TENCHI MUYO TV:
A LENDA DAS ASAS DO FALCÃO DA LUZ
FanFic escrita por: Calerom
Início: 25/10/2003 - 1a Versão
Final:
E-Mail: myamauchi1969@yahoo.com.br
Créditos:
Série Original, 1a Série de TV: Tenchi Muyo! Chikyuhen!
Tenchi Muyo Universe em Inglês.
Produção: Pioneer LDC/ AIC
Personagens criados por: Masaki Kajishima
Observação:
Esta obra foi feita única e exclusivamente como um fanfic para entretenimento pessoal e dos leitores. Obviamente tanto a série Tenchi Muyo como a sua história e personagens. .
Quaisquer personagens que não constam na série original, ou na adaptação em quadrinhos são de minha criação - exceto pelos caracteres "Calerom Devilhunter" e "Princesa Sweety"
Agradeço a "Sweety" por ter gentilmente cedido o seu avatar para a composição da personagem que aparece nesta fic.
Nota do Autor da Fanfic:
Esta fic se passa após o episódio 26 da Série Tenchi Muyo TV (Tenchi Universe, como é mais conhecido nos EUA) e tanto quanto possível, segue o universo apresentado pela mesma. Ou seja, não espere ver personagens que só aparecem no OVA com os pais da Aeka e Sasami, a mãe de Yosho (Katsuhito), a deusa Tokimi, Yuugi/Sakuya (Tenchi in Tokyo) e outros.
A LENDA DAS ASAS DO FALCÃO DA LUZ
CAPÍTULO 01: SEM NECESSIDADE PARA FUGAS ESPETACULARES.
Em algum lugar do Universo, uma desesperada fuga acontecia.
Perseguida por três naves de patrulha da famosíssima Galaxy Police, um objeto de cor vermelha e negra singrava o vazio do espaço, em desesperada carreira, trocando disparos de laser com suas perseguidoras.
A Galaxy Police (GP) era o órgão máximo da manutenção da lei e da ordem na Via Láctea e era composta pelos melhores agentes de cada sistema solar habitável, formando um esquadrão de elite dedicado a proteger os cidadãos de bem e reprimir o crime em todas as suas formas.
Além de ter várias delegacias e postos de vigilância em cada planeta ou colônia espacial, ela tinha uma vasta frota de espaçonaves com poderio bélico superior ao de muitos planetas, para fins de patrulha e de repressão a bandidos espaciais, piratas, contrabandistas e mercenários de aluguel.
E naquele momento, três de suas naves de patrulha tentavam abordar alguém quem se encontrava à margem da lei e da ordem.
O objeto perseguido era um veloz modelo intergalático de médio porte. Mais exatamente uma nave pirata.
O seu nome era "Devilhunter" e era um cruzador de batalha da classe experimental "Delta", com grande velocidade e armamento poderoso, podendo fazer frente aos poderosos cruzadores da Classe "Yagami" em termos de performance e sendo apenas superada pelos novíssimos Encouraçados classe "Musashi" que estavam sendo incorporados ao arsenal da armada da GP.
Contudo, apesar destas vantagens, a Devilhunter agora estava na defensiva.
Os seus armamentos principais estavam quase sem energia e os canhões-metralhadoras que serviam de armamento secundário mal arranhavam a resistente couraça das naves perseguidoras.
Para piorar a situação, a sua reserva de combustível estava quase se esgotando e apenas seria uma questão de tempo dela ser apresada.
Na cabine de comando da "Devilhunter" uma voz nervosa e excitada se ouvia:
- Pô, Mulligan, você não consegue despistar aquelas banheiras da GP? Ande mais depressa, raios! - Vociferava a voz, enquanto olhos desesperados acompanhavam o curso da nave perseguida e de seus algozes no monitor principal.
- Negativo. Nossa velocidade de cruzeiro é a máxima permitida dada as condições atuais da Devilhunter. - Respondia uma outra voz, em tom sóbrio e com entonação nitidamente metálica.
Mulligan era o módulo de Inteligência Artificial que controlava todos os sistemas de bordo da Devilhunter. Ele era um robozinho que permanecia acoplado num console da cabine principal e era semelhante ao módulo experimental "Yukinojo" desenvolvido pela Academia Espacial de Ciências para a GP. Graças a ele, era possível que uma imensa nave como a Devilhunter pudesse ser controlada por até duas pessoas ou mesmo uma.
Além de exercer a função de navegador, Mulligan também podia controlar os sistemas de defesa e de armas da Devilhunter e também servir como conselheiro tático - fornecendo sugestões de manobras de ataque, planos de fuga e muito mais.
- Mulligan, pelamordedeus! Tente uma manobra de hiper-espaço! Agora! - O tom da voz se tornava mais irritado e dramático, vendo a distância entre seus oponentes diminuírem de forma visível no monitor.
- Negativo, chefe. Nossa velocidade de cruzeiro atual é insuficiente para fazer esta manobra com êxito... Também devo acrescentar que dadas às avarias sofridas pela Devilhunter, as nossas chances de sermos destruídos no processo de hiper-espaço são de 44,95%, o que configura uma... - Tentava argumentar o módulo artificial.
- Ah, vai te catar! - Finaliza a irritada voz, dando uma porrada no módulo de Inteligência Artificial.
- Ai, esta doeu, chefe! O que fiz de errado? -Protesta Mulligan, como se fosse um ser humano de verdade.
- Vá descansar, Mulligan Vou ver o que faço... Querida, por favor, assuma os controles! Temos problemas, vou ter que ir à sala das máquinas!
O dono da voz irritada era Calerom Devilhunter. De estatura média, pele morena, cabelos negros rebeldes e olhos negros; este homem na casa dos 36 anos terrestres estava vestido com uma túnica branca, calças e botas de cor negra e um manto cinza-escuro. Um tapa-olho falso ocultava a sua vista direita. O seu figurinho estava completado com um par de luvas vermelhas e uma bandana fina, da mesma cor.
Sim. Calerom era um pirata espacial. E dos mais procurados.
Ninguém sabe ao certo de onde ele veio e de que planeta ele era.
O certo é que ele ficou subitamente famoso quando havia se associado à outra famosa pirata espacial chamada Ryoko.
Ambos formaram uma guilda de piratas, saqueando inúmeros planetas, colônias espaciais, semeando a destruição e o caos durante três anos, passando a fazer parte dos dez criminosos mais procurados da galáxia.
Contudo, há aproximadamente um ano atrás, ambos os piratas foram emboscados por uma imensa frota da GP no sistema Pegasus, após terem sido atraídos a uma armadilha.
Seguiu-se uma sangrenta batalha espacial, da qual Ryoko conseguiu escapar a duras penas após dizimar várias naves inimigas.
Contudo, a maioria de seus homens morreu ou foi capturada no processo e Calerom foi dado como desaparecido em combate...
Até poucos meses atrás.
O ex-braço direito de Ryoko reapareceu de forma súbita, atacando naves mercantes pouco protegidas e postos comerciais isolados nos confins da galáxia, com a sua ousadia habitual.
