Capítulo 16: Decisões não tão dolorosas assim.
Carter depois de muita luta conseguiu convencer Halie de ficar um pouco na pediatria, para que nós pudéssemos conversar a sós.
Eu também não gostei muito da idéia...Tudo que eu queria agora era me assegurar que a Halie estava bem.
Carter me ajudou a levantar da cadeira de rodas. As luzes das janelas do refeitório fizeram meus olhos doerem. Ele puxou a cadeira para eu sentar. Vi que provavelmente era menos de meio e dia, não tinha movimento no refeitório, e o sol ainda não estava tão intenso.
--Que horas são?—Ele olhou no relógio e logo em seguida olhou para mim de volta.
--Quase 10 horas.—Eu sorri para ele. O clima estava meio esquisito, eu sentia que ele queria falar alguma coisa, mas não sabia como.
--Carter, o que aconteceu?
--Ainda não lembrou?
--Não.—Ele me explicou tudo o que tinha acontecido, de alguma coisas eu lembrava, como quando ele falou sobre as gangues rivais, mas a maioria das coisas não.
--John, na verdade o que eu queria saber mesmo é onde entra a Halie nessa história.—Mas uma vez ele sorriu...Esse sorriso, quando vejo só lembro do meu bebê.—Qual a graça?
--Nenhuma, é que fazia tempo que eu não ouvia sua voz me chamando por John. Adoro quando você me chama assim...Mas voltando ao assunto...Abby—Ele segurou na minha mão—Eu li sua carta, li a carta que tava na sua bolsa, que contava tudo sobre a Halie, sobre a gente.—De repente veio um flash na minha cabeça, e eu lembrei...Lembrei do "ensaio" que eu tinha escrito...Meu Deus, o segredo que eu guardo há meia década foi revelado enquanto eu "dormia"...
--Mas não...Não pode.
--Sim, claro que pode! Eu não estava ficando louco, Abby...Tudo aquilo com que eu sonhava não era coisa da minha cabeça...Tinha uma razão!
--Do que você ta falando?
--Ok, Abby, talvez não seja o melhor momento para eu falar isso, mas se eu não o fizer agora eu vou acabar explodindo!
Tudo começou quando você me deixou, sabe Deus porque...Daí eu pensei, o que vai ser agora da minha vida sem ela? Eu não conseguia me imaginar longe de você. Tudo o que um dia eu tinha sonhado para mim, todos os meus planos, tudo era em função de você, da gente.
Eu me vejo desesperado para encontrar algo que pudesse cobrir o vazio que você deixou...A Kem ta sempre lá do meu lado, me confortando, me dizendo que vai ficar tudo bem, que eu to melhor sem você, mas eu não entendia o que ela falava porque sem você eu não era nada!
Um dia eu acordei e pensei...E se a Abby não voltar? Eu vou viver toda minha vida esperando por ela?
Eu começo a olhar para Kem de um jeito diferente...ela fica grávida e a gente casa. Quando o Adam nasceu eu achei que finalmente desde quando você me deixou minha vida tava tendo um rumo...Sabe? Eu voltei a viver de novo...E tudo aquilo com o que eu sonhei poderia virar verdade, tudo bem, não era do mesmo jeito, mas eu podia ter pelo menos uma porcentagem de todos aqueles plano que eu fiz ao seu lado. O problema é que eu percebi que não era a mesma coisa...Por mais que eu amasse o Adam com todas as minhas forças, eu não sentia o mesmo pela Kem...sabe por que? Porque não era você! Durante muito tempo eu desejei amar a Kem do mesmo jeito que eu te amava, mas eu simplesmente não conseguia...Eu olhava para Kem grávida e via você, eu sei que ela sofreu com tudo aquilo também...mas eu não fazia por querer, era algo involuntário! A Kem amava o Adam, e eu tenho certeza disso, mas ela percebeu que nosso casamento não levaria a nada, o Adam cresceria em uma farsa, e ela não queria isso para ele, ela sabia que não podia tirar ele de mim, pois eu não agüentaria outra perda como essa!
A Kem me deixa e você reaparece...e eu pensei mais uma vez...por que não?
Quando eu vi a Halie, o meu primeiro pensamento foi: A Abby não sofreu como eu...ela seguiu em frente, isso quer dizer que ela não me amava como eu amava ela! Mas aí eu simplesmente me apaixonei pela Halie, eu achei primeiramente que meu inconsciente queria usar a Halie para se aproximar de você, mas só agora eu entendo o porque de eu gostar tanto dela!
