CAPÍTULO 04 - SEM NECESSIDADE PARA CARTÕES DE CRÉDITO INTERGALÁTICOS

O Sol já havia se posto e a noite começava a tingir com seus tons negros e azulados o céu de Okayama, interior do Japão.

A pequena Washu estava ainda no seu laboratório interdimensional construído no armário de sapatos da família dos Masaki.

Como ela havia conseguido fazer aquilo em tão pouco tempo, ninguém sabia e ninguém queria arriscar-se a saber.

O gênio quase insano da garotinha de cabelos avermelhados e pontiagudos conseguiu tornar o local enorme a ponto de qualquer um que se atrevesse a entrar que não fosse ela, se perdesse lá dentro.

Neste complexo científico existiam inúmeros laboratórios, câmaras de testes, depósitos de materiais raros, artefatos perigosos e geradores de energia diversos, bem como os aposentos pessoais da aloprada cientista e de suas criações pessoais: A sua fiel assistente robótica Mecha-Washu e as bonecas "Washuzettes", que a incentivavam em momentos em que seu enorme ego científico não estava em alta.

- Hahahahaha! Está quase pronto! Mais um pouco, e o meu sistema rastreador irá entrar em operação! Ninguém pode comigo! - Gargalha a pequena Washu.

- Mestra Washu, o rastreador ciclotrônico está perfeitamente operacional. Todos os testes-beta tiveram sucesso. - Responde com uma ligeira inflexão metálica na voz o clone robótico da ex-presidente da Academia Galáctica de Ciências.

- Obrigada, Mecha-Washu, agora eu...

TOC! TOC!

A jovem de cabelos vermelhos se desconcentra momentaneamente ao ouvir o som seco e firme de duas batidas na porta, afastando-a momentaneamente do seu universo interior de abstrações matemáticas e pensamentos científicos quase insanos - trazendo-a de volta à trivial realidade que a cercava.

- Quem é? - Diz a garota baixinha de cabelos vermelhos e ligeiramente irritada pela interrupção.

- Sou eu, Washu-chan, a Sasami! Eu vim te avisar que o banho onsen está pronto e que a Ryoko-neechan e a Aeka-Neechan já estão indo para lá - Diz uma voz delicada e doce, pertencente a uma menina de cabelos azuis longos e olhos cor-de-rosa, com a cabbit Ryo-Oh-Ki em cima de sua cabeça.

- Oh, Kami-sama! Mais uma vez, eu fiquei distraída como sempre! Tudo bem, vou pegar as minhas roupas de banho e estarei indo lá. Obrigada por me avisar, Sasami! - Diz a excêntrica inventora.

- Tudo bem... - Diz Sasami, voltando para o banheiro.

- Mestra Washu, eu tomei a liberdade de trazer suas roupas, bem como os seus apetrechos - Aparece rapidamente Mecha-Washu trazendo uma bacia com vários sabonetes e sais de banho, duas toalhas limpas e uma muda de roupa ciberneticamente lavada, passada e perfumada - por sinal, completamente idêntica ao uniforme de cientista que a Washu estava acostumada a usar há séculos.

Embora fosse um pouco vaidosa e também gostasse de coisas bonitas, Washu temia perder tempo demais em frente ao espelho e, para as tarefas do dia a dia, preferia usar o seu mais que manjado uniforme da Academia Espacial de Ciências, embora o seu armário virtual estivesse cheio de lindos vestidos e peças de roupa que ela muito raramente usava.

Temendo deixar as outras garotas irritadas, Washu pega as suas coisas e, com passos ligeiros vai na direção à imensa porta do seu laboratório interdimensional, que ficava trancado quando ela não estava, até por motivos de segurança.

Uma certa ocasião, durante uma visita do final de semana, a atrapalhada Mihoshi havia entrado sem querer no imenso complexo científico, e por pouco não ocasiona uma catástrofe ao libertar um monstro espacial que havia sido criado por engenharia genética.

Tenchi, Ryoko, Aeka, Kiyone e Washu tiveram muita dificuldade para colocar o monstrengo de volta na câmara de contenção.

- Tudo bem, Mecha-Washu. Assuma o comando dos testes do laboratório e não saia daqui até eu voltar da janta! Estou indo agora tomar banho com as meninas.

- Afirmativo, minha Mestra.

Assim que a cientista se dirige à porta hermeticamente trancada, Mecha-Washu senta-se na poltrona e começa a observar a mais recente invenção criada pela brilhante cientista:

Um potente rastreador galáctico de sinais - um misto de radar, sonar e aparelho capaz de captar, rastrear e decodificar qualquer sinal de presença extraterrestre no planeta Terra e em seus arredores.

Conectado a um pequeno monitor de tela plana e um teclado com botões coloridos, este singular dispositivo tinha uma potência infinitamente superior a todos os instrumentos de rastreamento e detecção de sinais existentes no mundo todo, estando muito além da tecnologia disponível pela NASA e outras agências espaciais.

Não se sabe exatamente quais os motivos que levaram a pequena cientista a dedicar o seu precioso tempo e intelecto neste rastreador.

Talvez fosse por puro capricho, uma maneira de passar o tempo ou quem sabe, uma medida preventiva para evitar o incidente ocorrido há tempos atrás, quando uma nave juraiana a mando de Kagato apareceu de surpresa para levar as princesas Aeka e Sasami (Ryoko foi também presa de bobeira após ter se identificado como pirata espacial) presas para Jurai.

Contudo, a engenhoca também tinha utilidades práticas... Ela serviria como uma preciosa ajuda para as naves de Ryoko e Aeka eventualmente decolarem de Okayama em segurança, sem interferir no tráfego aéreo da região, bem como seria uma mão na roda para as policiais Kiyone e Mihoshi fazerem suas esporádicas rondas pelo Sistema Solar, atendendo a ocorrências.

- Hummm... O que irei fazer a noite? Já sei! Acho que vou retomar aquele projeto de restaurar a nave da Mihoshi, que até hoje fiquei devendo a ela!... - Diz Washu totalmente absorta em seus pensamentos.

De repente, uma luz esverdeada se acende no monitor do rastreador galático recém-terminado. Mecha-Washu rapidamente nota isto e decide ver.

- Mestra Washu, a sua invenção funcionou! Espere! Um sinal fortíssimo vindo do espaço! Mestra...O rastreador! - Os olhos da duplicata robótica da cientista notam algo de incomum na tela e decide alertar sua criadora.

- Depois eu olho! Fui! - Diz Washu sem a menor paciência.

- Mestra Washu, espere!

Mas para o azar da sua fiel auxiliar robótica, Washu já tinha saído do laboratório e a porta do mesmo fecha-se, selando o complexo científico inteiro.

- Mestra Washu... Bem, deixa para lá... O meu dever é completar os experimentos de minha criadora enquanto ela cuida de suas necessidades humanas... Deixe-me ver...

Uma quantidade enorme de dados e gráficos coloridos surge na tela do monitor computadorizado da genial cientista juraiana, que mostra uma representação holográfica da terra bem como a de uma pequena espaçonave em trajetória de queda, com seu vôo representado por um gráfico em 3D.

"Objeto voador caindo a grande velocidade...";

"Motivo provável: Avarias no motor e falta de combustível, ocasionado por salto hiperespacial arriscado";

"Procedência: Algum lugar não confirmado do 6o Quadrante do Sistema Algol...";

"Identificação do Objeto: Desconhecido, porém evidências físicas fazem acreditar que seja um protótipo pertencente à Polícia Galática";

"Tempo de Impacto: Estimado em 9 minutos e 58 segundos";

"Local de Impacto: Okayama, Japão, mais exatamente nas montanhas que circundam a cidade";

"Probabilidade de risco para a população local: 0,05%";...

Enquanto isto, a milhares de quilômetros acima, a desconhecida nave detectada pela engenhoca da Washu inicia uma corrida contra o tempo.

Era a "Devilhunter" iniciando uma desesperada aterrissagem forçada, na colônia 0315 de Jurai, mais conhecida como Planeta Terra.

Os foragidos aventureiros espaciais: Calerom, Sweety e Dan-Oh-Ki - auxiliados pelo computador Mulligan - tentam controlar como podem a nave, totalmente desgovernada.

O motivo do descontrole é que, após ter sido seriamente avariado durante uma fuga contra naves de patrulha da GP, o cruzador experimental Devilhunter acabou tendo os motores sobrecarregados numa tentativa louca de saldo hiper-espacial, que os conduziu até a esta região remota da Via Láctea.

- Querido, já tentei de tudo, mas os controles não reagem mais... - Diz, preocupada a co-pilota da nave, a princesa Sweety, suposta refém do pirata Calerom, mas que na verdade se tornara sua parceira, após ter gostado dele.

- Pô, Mulligan, acione os freios de emergência, se continuarmos caindo deste jeito iremos nos esborrachar na superfície! - Diz impaciente, o bucaneiro espacial Calerom, ex-braço direito da Ryoko e um dos 10 fugitivos mais procurados da galáxia, após o seqüestro da Princesa.