E, repetindo as suas performances passadas, seus ataques começaram a ficar mais arrojados e ousados, atraindo novamente a atenção da GP.
Embora fosse um piloto habilidoso, "hacker" de computador, vigarista consumado, e quase tão poderoso quanto a sua ex-chefe, Calerom tinha vários defeitos: O primeiro dele era o de ser autoconfiante demais, quase no ponto de assumir riscos desnecessários. E o segundo, de ser um notório cabeça quente.
Apenas uma outra cabeça quente de maior calibre - a seu ex-chefe Ryoko - é que podia fazê-lo entrar na linha.
Outras peculiaridades de seu caráter constavam o fato dele de ter uma língua afiadíssima, impulsivo, extravagante, um "pouco" mulherengo e facilmente estressável.
Contudo, ele compensava isto com notória fidelidade a seus superiores e comandados, e de ser razoável e sensato quando o assunto não envolvia dinheiro... E mulheres.
O seu ataque mais ousado e que o trouxe novamente ao topo da lista negra da GP foi uma abordagem a uma nave diplomática do Sistema Shandar - aliado político do famoso Império Jurai.
Após uma rápida troca de tiros, Calerom havia invadido esta nave e com a ajuda de disparadores de gás de sono - ele conseguiu dominar a sua tripulação e se apossar dos bens de valor que lá possuíam, além de levar uma refém.
Tudo isto, sem causar uma morte sequer.
E este incidente estava quase lhe custando a sua cabeça.
Pois, se ele soubesse a encrenca que arranjara, ele nunca teria atacado aquela nave praticamente indefesa...
- Espere um pouco querido... Estou quase terminando de me vestir. - Respondia uma voz delicada e feminina. Contudo, apesar disto, ela tinha uma entonação característica da de alguém jovem e que gostava de excitação e aventura.
- Rápido, não temos tempo! - Exaspera-se o pirata.
- Já vai, já vai! Puxa, você sabe ser chato, não? - Responde a voz feminina com ligeiro tom de zanga.
Segundos mais tarde, uma porta blindada se abre e uma figura delicada entra na cabine de controle. Ela tinha estatura de baixa para média, cabelos acastanhados um pouco longos elegantemente presos por uma fita vermelho-escura e trajava naquele momento um prático uniforme colante totalmente negro de piloto espacial.
Era uma linda jovem de olhos verde-castanhos e devia ter entre 17 a 18 anos de idade.
O seu nome era Sweety. Ou Princesa Sweety, filha do rei Malkin, da rainha Yasmin e futura herdeira do trono de Shandar, planeta vizinho de Jurai e seu aliado político.
Sweety vivia tranqüilamente em seu enorme palácio, costruído num enorme oásis que se destacava num deserto arenoso e coberto de montanhas, até o dia em que os seus pais decidiram que já era hora dela pensar em seus futuros deveres como princesa herdeira.
Meio contra a sua vontade, Sweety foi escolhida para ser futura noiva do príncipe Alexei do Planeta Polaris, um nobre efeminado e esnobe, a quem ela não amava.
Esta união havia sido forjada em termos políticos e de conveniência social, para fortalecer a aliança política de Shandar com os sistemas planetários vizinhos
Contudo, o destino dela mudaria radicalmente quando a nave em que ela estava - cujo destino seria um encontro protocolar com o seu futuro noivo - foi repentinamente abordada e saqueada pelo infame pirata espacial Calerom.
Inicialmente a intenção de Calerom era utilizar Sweety como refém para garantir uma fuga perfeita, só que as coisas acabaram acontecendo de outro jeito.
Ambos acabaram de apaixonando e, de cativa, a ex-princesa acabou se tornando companheira e parceira do pirata em suas aventuras pelo espaço.
Só que com este seqüestro, Calerom acabou atraindo não somente a atenção da GP, como também a do irado pai da princesa, que mandou imediatamente uma frota de guerra para resgatar a sua filha e capturar o pirata vivo ou morto. O planeta natal de Alexei se prontificou também a ajudar na caçada ao infame bucaneiro pela sua ousadia.
- Querido, o que houve? - Pergunta Sweety ao sentar na poltrona de comando da Devilhunter e tentar visualizar os inúmeros painéis de controle da nave, enquanto que Calerom abre uma escotilha dentro da cabine, que dá para a Sala das Máquinas.
- Temos três naves da GP em nossa cola! Nós fomos atingidos em cheio e o motor auxiliar não está rendendo como deveria para a gente poder fugir! Se não fizer alguma manha agora, estaremos perdidos! - Diz Calerom tentando manter a nave sob controle, embora as explosões da artilharia inimiga continuassem abalando sua estrutura blindada.
- Eu já disse que esta vida de pirataria não compensa, você deveria arranjar um emprego fixo e mais estável, querido! - Responde Sweety com ligeiro ar de zanga.
- Tudo bem, até concordo com isto, mas tente dizer ao pessoal da GP e ao seu pai... - Calerom abaixa o tom de voz para a sua parceira, temendo irritá-la.
Embora ela gostasse muito dele e geralmente estivesse de bom humor, a pequena beldade de olhos esverdeados sabia também responder à altura. Além de saber como abaixar a crista do temperamental pirata.
- Ah, mas o papai não é tão bravo assim... - Contra-argumenta Sweety.
- Qual é a pena no seu planeta natal para ataque a uma nave diplomática e seqüestro de uma princesa da casa real? - Pergunta Calerom sacando um lenço para limpar o suor que escorre de sua testa.
- Bem... Vejamos... Se não esqueci o que aprendi no meu curso de direito, você seria condenado à morte, depois de levar 99 chicotadas em praça pública... Isto se fosse recusado o pedido de indulto real a que tem direito... - Diz sua parceira em tom de voz sério.
- E... Se você apelasse ao seu velho para obter pra mim um indulto real? - Fala Calerom com uma cara de desânimo. Definitivamente, a idéia de se entregar à Guarda Imperial de Shandar após ter feito o que fez não seria uma ótima idéia.
- Olha, não é nada garantido, mas acho que com um pouco de sorte, você pegaria a prisão perpétua com trabalhos forçados e a pão e água, depois de ter levado 50 chicotadas... Mas tudo bem... Se você se render ao papai, eu prometo que te visitarei todos os dias em sua cela! - Sorri a jovem, pondo a mão esquerda no ombro direito do pirata.
- Cinquenta chicotadas? Esquece... Vamos dar um jeito... - Calerom com uma tremenda gota de preocupação na cabeça, só de pensar no castigo que o aguardaria, se levanta da poltrona e se prepara para abrir a escotilha que dá acesso à sala das máquinas.
Sweety finalmente assume os controles e executa uma série de manobras evasivas.
Embora fosse uma jovem princesa real, ela era também uma hábil pilota, tendo aprendido esta arte - contra a vontade de seus pais - no final de sua infância, superando muitos guerreiros experientes da Guarda de Shandar.
