Capítulo 7: Today is going be the day
Acordei essa manhã pensando em como minha vida teria sido diferente se eu não tivesse minha filha ao meu lado, seria mais solitária, mais triste, mais sem graça, mais desgastante...ou seja não seria minha vida. Apesar de todo trabalho que tive quando ela era só um bebê, quantas noites em claro e em seguida plantões enquanto imaginava minha filhinha na mão de babás ou da Maggie, sei que ela a ama e que daria muito carinho para Halie se convivessem mais, só que eu penso na minha infância, e digamos que não tenha sido tão boa assim, e eu quero proteger a Halie de todas as frustrações pelas quais eu passei. Lembro quando a Halie tinha 1 ano e meio, a Maggie tinha passado os últimos 3 meses comigo e daí um dia do nada eu chego em casa depois de um plantão duplo e encontro a Halie dormindo no bercinho sozinha em casa, e a Meg tinha simplesmente sumido, eu pensei se a Halie fosse um pouco mais velha ela perguntaria por que a Maggie teria ido embora, se ela não amava a gente, por que ela não queria ficar com a gente, as mesmas perguntas que eu me fazia quando era pequena, já basta ela crescer sem o amor a atenção do pai, que ela não entende o porque até hoje, eu sei que foi eu que tirei isso dela, sei que fui muito egoísta em não deixar ele saber da verdade, não poderia dar uma avó para ela sabendo que ela corria o risco de perder mais uma pessoa...simplesmente não podia.
--Mãe!—Ouvi um grito assustado vindo da sala.—Mãe, vem aqui! Tem uma mulher aqui! Rápido!—Meu Deus, quem será?
Saí do quarto o mais rápido que pude e me dirigi à sala. Quase tinha me esquecido da babá que eu contratei, tinha entregado a chave para ela, na entrevista ela disse que tinha 19 anos e queria ser psicóloga para crianças. A Halie ficou atrás de mim, morrendo de medo. A garota tentava acalmá-la, mas ela só ficava mais assustada.
--Halie, calma. Essa moça é a Alex ela vai ficar com você quando a mamãe não estiver em casa. Ela vai fazer seu jantar e te buscar na escola quando eu não puder.—Ela saiu de trás de e encarou-a por um segundo e segurou minha mão.
--Por quê? Você não vai mais me buscar na escola?
--Porque eu estou mais ocupada no trabalho e vai ter dias que eu não vou poder fazer certas coisas. Mas, não se preocupe, eu tenho certeza que você e a Alex vão se divertir.—Halie deu um sorriso para ela.
--É Halie, nós vamos brincar muito. Vai ser divertido, eu posso te levar para brincar no parque, passear no shopping, tomar sorvete, o que você acha?
--É, vai ser legal. Você pode me levar no County também. Para eu visitar meus amigos.—Não acreditei no que eu ouvi. "Meus amigos"? Essa menina tem cada uma...
--Isso nós temos que pensar melhor.—Ele me olhou durante um segundo e depois fingiu não ouvir o que eu tinha falado.
--Ah, mãe, falando nisso, naquele dia, na casa da tia Susan, o tio John me convidou para ir na casa dele e conhecer o filho dele. Ele disse que vai ligar para você para marcar, você vai deixar, né? A tia Kem disse que eu posso ir pra piscina lá.
--Halie, nem o Carter, nem aquela...nem a Kem são seus tios, eu não quero você brincando nem fazendo amizade com eles, com qualquer outra pessoa tudo bem, mas eles NÃO. Entendido?—Sei que não devia ter dito isso de jeito nenhum! Que droga, fui tão grossa com ela, e ela ficou assustada com minha reação. Até a Alex ficou. Coitadinha da minha filha, ela não merece ter uma mãe tão estressada.—Meu amor, me desculpa.—Ela continuou me olhando com uma carinha super assustada. Estava abraçada com ela, e ela me empurrou.
--Mamãe, por que você ta assim? Eu falei alguma coisa errada, e qual o problema com o tio...com o John e a Kem?
--Me desculpa, fofa. É...É por que a mamãe não conhece eles muito bem, e não quer que você fique amiga deles antes de saber se eles são boas pessoas.
--Então você pode ir comigo na casa deles, aí você fica sabendo se eles são legais ou não.—Ah, claro. Seria o encontro perfeito, eu e a Halie na casa da minha "querida" Kem. Argh...
--Vamos ver...Meu amor a mamãe tem que ir se arrumar para o trabalho, você vai ficar com a Alex e vai obedecer ela, hoje não tem aula pra você porque tem reunião dos professores e dos pais, então mais tarde ela vai te levar para passear no parque, ok? E nada de correr na rua e segure mão dela.—Mudei de assunto e ela ficou hiper feliz com a idéia do parque que nem percebeu. Certo?
--Ok, mamãe. Eu vou obedecer.
--Tá bom, meu amor.—Tomei banho, me arrumei como disse que faria, programei meu celular para alarmar na hora da reunião, me despedi da Halie e da Alex e segui pro trabalho, onde por incrível que pareça estava super calmo, então resolvi, muito contra vontade falar com Robison.
--Dr. Robison, posso falar com o senhor?
--Claro, Dra, Lockhart. Algum problema?—Não, imagina, só esses turnos idiotas que deixam minha vida uma bagunça.
--Hoje eu tenho uma reunião no colégio da Halie às 3 horas, eu imaginei que poderia ser liberada para ir, já que hoje não está nada movimentado...
--Claro! Não precisa nem perguntar, se tratando da Halie, tudo bem. Mas, antes de você sair você fala comigo, ok?—Confirmei com a cabeça e fui trabalhar, quase nenhum trauma.
Quando olhei no relógio eram 2h45m, e a droga do celular não disparou, provavelmente chegaria atrasada, o colégio era um pouco longe e essa hora o trânsito estava horrível. Fui falar com Robison como ele pediu antes de sair.
--Dr. Robison, eu já estava saindo. Vim falar com o senhor, como pediu.
--Ah, claro. Creio que você não poderá se ausentar, percebi que você tem muitas fichas atrasadas e estão me cobrando, tire o resto do dia para atualizá-las.
--Mas...Eu não posso faltar hoje.
--Que pena. Você vai TER que faltar. O que posso dizer? Mãe solteira não combina com medicina.—SON OF A BITCH. Devia ter percebido...Estava muito fácil. Essa canalha não vai sossegar enquanto não me ver surtando.
--Olha, eu entendo o que aconteceu com a gente foi difícil para você. Mas você não pode dizer que eu vou TER que faltar a reunião da minha filha.
--Eu não posso? Eu acabei de dizer. A porta da rua é serventia da casa, Dra. Lockhart.
--Obrigada por informar. Essa serventia vai ser muito útil para mim. Eu me demito.—Dei as costas para ele, joguei meu jaleco e meu crachá lá e segui para o colégio de Halie. O tempo todo pensando no que eu tinha acabado de fazer. Sei que não fiz a coisa certa, que devia pensar antes das minha ações, mas foi impulso, não estava arrependida, ele ia transformar minha vida em um inferno. Além disso, tenho meus contatos em outros hospitais e caso eu não conseguisse, em última opção tinha o County que é igual coração de mãe, sempre tem lugar para mais um. A reunião foi como sempre, entrega de trabalhos, provinhas, desenhos. No final a psicóloga pediu para marcar uma hora comigo na semana que vem para falar sobre a Halie, no começo me preocupei, mas depois a vi falando com outras mães. Deve ser de praxe.
