Capítulo 13: O lado humano parte III.

Não sei quem estava mais acabado, eu ou minhas costas. A noite no sofá me deu uma indisposição terrível, queria ficar em casa o resto do dia, mas acho que além das dores eu queria mesmo era curtir a Halie e o Adam, vê-los juntinhos me mostra que agora eu estou quase completo...se ao menos Abby estivesse aqui.

Como Adam acordou cedo e a Halie também, eles ficaram brincando. Halie o colocara sentado de costas para ela na cama e fazia cócegas nas suas costas e barriga, ele sorria como nunca o tinha visto sorrir, nunca, e ela super carinhosa o enchia de beijos. Tão lindo os dois...Depois de assistir os dois, sem que ela me visse, me dei conta que a equipe da cirurgia já deveria ter feito contato.

--CC County General.

--Bom dia, o Dr. Dubenko está de plantão, será que posso falar com ele?

--Vou passar a ligação, aguarde um minuto.

--Dubenko? Aqui é o Carter, você não me ligou...

--Eu liguei sim, mas o número dava como desativado, acho que anotei errado.—Que cabeça a minha! Dei o número de casa e não do celular, a linha daqui já foi desativada há dias!

--Dubenko, como ela está? Quanto tempo durou a cirurgia? Ela já ta na recuperação?

--Carter, eu acho melhor você vim aqui.

--Porque? Aconteceu alguma coisa?

--Olha, eu falei com a Susan pelo telefone e ela disse que acha melhor você vim aqui, também. Ela conseguiu no antigo trabalho da Abby o telefone da mãe dela que quando soube veio correndo para cá. Ela deve estar chegando na rodoviária, Susan vai pegá-la e as duas estão vindo para cá! Porque você não vem também? Aqui a gente conversa.

--Cara, me diz como ela ta pelo menos.

--Carter, eu preciso ir. Tchau...—Ele desligou o telefone e eu não sabia exatamente o que fazer com o celular que parecia estar grudado na minha orelha.

Pedi a Mônica para ficar de olho nas crianças, já que Halie não quis ir para aula. Não vou obrigá-la depois de tudo o que aconteceu, se ela quiser faltar o resto do mês, por mim ta tudo bem.

Não lembro nem como dirigi até o hospital. Invadi a recepção e me dirigi à cirurgia. Quando saí do elevador, vi Susan e Dubenko conversando dentro de uma sala, provavelmente algo sério, parecia que nenhum dos dois haviam durmido. Olhei ao meu redor e vi Maggie sentada em um banco chorando, chorando alto.

--Maggie?—Me aproximei dela e sentei ao seu lado. Ela levantando a cabeça e olhando para mim.

--John! Ela está morta. Porque? Minha filhinha, ela nunca fez nada de mal para ninguém, sempre ajudou todos. Isso não é justo, eu quero minha filha de volta.—Ela me abraçou, eu tremi. Abby está morta? Nunca mais a verei, não pode. Simplesmente não pode. Maggie começou a gritar e se ajoelhar no chão, coisa que chamou a atenção de Dubenko e Susan. Lágrimas invadiram meus olhos, lágrimas que não podia evitar, há tanto tempo não chorava. Isso não é possível, o que vou dizer à Halie quando chegar em casa?—John, porque aqueles homens atiraram nela? Ela só queria ajudar, e a Halie? Ela precisa da mãe junto dela.

--Sra. Wyzcenski, é preciso manter a calma. Se levante.—Dubenko a ajudou a levantar e sentar novamente no banco, ela estava aos prantos. Quem ele pensa que é pra mandá-la ter calma?

--Carter, você ta bem?

--Susan, como eu estaria? Quero vê-la, por favor.

--Claro. Por aqui.—Ela me guiou no corredor, era incrível como ela estava calma para quem estava surtando no dia anterior. Dubenko ficou com Maggie tentando acalmá-la. Nunca mais verei Abby de novo, nunca mais a verei sorrir, e nunca mais verei Halie sorrir também, sei disso, ela tinha um laço inquebrável com a mãe, qualquer um podia ver isso.