Se a Devilhunter estivesse em melhores condições, teria facilmente despistado seus perseguidores.
Só que a nave pirata já estava por demais lenta para conseguir sucesso.
As naves de patrulha da GP se aproximam perigosamente e começam a disparar munição não-letal contra a Devilhunter pelos seus carregadores lança-mísseis.
Estas cargas de saturação não eram capazes de destruir uma nave inimiga, mas a incapacitavam seriamente, fazendo diminuir sua capacidade de manobras e tornando-a vulnerável a uma abordagem.
A pedido do rei de Shandar à GP, todas as naves encarregadas pela captura do infame Calerom somente tinham ordem para parar e não para destruir a sua nave.
Pois o irado rei Malkin queria ter o prazer de esganar e esfolar vivo o bastardo pirata, para servir de exemplo a quem tentasse levantar um só dedo contra sua filha.
Enquanto Sweety tenta freneticamente se esquivar das rajadas disparadas pelas naves da GP, Calerom procura alterar manualmente as configurações do computador que controla os propulsores da Devilhunter, no compartimento das máquinas.
Fazendo tais gambiarras, ele ganharia mais potência nos motores restantes, embora o risco de acabar o combustível antes do tempo previsto aumentasse perigosamente - sem contar a chance de incêndio acidental.
Mas ele já tinha algo em sua mente astuta e ardilosa...
Quando a Devilhunter parecia estar perdida, repentinamente ela ganha mais empuxo e velocidade e os seus motores impulsionam a combalida nave à sua velocidade máxima. Desconcertadas, as naves da GP tentam alcançá-la inutilmente, enquanto Sweety aproveita a chance para se desviar dos disparos de mísseis.
- Amor, você conseguiu mais uma vez! - Alegra-se a jovem de cabelos castanhos ao ver a nave que comandava se distanciar das suas inimigas no radar.
- Sei, mas isto não é o bastante. Só temos combustível para uma manobra desesperada ou será tudo em vão! - Responde Calerom saindo da sala de máquinas.
- Você não vai dizer que vai fazer "aquilo", não? - Sweety olha desconfiada ao tentar descobrir as intenções de seu parceiro.
- E temos outra alternativa, querida? - Indaga Calerom falando num tom baixo e profundo, ao se dirigir aos compartimentos traseiros da nave.
- Então... Antes da gente fizermos esta última cartada, saiba que te amo, Calerom. Aconteça o que acontecer, eu estarei sempre junto de você. - Diz Sweety lançando um olhar de ternura ao seu companheiro de aventuras.
- E eu também, querida... - Calerom retribui o gesto com um raro sorriso.
Calerom e Sweety trocam um abraço longo e se beijam longamente, antes que o pirata vá com passos rápidos, ao compartimento de cargas.
Embora a Devilhunter tenha recuperado o seu fôlego momentaneamente, mantendo distância do raio de tração das naves inimigas, era evidente de que a caçada estava no fim. Se não diminuísse a potência máxima dos motores, ou a nave ia acabar colidindo com alguma estrela ou planeta, ou ela se incendiaria.
- Dan-Oh-Ki! Venha a mim! - Grita Calerom, mas nada acontece.
- Dan-Oh-Ki! Repete Calerom, gritando por uma segunda, terceira e quarta vez.
- Querido, será que o seu animal de estimação não está... - Sweety já sabe o que vai acontecer logo em seguida. Não era a primeira vez que presenciava aquela cena.
- Dan-Oh-ki! Seu filho de uma coelha leprosa! Desgraçado! Lazarento! Nó-Cego! Verme Vagabundo! Céus, onde estava com a cabeça quando fui arranjar você?
Dan-Oh-Ki era o cabbit de estimação de Calerom, assim como a Ryo-Oh-Ki pertencia à Ryoko.
Os cabbits eram criaturas híbridas, metade gato e metade coelho, e tinham incríveis poderes. Apesar de sua aparência lembrar à de um animal, eles na realidade eram seres de base mineral e podiam assumir diversas formas conforme seus poderes evoluíam, como robôs gigantes e naves espaciais, além de poderem se comunicar por telepatia com os seus mestres.
Contudo, o que a Ryo-Oh-Ki tinha de notável, o seu equivalente masculino para Calerom tinha de medíocre.
Ao contrário da simpática cabbit de Ryoko, Dan-Oh-ki tinha pelos amarelos rajados de preto, era gorducho, preguiçoso e acomodado.
Embora tivesse bastante poder, Dan-Oh-Ki fazia as coisas de má vontade e assim mesmo, só depois de Calerom implorar e ameaçar o bicho várias vezes.
Por causa destes problemas, Calerom decidiu roubar uma nave experimental da Galaxy Police que estava em testes e depois a transformou na Devilhunter.
Contudo, de vez em quando, ainda usava a Dan-Oh-Ki como nave de reserva e de exploração planetária, por ser muito mais manobrável e ágil que os modelos da PG.
Totalmente enfurecido e correndo contra o tempo que estava se esgotando, Calerom encontra o seu Dan-Oh-Ki dormindo numa caixa de cenouras vazias no compartimento de carga.
- Miii...Miii... Miiii... (ZZZ de Cabbit)
- Acorde, Dan-Oh-Ki! Precisamos de você!
O temperamental bucaneiro espacial acorda o preguiçoso cabbit com um providencial chute na bunda. O bicho acorda mal-humorado e em resposta, salta - arranhando a cara do pirata com a maior cara de pau do mundo.
- Escute, Dan-Oh-Ki. Você vem agora para a sala de controle! Estamos numa enrascada grave e precisamos executar a manobra 69! Entendeu? - A vontade de Calerom era a de esganar aquele cabbit glutão e ingrato, mas resolve se conter, afinal precisava dele mais do que qualquer outra coisa neste mundo.
- Growl... - Dan-Oh-Ki se faz de desentendido e finge que não é com ele.
- É uma emergência! - Grita Calerom ao pé do ouvido de Dan-Oh-Ki.
- Miauuuurrrr... - O cabbit se recusa, acenando negativamente com a cabeça.
- Por favor, só mais uma vez... - Calerom muda de tática e faz um tom suplicante, enquanto lágrimas de crocodilo saltam de seus olhos.
Nova recusa.
- Prometo que compro mais cinco caixas de cenouras para você, seu mercenário interesseiro! Mas vamos, preciso de você! - O pirata base no chão com o pé direito de forma desesperada enquanto gotonas de suor caem de sua cabeça.
- Hmmmm? - Os olhos de Dan-Oh-Ki brilham com visível interesse e ele finalmente concorda.
Finalmente Calerom e Dan-Oh-ki chegam na sala de controle. A situação estava crítica e todos os monitores e painéis de manutenção da Devilhunter piscavam numa luz avermelhada, acusando sobrecarga nos motores. Seria agora ou nunca.
- Querido, se ficarmos neste ritmo por mais um minuto, a nave vai explodir! - Agora era a vez de Sweety ficar nervosa, ao ver o perigo iminente se aproximando.
