhei nos olhos.
--Meu Deus...Abby?—Halie já havia parado de chorar, ela desceu do meu colo e foi ver alguma coisa na TV.
--Susan, mundo pequeno, não?—Ela me abraçou rindo. O que eu menos queria era reencontrar meu passado.
--Abby! Depois que você sumiu, eu pensei...pensei que você tivesse se mudado para Minessota ou sei lá.—Ela ainda parecia surpresa com um sorriso de ponta a ponta no rosto.
--Aqui estou eu.
--O que aconteceu? Sua filha?—Ela apontou para Halie que via algum desenho com um galo ou pato, ou sei lá.
--Pois é. Mas e o Cosmo, meu afilhadinho, deve estar enorme, não? Desculpa por ter sido uma madrinha tão ausente nos últimos anos.
--Ele supera. Ele está enorme, sim. Mas e você? Casada? To te imaginando em uma casa enorme fazendo comida pro maridinho e para os três filhos, usando avental, uma verdadeira dona de casa. To certa?
--Muito errada. Não estou casada, moro em um apartamento de 2 quartos e tenho só aquela princesinha, ali.
--Me acompanha, no almoço. A Halie parece muito entretida com o filme, acredite, quando começam a ver o tal do Chicken Little eles não desgrudam da TV. —Ela realmente parecia super entretida com o filme, não tinha problema deixá-la ali durante um almoço, apesar do que eu querer mais é ficar bem perto dela.—Ok.
--Mas, então Abby, me conta tudo o que aconteceu com você nesses anos. Você sumiu do mapa. Quase não retornava minhas ligações.
--Não aconteceu nada demais. Eu fiquei grávida, o pai dela sumiu, graças à Deus, to trabalhando no Mercy e acabei de descobrir que o homem que eu to namorando há um tempão mentiu para mim durante quase cinco anos, e provavelmente nunca mais vou olhar na cara dele de novo. O pior é que ele é meu chefe.—Depois disso, Susan me contou que ela teve outro bebê, uma menina que se chama Mona Lisa, tem 2 anos e ela e o Chuck tão melhores do que nunca. Me disse também que Pratt e Jing-Mei se casaram, e ela esperava o primeiro filho. Que a voltara da Inglaterra, que a Neela e o Michael finalmente estava se entendendo, que o Luka não tinha morrido na África, mas continuava o mesmo mulherengo de mesmo, a Kerry se mudou com o filho para uma cidade do interior. E pro final triunfante, ela me disse que o Carter tinha se casado com a Kem havia 1 ano e que eles tiveram o primeiro filho, Adam, há três meses. Os outros continuavam os mesmos.
--Susan, eu tenho que ir.
--Não antes de você falar com todo mundo.
--Não, você não vai me obrigar. Susan, vão me prender aqui. De jeito nenhum, eu não vou.
Depois de 15 minutos, lá estava eu, no em frente à recepção, naquele lugar, que durante tantos anos eu vivi minhas maiores vitórias não só na medicina, e as maiores derrotas, também. Ninguém ainda tinha reparado em mim, apesar de toda a agitação já ter acalmado. Para todos eu era só a mãe de uma paciente. Coma filha no colo, ao lado da Dra.Lweis.
--Chunny, Luka!—Ela chamou os dois que liberavam último paciente não crítico, os outros já estavam todos encaminhados, a maioria para cirurgia.—Carter, Sam, Jerry. Olhem quem está nos visitando, Abby a estranha.—Meu Deus se tivesse um buraco, minha cabeça estaria dentro dele. A primeira pessoa que veio ao meu encontro foi o Luka.
--Abby, o que aconteceu? Quanto tempo...
Depois disso todos me cumprimentaram, fizeram a mesma pergunta que o Luka, menos o Carter que não aparecera por lá. Em seguida me arrastaram para o Lounge, que parecia a mesma de cinco anos atrás. Até então, ninguém reparara na Halie, ela também estava bem quietinha, não falava nada, acho que ela estranhou todas aquelas pessoas me conhecerem.
--Mas então Abby, quem é essa garotinha linda do seu lado?—Pobre ilusão a minha de que ninguém perguntaria. Acho que todos queriam perguntar há um tempo, mas ninguém teve coragem até a Sam tomar a iniciativa.
--Sam, essa pessoinha fofa aqui, é meu tesouro mais precioso, né filha?—Beijei-a e ela corou, apesar de ser muito comunicativa ela não gostava que eu a venerasse.
--Ela é linda.—Algumas pessoas sussurraram. Foi quando eu o vi, parado na porta olhando a cena. Ele era exatamente o mesmo de alguns anos atrás, um pouco mais magro, tanto tempo que não via aquele rosto de forma masculina. Na hora que todos viram que ele estava na sala, se calaram quase que instantaneamente. Não tinha uma pessoa naquela sala, além da Halie, que não sabia do nosso relacionamento, ou do nosso rompimento. Segundo Susan, todos achavam que ele se juntou à Kem para mim esquecer, mas eu sei que nada passou de uma aventura comigo, uma aventura que gerou a pessoa mais linda, mais especial e mais encantadora do mundo. Tenho certeza que tudo foi melhor assim, apesar de eu querer negar, não sinto nenhuma mágoa dele, talvez um pouco dela. Mas não sei nem o porque.
No mesmo momento, Halie se levantou do meu colo e me pareceu um pouco agitada.
--Nossa, Abby, você por aqui?—Ele fez tudo perfeito, agiu como se nada tivesse acontecido. Sei a filha observadora que tenho, e sei que ela me perguntaria se ele me tratasse mal, ou não falasse comigo. Ele me encarou por um tempo, até eu voltar a mim mesma e sorrir de volta.
--Oi. Eu sou a Halie.—O que é isso? Ela não tinha falado com ninguém até então. Por que falar com ele? Por que estender a mão para ele? Por quê?
--Oi, Halie. Eu sou o John.—Ele apertou a mão dela em seguida. Fiquei olhando a cena, parecia que só tinha nós três na sala, todos continuavam calados.
--Gente foi muito bom encontrar a Abby, mas temos que voltar o trabalho, sei que tem muitas fichas esperando por todos. E também sei que a dona Abby, vai prometer que nos visitará mais vezes, certo Abby?
--Certo, Susie.
--Mãe, você trabalhava aqui?
--Trabalhava.
--Aqui é muito mais legal que no Mercy. Lá é chato. Você pode voltar a trabalhar aqui? Pode? Pode?—Não é de hoje que ouço reclamações do Mercy vindas dela, ela odiava ter que ir pro trabalho comigo.
--Halie, deixa de bobagem. A mamãe já te explicou por que trabalha no Mercy.
--Você disse que alguém do seu antigo trabalho fez uma coisa muito chata. Mas eu sei que essa pessoa já se arrependeu, e você disse que devemos perdoar as pessoas que são más com a gente.—Ela sempre me pedia para encontrar outro lugar para trabalhar, mas isso já é de mais. Todos que ainda estavam na sala sabiam do que ela estava falando. Carter que preparava um café, quando ela terminou a frase se virou para mim e começou a me encarar.
--Temos que ir. Tchau para todos, amei reencontrá-los.—Peguei ela no colo antes que falasse outra coisa, corri para casa. Percebi que ela ficou meio chateada com nossa saída repentina, no carro não disse uma palavra.