- Miauuuurrrr! - Exclama nervoso o cabbit Dan-Oh-Ki, o mascote de Calerom, visivelmente nervoso por causa do barulho dos intrumentos de bordo.

- Afirmativo, mestre, mas já fizemos todos os procedimentos que podíamos. A nave está sem potência nos motores auxiliares e quase sem combustível... - Responde com uma entonação metálica na voz, Mulligan, o robô responsável pelo controle da complexa espaçonave da GP que foi roubada pelo ardiloso pirata.

- Ei, e se a gente pedir para o Dan-Oh-Ki se transformar em nave e a gente ejetar? - Sugere Sweety, se lembrando dos poderes do temperamental cabbit.

- Bem que gostaria, mas se fizermos isto neste momento, a fricção da reentrada na atmosfera irá nos matar antes que ele consiga se transformar numa... É isso! - Os olhos de Calerom brilham e ele reconhece o acerto da idéia de sua adorável princesa.

- O que foi, amor? - Pergunta Sweety, intrigada.

- Depressa! Sweetie, Dan e Mulli, vamos até o compartimento de carga, esta é a nossa última chance. - Diz Calerom fazendo os últimos preparativos para a aterrissagem forçada e saindo subitamente do seu assento.

O desventurado quarteto sai correndo da sala de controle, deixando o piloto automático de pouso ligado, até o enorme compartimento de carga da Devilhunter, que ficava na metade inferior da belonave.

Lá, Calerom tenta convencer Dan-Oh-ki a se transformar em nave espacial - para que todos possam refugiar-se do impacto, só que sem mais cenouras a bordo, fica difícil... O cabbit amarelado era mais teimoso do que uma mula.

Sweety resolve o complicado dilema dando um doloroso pontapé no traseiro do bicho e ele finalmente se transforma numa enorme estrutura metálica semelhante à nave de Ryoko, com alguns detalhes diferentes.

Mais do que depressa, Calerom, Sweety e Mulligan entram dentro de Dan-Oh-Ki e se preparam para o pior.

A veloz reentrada na atmosfera faz com que o cruzador de batalha Devilhunter atinja temperaturas elevadíssimas, mas a resistente estrutura avançada da nave feita com o metal tectite resiste como pode.

O único problema seria o momento da queda final, já que os retrofoguetes do cruzador de batalha estavam avariados pelos danos da última batalha e a descida não podia de qualquer forma ser amenizada.

Vista do lado de fora, a Devilhunter parecia um meteoro ou estrela cadente, por causa do brilho gerado pelo calor infernal.

E era desta forma que os observatórios de todo mundo o viram, já que o cruzador de batalha estava com os seus geradores de contramedidas eletrônicas ainda ligados - iludindo os primitivos sistemas de radar e os telescópios dos humanos...

Só que isto não foi o suficiente para enganar o rastreador intergalático inventado por uma jovem cientista juraiana com milênios de existência, já que ela havia criado vários códigos de identificação que iriam ser usados por diversos tipos de naves espaciais que singravam a Via Láctea.

A dupla de piratas espaciais e seu companheiro cibernético estavam esperando pelo momento doloroso do impacto final.

Era de se esperar um choque imenso e talvez eles sofressem alguns dolorosos impactos e escoriações, apesar dos cintos de segurança reforçados existentes na primeira nave de Calerom.

Contudo, nada disto aconteceu.

Ao invés de uma aterrissagem seca, dura e dolorosa, tudo o que se viu foi um sonoro "Splash".

Splash?

- Ué, querido, o que aconteceu? - Diz Sweety surpresa, retirando o seu capacete de controle.

- Sei lá... Pensei que a gente fosse se espatifar no chão ou bater numa montanha ou ainda... - Estranha Calerom, fazendo o mesmo.

- Ao que parece, nós pousamos em cima de uma enorme massa líquida do elemento conhecido por água, ou H2O.... Calculando estimativas iniciais: Extensão do elemento... 500 metros terrestres de extensão por 350 metros de largura... Profundidade Média: 25 metros terrestres... Profundidade Máxima: 45 metros... - Diz Mulligan acionando os seus computadores internos.

- E daí, Mulli? Isto significa que... - Calerom não entende a princípio o que acontecera.

- Precisamos sair imediatamente daí! A Devilhunter começou a fazer água e estamos rapidamente afundando... - Diz Mulligan em evidente tom de desespero, se é que isto é possível para um computador.

- O que é? - Sweety fica incrédula, mas um ruído líquido audível nos compartimentos exteriores é mais do que suficiente para provar a verdade para os três.

- Rápido, vamos acionar o dispositivo de teleporte do Dan-Oh-Ki! - Diz Calerom se levantando o mais rápido possível do banco, após soltar seu cinto de segurança. Sua parceira faz o mesmo.

A jovem Sweety aperta uma seqüência rápida de teclas na tela de comando principal e imediatamente um raio espiralado de cor vermelho-clara faz com que a dupla de humanos e o robozinho saiam a tempo da Devilhunter, que afunda lentamente no lago aonde pousara.

Após isto, Dan-Oh-Ki aciona o seu poder mutante e se transforma numa pequena bola de energia, saindo por último da nave.

Quando os dois humanos e o robô ficam a salvo na margem da imensa massa líquida, ou melhor, de um dos lagos que circundavam Okayama - Calerom vê com imenso pesar a sua amada Devilhunter afundar lentamente pelo seu peso...

- Não! Minha querida nave de batalha! Isto não pode acabar deste jeito! Levei meses para planejar o roubo desta... - Diz ele, mal reprimindo suas lágrimas.

- Tudo bem, querido, depois a gente dá um jeito de recuperá-la. O importante é que estamos vivos e inteiros. - Tenta consolar Sweety abraçando-o na cintura.

- Realmente... As nossas chances de sairmos sem ferimentos desta aterrissagem forçada eram de apenas 37,85% - dadas as atuais circunstâncias... - Diz Mulligan não aparentando nenhuma emoção no momento, embora ele pudesse simular isto, dependendo das circunstâncias.

- Pô, mas nossos suprimentos ficaram lá dentro da nave, incluindo roupas extras, comida e tudo o mais! E para piorar, estamos perdidos num planeta que nunca passei na minha vida! - Descabela-se o irritável e temperamental pirata, que só não ficou exaltado porque gostava muito de sua parceira.

- Correção, mestre. Mas pelo menos, os meus sensores indicam que a colônia 0315 de Jurai, mais conhecida como Planeta Terra é adequada para a sobrevivência humana, segundo minhas análises preliminares... - Comenta o computador falante.

- Bah, deixe suas considerações para depois, Mulligan! - Diz Calerom irritado com as manias detalhistas e científicas de seu assessor cibernético, dando um novo soco nele.

- Ai, esta doeu de novo, chefe! - Ironicamente a dor foi uma das primeiras coisas humanas que Mulligan aprendeu a deduzir, a partir das porradas que levava.

- Querido, vamos ver se encontramos um lugar seguro para nos abrigarmos... Pelo visto, o Sol deste planeta já se pôs... E esta vegetação... É bem diferente dos planetas que já visitamos, será que? - Sweety fica apreensiva ao ver o escurecer da noite e a novidade de estar num lugar totalmente desconhecido para ela.

- Ei, falando nisto, cadê o Dan? - Estranha Calerom, notando a ausência do seu cabbit;

- Miaurrrr!

O cabbit gordo e folgado cai em cima da cabeça de Calerom, pondo-o no chão.

E, de sacanagem, Dan-Oh-ki ainda arranha a face do seu dono como castigo por não ter ainda pago a sua recompensa integral em cenouras prometida...

Este vegetal tão apreciado pela raça cabbit era raríssimo de se encontrar pela galáxia e valia uma fortuna nos mercados planetários. Calerom havia gasto boa parte de suas economias numa feira galática para satisfazer a gula do seu bicho.

- Pô, Dan, eu prometi para você que iria te recompensar, mas dá um tempo, cara! - Diz Calerom enquanto tenta inutilmente arrancar Dan-Oh-Ki e suas garras de sua cabeça.

- Growll... - Rosna o preguiçoso animal.

- É isto aí, senhor Dan-Oh-Ki. Depois o teu mestre vai dar um jeito de arranjar... Aqueles estranhos vegetais amarelados que você tanto gosta... ugh... - Diz Sweety estranhando o estranho hábito do cabbit comer dezenas e dezenas de caixas daquele singular espécime vegetal.

- Ei, Mulli, você encontrou algum sinal de presença viva pelos teus sensores? - Diz Calerom passando a mão de leve nas arranhaduras deixadas pelo seu temperamental bicho.

- Existem 100% de chances de existirem formas de vida neste planeta... Já detectei sinais de microorganismos, insetos e pequenas formas orgânicas num raio de 100 metros.