Eu entendo que você me amava muito também, agora eu tenho certeza disso! Não é possível que tudo aquilo que a gente viveu tenha sido uma segunda realidade que eu criei e que só existia na minha cabeça, não é possível que você sentisse a mesma coisa que eu sentia.
Abby, por favor, vamos dar uma segunda chance á nós dois, à Halie também!—Eu escutei tudo aquilo sem dar um pio, quieta, ou melhor, extasiada. Ele ainda segurava minha mão, mas eu a tirei de cima da mão dele.
--John, han...Carter, eu não sei o que te dizer sobre tudo isso. Sim eu sofri quando a gente se separou, mas eu sinto que quando eu soube que estava grávida da Halie eu amadureci, e os motivos da nossa separação não me importam mais em nada. Só que quando eu fiz aquele teste de gravidez que deu positivo eu percebi que eu não precisava mais sofrer porque eu sempre teria um pedacinho de você comigo, e esse "pedacinho" não me faria sofrer, e ninguém nunca o tiraria de mim, nem mesmo você!
Eu te amei por muito tempo ainda, mas sem sofrer, eu achava que você faria a Halie sofrer como me fez no começo, e essa dor eu não poderia suportar, ver a Halie sofrendo...Eu achava que ela estava melhor sem pai do que com você!
Mas agora eu percebo que eu estava errada...Carter eu gosto muito de você, você é ótimo, para ser o pai da minha filha, o pai que a Halie tanto queria!—Vi seus olhos encherem de lágrimas, mas nenhuma caía. Eu queria dizer algo para confortá-lo naquela hora, mas eu não podia simplesmente demolir a muralha que eu construí por anos em volta de mim, e ainda mais demoli-la para a pessoa para quem eu construí.
--Abby, eu não quero ser só o pai da Halie...
--Mas é o que você é...O pai da Halie, só isso!—Me levantei da cadeira, minhas pernas tremeram.—Eu vou ver a Halie!—Achei que ele fosse me impedir, mas ele só ficou olhando eu me afastar. Sentia seu olhar grudado nas minhas costas.
Cheguei na pediatria e vi Halie num canto brincando com uma Barbie.
--Oi amor, a mamãe já voltou para ficar aqui com você.
--Cadê o papai?
--Eu acho que ele foi para casa...Ele precisa descansar um pouco também, ne? Além disso você não precisa mais dele agora que a mamãe já ta boa para cuidar de você.—Minhas pernas já estavam cansadas então sente em um sofá e fiz sinal para ela sentar ao meu lado.
--Por que você sempre diz isso?
--Isso o quê?
--Que eu não preciso dele...É claro que eu preciso. Mamãe, quando você tava dodói foi ele que foi la na casa da tia Susan para me pegar quando eu não tava entendendo nada!
--É, mas agora a mamãe ta aqui!
--Eu sei...mas...porque eu não posso ter os dois? Quando eu estou com você eu não to com ele, e você teve que ficar doente para eu ficar com ele...Mamãe, eu não quero que você fique doente de novo, mas eu quero meu papai!—Aquilo foi como uma facada no meu peito. Vê-la falando com tanta maturidade, com tanto cuidado...Apesar disso, ela não entende porque tudo é tão complicado, e dói em mim ver meu bebê tentando entender a complicação da vida!
--Ah meu amor—A abracei e senti aquele cheirinho que não sentia há um tempo.—Você não precisa ficar longe do seu pai porque a mamãe ta melhor, você pode sim ter os dois!
--Mas não do jeito que eu quero...Mãe, se ele fez alguma bobagem você pode perdoar ele por favorzinho? Porque eu to sentindo que vai voltar tudo de novo...Lembra como era menos legal quando só era nós duas? E agora eu tenho um irmãozinho fofo...Mãe, esquece o que o papai fez...Eu sei que ele ta arrependido e que ele não vai errar de novo!—Eu faço tudo para ver a Halie feliz...mas será que se eu fizer isso ela vai ficar mesmo feliz? Será que é aconselhável eu segui os conselhos de uma criança? Será que ela sabe o que é melhor pare ela mesma?
--Amor...—Ela largou a boneca, se levantou e ficou de frente para mim segurando meu rosto.
--Dona Abigail, você lembra quando eu não queria ir para aula e você fez eu ir...Eu me machuquei, lembra?
Lembra quando você se machucou trabalhando aqui no hospital? Eu tinha sonhado que uma coisa chata ia acontecer...E você ficou dodói!
Mããããe, confia em mim!
O Marlyn nunca confiava na Dori, e ele fez a Dori se machucar por causa disso...—Ai Deus...lá vem ela com o tal do Nemo...
--Ok, meu bem, eu vou pensar no assunto...—Olhei para a janela ao meu lado e vi Carter olhando para nós duas.