- Fica fria, Sweetie! O Dan concordou em nos dar uma força, Rápido, inicie os procedimentos para o salto hiper-espacial. Aqueles babacas da PG nunca irão nos encontrar! - Sorri Calerom, em tom autoconfiante.
- Mas... Qual as coordenadas de destino? Eu preciso programar... - O motivo da preocupação de Sweety era de que se o salto fosse executado de forma aleatória, a nave correria o risco de se esborrachar em uma estrela ou planeta no processo.
- Sei lá! Inicie antes que a gente vire poeira espacial! - Diz Calerom no seu tradicional jeito de quem não se preocupa com detalhes.
- Não estressa, meu bem! Ah, como você é chato nestas horas, sabia? - Somente o seu amor e o fato de estar ocupada pilotando a nave impediam que a linda princesa aplicasse uma bordoada bem colocada no seu estressado companheiro.
Sweety aciona manualmente os controles e teclando a primeira coordenada que lhe veio à mente, inicia a contagem regressiva para um salto de hiperespaço, procurando redirecionar a nave para o local mais remoto e mais difícil de ser atingido rapidamente pelos seus perseguidores.
Ela precisava fazer isto em questão de segundos antes que as naves inimigas percebessem o que estava acontecendo.
Calerom sorri maliciosamente após colocar um par de luvas de borracha reforçadas e pega um enorme cabo com um "plug" acoplado na ponta.
Era um cabo de força capaz de transmitir energia extra o suficiente para permitir um salto hiper-espacial de emergência. Mas... Quem seria o gerador?
Segurando Dan-Oh-Ki pelas orelhas, o pirata - com um movimento rápido e preciso - acopla o poderoso cabo no traseiro do bicho.
Mal o infeliz cabbit grita de dor, uma quantidade monumental de energia pura é transmitida às reservas da Devilhunter.
Naquele momento, sua companheira termina os procedimentos para o salto hiper espacial e acionando os controles da Devilhunter ao máximo, ela fecha os olhos enquanto a nave vai ganhando mais e mais velocidade. A pressão da gravidade é quase insuportável e apenas os controles estabilizadores do cruzador renegado é que impede dos seus tripulantes serem esmagados.
Numa fração de segundo, as estrelas distantes do céu se tornam riscos luminosos e toda a matéria, todos os átomos dos personagens parecem se tornar translúcidos e etéreos, adquirindo um aspecto totalmente irreal.
Então subitamente, a nau pirata some no espaço, deixando os seus perseguidores desconcertados.
- Senhor, a nau inimiga Devilhunter desapareceu nos nossos sensores! Salto hiper-espacial detectado.- Exclama a voz de um jovem oficial de navegação a bordo da nave líder da GP para seu oficial comandante.
- Inicie os procedimentos de rastreamento. - Responde fleumaticamente o comandante na nave, um senhor de cabelos grisalhos e barba.
- Sim senhor. Realmente eles executaram um salto aleatório de longa distância... Estamos rastreando pelo computador quais os sistemas planetários prováveis aonde eles possam ter fugido.
- Alertem as guarnições destas áreas usando transmissão em código. Em escala prioritária.
- Sim senhor. Procedimentos de aviso comunicados...
Os minutos passam rápidos, enquanto as três naves da PG servem-se de seus poderosos rastreadores para identificar as rotas possíveis de fuga, enquanto elas diminuem o ritmo, já que a sua presa escapara. Mas uma vez...
- Senhor, ao que tudo indica, o nosso alvo escapou para o Sistema Solar, com destino provável à colônia 0315 do Império Jurai... -Diz o oficial de bordo não escondendo o seu desapontamento.
- O quê?! Bem... Infelizmente não podemos agir lá, por ser uma área fora de nossa jurisdição. Em todo caso, contate os oficiais residentes da corporação... - Refeita a surpresa inicial, o seu comandante começa a agir de forma objetiva.
- As oficiais Kiyone Makibi e Mihoshi Kuramitsu? Mas... - Preocupa-se o jovem oficial, conhecendo a fama pregressa da "eficiente" dupla de detetives.
- Não temos outra escolha. Avise-nas imediatamente. - Responde secamente o comandante sem tirar o olho dos monitores.
- Sim senhor. - Resigna-se o oficial de bordo.
Sem muita alternativa, o oficial de navegação começa a transmitir uma mensagem cifrada que passa por inúmeras estações retransmissoras da GP, comunicando a ida dos fugitivos à colônia 0315 do Império Jurai, ou melhor, a Terra.
Enquanto isto, no interior da Devilhunter, enquanto um Dan-Oh-Ki (esgotado e com a bunda quente) mastiga sua recompensa em cenouras, Calerom e Sweety comemoram.
- Conseguimos, querido! - Alegra-se Sweety, abraçando-se ao seu companheiro.
- É. Aqueles babacas vão demorar um tempão até encontrar a gente neste fim de... Ei, onde estamos?- Estranha Calerom ao ver pela janela de sua nave um estranho planeta azulado que nunca vira antes.
- Vou dar uma olhada... O computador de bordo diz que estamos na órbita do terceiro planeta ao redor da estrela chamada Sol.... Trata-se da colônia 0315 do Império Jurai... - Diz Sweety voltando para a poltrona de controle da nave.
- Hummm... Em todo caso, estamos bem longe de qualquer rota conhecida. Vai ser um milagre eles nos...- Diz Calerom aparentemente tranqüilo, mas...
Subitamente, um alarme começa a soar e a Devilhunter começa a perder velocidade velozmente.
- O que foi, queri... - Estranha Sweety ao ver os sistemas de manutenção da nave piscando todos ao mesmo tempo em alerta máximo.
- Esta não! Estamos sem combustível e os nossos motores estão pegando fogo! Acho que forçamos demais a nave nas condições que ela estava! - Exaspera-se Calerom ao ver que o pior acontecera.
- Ai... Só nos resta fazermos o procedimento de aterrissagem forçada, mas, onde? - Sweety fica confusa ao perceber que o planeta não era tão pequeno quanto parecia, além de ser totalmente desconhecido para ela. Aquelas formações azuladas eram algo que nunca tinha visto, mesmo nos planetas vizinhos ao seu.
- Rápido, Sweety, programe logo esta coisa antes que a reentrada na atmosfera transforme esta nave num quibe frito! - Fala Calerom, aludindo a um exótico prato com formato peculiar que uma vez havia comido numa lanchonete espacial - e que quase lhe havia causado uma tremenda desinteria.
- Mas... O que é um quibe? - Pergunta Sweety com sua pureza habitual. Não que ela fosse ignorante, mas o fato é que um quibe era raríssimo de encontrar nos confins da galáxia!
- Esqueça isto, programe nossa aterrissagem em qualquer lugar! Qualquer um!
Enquanto isto, protegido apenas pelos seus debilitados escudos de energia defensivos, a Devilhunter inicia a sua entrada na atmosfera terrestre, caindo a uma grande velocidade...
Escrito por: Calerom
Escrito em: 26/10/2003.