- E o que o teu banco de dados diz? - Pergunta o pirata, olhando torto para o robozinho que era tão pedante como um sábio da Academia Galátctica.

- Infelizmente o meu software com relação ao chamado Sistema Solar e a Colônia 0315 está defasado em sete séculos... - Constata com pesar, o sofisticado sistema de IA ambulante.

- Sete séculos? O que aconteceu naquela época? - Pergunta Calerom curioso, já que História nunca foi o forte dele.

- A colônia 0315 estava num estágio atrasadíssimo de civilização e o então Império Jurai chegou-o a escolher para exilar a cientista louca Washu, após ela ter causado uma devastação sem precedentes e... - Começa a lembrar Mulligan, vasculhando os seus bancos de dados sobre esta época.

- Esquece, mais alguma coisa? - Calerom estava obviamente insatisfeito com tanta informação irrelevante.

- Existem rumores de que foi neste quadrante que a nave do cavaleiro Yosho foi vista pela última vez e... - Comenta Mulligan.

- Yosho, quem é este cara? - Pergunta Calerom, ao sentir um arrepio inconsciente percorrer a sua alma.

- Um lendário cavaleiro Juraiano que derrotou um grande mal há sete séculos terrestres atrás. Só que ele desapareceu misteriosamente de Jurai. É o que informa os meus bancos de dados... - Comenta Mulligan, também insatisfeito com a escassez de seu banco de dados.

- Alguém mais passou por aqui? Tem algum dado que nos possa ser útil? - Insiste Calerom, tentando reunir o máximo de informações possível.

- Só disponho das informações coletadas pela última expedição juraiana empreendida pelo capitão Yan em 1385... Eu te avisei para que comprasse um guia atualizado naquela última vez que passamos no planeta Thesaurus, lembra? - Diz Mulligan, alfinetando o comodismo de seu mestre.

- Errr... Tudo bem, tudo bem, Mulli, peço desculpas, mas o fato é que nunca pensei que a gente fosse dar as caras neste canto desgraçado da galáxia... O local é tão fora de mão que... - Calerom faz um sorriso amarelo e tenta se defender.

- Não se preocupe, mestre Calerom, o meu avançado sistema de Inteligência Artificial permite que atualize os meus dados conforme meus sensores detectem novas evidências... - Mulligan sente-se vitorioso desta vez e mostra que ele não era nem um pouco modesto.

- Seiseisei, Mulli... - Diz Calerom começando a ficar de saco cheio.

- Miaurrrr! - Rosna Dan-Oh-Ki, nervoso com alguma coisa que sentira com o seu instinto animal.

- Bem, deixa para lá, querido, o que iremos fazer? - Pergunta Sweety, pondo sua mão direita no ombro do pirata.

- Vamos ver o que temos à mão - além do Mulli e do Dan - para traçarmos nossa estratégia. Hummm... a minha pistola de raios e a rapier estão inteiras... Assim como os dispositivos do meu cinturão e a capa... Que sorte! Ainda tenho o meu cartão de crédito intergaláctico intacto e o meu desativador de alarmes!... - Comenta Calerom revistando o seu equipamento que trazia consigo mesmo.

- Do meu lado tenho os meus disparadores de fótons, o meu relógio multi-função e o intercomunicador... E uma caixinha das pastilhas "Vallys" sabor cereja de Antares e as minhas jóias... - Constata Sweety, após um rápido exame visual.

- Mas o que iremos fazer com estas jóias? - Pergunta Calerom, totalmente sem graça.

- Esqueceu que sou uma princesa, amor? Elas me foram dadas de presente pela minha mãe, Yasmin... - Responde a princesa shandariana, que apesar de ser doce e amável, também tinha as suas vontades.

- Sweetie, acho que a nossa prioridade, além de arranjarmos um lugar seguro é... - Diz Calerom num tom de voz todo sério.

- Sim, querido? - Sweety ouve o seu parceiro com toda a atenção do mundo.

- Mestre Calerom. - concorda Mulligan, intrigado com o significado que Calerom estava querendo dar à sua frase.

- Miau? - Pergunta Dan-Oh-Ki.

Calerom faz um estratégico silêncio dramático pensando em algo para empolgar e motivar seus companheiros. Só que antes de dizer alguma coisa, um sonoro "RONC!" é escutado, rompendo a expectativa geral.

- Arranjarmos um rango pra gente comer... - Diz ele, fazendo um sorriso amarelo.

Sweety, Mulligan e Dan-Oh-Ki caem de costas com enormes gotonas na cabeça.

Enquanto isto, num modesto apartamento do bairro industrial de Okayama, duas conhecidas figuras se preparam para sair. No quarto, ambas estavam trocando suas roupas de trabalho pelos trajes de serviço de sua real função: A de agentes da supereficiente e legendária Polícia Galática.

A jovem Kiyone Makibi naquele momento estava somente de sutiã e calcinha, o mesmo ocorrendo com sua amiga Mihoshi Kuramitsu. A jovem de cabelos esverdeados e pele clara estava com um conjunto vermelho-vinho, e se preparava para vestir o seu uniforme de oficial; enquanto que a sua amiga loira de pele amorenada usava um conjunto de lycra amarelo-claro, e iria fazer o mesmo naquele momento.

- E então, Kiyone-chan, o que foi aquele chamado da central? - Pergunta a atrapalhada loira tendo reparado que sua parceira estava silenciosa desde aquele telefonema na loja do Sr. Nabeshima e não falara em mais nada, desde que voltaram do serviço.

- Hummm... Isto não é muito comum... Bem... Mas...- Kiyone estava concentrada em uma tempestade de pensamentos conflitantes, enquanto terminava de colocar a sua calça e se preparava para calçar as meias em seus delicados pés.

- Kiyone-chan? - Insiste Mihoshi, curiosa como sempre, sem perceber que tinha esquecido de fechar o botão de sua calça, enquanto tentava abotoar a sua túnica de maneira errada.

- Mas se nós formos bem sucedidas, minha cara Mihoshi, a gente terá no mínimo mais uma promoção. - Murmura a sua colega, terminando de colocar a sua túnica e ajustando a gravata do uniforme.

- Kiyone? - Estranha Mihoshi enquanto ela faz o mesmo com o colete da veste da GP, ao mesmo tempo em que ela começa a fazer um nó errado na gravata.

- E poderemos dizer adeus aos nossos problemas financeiros!! O-hohoho!! - Exclama Kiyone num raro estado de empolgação. Mihoshi fica assustada ao ver os olhos exageradamente enormes de sua amiga refletindo o simbolo do iene dentro deles.

- Sério? - Diz a simplória policial enquanto calça os seus sapatos e termina de ajustar o seu cubo de controle da GP, um apetrecho estilo mil utilidades, transmutando-o no "pompom" atrás de sua calça.

- Olhe, Mihoshi, a central nos alertou que uma nave perseguida pela PG foi vista dando um salto hiper-espacial em direção ao nosso Sistema Solar, E se tratam de duas pessoas altamente procuradas! - Kiyone volta ao seu ar sério de costume e termina de ajustar a faixa vermelha na testa que era a sua marca registrada, antes de colocar as suas luvas da mesma cor.

- Quem são eles, Kiyone? - Mihoshi tenta fazer o mesmo com as suas luvas brancas, mas de tão atrapalhada que é, não percebe que estava usando os pares do avesso.

- O infame Calerom Devilhunter e a infeliz Princesa Sweety de Shandar, que foi raptada por ele! - Diz Kiyone olhando de maneira teatral e dramática para sua amiga.

- Sinceramente não os conheço. - Responde simploriamente a loira, colocando o seu quepe um pouco torto sobre a vasta cabeleira dela.

A linda policial de cabelos verdes e olhos azuis cai no chão com uma gotona na cabeça. Só uma cabeça de vento como sua parceira para não descobrir que se tratava do infame ex-braço direito da pirata Ryoko e da princesa-herdeira do trono de Shandar, desaparecida há exatos seis meses atrás.

- Onde será que já vi estes nomes?... - Diz Mihoshi tentando forçar ao máximo os pobres neurônios de seu cérebro, esquecida como sempre.

- MI-HO-SHI! Onde você esteve nos três últimos anos? Nunca ouviu falar do terrível pirata Calerom que desapareceu na Batalha do Sistema Pegasus e da jovem princesa do incidente da nave diplomática de Shandar que iria... - Diz sua parceira tentando se conter para não xingá-la de todos os modos que conhecia.

- Bem... Antes de virar a sua parceira, eu estava trabalhando no setor de cadastro dos fugitivos espaciais... Entre outros doze departamentos que o vô me indicou, mas sinceramente, não me lembro de ter ouvido estes nomes... - Comenta Mihoshi, aludindo ao fato do seu avô ser o supremo comandante da Galaxy Police e ter sido responsável pela sua entrada (e permanência, apesar de inúmeros protestos) na corporação.

- Mas, o que você fazia nas horas vagas? Pelo menos não assistia ao noticiário policial das Sete da noite? - Diz Kiyone, escandalizada diante de tamanha falta de inteligência e de memória de sua amiga.

