Capítulo 14: Decisões Dolorosas.
Que droga. São 6 da manhã e o telefone tem que tocar logo agora?
Justo hoje que poderia dormir até mais tarde...
--Alô?
--John? É a Susan. Oi, é que há alguns dias a Maggie pediu para falar com a assistente social lá do hospital. Ontem elas marcaram um encontro para falar sobre a situação da Halie. A Wendall falou que nesse tipo de situação, a criança costuma ficar com o parente mais próximo...
--No caso eu—a interrompi antes que ela pudesse terminar a frase.
--Sim, você. O problema é: Você não tem a paternidade reconhecida da Halie, ou seja, o parente mais próximo seria a própria Maggie.
--Nada que um teste de DNA, não resolva. E além disso, nenhum assistente social sã deixaria uma criança tão pequena quanto a Halie com um bipolar como a Maggie!
--John, ela está tomando os remédios dela já há algum tempo.
--Susan, você não entende? Ela pode parar à qualquer hora. Se ela não conseguiu cuidar da Abby e do Erik, você acha mesmo que ela é competente o suficiente para ficar com a Halie?
--Eu concordo com você. Meu conselho é que você siga as instruções da Wendall, que são, você entregar a Halie à Maggie, vocês fazem o exame e quando estiver tudo legalizado a Halie volta para você. Talvez tudo isso nem seja necessário, Dubenko disse que os sinais vitais da Abby estão cada vez melhores.
--Ok, Susie. Eu vou pensar e hoje à tarde eu mesmo vou falar com a Wendall.
--Tá bom. Vou deixar você descansar, mas não se esqueça que seu turno começa ao meio-dia.
--Pode deixar, chefinha.—Desliguei o telefone mais que puto da vida! Essa fugitiva do hospício de Minessota só serve para infernizar minha vida! Já não basta a Halie ta passando por essa barra, ela ainda quer obrigar a criança a ficar com ela! O pior é que a Halie ainda nem tem idade para opinar.
--Pai?—Estremeci, nem consegui me virar na cama para olhar nos olhos dela. Ela me chamou de pai, só isso mesmo para salvar meu dia. Agora nem mesmo a Maggie vai conseguir estragá-lo.
--Bom dia, princesa.—Bati na cama fazendo sinal para ela subir.
--Sabia que a mamãe me chamava de princesa?—Ela deitou de bruços com a cabeça no travesseiro que agora ela chamava de fofo!
--É mesmo? Vai ver é porque você é uma princesa.
--Posso te chamar de pai?—Oh meu Deus. Isso é demais para mim. Ela pergunta se pode...
--Claro, meu bem!
--Você acha que a mamãe se importaria?
--Acho que ela adoraria!—Ela se sentou ao meu lado e ficou de frente para mim.
--Eu sonhei com ela.—As lágrimas começaram a invadir seu rostinho que já estava vermelho.—Eu sinto falta dela! Queria que ela estivesse aqui com a gente.—Eu não sabia o que fazer, ela começou a chorar mais intensamente, eu nunca tinha estado em uma situação dessas.
--Halie tudo bem você sentir falta dela, eu também sinto.—A aproximei de mim, colocando-a no meu colo e puxando o cabelo para trás que teimava em cair no seu rosto molhado.—Querida, não chora assim, não. Sei que tudo isso ta parecendo meio louco, mas eu prometo que sua mamãe vai ficar bem, e que logo estaremos todos nós juntinhos.—Abracei e comecei a enchê-la de beijinhos, assim como ela fazia com Adam.
--Eu sei, pai. Mas...É que eu pensei que não ia demorar muito, e já ta demorando demais! Já chega, eu quero que ela volte!
--Oh, Halie. Eu sei...Olha o papai volta a trabalhar hoje, que tal se eu te levar para vê-la? Não garanto que você vá entrar, mas eu vou tentar, ok?
--Tá bom. Se eu for lá ela vai falar comigo?
--Não, meu bem. Ela ta dormindo, descansando para ver se melhora.
--Então, eu não vou para aula hoje?
--Halie, hoje é sábado, não tem aula.
--Hum...sempre me confundo...Será que o Adam já acordou?
--Acho que não...Mas que tal se você me ajudar a fazer o café da manhã, hein?
--Legal! Panquecas?
--Você que manda!
Fizemos a maior bagunça na cozinha, Halie tinha massa de panqueca até no cabelo! Ela teve a brilhante idéia de colocar sorvete de chocolate dentro de uma das panquecas...mas até que ficou gostosa.