Parei no corredor e segurei a mão de Susan.

--Susie, o que vai ser de mim e da Halie, agora?—A abracei o mais forte que pude, coisa que ela na esperava.

--Carter, sei que é difícil. Vocês vão enfrentar uma barra, sim. Mas você precisa se manter forte como nunca. Halie precisará de você agora mais do que nunca.

--Eu sei, mas Susan, a tempos sonho com meu reencontro com ela, e agora isso acontece? Parece que só atraio desgraça para as pessoas. Primeiro foi meu irmão que teve leucemia, depois o Adam que ficou sem mãe, e agora a Abby morta? Isso simplesmente não entra na minha cabeça, há umas duas semanas ela estava rindo e trabalhando, e agora sem mais nem menos eu vou ter que dizer a uma criança de quatro anos que sua mãe está morta e que ela nunca mais a verá novamente. Eu prometo à Halie que a Abbi ia ficar bem.

Ao ouvir minhas palavras, Susan se afastou de mim, olhou nos meus olhos.

--Carter, a Abby não está morta.

--Como assim?

--Ela está em coma. Sim, houveram complicações na cirurgia, ela teve uma parada bem curta, mas teve, ficou privada de oxigêneo...não preciso explicar isso para você, né? O fato é que ela não está morta, ela está lutando para não deixar esse mundo.

--Mas, a Maggie...

--Carter, a Maggie tem problemas psiquiátricos lembra? Eu já disse à ela isso, mas ela insiste em dizer que ela não vai acordar e que é a mesma coisa que morte cerebral. Carter, quantos pacientes seus já acordaram de um coma? Além disso o neuro falou que não pode dizer se ficarão seqüelas, mas que ela é jovem e saudável, por isso tem boas chances.

Você entende o que eu to falando. Ela não está bem, mas não está morta. Enquanto há vida, há esperança.

--Quero vê-la.

--Vamos.—Continuamos andando até chegar na sala em que ela se encontrava. Estava cheia de tubos e só usava a camisola do hospital, parte do seu corpo estava enfaixada, meus olhos lagrimaram, meu coração acelerou. Não, não a Abby. Ela não podia estar ali tão indefesa, a mulher mais segura de si, mais forte que eu conheço, não podia estar ali indefesa, desacordada e lutando pela vida.

Susan viu minhas lágrimas escorrendo e colocou a mão no meu ombro.

--Sei que é difícil...—Me separei de Susan e cheguei mais perto da cama em que ela se encontrava.—Carter, talvez seja melhor você não ficar aqui muito tempo.

--Eu preciso falar para ela...

--John, ela não está ouvindo.

--Ninguém sabe. Talvez ela possa ouvir.—Me inclinei para perto de seu ouvido o máximo que os tubos e aparelhos me permitiam.—Abby, eu estou aqui com você, o John. Olha, a Halie ta comigo e ela ta sendo super forte, ela ta bem. Ela ta com muitas saudades de você, mas sabe que você vai sair dessa. Ok? Promete para mim, promete para Halie, para sua mãe, que você vai sair dessa e que a gente vai se acertar logo logo, ta bom?—Falei aquelas palavras como uma criança falando com um brinquedo e esperando sua resposta. As lágrimas invadiram mais ainda meu rosto, cada palavra era uma gota à mais ao meu mar sem fim.

As coisas não podem terminar assim, não podem! Carter e Abby, Carby (como Susie nos chamava) não pode terminar assim, um final sem lógica, triste e sem esperança.

--Carter, vamos.—Deixei Susan me guiar até a saída.

Maggie e Dubenko continuavam sentados no mesmo banco, ela parecia mais calma.

--Carter, você a viu?

--Vi.

--Maggie, você entendeu que ela não está morta, certo?

--Sim, Susan. Mas é que eu sempre via em filmes e documentários, é praticamente impossível alguém voltar quando tem morte cerbral.

--Sim, é. Mas a Abby não teve morte cerebral, ela entrou em coma, o que é muito diferente.