Ultima Revisão: 24/11/2003
myamauchi1969@yahoo.com.br
A LENDA DAS ASAS DO FALCÃO DA LUZ
FanFic escrita por: Calerom
Início: 25/10/2003 - 1a Versão
Final:
E-Mail: myamauchi1969@yahoo.com.br
Créditos:
Série Original, 1a Série de TV: Tenchi Muyo! Chikyuhen!
Tenchi Muyo Universe em Inglês.
Produção: Pioneer LDC/ AIC
Personagens criados por: Masaki Kajishima
Observação:
Esta obra foi feita única e exclusivamente como um fanfic para entretenimento pessoal e dos leitores. Obviamente tanto a série Tenchi Muyo como a sua história e personagens. .
Quaisquer personagens que não constam na série original, ou na adaptação em quadrinhos são de minha criação - exceto pelos caracteres "Calerom Devilhunter" e "Princesa Sweety"
Agradeço a "Sweety" por ter gentilmente cedido o seu avatar para a composição da personagem que aparece nesta fic.
Nota do Autor da Fanfic:
Esta fic se passa após o episódio 26 da Série Tenchi Muyo TV (Tenchi Universe, como é mais conhecido nos EUA) e tanto quanto possível, segue o universo apresentado pela mesma. Ou seja, não espere ver personagens que só aparecem no OVA com os pais da Aeka e Sasami, a mãe de Yosho (Katsuhito), a deusa Tokimi, Yuugi/Sakuya (Tenchi in Tokyo) e outros.
A LENDA DAS ASAS DO FALCÃO DA LUZ
CAPÍTULO 01: SEM NECESSIDADE PARA FUGAS ESPETACULARES.
Em algum lugar do Universo, uma desesperada fuga acontecia.
Perseguida por três naves de patrulha da famosíssima Galaxy Police, um objeto de cor vermelha e negra singrava o vazio do espaço, em desesperada carreira, trocando disparos de laser com suas perseguidoras.
A Galaxy Police (GP) era o órgão máximo da manutenção da lei e da ordem na Via Láctea e era composta pelos melhores agentes de cada sistema solar habitável, formando um esquadrão de elite dedicado a proteger os cidadãos de bem e reprimir o crime em todas as suas formas.
Além de ter várias delegacias e postos de vigilância em cada planeta ou colônia espacial, ela tinha uma vasta frota de espaçonaves com poderio bélico superior ao de muitos planetas, para fins de patrulha e de repressão a bandidos espaciais, piratas, contrabandistas e mercenários de aluguel.
E naquele momento, três de suas naves de patrulha tentavam abordar alguém quem se encontrava à margem da lei e da ordem.
O objeto perseguido era um veloz modelo intergalático de médio porte. Mais exatamente uma nave pirata.
O seu nome era "Devilhunter" e era um cruzador de batalha da classe experimental "Delta", com grande velocidade e armamento poderoso, podendo fazer frente aos poderosos cruzadores da Classe "Yagami" em termos de performance e sendo apenas superada pelos novíssimos Encouraçados classe "Musashi" que estavam sendo incorporados ao arsenal da armada da GP.
Contudo, apesar destas vantagens, a Devilhunter agora estava na defensiva.
Os seus armamentos principais estavam quase sem energia e os canhões-metralhadoras que serviam de armamento secundário mal arranhavam a resistente couraça das naves perseguidoras.
Para piorar a situação, a sua reserva de combustível estava quase se esgotando e apenas seria uma questão de tempo dela ser apresada.
Na cabine de comando da "Devilhunter" uma voz nervosa e excitada se ouvia:
- Pô, Mulligan, você não consegue despistar aquelas banheiras da GP? Ande mais depressa, raios! - Vociferava a voz, enquanto olhos desesperados acompanhavam o curso da nave perseguida e de seus algozes no monitor principal.
- Negativo. Nossa velocidade de cruzeiro é a máxima permitida dada as condições atuais da Devilhunter. - Respondia uma outra voz, em tom sóbrio e com entonação nitidamente metálica.
Mulligan era o módulo de Inteligência Artificial que controlava todos os sistemas de bordo da Devilhunter. Ele era um robozinho que permanecia acoplado num console da cabine principal e era semelhante ao módulo experimental "Yukinojo" desenvolvido pela Academia Espacial de Ciências para a GP. Graças a ele, era possível que uma imensa nave como a Devilhunter pudesse ser controlada por até duas pessoas ou mesmo uma.
Além de exercer a função de navegador, Mulligan também podia controlar os sistemas de defesa e de armas da Devilhunter e também servir como conselheiro tático - fornecendo sugestões de manobras de ataque, planos de fuga e muito mais.
- Mulligan, pelamordedeus! Tente uma manobra de hiper-espaço! Agora! - O tom da voz se tornava mais irritado e dramático, vendo a distância entre seus oponentes diminuírem de forma visível no monitor.
- Negativo, chefe. Nossa velocidade de cruzeiro atual é insuficiente para fazer esta manobra com êxito... Também devo acrescentar que dadas às avarias sofridas pela Devilhunter, as nossas chances de sermos destruídos no processo de hiper-espaço são de 44,95%, o que configura uma... - Tentava argumentar o módulo artificial.
- Ah, vai te catar! - Finaliza a irritada voz, dando uma porrada no módulo de Inteligência Artificial.
- Ai, esta doeu, chefe! O que fiz de errado? -Protesta Mulligan, como se fosse um ser humano de verdade.
- Vá descansar, Mulligan Vou ver o que faço... Querida, por favor, assuma os controles! Temos problemas, vou ter que ir à sala das máquinas!
O dono da voz irritada era Calerom Devilhunter. De estatura média, pele morena, cabelos negros rebeldes e olhos negros; este homem na casa dos 36 anos terrestres estava vestido com uma túnica branca, calças e botas de cor negra e um manto cinza-escuro. Um tapa-olho falso ocultava a sua vista direita. O seu figurinho estava completado com um par de luvas vermelhas e uma bandana fina, da mesma cor.
Sim. Calerom era um pirata espacial. E dos mais procurados.
Ninguém sabe ao certo de onde ele veio e de que planeta ele era.
O certo é que ele ficou subitamente famoso quando havia se associado à outra famosa pirata espacial chamada Ryoko.
Ambos formaram uma guilda de piratas, saqueando inúmeros planetas, colônias espaciais, semeando a destruição e o caos durante três anos, passando a fazer parte dos dez criminosos mais procurados da galáxia.
Contudo, há aproximadamente um ano atrás, ambos os piratas foram emboscados por uma imensa frota da GP no sistema Pegasus, após terem sido atraídos a uma armadilha.
Seguiu-se uma sangrenta batalha espacial, da qual Ryoko conseguiu escapar a duras penas após dizimar várias naves inimigas.
Contudo, a maioria de seus homens morreu ou foi capturada no processo e Calerom foi dado como desaparecido em combate...
Até poucos meses atrás.
O ex-braço direito de Ryoko reapareceu de forma súbita, atacando naves mercantes pouco protegidas e postos comerciais isolados nos confins da galáxia, com a sua ousadia habitual.
