Capítulo 10: Tomando decisões.
Hoje ao acordar me dei conta do pequeno tempo que havia passado desde que eu falei para mim mesma que iria mudar minha vida e a de Halie. Hoje finalmente começaria no County, ou melhor, recomeçaria. Sei que no passado muitas coisas ficaram sem um final certo, mas acho que foi melhor assim. Claro que eu poderia estar hoje sem certos pesos na consciência, se é que pode se chamar assim, mas também acho que apesar de na época eu achava que nada daria certo, até que de certa forma as coisas foram se ajeitando.
Olhei no relógio e vi que já estava na hora, ainda mais esse últimos dias que a pequena fica com preguiça de tomar banho, reclama que a água ta fria, que o sabonete causa coceira nela e que o xampu arde no olho. Posso com uma dessas? Criança é tudo igual mesmo...
Acho melhor ir logo...Me levantei e dirigi-me ao quarto dela onde a encontrei já acordada assistindo Meninas Super-Poderosas.
--Bom Dia, meu amor.—Dei um beijinho na sua cabeça e ela nem respondeu: continuou vendo o desenho sem piscar.—Tá na hora, ne?
--Mãe, eu não vou para aula hoje, não.—Ela deixou o desenho de lado e subiu nos meus braços.
--Ah, é? E posso saber por que, moça?
--Ora, porque hoje eu preciso ir com você no seu primeiro dia de trabalho, né?
--Nada disso. Eu vou trabalhar e você vai para escola.—Como viu que a história não deu certo e que não me convenceria, ela desceu dos meus braços, desligou a TV e foi tirando a roupa e seguindo pro banheiro, coisa que me deixou mais que pasma. Minha filha, será mesmo?
Dei banho nela, tomei o meu. Nos arrumamos e seguimos para escola, e depois fiz o caminho que me trouxe grandes lembranças, o caminho que eu não fazia há anos atrás. Antes de deixar a Halie na escola, ela falava sobre como eu deveria agir, que não devia ficar nervosa e que tudo ia ficar bem. Parecia até eu a levando para o primeiro dia de aula. Mas sabe que ela nem encanou? Quando eu vi ela já estava lá toda entrosada com a professora e os amiguinhos. Nossa, quando cheguei em casa chorei um rio, minha pequena já se tornava independente.
Parei meu carro no fundo do hospital já que possivelmente ainda não tinha uma vaga disponível para mim. Vi que haviam traumas chegando e corri para ajudar. Nada como abrir o dia com chave de ouro. Nada melhor em um começo de dia para esfriar a cabeça como uma briga entre gangues rivais.
Terminei de atende-los, vi uns outros casos, liberei, ainda faltavam alguns, mas parecia tudo dentro do controle. Então decidi da uma puladinha no Lounge, só para ver como está o clima e tomar um cafezinho, afinal hoje eu esperava A recepção, mas só teve uns Bom-Dia e Oi. Seja bem-vinda.
--Bom Dia.—Falei com todos que se encontravam na sala. Duas enfermeiras que eu não conheciam, se serviam de café e logo se retiraram da sala. Depois de um minuto percebi que não estava sozinha, vi Carter sentado no sofá, olhando para as mãos, ele pareceu que não me notou também!
--Carter? Aconteceu alguma coisa?—Perguntei me sentando ao seu lado. Não me sentia estranha ao seu lado, e sim, muito confortável. Ele continuou calado.—Você está com problemas no trabalho? Se for alguma coisa que eu possa fazer...
--Kem foi embora.—Ele me interrompeu, fazendo eu não entender o que ele acabara de dizer.
--O quê?
--Isso. Quando acordei essa manhã, suas coisas tinham sumido, e havia essa carta endereçada a mim e ao Adam. Acho que ela foi de madrugada. Ela simplesmente foi.—Ele começou a chorar, chorar que nem um bebê. Foi terrível, sei que não podia fazer nada há não ser ficar em silêncio e ao seu lado. Sei que era isso que ele queria, precisava de um tempo pra pensar, mas também da certeza de que tinha alguém, ali do seu lado.
O nosso silêncio foi quebrado pela entrada de Susan, que se juntou a nós, falou umas palavras de consolo e o mandou para casa. Antes de ele sair, notei que a tal carta ainda não tinha sido aberta.
--Cada coisa, né Abby?
--Pois é. Sei por o que ele está passando. Quando a Halie nasceu, eu chorava noites e noites pensando como seria uma mãe solteira, como cuidaria de um bebê se eu mal cuidava de mim mesma.
--Abby, não quero ser indelicada, mas o que aconteceu com o pai dela?
--Terminamos antes de ele saber que estava grávida.
--E você o procurou quando soube?
--Claro que não. Susan, conversei com a psicóloga da Halie, e estou pensando seriamente em procura-lo e contar toda a verdade. Eu quero o bem da minha filha, sabe? E sei que ele vai gostar de saber...
--Abby, se fosse você esperava um pouco. O Carter ta passando por uma fase difícil, ele não pode ter mais uma surpresa como essa!
--Susan? O que você está falando?—Como? Ela não sabia...Ela não podia saber...
--O quê, Abby? Você acha que eu sou idiota, é? Primeiro a Halie tem a idade perfeita, segundo vi como você agiu naquele dia só porque deixei-os sozinhos, terceiro, vejo como ela se parece com ele e como eles as dão bem. Perguntei e você respondeu, só fiz confirmar minhas dúvidas, e se você ainda quiser um quarto motivo eu posso te dá!—Ouvi tudo aquilo com tamanha surpresa. Era inacreditável. Como podia ser?
--Oh, Susie. Queria falar muito com ele antes. Mas fico super feliz por alguém já saber, também. Antes de você só a Maggie e o Eric sabiam!—Abracei-a, mas ela me afastou e me olhou séria.
--Abby, você errou em não ter contado na época. Quanto mais você demorar, maior vai ser o erro. Você tem que se redimir o quanto antes. Mas não sei se essa seria a hora certa.
--Se não é agora, quando vai ser, Susie?—Ela me olhou com o olhar de quem não faz nem idéia.—Eu tenho medo de como isso afetará a Halie daqui alguns anos. Não sei o que fazer, tenho medo de destruir a vida da minha filha.—Comecei a chorar, ela me abraçou e ficamos ali na sala sentadas, até sermos interrompidas pela Chunny que entrou e ficou nos olhando.
Terminei o plantão, e fui para casa. Eu e Halie pedimos uma pizza, eu a ajudei com os deveres, ela ficou fazendo mil e umas perguntas sobre o primeiro dia de trabalho. Acabou que ela dormiu na sala vendo TV, fiquei olhando ela por quase meia hora, vendo como ela dormia, o jeitinho que sua boca mexia com a respiração, o cabelo negro que teimava em cair no seu rosto branco e delicado como a neve. Muito linda minha filha. Muito linda mesmo.
Pensei mais uma vez em como ajeitaria nossas vidas, quero que o mundo seja mais que perfeito para ela...A deitei na minha cama e dormimos juntas.