- Uma vez ou outra, Kiyone-chan, mas sabe... Lá tinha umas notícias muito feias e uns criminosos horrorosos, daí eu mudava de canal para assistir a minha série de desenhos favoritos... - Diz a loira, arregalando os olhos só de lembrar as feições brutais dos foragidos que apareciam nos retratos falados do dito noticiário.

- "Buááá! Kami-sama!... Dai-me forças para que a Mihoshi não atrapalhe esta missão, só uma vez..." - Chora a policial de cabelos verde-escuros, pressentindo que uma tragédia se abatera em sua vida, ao lhe indicarem Mihoshi como sua parceira de missões.

- Kiyone-chan, porque está chorando, alguma lembrança triste? - Mihoshi percebe e tenta consolar a sua amiga.

- Snif... Esquece. Mihoshi, é nosso dever patrulhar a área, Vamos pegar o Cruzador Yagami e procurar pelos sinais de presença de Calerom pelo Sistema Solar enquanto contatamos a Central para maiores detalhes... - Diz Kiyone, constrangida diante de tamanha demonstração de amizade, e voltando ao seu modo sério como de costume.

- Mas, Kiyone-chan... - Mihoshi parece se lembrar de algo e timidamente tenta comentar isto com sua colega.

- Venha, não temos tempo a perder! O dever de um agente da Polícia Galáctica é sempre manter se alerta e pronto para combater o mal em todas as suas formas! - Diz Kiyone, tentando esquecer-se de suas preocupações, ao repetir um dos lemas da sua corporação.

- A gente não ficou de jantar lá na casa do Tenchi esta noite? Ouvi dizer que a Sasami-chan iria fazer um delicioso Yakisoba... - Fala Mihoshi, finalmente se lembrando do compromisso assumido no início da semana.

Kiyone cai de novo como se fosse uma estátua de pedra, totalmente embasbacada com a ingenuidade de sua amiga...

- "Grrr... Por que esta bobona só pensa em comer e dormir?..." Mihoshi, nós temos um dever a cumprir... Vamos, antes que a central nos contate de novo! - Diz Kiyone visivelmente nervosa e estressada.

- Mas, Kiyone, a gente prometeu ontem mesmo a ela que iríamos passar!... Não é justo... - Mihoshi se ajoelha e lágrimas copiosas caem de seus olhos azuis puros.

- Tá bom, tá bom, dentro da Yagami a gente avisa o Tenchi que chegaremos mais tarde para a janta. Assim não perdemos a viagem! - Resigna-se a policial que de durona não era tanto assim.

- Isto mesmo, Kiyone! Sabe, você tem um coração de ouro! - Empolga-se a loira, abraçando sua parceira, enquanto acaricia os seus cabelos.

- Certo... "E você, Mihoshi, tem com certeza um coração maior do que o seu cérebro de avestruz". - Kiyone fica visivelmente constrangida ao ver tamanha demostração de afeto.

-

Terminando de se vestir, Mihoshi e Kiyone saem do apartamento e certificam-se de que não existe ninguém por perto nas redondezas...

Aí então, a policial de cabelos verdes retira um de seus brincos e aciona uma estranha luz que as teleporta no interior de um cruzador da Galaxy Police, pintado de vermelho e dourado, que estava escondido numa montanha próxima.

Yagami, a Flecha de Deus. Uma das mais poderosas unidades da frota da Polícia Galáctica e somente designada para agentes de elite e tropas situadas nos rincões mais perigosos do Universo.

Ágil, Rápido e dotado de um poderoso armamento ofensivo e defensivo, este Cruzador havia entrado há pouco tempo em serviço e era uma das unidades mais perigosas da PG, embora sua substituição estivesse prevista para daqui a alguns anos pela novíssima classe "Delta", cujo um dos protótipos havia sido roubado malandramente por Calerom.

- Vamos, Mihoshi, primeiro vamos fazer uma vistoria geral em todo o Sistema Solar, enquanto peço mais informações sobre o último rumo da nave fugitiva pela central. - Diz Kiyone ao entrar na cabina de controle enquanto ela aciona os motores da Yagami.

- Entendido, Kiyone. Ai, ai, eu espero que a gente não chegue atrasadas demais para a janta... Senão a coitada da Sasami-chan terá que requentar o yakisoba... - Diz Mihoshi mais preocupada com estes detalhes que com a missão em si.

- Vamos lá! - Sem dar atenção às besteiras de sua aloprada amiga, a policial Makibi firma a sua faixa vermelha na testa com um forte senso de determinação.

Kiyone acaba de acionar os controles que ligam os motores do enorme cruzador vermelho e puxando o manche de controle, impulsiona a enorme nave a uma velocidade surpreendente. Em poucos minutos, ambas as agentes da Galaxy Police estão navegando acima da atmosfera terrestre.

Enquanto isto, alguns minutos mais tarde, os desaparecidos que elas estavam justamente procurando reaparecem nas redondezas de Okayama: Cansados, suados e empoeirados.

De fato, andar alguns quilômetros pela floresta ao anoitecer não era a especialidade de um pirata espacial e de uma princesa Shandariana.

Sweety - com Dan-Oh-Ki em cima de sua cabeça - enxuga o suor que escorre de seu rosto e do pescoço, usando um elegante lenço, enquanto Calerom anda a passos lentos, com o seu robô Mulligan flutuando ao seu lado.

- Bem, pelo menos existe vida humana e alguma civilização neste planeta, ainda que atrasada - Comenta o pirata, ao ver a aparência primitiva das casas e dos edifícios, bem como as vestes dos transeuntes que encontrava.

- Beeep.... Atualizando automaticamente dados relativos a este planeta... Parece que estamos diante de uma cidade primitiva, habitada por seres humanos com biótipo semelhante aos juraianos... Aparentemente são pacíficos ou indiferentes à nossa presença... E o seu estado tecnológico é muito atrasado, até mais do que era Jurai há milênios atrás. - Constata Mulligan.

- Até que você sabe dizer o óbvio, Mulli... Mas, que idioma estranho é está?... Você não poderia fazer um favor para a gente, passar os dados desta linguagem estranha para meus tradutores espaciais? - Pergunta Sweety estranhando a complexidade da língua japonesa, que era uma novidade para ela.

- É de fato, o nosso conhecimento do idioma galáctico padrão não vai adiantar muito... Concorda Calerom.

- Afirmativo. Estou usando os meus sensores para captar a linguagem dos habitantes deste lugar num raio de dez quilômetros... Compilando e descompilando frases, sentenças, nomes e expressões idiomáticas com base nos meus conhecimentos de IA avançada... - Mulligan parece se concentrar e de suas costas sai uma antenazinha, o que faz um grupo de pessoas parar o que estavam fazendo naquela rua de Okayama neste momento e dar um minuto de atenção a aqueles estranhos visitantes extravagantemente vestidos.

Usando os seus sensores e o seu sofisticado programa de tradução idiomática, Mulligan compila em instantes uma quantidade enorme de palavras e frases em japonês capaz de encher várias enciclopédias.

- Processo de compilação terminado... Agora, transferindo dados para o micro-tradutor da senhorita Sweety... - Murmura Mulligan, transmitindo pela sua antena uma quantidade enorme de dados em velocidade infinitamente superior à de um modem ou uma unidade de fibra ótica.terrestre do século XXI;

- Oh, Obrigado, Mulli... Agora deixe-me ver... - Sweety aperta os seus elegantes brincos, que serviam como um sofisticadíssimo sistema, capaz de fazê-la não apenas entender como falar fluentemente em diversas línguas de diferentes planetas. Contudo, foi necessária a ajuda de Mulligan, já que estes aparelhos não tinham nenhuma informação a respeito da linguagem terráquea.

O robozinho não apenas fornecera um completo vocabulário em japonês moderno, como alguma coisa de inglês, já que ele conseguira captar uma aula audiovisual numa escola de idiomas estrangeiros a quatro quadras dali.

- E então querida, deu para entender alguma coisa? - Pergunta Calerom ainda falando no idioma galáctico padrão.

- Uhnnnn... Oh, meu Deus!... Cal, por favor, use isto! Não estou gostando nada do que eles estão falando da gente... - Sweety ao entender as primeiras palavras em japonês, fica subitamente nervosa e um tanto quanto irritada. Em seguida passa um de seus tradutores para Calerom.

- Você vai querer que eu use ISTO? - Estranha Calerom ao reparar no tradutor em forma de um brinco.

- Infelizmente só tenho este modelo, usado pelos membros femininos das embaixadas diplomáticas de meu planeta... Quer uma ajuda para colocá-lo em sua orelha?

- Tudo bem, Sweetie.. É que não estou acostumado a mexer com estas... Ai, Ui, isto dói! - Reclama o pirata, queixando-se da dor quando Sweety prende o brinco no lóbulo direito de sua orelha.