Quando Mônica chegou, a primeira coisa que ela fez foi querer levar Halie pro banheiro.
--Halie, fofinha, vamos tomar banho, você ta toda sujinho, olha!
--Monica, eu até queria...Mas eu não posso, estou doente.—Ela se jogou no sofá com a mão na testa como se estivesse desmaiando.
--Ah é? Posso saber qual a sua doença?—Monica tinha uma santa paciência com crianças. Eu tento cada vez mais aprender com ela.
--É banhinite aguda! Não posso tomar banho...
--Ah, é? O Dr. Carter diz que essa doença já tem cura!—Peguei-a no colo e fui em direção ao banheiro.—E a cura é um banho geladíssimo, que só a Mônica sabe dar!
--Já vi que você não vai me deixar escapar dessa!—Ela fingiu que estava desmaiando de novo. Dessa vez nos meus braços.
--Não vou mesmo.—A coloquei sentada em cima da tampa do vaso sanitário, enquanto ela ainda fingia estar desmaiada.
--Bom, Dr. Carter. Acho que para acordar essa paciente desmaiada só um banho gelado mesmo!—Monica ligou o chuveiro e assim que ela ouviu a o barulho, saiu correndo, mas a impedi de deixar o banheiro antes que ela chegasse até a porta.
Ouvi Adam chorando no outro quarto, acho que nossa bagunça acordou ele.
--Halie, amada, agora é sério! Se você não tomar banho, você não vai poder ir trabalhar comigo hoje!—No mesmo instante ela correu para debaixo do chuveiro o que fez a levar um pequeno choque térmico! Coitadinha...Depois me arrependi de ter feito chantagem, para ela era super importante ir "trabalhar" comigo hoje.
--Monica, cuida da mocinha que eu vou ver o Adam.
Ao entrar no quarto ele estava com o primeiro brinquedo que comprei para ele, quando Kem ainda estava grávida. Era um coelhinho cinza com uma mamadeira na boca.
O tirei do berço e fiquei cantando para ver se ele pegava no sono de novo, mas quando vi que não ia conseguir levei-o para sala, coquei-o no cercadinho e liguei a TV na nickelodeon, canal que ele adora assistir. Enquanto isso esquentava seu leite. Minha mãe conseguiu em alguma dessas "paradas" voluntárias que ela faz quem doasse leite materno, afinal é muito importante para o bebê. Eu congelava o leite e quando ele fosse beber era só esquentar no microondas. Claro que nada jamais substituiria o calor materno e a voz de Kem, mas já era um começo. Nos últimos dias, Halie insistia em segurar ele quando fosse se alimentar. Claro que eu sempre ficava por perto caso ele se engasgasse.
--Paaaaaaaaaaaaaaaaaaai!—Ouvi Halie gritando do quarto, Mônica estava no quarto de Adam fazendo sei lá o quê. Coloquei a mamadeira em cima da mesa e voei para lá.
Quando entrei no quarto a vi pulando de um lado para o outro e me chamando.—Paaai! Tem uma barata ali, ela é enorme, ela entrou em baixo do baú de brinquedos! Tá ali ela!—Ela pulou no meu colo, apesar de ser magrinha ela me fez cambalear, Adam estava assustado e começou a chorar.
Mônica entrou no quarto assustada e eu entreguei Adam para ela. Halie se pendurou nas minhas costas, e quando eu levantei o tal do baú, a barata já saiu correndo e eu atrás da barata com o sapato na mão, enquanto Halie na minha costa gritava para mim pegá-la. Tudo isso até eu conseguir matá-la!
Só uma pessoa que eu conheço que já fez tanta confusão por uma barata quanto a Halie fez. Adivinha quem? Abby mãe.
É incrível como Halie pode ser tão xerox da Abby, cada centímetro dela que eu olho eu lembro da Abby.
--Lá em casa quando aparecia barata, eu e a mamãe nos trancávamos no banheiro até ela desaparecer. Ou às vezes ela chamava o vizinho para matar!—Tirei ela de cima de mim e me joguei na cama, mas não adiantou muito porque logo em seguida ela sentou em cima da minha barriga.—Agora não precisa mais chamar o vizinho ou se trancar no banheiro porque eu já tenho um pai inteirinho!—Ela se jogou mais uma vez sobre mim, dessa vez me abraçando.—Ah, meu herói.—Monica apareceu na porta com Adam no colo e olhando para mim, pelo olhar dela eu estava com a cara mais feliz do mundo!