--Paaai!—Ela saiu da sala e pulou nos braços dele.
--Meu amor...E aí? Ta cuidando da mamãe?
--Anham, a gente ta tendo uma conversa séria...Né mamãe?—Eu apenas sorri para os dois.—Mamãe, vem aqui!—Eu levantei e fui lá com os dois. Ela desceu do colo dele.
-- Eu acho que agora vocês podem conversar de novo, ne?—Eu sorri para ela...E imaginei só a felicidade dela em saber que talvez a gente se entendesse de novo. Ela voltou para a sala e foi assistir TV como se nada tivesse acontecido.
--John...—Eu o abracei.—Obrigada por tudo que você fez por mim, e pela Halie também. E sobre tudo aquilo que você falou ainda agora, eu só queria te dizer, que eu te amo ainda, sempre te amei e nunca deixei de te amar e foi por isso que eu me afastei de você...eu não suportava a idéia de você não me amar do mesmo jeito, e quando você falou aquelas coisas a minha cabeça, a minha razão falou mais alto...Ha muito tempo que meus sentimentos estavam congelados no tempo, e mais uma vez a Halie fez eu agir com o coração e não com a cabeça...Me desculpe se eu te fiz sofrer...Mas eu acho que o melhor para todos é que nós podemos tentar mais uma vez...se você quiser tentar, claro.—Ele riu...—Qual a graça?
--Isso ta parecendo cena final de um filme romântico...—Eu toda nervosa aqui e ele vem fazer gracinha!
--Não ta não...Porque agora você teria de te acabado de lutar com o seu rival e conseguido me ganhar, oras!
--E eu lutei, lutei com o rival que você criou aí dentro de você...Mas eu e a Halie conseguimos derrotá-lo!
Finalmente eu e Carter...Oops, John! Conseguimos nos entender, depois de tantas confusões, tantos enganos e tantas coisas chatas que aconteceram!
Depois daquele dia, eu tive que fazer algumas sessões de fisioterapia, e Halie teve uma idéia, que seu pai, claro, aprovou 100.
--Agora que já ta tudo certo, e que a mamãe não precisa mais ficar fazendo aqueles exercícios chatos...A gente podia viajar, ne? Tipo...FÉRIAS!
--Será que a mocinha aqui esqueceu que a sua mãe trabalha? Já passei muito tempo parada...
--A mãe...E daí? Você trabalha quando a gente voltar...A gente podia ir pra Disney ver o Mickey e a Minnie...
--Ou pro Havaí e aprender a surfar...—Completou Carter!
--Será que eu sou a única que está no mundo real?
--Mãe, são dois contra um...O Adam é neutro, então a gente ganha ne pai?
--ÉÉÉ...bate aqui!—Ele deu a mão para ela bater...esses dois!
Como a Halie mesma disse, eu era minoria e fui convencida que o Havaí faria bem para minha saúde...Fomos nós quatro ao Havaí, eles estavam certos, foi uma viagem lindíssima onde nos divertimos muito...Mas agora pela primeira vez...JUNTOS! O que é o mais importante!
Agora três anos após tudo o que aconteceu, eu não posso imaginar minha vida diferente de como ela está agora...
A cada dia que eu saio para trabalhar antes eu olho para a cena de nós todos tomando café juntos, o que me dá forças...Forças para tudo! Aquela cena da típica família feliz, Carter lendo o Jornal, agora ele se interessa muito mais pela política e está mais ativo nos negócios da família, inclusive no Joshua Center,mas claro dando atenção á família, sabemos agora dividir nosso tempo com o trabalho e com as crianças...E com nós dois também, claro...Estamos mais fortes do que nunca! Halie agora tão crescidinha, mais linda do que nunca, unhas pintadas, cabelos soltos e com presilhas, carregando seus livros da escola para todo lugar,fazendo ballet e lendo tudo o que ver pela frente. E Adam, ah meu filinho lindo, ele ta na época das gracinhas, rir de tudo, bagunça as barbies da Halie o que a leva à loucura completa, meche na minha maquiagem...pega tudo o que ver pela frente! Ele já ta indo para escolinha, tão lindo vê-lo todo arrumadinho e de mochila nas costas...uma graça!
E eu...Ah, eu to desse jeito ne? Com esse barrigão enorme que eu não posso nem me mexer. No começo Halie achou perfeita a idéia de ter outro irmãozinho ou irmãzinha, mas agora parece que ela não aprecia mais tanto a idéia...Ela diz que TEM que ser um menino, porque na vida do Carter já basta nós duas de mulheres...MULHERES DE TALENTO!