- Miau! - Dan-Oh-Ki parece zombar do seu infortunado mestre.

- Querido, deu certo? Ai... Acho melhor a gente andar, pois pelo que estou sentido... - Diz Sweetie, visivelmente preocupada com a aglomeração humana que se forma ao redor deles.

- Deixe-me ver... Um ajuste aqui, outro ali... e... - Diz Calerom tentando ajustar o sistema de versão/tradução do complexo aparelhozinho.

De repente, as vozes dos desconhecidos habitantes tornam-se inteligíveis para ambos os aventureiros espaciais, porém, não da forma como eles queriam:

"Quem são estes caras?"

"A moça até que é linda, mas o cara ao lado dela e aquele coelho gordo são horrorosos!"

"Será que estão fazendo um novo filme do George Lucas em Okayama?"

"Mamãe, olha, são os inimigos dos Power Rangers!"

"Ei, panacas, estão indo a um baile à fantasia a esta hora?"

"Tio, quanto custa este robô? Eu quero!!!"

"Ei gata, que tal largar este bundão e cair na balada junto comigo"

"Estes jovens de hoje... Só querendo inventar moda..."

- CHEGA! - Grita Calerom exasperado, fazendo o pessoal à sua volta calar-se momentaneamente.

- Vamos, querido! Estou começando a ficar nervosa. - A princesa shandariana não faz se de rogada e pega imediatamente no braço de Calerom.

- Tudo bem... Se eu soubesse, a gente jamais teria entrado nesta cidadezinha ridícula! - Diz Calerom mostrando a língua para os presentes.

- A busca do conhecimento sempre tem um preço, mestre Calerom. - Comenta Mulligan, enquanto ele registra para si os conhecimentos obtidos com sua captação de dados.

Os desastrados aventureiros espaciais afastam se daquele bairro, sentindo-se envergonhados e até ridicularizados.

Além do mais, as roupas de pirata de Calerom, suas armas e apetrechos; - bem como o uniforme negro colante da Sweety - chamavam muita atenção. Sem falar nas aparências bizarras de Mulligan e de Dan-Oh-Ki.

A sorte do infortunado quarteto é que Okayama não era uma cidade muito grande, com seus cem mil habitantes, e cerca de 25 minutos mais tarde, eles estão no centro da cidade, perto de um shopping.

Contudo, os olhares indiscretos dos transeuntes estavam já incomodando Sweety. Assobios e cantadas começavam a ser mais comuns, irritando a linda aventureira.

- Querido, vamos ter que trocar estas roupas... Nossos trajes espaciais chamam a atenção neste lugar exótico... - Diz ela para seu parceiro.

- Concordo contigo, mas onde que iremos comprar algo se nem dinheiro temos? Nós... - Calerom parece estar aborrecido, tentando pensar em algo mirabolante para conseguir alguns trocados naquele planeta inóspito, primitivo e desconhecido para ele.

- Mestres Calerom e Sweety... Tomei a liberdade de analisar taticamente nossa situação financeira através de meus sensores avançados e acho que posso dar umas dicas de como funciona o comércio e a economia local. - Diz Mulligan após ter feito nova amostragem de dados com seus sofisticados sensores, acessando todos os computadores da cidade, bem como sites de Internet em questão de segundos.

- Desembucha, Mulli. - Diz Calerom, visivelmente entediado.

- Bem na frente de nós, a menos de cem passos, está uma loja chamada Shopping Center, aonde existem várias lojas de roupas masculinas e femininas, cuja grande maioria ainda está aberta até as 22 horas. Como muitas delas não aceitam cartões de crédito, vamos ter que arranjar dinheiro em espécie numa espécie de cabina chamada caixas eletrônicos, do qual uma está na frente do Shopping. A moeda local chama-se Iene e... - Mulligan começa a tediosa explanação, não percebendo que de repente o seu mestre pirata tem uma inspiração genial ao ver o tal do caixa eletrônico.

- Valeu, Mulli! Fui. - Diz Calerom andando a passos rápidos enquanto quase derruba um transeunte devido à pressa.

- Espere, querido! - Diz Sweety, tentando correr atrás dele.

Calerom vai ao caixa eletrônico localizado na frente do tal do shopping. Apesar de ser algo primitivo, era muito semelhante aos terminais bancários espaciais que ele estava acostumado a assaltar em suas andanças pela Galáxia.

Ele espera a sua vez e finalmente tenta acessar o terminal passando o seu cartão de crédito modelo Galactic Express Gold, aceito em quase toda a Via Láctea, mas nada acontece.

Depois da 3a tentativa frustrada, o foragido espacial se irrita e abre a porta eletromagnética simplesmente usando a sua força super-ampliada.

Lá dentro, ele tenta usar o seu cartão - que foi clonado para ele poder sacar dinheiro à vontade - na máquina, só que em vão. Impaciente, o pirata espacial resolve apelar para o seu kit cibernético de ladrão que trazia junto à cintura.

Em segundos, ele sai todo contente, carregando vários maços de notas de 10. mil ienes nas mãos. Só que na empolgação do seu primeiro furto na Terra, ele se esquecera de desativar a mini-câmera de vídeo existente na parte superior do caixa.

- Querida, conseguimos! Agora vamos comprar umas roupas apropriadas e achar um restaurante para jantarmos em grande estilo! Ahahahahah! - Diz ele, triunfante.

- Ai... Espero que o comércio daqui não feche cedo que nem no último planeta que visitamos pacificamente... - Comenta Sweety, já que em muitos planetas as lojas geralmente fechavam ao entardecer, quando não antes, dependendo do clima, costumes e hábitos culturais de cada povo..

- Miaurrr!

Após darem uma caminhada no Shopping, finalmente Sweety decide entrar numa enorme loja de roupas, cujas cores e modelos lhe agradaram.

Para não chamar tanto a atenção, Mulligan usa seus recursos tecnológicos para se transformar em algo mais discreto, como um Cd-Player portátil estilo disc-man, com fios, fone de ouvido e tudo.

- Boa noite! Sejam bem vindos à nossa loja, o que desejam? - Diz uma elegante vendedora de roupas, embora estranhasse o visual dos desconhecidos. Seriam artistas excêntricos ou turistas?

- Gostaria de experimentar algumas roupas para o dia-a-dia e uns vestidos... - Responde Sweety conseguindo falar num idioma Japonês de forma clara e correta graças ao seu brinco tradutor de idiomas.

- E quanto ao seu acompanhante? Não gostaria de comprar alguma coisa, uma calça, uma camisa? - Fala a vendedora, fazendo as perguntas de praxe.

- Bem... Eu... Hã... eu estava precisando de... - Diz Calerom meio envergonhado. De fato, ele nunca foi de se preocupar com roupas, exceto quando precisava usar algum disfarce.

- Acabaram de chegar uma nova remessa de modelos vindos da Europa. Espero que o senhor goste. - Diz a vendedora, sorrindo de uma ponta da orelha a outra, imaginando uma gorda comissão.

Enquanto um impaciente (e faminto) Dan-Oh-Ki espera junto com um concentrado e pensativo Mulligan num dos banquinhos da loja, Sweety faz literalmente a festa:

Além de comprar várias peças íntimas, duas dezenas de pares de meias e maiôs de banho, ela adquire alguns conjuntos esporte-fino, blusas, vestidos de festa, camisas esportes e calças jeans, tudo de bom e do melhor.

A vendedora de roupas fica extasiada, imaginando a polpuda comissão que receberia naquele mês. Não era todo dia que vinham turistas dispostos a fazer aquele "banho de loja".

Quanto a Calerom, além de ter passado vexame, tendo entrado por engano no provador feminino - e levando umas bifas da mulherada por isto - ele acabou descobrindo que não tinha a menor experiência em escolher roupas, já que sempre usara roupas de pirata ou de aventureiro.

Após 15 minutos no provador, Sweety fica horrorizada ao vê-lo sair - vestido como se fosse um típico cafetão brega dos anos 70: Chapéu panamá branco, blazer bege-claro, calça de igual cor estilo boca de sino, camisa esporte cor-de-rosa e um chamativo lenço estilo pele de leopardo enrolado no pescoço; além de calçar meias com cores berrantes e sapatos plataforma bicolores.

Após um pouco de discussão e persuasão feminina, a princesa consegue convencer o seu companheiro a voltar ao provador e ela mesmo faz questão de escolher as roupas dele:

Uma camisa esporte cor vinho, um colete em padrão escocês de cor preta/vermelho escura, calças jeans clássicas e sapatos esporte.

Além disto, ela comprara para ele uma calça extra, um casaco de couro legítimo, algumas camisas de manga curta, e vários pares de meias e de roupas de baixo.

Enquanto uma funcionária da loja se encarregava de colocar em enormes sacolas a compra da noite de ambos os aventureiros, a vendedora mostrava o saldo da compra do dia para Sweety:

- As suas compras ao todo ficaram em Quatrocentos Mil ienes, já incluído o desconto de dez por cento. - Diz a moça, fazendo força para não demonstrar que estava impressionada com a gigantesca compra feita pela dupla.