--Esse herói ta muito cansado, você não acha que ele merece de muitos beijos para energia voltar?
--É verdade.—Ela começou a beijar todo meu rosto e minhas mãos. Nisso ela ganha da Abby, ela é três vezes mais carinhosa que ela. Não que a Abby não fosse, mas Halie ganhava dela disparada.—Pai vamos assistir Meninas Super Poderosas? Vamos!—Ela começou a pular na minha barriga, até eu dizer sim.
Ficamos assistindo Meninas Super Poderosas, O Laboratório de Dexter, A vaca e o frango, e por fim ela me deixou assistir um pouco de Friends que estava passando enquanto eu trocava de canal.
Acho que precisamos de mais uma televisão nessa casa. A TV do quarto dela ninguém nem pense em tirar do Cartoon e Adam só fica quieto quando eu ponho na tal da nickelodeon. Eu não queria TV no meu quarto, mas já vi que é indispensável.
Quando eu e Abby namorávamos ela nunca me deixava assistir Friends, ela só via aquelas baboseiras de Survivor, Aprendiz...parece alguém que eu conheço.
Ficamos na TV o dia todo até a hora do almoço. Eu pedi comida chinesa, e pro Adam a Mônica fez uma papinha.
Almoçamos, Halie já estava vestida para irmos, ainda faltava eu colocar a blusa e separar o jaleco que eu trouxe para lavar, para poder sairmos.
Quando eu e Halie já estávamos de saída, ela voltou no quarto para pegar alguma coisa, enquanto eu fiquei esperando-a na porta.
--Ah, Mônica! Hoje, depois que Halie terminar a visita eu vou tentar dar uma escapada para trazê-la. Então, é melhor você não levar o Adam para passear hoje, só para garantir que quando eu vier trazê-la vocês estejam em casa.
--Ok.
--Vamos.—Halie voltou do quarto com uma das bonecas que eu tinha comprado para ela.
--Nossa! Olha quem veio trabalhar hoje com o papai!
--Tia Susan!—Ela pulou para um abraço com a Susan.
--Oi, linda.
--Eu vim ver minha mãe. Onde ela ta?—Susan olhou para mim com um olhar questionador.—Essa aqui é a Melissa, eu vou entregar ela para minha mãe para ela melhorar.—Ela mostrava a boneca para Susan como se fosse algo super precioso.--É a barbie médica, que nem vocês!
--Ela é linda.—Susan a desceu de seu colo e veio em direção a mim, enquanto Halie correu para a Lounge.
--Carter, qual a sua? Porque você trouxe a Halie hoje?
--Susan, ela ta sofrendo muito. Eu acho que se ela ver a mãe, ela vai entender melhor.
--Carter, não sei não. Ela é muito pequena...
--Eu sei, mas ela fica chorando o tempo todo quando se fala na Abby, e tem sonhos...
--É talvez você esteja certo, mas antes de você levá-la eu vou falar com o psicólogo, ta?
--Ok.
Enquanto isso na Lounge Doctor's:
Dr. Kovac e Dra. Rasgotra se serviam de café quando uma garotinha de cinco anos entrou na sala e se sentou no sofá, como se fosse muuuito íntima!
--Oi! Você ta perdida querida?—Neela se aproximou dela e sentou ao seu lado.
--Não.
--Onde estão seus pais?
--Eu vim com meu pai, viemos visitar minha mãe.
--Hum...—Neela olhou com um olhar questionador para Luka que tinha certeza que conhecia aquela menina de algum lugar, só não lembrava da onde.—Onde está seu pai?
--Ele ta lá fora falando com a tia Susan!
--Tia Susan?—Luka também se aproximou.
--É.
--Ele sabe que você está aqui?
--Acho que sim. É onde eu sempre fico.—Halie sorriu, e Neela tinha certeza que 'aquele' sorriso era de alguém conhecido.
--Ah, já sei! Você á a filha da Abby, não?—Luka se lembrou daquela garotinha da piscina que brincava com Carter na festa da Susan.
--Sou.
--Pai! Cadê a mamãe, hein?—Ela correu em minha direção no exato momento que entrei na sala. Luka e Neela me olharam de um jeito...Provavelmente porque nenhum dos dois sabia que eu tinha uma filha.
--Eu estou indo lá falar com um amigo meu para pedir para você entrar e vê sua mãe, ok? Enquanto isso você fica aqui esperando, assim que eu conseguir eu peço para alguém subir com você, ta?—Ela balançou a cabeça afirmando.