--Obrigada por me esclarecer Dr. Dubenko.—Os olhos de Maggie ainda estavam cheios de lágrimas, mas ela estava com certeza muito mais calma. Provavelmente a dose de Depakote fez efeito.—Carter, como está a Halie?

--Ela está bem na medida do possível. Ela brinca, mas de vez em quando eu a pego tristonha no canto da sala.

--Carter eu agradeço tudo o que você tem feito. Mas, é que eu vou ficar no apartamento da Abby até tudo se ajeitar e vou levar a Halie comigo, pego ela na sua casa amanha de manhã, pode ser?—Eu não acreditava no que eu estava ouvindo. Isso é ridículo, já passei todo esse tempo longe da Halie, agora que ela mais precisa de mim ninguém vai me afastar dela.

--Não. Maggie, sinto muito, mas você não vai levá-la.

--Que?

--Foi isso que você ouviu! A Halie vai ficar comigo, eu já estou providenciando tudo para ela, roupas, brinquedos, até quarto para ela no meu novo apartamento tem. Você não precisa se incomodar com isso, que da minha filha cuido eu.—Falei isso com a maior calma do mundo. Susan falava no telefone, enquanto Dubenko parecia estar resolvendo algum problema na recepção.

--Como você soube?...Não importa, John, acho que o melhor lugar para Halie é ao meu lado.

--Você pode achar o que você quiser. O fato é que ela vai ficar com o pai.—Segui em direção ao elevador que estava esperando há alguns segundos.

--Que pai? Esse pai ausente que nunca ligou para ela ou para mãe durante todos esses anos? Grande coisa...—A porta do elevador se fechou antes que pudesse responder. Como ela podia jogar isso na minha cara nessas circunstâncias? Como se ela servisse para algo também, nunca ligou para filha, imagina para neta...

Quando cheguei em casa vi que os dois dormiam na minha cama. Fique observando os dois, Mônica tinha colocado almofadas para impedir que caso o Adam rolasse não caísse da cama.

--Eu queria colocá-lo no berço, Dr. Carter. Mas Halie insistiu que o Adam dormisse com ela, quando eu neguei ela começou a chorar.

--Não negue. Com tão pouca idade ela já passou por tantas coisas, então quando ela pedir faça o possível para atendê-la. Muita coisa já foi negada à ela.

--Dr. Carter, desculpe a pergunta, mas...quem é ela? Onde está a mãe dela?

--É minha filha, Mônica. Eu não sabia da existência dela até a mãe dela ser baleada e ir para um hospital. Nem passa pela cabecinha dela que sou o seu pai.

--Ah...Quando a gente estava brincando ela disse que sabia...sabia que o que ia acontecer.

--Han? Como assim?

--Não, ela só olhou para mim e disse "Eu sonhei, sabia o que ia acontecer no dia que aconteceu". Quando perguntei o que, ela não respondeu e desconversou.

Já era quase hora do almoço, eu estava exausto e estava morrendo de pena de acordar os dois.

Me meti na cama entre os dois, coloquei Adam sobre mim e Halie ao meu lado. Fiquei observando cada centímetro e movimento deles. É incrível como os dois se parecem, Adam não é tão branquinho quanto a Halie, nem o cabelo dele é tão escuro quanto o dela, mas pareciam tão idênticos para mim. Os dois faziam barulhinhos quando expiravam, algumas vezes Halie se mexia um pouco, a mão dela estava exatamente sobre meu ombro e de vez em quando eu sentia ela apertar.

A Halie sonhou quando tudo ia acontecer, exatamente como eu. Será coincidência?

Acho que nós três estávamos tão cansados que dormimos até umas quatro da tarde. Tinha me esquecido completamente que o caminhão da mudança vinha pegar o resto das coisas. Espero que no apartamento já esteja tudo arrumado, pelo preço que eu paguei, a mulher da agência disse que eu teria todo o apartamento, inclusive os quartos arrumados. O quarto de hóspedes, já ta todo equipado também. Só falta os brinquedos e as roupas da Halie que vou comprar o mais rápido possível.