- Bem... Vocês aceitam cartão de crédito? - Pergunta Calerom, procurando sondar as chances de usar seu cartão de crédito intergaláctico fraudulento.

- Infelizmente para a primeira compra, não. - Responde a vendedora, um pouco contrariada.

- Tudo bem, a gente vai pagar mesmo em dinheiro, aqui está. - Diz o pirata, sorrindo amarelo para a moça.

A vendedora simplesmente arregala os olhos ao ver Calerom entregar alguns maços de dez mil ienes, bem como várias notas avulsas, somando a exorbitante quantia acima. Quem naqueles dias seria louco de andar com tanto dinheiro à mostra?

- Bem... Parece estar em ordem... Aqui está a sua nota fiscal e podem pegar os pacotes apresentando este comprovante na saída... Muito obrigado pela preferência. - Comenta a vendedora no caixa, após conferir a exorbitante quantia de dinheiro.

- Adorei esta loja! Muitíssimo obrigada. - Sorri Sweety, visivelmente satisfeita e já usando um elegante vestido terrestre.

- É. Obrigado mesmo. A propósito, tem um restaurante aqui por perto? - Diz Calerom antes de sentir um outro ronco no estômago.

- Sim. No shopping tem algumas lanchonetes na praça de alimentação, mas se preferir algo mais discreto, tem o La Francine's, um restaurante de comida internacional, perto do shopping, a apenas uma quadra.

- Tudo bem, valeu, moça. - Responde o insuspeito "turista" Calerom fazendo o sinal de positivo com os dedos.

- De nada, não há de quê.

O grupo de aventureiros sai da loja sem perceber que minutos mais tarde a gerente da loja resolve telefonar para algum lugar, meio desconfiada, após dar uma baita bronca na infeliz vendedora.

Alguns minutos mais tarde, o quarteto recém-chegado à Terra está matando a fome no dito restaurante.

Enquanto Mulligan esperava pacientemente num canto do restaurante, tocando algumas músicas de arquivos mp3 baixadas na Internet, Calerom, Sweety e Dan-Oh-Ki tratavam de matar a fome diante dos escandalizados clientes do fino restaurante.

Após a entrada, composta de uma sopa leve de aspargos e alguns tira-gostos, a dupla de aventureiros estava saboreando um risoto de arroz com champignons, uma generosa porção dupla de filé Mignon à Chautebriand e uma salada com kani-kama e palmitos, bem como a melhor garrafa de vinho da casa.

Enquanto isto, debaixo da mesa, o cabbit de Calerom devorava um prato cheio de cenouras numa velocidade assustadora, para horror dos ricaços que freqüentavam o local.

Sweety até que mantinha a sua etiqueta e bom gosto, como convinha a uma princesa, se bem que o mesmo não podia ser dito do nosso pirata espacial - cuja "etiqueta" (ou a falta de) lembrava à de sua chefe Ryoko - e do seu cabbit Dan-Oh-Ki, outro fominha mal acostumado.

Em especial, o "mâitre" do restaurante olhava desconfiado para o singular grupo, tentando disfarçar a sua repugnância diante da falta de modos daquele almofadinha e do seu animal de estimação.

Ele quase havia impedido o que julgava ser um extravagante grupo de turistas entrar com aquele bicho estranho, se não fosse os apelos da linda senhorita, dizendo-se tratar de uma espécie rara de felino.

Cenouras cruas também não faziam parte do cardápio da casa, mas como o cliente sempre tem razão...

- (Nhac, chomp) Ah... Querida Sweetie! Este jantar está uma delícia! (Nham, chomp). De vez em quando é uma boa variar... Comer sempre as rações de emergência para viagens cansa!... - Diz Calerom, literalmente devorando a sobremesa, uma torta gelada de sorvete com cerejas ao licor.

- Realmente... Até que a comida dos terrestres é deliciosa. - Comenta Sweety, preocupada com os olhares de desaprovação que os outros freqüentadores lançavam sobre o seu parceiro.

- Mestre Calerom, acho que temos um assunto urgente a tratar - Fica preocupado Mulligan, transmitindo seus pensamentos para o brinco tradutor do seu mestre pelo fone de ouvido, ao ver uma viatura de polícia se aproximando do caixa eletrônico arrombado pelo pirata espacial.

- Deixa de ser chato, Mulli! - Protesta Calerom enquanto ele dá mais uma abocanhada na torta de sorvete.

- Mas mestre...

- Sabe, Sweetie, até que não é uma má idéia fazer um pé de meia neste planeta... Com a minha astúcia e seu poder, nós podemos faturar uma boa grana e... - Comenta o convencido pirata bebendo um cálice de vinho sem a menor etiqueta.

- Mas, Cal, eu ainda acho que você teria mais chances se procurasse um emprego honesto... - Comenta Sweety, desta vez num tom mais sério e mais íntimo de voz. A sua linda face estava pensativa e melancólica naquele momento.

- Querida, mas você não me disse uma vez que achava a vida de pirata muito excitante e cheia de emoções? - Calerom percebe a intenção da conversa de sua parceira, e tenta diplomaticamente sair pela tangente, mas...

- Realmente concordo, mas se a gente for se casar um dia, eu queria que... Você arranjasse algo mais estável... - O olhar de Sweety era doce, mas um pouco triste e pensativo. O seu maior medo não era pela vida arriscada que levava, mas de acabar perdendo Calerom de vez.

- Mas, querida... Você sabe muito bem que não nasci em berço de ouro. E depois... Não vejo outra forma de te dar o luxo e conforto que você merece.

- Cal... Eu não me apaixonei por você pelo seu tesouro ou pelas aventuras, mas sim pelo que você... - Sorri a princesa ternamente, fitando os olhos escuros de seu parceiro.

- Aham, com licença, senhores... Aqui está a conta que vocês pediram. - Subitamente o "mâitre" do restaurante reaparece, interrompendo o clima romântico.

- Ótimo, quanto a gente deve, chefia? - Diz Calerom fingindo que não ficou incomodado.

- Contando com a sobremesa, e a taxa de 10%, são exatamente 50 mil ienes...- Diz, com voz séria e empertigada, o funcionário do restaurante, vestido à caráter, com a tradicional gravata borboleta.

- "Ei, Mulli, quanto dá isto se convertido em créditos juraianos?" - Cochicha Calerom em direção ao seu robô, ainda disfarçado.

- "São exatamente 500 créditos juraianos, mestre". - Responde Mulligan, usando do transmissor existente no brinco cedido pela princesa Sweety ao pirata.

- O quê! Mas isto é um... - Calerom tenta protestar, já que o custo do jantar era simplesmente um roubo, tanto em ienes como na moeda de Jurai.

- A garrafa de vinho que o senhor pediu era um legítimo Chateau Du Valle Safra 1933... Somente ela vale 40000 ienes... - Diz o mâitre, meio desconfiado.

- Tudo bem, tudo bem. Vamos pagar com... Epa! Querida, poderia-me contar o dinheiro? Não tenho paciência para isto... - Calerom tem um péssimo pressentimento ao notar que haviam gastado demais nas compras do Shopping. Fingindo-se de desentendido, ele passa o dinheiro restante para sua namorada.

- Deixe-me ver... "Cal, acho que temos problemas... Só estamos com 10 mil ienes..." - Sweety fica desconsertada após ter conferido pela segunda vez o maço de notas restantes e decide alertar o seu parceiro para a falta de fundos., sussurrando no ouvido dele

- "O quê? Mas eu..." - Calerom sente que estava em sérios apuros.

- Bem, o senhor tem cartão de crédito internacional? - O mâitre do restaurante se aproxima e decide entrar na conversa, pois tinha outras mesas para atender.

- Por que não disse isto antes? E claro que eu tenho! - Diz Calerom, pensando em dar uma de esperto, entregando o seu cartão.

- Tudo bem, aguarde um momento, que vou conversar com o gerente e fazer a transação.

-

Neste momento, dois policiais haviam entrado no restaurante e, passando direto pelas mesas, foram conversar diretamente com o gerente do estabelecimento. Uma viatura da polícia de Okayama fica a postos na saída do restaurante. Apenas Sweety e Mulligan percebem o inquietante fato.

- "Cal... Estes homens não estão aqui para uma visita de cortesia..." - Sussurra Sweety para o ouvido de seu parceiro.

- "Fica fria. Se acontecer qualquer coisa, executaremos a manobra 53."- Diz Calerom tomando apressadamente seu último gole de vinho. No caso, a manobra 53 seria "atire e fuja", usando o Dan-Oh-Ki transformado como veículo de fuga.

- "Mas nós não podemos entrar em confronto com a polícia... Esqueceu que estamos sem nave?" - Tenta protestar Sweety, que era bem mais sensata que seu aloprado parceiro.

- "Mas e o Dan? Ele não...?" - Calerom tenta contra-argumentar, mas...