--Você pode ficar de olho nela?—Pedi à Neela, já que não queria ela passeando pelos corredores do hospital.—Halie, não é para sair daqui da sala, ta?—Mais uma vez ela me afirmou com a cabeça.
Saí da sala e fui em direção ao elevador. Mil coisas passavam pela minha cabeça: se Halie entenderia o que estava acontecendo com a Abby quando a visse, se Maggie continuaria a me encher o saco, como as coisas ficariam quando a Abby acordasse...
--Carter, ta surdo?
-Han?—Olhei para Luka que provavelmente estava me chamando há um tempo, mas eu nem notei de tão distraído que estava.
--Carter, aquela menina...é a filha da Abby?
--É.
--Hum...Não quero me meter, mas lá na sala ela te chamou de pai? Foi isso mesmo?
--Luka, você sabe como são as crianças...Se apegam fácil.—O elevador chegou e eu entrei, o que menos queria agora era ter gente no meu pé pedindo explicações que a única pessoa que pode dá nem está consciente.
Conversei com a supervisora do setor e depois de explicar todo o sistema de mãe e filha muito apegadas, ela deixou Halie entrar por 10 minutos.
--ER.
--Jerry, você pode pedir para alguém subir para UTI com a garotinha que está no Lounge?
--A filha da Abby?...Dr. Carter como ela está?
--Isso. Segundo o Dubenko e o neurologista ela está melhorando, para falar a verdade eles nem sabem porque ela ainda não acordou.
--Ótimo. Vou pedir a Chunny para que suba com ela.
Depois de uns 10 minutos Chunny e Halie chegaram.
--Posso ir Dr. Carter?
--Claro. Obrigado, Chunny.
--Tchau, Halie.
--Tchau.
Sentei no banco do corredor e coloquei Halie de frente para mim.
--Halie, presta atenção no que o papai vai te falar, ta?—Ela afirmou com a cabeça.—A dona daqui deixou você entrar, mas só se você agir como uma mocinha, ok?—Mais uma vez ela balançou a cabeça positivamente.—Você só vai poder entrar lá rapidinho, você não pode mexer nas máquinas nem tocar nos tubos da mamãe, e você tem que sair quando eu disser.
--Eu prometo que vou fazer tudo isso, papai.
--Ótimo.
Nos esterilizamos, colocamos as máscaras e a Halie teve que usar um avental de adulto que quando ela andava arrastava no chão.
Abby estava no terceiro leito, sua pele parecia mais corada, verifiquei os sinais vitais, e realmente estavam bons.
--Pai, ela pode me ouvir?
--Pode.
--Mãe, é a Halie. Eu estou bem, ta? Você não precisa se preocupar que o papai ta cuidando bem de mim. Eu queria pedir para você sair logo daí, ta? Por favor...Vamo voltar para casa, já chega de ficar no hospital, eu to com muita, muita, muita saudade de você.—Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
Eu me abaixei de forma que eu fiquei da altura da cama e ela sentou no meu colo.
--Abby? Eu estou aqui também, o Carter. Eu e Halie estamos nos divertindo bastante, só falta você lá com gente.
--É mãe.—Mais uma vez ele me olhou, mas agora como se tivesse pedindo algo.—Mãe, essa aqui é a Melissa, é a barbie médica, eu vou deixar ela aqui para ela cuidar de você.—Ela se levantou e colocou a boneca sentada na mesa ao lado do leito. Halie ficou olhando as máquinas e tubos.
Um das enfermeiras apareceu na janela fazendo sinal para a gente sair.
--Halie, querida, vamos.—Eu me levantei e ela se aproximou do braço da Abby e a o beijou.
--Mãe, eu tenho que ir, mas eu te amo muito e vem logo para casa ta?
Peguei-a no colo e fui seguindo para saída, enquanto isso ela começou a chorar.
A sentei no mesmo banco que eu tinha sentado minutos antes.
--Eu quero que a minha mãe volte! Porque ela ficou doente?—Ela falava com a voz mais manhosa impossível.
--Halie, meu bem, a mamãe só ta aí por enquanto, ela vai sair logo. Agora, minha linda, não chora, porque eu não agüento te ver chorando, se eu pudesse eu faria o mundo mais perfeito só para você viver nele, mas as coisas não são bem assim. A mamãe não ta aqui agora, mas eu estou, se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, só peça.
--Eu sei. Mas é que...eu sinto muito a falta dela, a noite quando eu não conseguia dormir ela ia pro meu quarto e me abraçava até eu dormir.
--Eu to aqui para abraçar você a noite toda. É só me chamar.