E, repetindo as suas performances passadas, seus ataques começaram a ficar mais arrojados e ousados, atraindo novamente a atenção da GP.
Embora fosse um piloto habilidoso, "hacker" de computador, vigarista consumado, e quase tão poderoso quanto a sua ex-chefe, Calerom tinha vários defeitos: O primeiro dele era o de ser autoconfiante demais, quase no ponto de assumir riscos desnecessários. E o segundo, de ser um notório cabeça quente.
Apenas uma outra cabeça quente de maior calibre - a seu ex-chefe Ryoko - é que podia fazê-lo entrar na linha.
Outras peculiaridades de seu caráter constavam o fato dele de ter uma língua afiadíssima, impulsivo, extravagante, um "pouco" mulherengo e facilmente estressável.
Contudo, ele compensava isto com notória fidelidade a seus superiores e comandados, e de ser razoável e sensato quando o assunto não envolvia dinheiro... E mulheres.
O seu ataque mais ousado e que o trouxe novamente ao topo da lista negra da GP foi uma abordagem a uma nave diplomática do Sistema Shandar - aliado político do famoso Império Jurai.
Após uma rápida troca de tiros, Calerom havia invadido esta nave e com a ajuda de disparadores de gás de sono - ele conseguiu dominar a sua tripulação e se apossar dos bens de valor que lá possuíam, além de levar uma refém.
Tudo isto, sem causar uma morte sequer.
E este incidente estava quase lhe custando a sua cabeça.
Pois, se ele soubesse a encrenca que arranjara, ele nunca teria atacado aquela nave praticamente indefesa...
- Espere um pouco querido... Estou quase terminando de me vestir. - Respondia uma voz delicada e feminina. Contudo, apesar disto, ela tinha uma entonação característica da de alguém jovem e que gostava de excitação e aventura.
- Rápido, não temos tempo! - Exaspera-se o pirata.
- Já vai, já vai! Puxa, você sabe ser chato, não? - Responde a voz feminina com ligeiro tom de zanga.
Segundos mais tarde, uma porta blindada se abre e uma figura delicada entra na cabine de controle. Ela tinha estatura de baixa para média, cabelos acastanhados um pouco longos elegantemente presos por uma fita vermelho-escura e trajava naquele momento um prático uniforme colante totalmente negro de piloto espacial.
Era uma linda jovem de olhos verde-castanhos e devia ter entre 17 a 18 anos de idade.
O seu nome era Sweety. Ou Princesa Sweety, filha do rei Malkin, da rainha Yasmin e futura herdeira do trono de Shandar, planeta vizinho de Jurai e seu aliado político.
Sweety vivia tranqüilamente em seu enorme palácio, costruído num enorme oásis que se destacava num deserto arenoso e coberto de montanhas, até o dia em que os seus pais decidiram que já era hora dela pensar em seus futuros deveres como princesa herdeira.
Meio contra a sua vontade, Sweety foi escolhida para ser futura noiva do príncipe Alexei do Planeta Polaris, um nobre efeminado e esnobe, a quem ela não amava.
Esta união havia sido forjada em termos políticos e de conveniência social, para fortalecer a aliança política de Shandar com os sistemas planetários vizinhos
Contudo, o destino dela mudaria radicalmente quando a nave em que ela estava - cujo destino seria um encontro protocolar com o seu futuro noivo - foi repentinamente abordada e saqueada pelo infame pirata espacial Calerom.
Inicialmente a intenção de Calerom era utilizar Sweety como refém para garantir uma fuga perfeita, só que as coisas acabaram acontecendo de outro jeito.
Ambos acabaram de apaixonando e, de cativa, a ex-princesa acabou se tornando companheira e parceira do pirata em suas aventuras pelo espaço.
Só que com este seqüestro, Calerom acabou atraindo não somente a atenção da GP, como também a do irado pai da princesa, que mandou imediatamente uma frota de guerra para resgatar a sua filha e capturar o pirata vivo ou morto. O planeta natal de Alexei se prontificou também a ajudar na caçada ao infame bucaneiro pela sua ousadia.
- Querido, o que houve? - Pergunta Sweety ao sentar na poltrona de comando da Devilhunter e tentar visualizar os inúmeros painéis de controle da nave, enquanto que Calerom abre uma escotilha dentro da cabine, que dá para a Sala das Máquinas.
- Temos três naves da GP em nossa cola! Nós fomos atingidos em cheio e o motor auxiliar não está rendendo como deveria para a gente poder fugir! Se não fizer alguma manha agora, estaremos perdidos! - Diz Calerom tentando manter a nave sob controle, embora as explosões da artilharia inimiga continuassem abalando sua estrutura blindada.
- Eu já disse que esta vida de pirataria não compensa, você deveria arranjar um emprego fixo e mais estável, querido! - Responde Sweety com ligeiro ar de zanga.
- Tudo bem, até concordo com isto, mas tente dizer ao pessoal da GP e ao seu pai... - Calerom abaixa o tom de voz para a sua parceira, temendo irritá-la.
Embora ela gostasse muito dele e geralmente estivesse de bom humor, a pequena beldade de olhos esverdeados sabia também responder à altura. Além de saber como abaixar a crista do temperamental pirata.
- Ah, mas o papai não é tão bravo assim... - Contra-argumenta Sweety.
- Qual é a pena no seu planeta natal para ataque a uma nave diplomática e seqüestro de uma princesa da casa real? - Pergunta Calerom sacando um lenço para limpar o suor que escorre de sua testa.
- Bem... Vejamos... Se não esqueci o que aprendi no meu curso de direito, você seria condenado à morte, depois de levar 99 chicotadas em praça pública... Isto se fosse recusado o pedido de indulto real a que tem direito... - Diz sua parceira em tom de voz sério.
- E... Se você apelasse ao seu velho para obter pra mim um indulto real? - Fala Calerom com uma cara de desânimo. Definitivamente, a idéia de se entregar à Guarda Imperial de Shandar após ter feito o que fez não seria uma ótima idéia.
- Olha, não é nada garantido, mas acho que com um pouco de sorte, você pegaria a prisão perpétua com trabalhos forçados e a pão e água, depois de ter levado 50 chicotadas... Mas tudo bem... Se você se render ao papai, eu prometo que te visitarei todos os dias em sua cela! - Sorri a jovem, pondo a mão esquerda no ombro direito do pirata.
- Cinquenta chicotadas? Esquece... Vamos dar um jeito... - Calerom com uma tremenda gota de preocupação na cabeça, só de pensar no castigo que o aguardaria, se levanta da poltrona e se prepara para abrir a escotilha que dá acesso à sala das máquinas.
Sweety finalmente assume os controles e executa uma série de manobras evasivas.
Embora fosse uma jovem princesa real, ela era também uma hábil pilota, tendo aprendido esta arte - contra a vontade de seus pais - no final de sua infância, superando muitos guerreiros experientes da Guarda de Shandar.