- "Se fosse você, não contava com isto..."

Sweety, com um olhar cético, abre a toalha que recobria a mesa e lá embaixo aponta para um Dan-Oh-Ki sonolento, preguiçoso e de barriga para o ar, depois de ter comido dezenas de cenouras. Calerom fica com sua característica cara de tacho, já que as suas chances de convencer o cabbit a se transformar em nave ficaram próximas a zero após a comilança, ao contrário da sempre eficiente Ryo-Oh-Ki se sua antiga mestra:

- Bem, Sweetie, acho melhor nos prepararmos para o plano 99 caso as coisas derem errado. - Suspira o fora-da-lei. O Plano 99 era o último recurso à disposição da dupla, sendo traduzido como "salve-se como puder".

Um minuto mais tarde, o mâitre do restaurante volta, com uma cara de poucos amigos, trazendo o cartão de volta.

Instintivamente Calerom faz um sinal para que Sweety fique atenta, pronta para pegar os pacotes de roupas, que estavam por perto. Os sensores de Mulligan começam a piscar, nervosos.

- Humpf... O senhor não possui outro cartão de crédito? - Diz o chefe dos garçons, lançando um olhar cético ao que ele julgava ser um caloteiro.

- Ei, qual é o problema? Este é um autêntico cartão Galactic Express Gold, que é aceito em mais de 250 mil planetas diferentes e o mais... - Tenta enrolar o pirata.

- Não me venha com brincadeiras. Nunca ouvi falar deste cartão fajuto! - Diz secamente o funcionário do requintado restaurante.

- Oras, mas este cartão é...- Calerom tenta argumentar, tentando ganhar mais alguns segundos.

- É melhor o senhor pagar a conta em cheque ou dinheiro antes que eu chame...- Diz o mâitre, com expressão severa. Por debaixo da mesa, Calerom já pensava em sacar a sua arma quando...

Subitamente o impasse é rompido pela chegada de dois policiais uniformizados, o que faz os demais presentes ficarem inquietos.

- Ei, parados aí, seus vigaristas caloteiros! - Diz o policial mais adiantado, apontando o dedo para Calerom e Sweety.

- Ei, quem disse que somos vigaristas? Eu sou uma pessoa de respeito! - A moça fica indignada ao ser chamada desta forma e protesta.

- É aquele homem mesmo? - Pergunta o outro policial ao gerente, que estava acompanhado do atendente.

- É ele. O meu funcionário disse que ele entrou há quarenta minutos aqui. - Diz o gerente do restaurante ao guarda.

- Ei, o que foi, pessoal? Calma aí que a gente... - Diz Calerom tentando soltar um sorriso amarelo para todos, enquanto o mâitre, se afasta dele, preocupado.

- Ei, vocês! Venham conosco! Vocês estão presos por assaltar o caixa eletrônico do centro! - Diz o policial mais próximo, dando voz de prisão.

- O quê? - Grita o mâitre, incrédulo, pensando estar diante apenas de um aproveitador qualquer e não de um bandido de verdade..

- Agora, Sweetie!

Sweeiy salta de seu assento para trás com uma agilidade espantosa, fazendo um salto mortal, ao mesmo tempo em que aciona no ar o seu dispositivo de distorção de imagens, que tornava sua figura praticamente invisível a olho nu.

Aproveitando a confusão, ela pega algumas das sacolas com as roupas compradas no Shopping que estavam no chão e corre para fora.

Mulligan volta à sua forma original e também resolve fugir do restaurante, usando seus jatos propulsores e quebrando a janela.. Antes disto, com o seu braço mecânico, ele aproveita para pegar o restante das sacolas deixadas pela Sweety.

Aproveitando a confusão criada, Calerom se levanta da sua cadeira, ao mesmo tempo em que dá um chute violento - jogando a mesa com os restos de comida e talheres em direção aos policiais. Um alvoroço e princípio de tumulto começam a agitar a tranqüilidade do local.

Dan-Oh-Ki, ainda sob o efeito da comilança, investe contra o policial mais próximo, soltando um miado selvagem, mas devido ao seu peso e ao excesso de comida ingerida, ele apenas acerta a barriga do guarda, fazendo-o cair.

O outro policial tenta pegá-lo, mas o cabbit dá no pé, tomando impulso com um enorme pulo.

O desventurado quarteto tenta fugir pela rua, sendo perseguidos pelos policiais e pelos funcionários do restaurante.

- Ai, se eu soubesse disto, eu teria regulado nas compras no shopping! - Diz Sweetie, visivelmente abalada pela confusão.

- Da próxima vez, me lembre de não comprar uma garrafa tão cara de vinho! - Fala Calerom admitindo também a sua parte da culpa.

- Mestre, temos problemas! Infelizmente a esquina da rua está bloqueada por uma viatura primitiva... Dois integrantes armados... Taxa de perigo: 25%; - Alerta Mulligan.

- Ah, Deixa que eu cuido deles! - Calerom saca a sua pistola laser e aponta para o carro. Os policiais saem pelas portas laterais e se preparam para atirar.

- Querido, não!

Sweety percebe a burrada que Calerom iria fazer e no último instante ela segura o braço dele, desviando o tiro. Contudo, o disparo e suficiente para arrebentar um hidrante na calçada, fazendo jorrar um enorme jato d'água em todas as direções, causando o caos na rua e afastando momentaneamente os policiais, que buscam abrigo.

- Por que desviou o tiro? - Pergunta Calerom, meio assustado com a inesperada situação.

- Ficou louco, amor? A gente já está numa situação ruim. E se causarmos um ferido que seja, nós estaremos fritos neste planeta! - Responde Sweety.

- É, acho que tem razão... - Concorda o pirata, arrependido.

- Parem aí, seus vigaristas! - Grita um dos guardas

- Mas vamos dar um jeito de fugir daqui! Pois aí vem gente! - Grita Calerom , se preparando para fugir.

- Miauuu! - Diz Dan-Oh-Ki, sem a menor vontade - e capacidade - de se transformar em nave espacial ou outro veículo qualquer por estar fazendo a digestão no momento.

Correndo como loucos, os quatros fora-da-lei tentam despistar sem muito sucesso os guardas que saem em sua perseguição.

Embora os policiais tenham sido treinados para não atirarem a esmo em fugitivos, Calerom percebe que estão numa enrascada, pois percebe com o canto do olho que um deles está contatando a central em busca de reforços. Estando a pé e com muito pouca munição, seria uma questão de tempo até eles serem presos num planeta desconhecido para ambos.

Só que, para a sua sorte, ele vê um pequeno carrinho parando em sua frente.

O seu dono - um senhor de óculos de meia idade - começa a abrir a porta, totalmente distraído, e sem perceber a confusão a poucos metros dele.

Calerom sorri e segurando no braço esquerdo de Sweety apressa o passo. Aquilo seria a última chance deles.

- Ei, o quê? - Pergunta o senhor ao perceber a mão forte e pesada pousando em seu ombro.

- Desculpe, cara, mas precisamos de seu carro. - Diz Calerom, com um sorriso maldoso.

O pirata espacial dá um sopapo de leve no pobre japonês, que cai de bunda no chão, enquanto que Sweety e os outros montam no pequeno veículo, jogando os pacotes no banco traseiro. Quase em seguida, Calerom monta, entregando imediatamente a chave que tomara do cidadão à Sweety, que ajusta os cintos de segurança..

- Mas, Cal, como vou saber dirigir esta geringonça primitiva?.. Eu... - Hesita Sweety diante dos controles antiquados do carrinho, enquanto os policiais se aproximam, gritando.

- Bote a chave e manda ver! Os caras estão chegando! - Diz o pirata, visivelmente nervoso.

- Tá bom, seu chato! - Responde Sweety fazendo uma cara de quem não gostou.

A jovem princesa Shandariana era uma excelente pilota, mas quase não sabia nada da mecânica primitiva dos automóveis do Planeta Terra. Ao ver os policiais se aproximando, ela nervosamente liga o automóvel e acelera-o mais rapidamente que pode...

Só que de marcha à ré. Causando uma confusão enorme na rua até bater de leve num outro carro.

Os policiais que estavam perseguindo o grupo ordenam que ela pare, mas em seguida, o pequeno veículo sai com tudo pela frente, já que ela estava acelerando ao máximo.

Os guardas e uns transeuntes saem da frente enquanto o carrinho vai trombando e esbarrando em todos os veículos que aparecem, quase provocando uma colisão ao entrar num cruzamento com o sinal vermelho...

- Puxa, meu bem, não sabia que estes veículos primitivos eram tão difíceis de dirigir... - Comenta a jovem princesa, tentando manter a calma.

- Mas até que você está indo bem... Eu não teria feito nada melhor.. - Tenta tranqüilizar-se Calerom, após ter batido na cabeça no vidro do para-brisas.

- Miau?? -Dan-Oh-Ki lança um olhar de séria dúvida sobre seu mestre.