Se a Devilhunter estivesse em melhores condições, teria facilmente despistado seus perseguidores.
Só que a nave pirata já estava por demais lenta para conseguir sucesso.
As naves de patrulha da GP se aproximam perigosamente e começam a disparar munição não-letal contra a Devilhunter pelos seus carregadores lança-mísseis.
Estas cargas de saturação não eram capazes de destruir uma nave inimiga, mas a incapacitavam seriamente, fazendo diminuir sua capacidade de manobras e tornando-a vulnerável a uma abordagem.
A pedido do rei de Shandar à GP, todas as naves encarregadas pela captura do infame Calerom somente tinham ordem para parar e não para destruir a sua nave.
Pois o irado rei Malkin queria ter o prazer de esganar e esfolar vivo o bastardo pirata, para servir de exemplo a quem tentasse levantar um só dedo contra sua filha.
Enquanto Sweety tenta freneticamente se esquivar das rajadas disparadas pelas naves da GP, Calerom procura alterar manualmente as configurações do computador que controla os propulsores da Devilhunter, no compartimento das máquinas.
Fazendo tais gambiarras, ele ganharia mais potência nos motores restantes, embora o risco de acabar o combustível antes do tempo previsto aumentasse perigosamente - sem contar a chance de incêndio acidental.
Mas ele já tinha algo em sua mente astuta e ardilosa...
Quando a Devilhunter parecia estar perdida, repentinamente ela ganha mais empuxo e velocidade e os seus motores impulsionam a combalida nave à sua velocidade máxima. Desconcertadas, as naves da GP tentam alcançá-la inutilmente, enquanto Sweety aproveita a chance para se desviar dos disparos de mísseis.
- Amor, você conseguiu mais uma vez! - Alegra-se a jovem de cabelos castanhos ao ver a nave que comandava se distanciar das suas inimigas no radar.
- Sei, mas isto não é o bastante. Só temos combustível para uma manobra desesperada ou será tudo em vão! - Responde Calerom saindo da sala de máquinas.
- Você não vai dizer que vai fazer "aquilo", não? - Sweety olha desconfiada ao tentar descobrir as intenções de seu parceiro.
- E temos outra alternativa, querida? - Indaga Calerom falando num tom baixo e profundo, ao se dirigir aos compartimentos traseiros da nave.
- Então... Antes da gente fizermos esta última cartada, saiba que te amo, Calerom. Aconteça o que acontecer, eu estarei sempre junto de você. - Diz Sweety lançando um olhar de ternura ao seu companheiro de aventuras.
- E eu também, querida... - Calerom retribui o gesto com um raro sorriso.
Calerom e Sweety trocam um abraço longo e se beijam longamente, antes que o pirata vá com passos rápidos, ao compartimento de cargas.
Embora a Devilhunter tenha recuperado o seu fôlego momentaneamente, mantendo distância do raio de tração das naves inimigas, era evidente de que a caçada estava no fim. Se não diminuísse a potência máxima dos motores, ou a nave ia acabar colidindo com alguma estrela ou planeta, ou ela se incendiaria.
- Dan-Oh-Ki! Venha a mim! - Grita Calerom, mas nada acontece.
- Dan-Oh-Ki! Repete Calerom, gritando por uma segunda, terceira e quarta vez.
- Querido, será que o seu animal de estimação não está... - Sweety já sabe o que vai acontecer logo em seguida. Não era a primeira vez que presenciava aquela cena.
- Dan-Oh-ki! Seu filho de uma coelha leprosa! Desgraçado! Lazarento! Nó-Cego! Verme Vagabundo! Céus, onde estava com a cabeça quando fui arranjar você?
Dan-Oh-Ki era o cabbit de estimação de Calerom, assim como a Ryo-Oh-Ki pertencia à Ryoko.
Os cabbits eram criaturas híbridas, metade gato e metade coelho, e tinham incríveis poderes. Apesar de sua aparência lembrar à de um animal, eles na realidade eram seres de base mineral e podiam assumir diversas formas conforme seus poderes evoluíam, como robôs gigantes e naves espaciais, além de poderem se comunicar por telepatia com os seus mestres.
Contudo, o que a Ryo-Oh-Ki tinha de notável, o seu equivalente masculino para Calerom tinha de medíocre.
Ao contrário da simpática cabbit de Ryoko, Dan-Oh-ki tinha pelos amarelos rajados de preto, era gorducho, preguiçoso e acomodado.
Embora tivesse bastante poder, Dan-Oh-Ki fazia as coisas de má vontade e assim mesmo, só depois de Calerom implorar e ameaçar o bicho várias vezes.
Por causa destes problemas, Calerom decidiu roubar uma nave experimental da Galaxy Police que estava em testes e depois a transformou na Devilhunter.
Contudo, de vez em quando, ainda usava a Dan-Oh-Ki como nave de reserva e de exploração planetária, por ser muito mais manobrável e ágil que os modelos da PG.
Totalmente enfurecido e correndo contra o tempo que estava se esgotando, Calerom encontra o seu Dan-Oh-Ki dormindo numa caixa de cenouras vazias no compartimento de carga.
- Miii...Miii... Miiii... (ZZZ de Cabbit)
- Acorde, Dan-Oh-Ki! Precisamos de você!
O temperamental bucaneiro espacial acorda o preguiçoso cabbit com um providencial chute na bunda. O bicho acorda mal-humorado e em resposta, salta - arranhando a cara do pirata com a maior cara de pau do mundo.
- Escute, Dan-Oh-Ki. Você vem agora para a sala de controle! Estamos numa enrascada grave e precisamos executar a manobra 69! Entendeu? - A vontade de Calerom era a de esganar aquele cabbit glutão e ingrato, mas resolve se conter, afinal precisava dele mais do que qualquer outra coisa neste mundo.
- Growl... - Dan-Oh-Ki se faz de desentendido e finge que não é com ele.
- É uma emergência! - Grita Calerom ao pé do ouvido de Dan-Oh-Ki.
- Miauuuurrrr... - O cabbit se recusa, acenando negativamente com a cabeça.
- Por favor, só mais uma vez... - Calerom muda de tática e faz um tom suplicante, enquanto lágrimas de crocodilo saltam de seus olhos.
Nova recusa.
- Prometo que compro mais cinco caixas de cenouras para você, seu mercenário interesseiro! Mas vamos, preciso de você! - O pirata base no chão com o pé direito de forma desesperada enquanto gotonas de suor caem de sua cabeça.
- Hmmmm? - Os olhos de Dan-Oh-Ki brilham com visível interesse e ele finalmente concorda.
Finalmente Calerom e Dan-Oh-ki chegam na sala de controle. A situação estava crítica e todos os monitores e painéis de manutenção da Devilhunter piscavam numa luz avermelhada, acusando sobrecarga nos motores. Seria agora ou nunca.
- Querido, se ficarmos neste ritmo por mais um minuto, a nave vai explodir! - Agora era a vez de Sweety ficar nervosa, ao ver o perigo iminente se aproximando.
- Fica fria, Sweetie! O Dan concordou em nos dar uma força, Rápido, inicie os procedimentos para o salto hiper-espacial. Aqueles babacas da PG nunca irão nos encontrar! - Sorri Calerom, em tom autoconfiante.
- Mas... Qual as coordenadas de destino? Eu preciso programar... - O motivo da preocupação de Sweety era de que se o salto fosse executado de forma aleatória, a nave correria o risco de se esborrachar em uma estrela ou planeta no processo.
- Sei lá! Inicie antes que a gente vire poeira espacial! - Diz Calerom no seu tradicional jeito de quem não se preocupa com detalhes.
- Não estressa, meu bem! Ah, como você é chato nestas horas, sabia? - Somente o seu amor e o fato de estar ocupada pilotando a nave impediam que a linda princesa aplicasse uma bordoada bem colocada no seu estressado companheiro.
Sweety aciona manualmente os controles e teclando a primeira coordenada que lhe veio à mente, inicia a contagem regressiva para um salto de hiperespaço, procurando redirecionar a nave para o local mais remoto e mais difícil de ser atingido rapidamente pelos seus perseguidores.
Ela precisava fazer isto em questão de segundos antes que as naves inimigas percebessem o que estava acontecendo.
Calerom sorri maliciosamente após colocar um par de luvas de borracha reforçadas e pega um enorme cabo com um "plug" acoplado na ponta.
Era um cabo de força capaz de transmitir energia extra o suficiente para permitir um salto hiper-espacial de emergência. Mas... Quem seria o gerador?
Segurando Dan-Oh-Ki pelas orelhas, o pirata - com um movimento rápido e preciso - acopla o poderoso cabo no traseiro do bicho.
Mal o infeliz cabbit grita de dor, uma quantidade monumental de energia pura é transmitida às reservas da Devilhunter.
Naquele momento, sua companheira termina os procedimentos para o salto hiper espacial e acionando os controles da Devilhunter ao máximo, ela fecha os olhos enquanto a nave vai ganhando mais e mais velocidade. A pressão da gravidade é quase insuportável e apenas os controles estabilizadores do cruzador renegado é que impede dos seus tripulantes serem esmagados.
Numa fração de segundo, as estrelas distantes do céu se tornam riscos luminosos e toda a matéria, todos os átomos dos personagens parecem se tornar translúcidos e etéreos, adquirindo um aspecto totalmente irreal.
Então subitamente, a nau pirata some no espaço, deixando os seus perseguidores desconcertados.
- Senhor, a nau inimiga Devilhunter desapareceu nos nossos sensores! Salto hiper-espacial detectado.- Exclama a voz de um jovem oficial de navegação a bordo da nave líder da GP para seu oficial comandante.
- Inicie os procedimentos de rastreamento. - Responde fleumaticamente o comandante na nave, um senhor de cabelos grisalhos e barba.
- Sim senhor. Realmente eles executaram um salto aleatório de longa distância... Estamos rastreando pelo computador quais os sistemas planetários prováveis aonde eles possam ter fugido.
- Alertem as guarnições destas áreas usando transmissão em código. Em escala prioritária.
- Sim senhor. Procedimentos de aviso comunicados...
Os minutos passam rápidos, enquanto as três naves da PG servem-se de seus poderosos rastreadores para identificar as rotas possíveis de fuga, enquanto elas diminuem o ritmo, já que a sua presa escapara. Mas uma vez...
- Senhor, ao que tudo indica, o nosso alvo escapou para o Sistema Solar, com destino provável à colônia 0315 do Império Jurai... -Diz o oficial de bordo não escondendo o seu desapontamento.
- O quê?! Bem... Infelizmente não podemos agir lá, por ser uma área fora de nossa jurisdição. Em todo caso, contate os oficiais residentes da corporação... - Refeita a surpresa inicial, o seu comandante começa a agir de forma objetiva.
- As oficiais Kiyone Makibi e Mihoshi Kuramitsu? Mas... - Preocupa-se o jovem oficial, conhecendo a fama pregressa da "eficiente" dupla de detetives.
- Não temos outra escolha. Avise-nas imediatamente. - Responde secamente o comandante sem tirar o olho dos monitores.
- Sim senhor. - Resigna-se o oficial de bordo.
Sem muita alternativa, o oficial de navegação começa a transmitir uma mensagem cifrada que passa por inúmeras estações retransmissoras da GP, comunicando a ida dos fugitivos à colônia 0315 do Império Jurai, ou melhor, a Terra.
Enquanto isto, no interior da Devilhunter, enquanto um Dan-Oh-Ki (esgotado e com a bunda quente) mastiga sua recompensa em cenouras, Calerom e Sweety comemoram.
- Conseguimos, querido! - Alegra-se Sweety, abraçando-se ao seu companheiro.
- É. Aqueles babacas vão demorar um tempão até encontrar a gente neste fim de... Ei, onde estamos?- Estranha Calerom ao ver pela janela de sua nave um estranho planeta azulado que nunca vira antes.
- Vou dar uma olhada... O computador de bordo diz que estamos na órbita do terceiro planeta ao redor da estrela chamada Sol.... Trata-se da colônia 0315 do Império Jurai... - Diz Sweety voltando para a poltrona de controle da nave.
- Hummm... Em todo caso, estamos bem longe de qualquer rota conhecida. Vai ser um milagre eles nos...- Diz Calerom aparentemente tranqüilo, mas...
Subitamente, um alarme começa a soar e a Devilhunter começa a perder velocidade velozmente.
- O que foi, queri... - Estranha Sweety ao ver os sistemas de manutenção da nave piscando todos ao mesmo tempo em alerta máximo.
- Esta não! Estamos sem combustível e os nossos motores estão pegando fogo! Acho que forçamos demais a nave nas condições que ela estava! - Exaspera-se Calerom ao ver que o pior acontecera.
- Ai... Só nos resta fazermos o procedimento de aterrissagem forçada, mas, onde? - Sweety fica confusa ao perceber que o planeta não era tão pequeno quanto parecia, além de ser totalmente desconhecido para ela. Aquelas formações azuladas eram algo que nunca tinha visto, mesmo nos planetas vizinhos ao seu.
- Rápido, Sweety, programe logo esta coisa antes que a reentrada na atmosfera transforme esta nave num quibe frito! - Fala Calerom, aludindo a um exótico prato com formato peculiar que uma vez havia comido numa lanchonete espacial - e que quase lhe havia causado uma tremenda desinteria.
- Mas... O que é um quibe? - Pergunta Sweety com sua pureza habitual. Não que ela fosse ignorante, mas o fato é que um quibe era raríssimo de encontrar nos confins da galáxia!
- Esqueça isto, programe nossa aterrissagem em qualquer lugar! Qualquer um!
Enquanto isto, protegido apenas pelos seus debilitados escudos de energia defensivos, a Devilhunter inicia a sua entrada na atmosfera terrestre, caindo a uma grande velocidade...
Escrito por: Calerom
Escrito em: 26/10/2003.
Ultima Revisão: 24/11/2003
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