- Ah, Dan, esquece. - Rebate Calerom.

- Mas, aonde vamos, Cal? Eu não conheço nada por aqui e... - Diz Sweetie preocupada, ao constatar que o pequeno carro de passeio não tinha um sistema navegador de bordo, coisa corriqueira nos veículos espaciais.

- Se me permite, Senhorita Sweety, sugiro que tome a estrada à sua direita. Assim sairemos da cidade e iremos para a área montanhosa, aonde teremos mais chances de despistar os nossos perseguidores... - Responde calmamente Mulligan.

- Mulli?... Mas, como? - Pergunta o pirata espacial, incrédulo.

- Enquanto vocês estavam jantando, tomei a liberdade de usar os meus sensores e traçar um mapa tridimensional da cidade e suas adjacências no meu sistema de bordo... - Limita-se a responder simplesmente o módulo artificial.

- Até que você é um gênio, Mulli! Hahaha! Bem que fiz bem ao ter como parceiro! - Diz Calerom, surpreso. Até que Mulligan não era tão chato assim.

- Não há de quê, mestre Calerom. - Diz Mulligan, visivelmente envaidecido.

- Só que vamos ter que pensar em como a gente vai agir, Cal... Estamos apenas com pouco dinheiro e para piorar... - Sweety entra na conversa, enquanto tenta aprender em questão de secundos como se pilota um veículo terrestre.

- Fica fria, já escapamos de coisa pior... Ei, Mulligan, o que você nos sugere? - Pergunta Calerom, mais calmo, porém...

- Detectei Três viaturas policiais a três quilômetros de distância... Tempo estimado de encontro e abordagem: Menos de cinco minutos... - Responde Mulligan mostrando num holograma refletido no vidro da frente, a posição do veículo de fuga dos aventureiros espaciais e a localização das viaturas que detectara em seu radar.

- Sei, mas como podemos escapar deles usando esta banheira lerda? - Pergunta Sweety.

- Não há como. Os carros dos oponentes são muito mais velozes do que o nosso... - Replica Mulligan, dentro da mais estrita lógica.

- Então nós vamos ter que livrarmos dele à bala, certo? - Comenta Calerom, se preparando para sacar a sua pistola, mas amargamente constatando que restavam poucas munições no pente de energia da mesma.

- Errado. Iniciar procedimentos para teletransporte limitado em situação crítica... Selecionando localidade aleatória para a gente fugir sem deixar pistas... - Começa a dizer Mulligan num tom sério.

- Você está falando sério, Mulli?... O que pretende?. - Pergunta Calerom tentando imaginar aonde o robozinho havia aprendido teletransporte, pois nunca ouvira falar disto.

- 5, 4, 3,... - O robozinho começa a piscar em vários tons de luz e inicia a contagem regressiva.

- Acho que ele está, querido - Comenta Sweety, sem fazer nada.

- Mulligan! O que você... - Grita inutilmente Calerom.

- 2, 1.... Zero!!!

Antes que Calerom ou Sweety percebam, Mulligan ativa um dispositivo de emergência interno e as luzes de seu visor começam a brilhar mais e mais... Num instante, o carrinho onde o pirata, a princesa e o cabbit estão acelera rumo ao infinito e de repente some, sem deixar rastros, numa fração de segundos.

Enquanto isto, há poucos minutos atrás, na residência dos Masaki, a vida continuava normal como sempre.

Ryoko, Aeka e Washu relaxavam na luxuosa terma onsen dimensional, enquanto Sasami preparava o delicioso jantar de sábado na cozinha.

A jovem princesa havia saído mais cedo do banho para preparar a janta, já que os Azaka e Kamidake humanos iriam aparecer naquela noite, sem falar da dupla Kiyone e Mihoshi, que também foram convidadas. .

O prato da noite seria um delicioso Yakisoba à la Sasami, acompanhado de uma generosa porção de Sukiyaki e alguns Sushis.

Embora a comida do dia a dia fosse farta e gostosa, Sasami tinha o costume de caprichar nos finais de semana, quando os seus dois cavaleiros guardiões retornavam da cidade, junto com as policiais galácticas.

Para ela, esta era uma ótima ocasião tanto de reencontrar com seus amigos, como de aprimorar seus conhecimentos culinários, que já eram grandes.

Enquanto isto, Katsuhito, o avô de Tenchi, descansava na sala de estar, lendo calmamente o jornal do dia, enquanto o seu neto tinha um raro momento de privacidade na sua sala de estudos.

A ocasião que as meninas iam tomar banho era um dos poucos momentos aonde ele podia estudar ou descansar sem ser assediado por Aeka ou Ryoko.

Tenchi estava resolvendo as tarefas escolares de sempre quando ouve a extensão do telefone do quarto de seu pai tocar. Ele decide pegar, mas percebe que o sinal cessara imediatamente. Mais tranqüilo, ele volta a se concentrar resolvendo seus exercícios de matemática.

- Pronto, Residência Masaki? Aqui é a Sasami. - Diz a jovem de cabelos azuis que acabara de atender a extensão da cozinha.

- Oi, Sasami-chan, aqui quem fala é o Nobuyuki, tudo bem? Como vai o pessoal? - Responde o pai de Tenchi que estava naquele momento, ligando de um orelhão perto de um hotel 3 estrelas.

- Estão todos bem... Daqui a pouco vai ser servido o jantar... - Comenta a jovem dona de casa, que na opinião do pai de Tenchi, era a única garota que ele apoiaria para se casar com o seu único filho.

- Nossa, que pena que não vou estar aqui! Eh, eh, eh. Estou em Kyoto, cuidando de um projeto de lançamento de um novo condomínio residencial, e vou ter que ficar até o final da semana que vem. Mas não se preocupem, porque deixei um pouco de dinheiro para vocês comprarem algo no lugar de sempre. E na segunda, estou mandando mais um pouco pelo banco... Ah, e mais uma coisa: Só não fale isto para a sua irmã Aeka e a Ryoko, sabe como elas são... - Comenta Nobuyuki, conhecendo os hábitos consumistas da princesa juraiana e a total inabilidade da pirata espacial para economizar um iene que fosse.

- Tudo bem, tio Nobuyuki... Pode ficar tranqüilo... - Suspira Sasami, concordando com ele. Apesar de ser a mais nova de todas, a jovem princesinha Juraiana era a mais bem sensata da turma e a única com a qual o pai de Tenchi podia contar.

- Asaka, Kamidake e as meninas chegaram? - Pergunta Nobuyuki, se referindo aos legendários cavaleiros juraianos que conhecera quando viajou junto com Tenchi e as garotas no espaço.

- Ainda não... Mas estão para chegar...

- Tudo bem, e fala pro Tenchi não esquecer de ir ao banco e pagar as contas na semana que vem, tá? Preciso desligar, mas tenham um ótimo jantar e um ótimo final de semana, e mande lembranças para o Otousan... - Diz Nobuyuki olhando para o relógio. De fato, ele ainda tinha que se hospedar no hotel, comer alguma coisa e tomar banho antes de descansar.

- Tá legal, tio Nobuyuki!

- Até mais, Sasami-chan!

Tchau!

Sasami desliga o telefone e volta para a cozinha. Ainda ela precisava preparar um monte de coisas, e provavelmente o jantar sairia mais tarde. Só que isto não a preocupava em demasia, já que seus cavaleiros juraianos costumavam fazer algumas compras antes de visitarem-na e a dupla Kiyone/Mihoshi havia confirmado que iriam chegar atrasadas devido a um compromisso urgente.

A pequena garota de olhos cor de rosa termina de preparar os ingredientes do Yakisoba e coloca-os na chapa, já previamente aquecida. Depois ela cuidaria dos sushis, com o capricho que era peculiar. Embora Tenchi niichan tivesse prometido a ela que iria dar uma ajuda na cozinha assim que terminasse as tarefas da escola, a jovem Sasami era bastante eficiente para fazer uma gostosa refeição em pouco tempo.

A pequena Ryo-Oh-Ki entra na cozinha e num pulo preciso, ela sobe no ombro da pequena jovem e em seguida, fica sentada em cima da cabeça da jovem princesa, como lhe era habitual. Embora Ryoko fosse sua mestra, a poderosa cabbit de pelos marrons era muito mais afeiçoada à pequena segunda princesa de Jurai, pelo seu jeito meigo e carinhoso.

- Ryo-Oh-Ki-chan? Você está com fome?

- Miii! - Exclama afirmativamente a pequena cabbit, atraída pelo cheiro das tiras de cenoura que a princesa estava cozinhando.

- Tá legal, deixe-me terminar de assar o Yakisoba e aí vou te dar uma cenou...

- Miiiauuu! - De repente o pelo da Ryo-Oh-Ki se eriça e ela começa a miar desesperada, como se pressentisse algo.

- O que foi, Ryo-Oh...

De repente Sasami percebe que algo está errado e olha na direção da janela. O ruído vindo de um motor é quase ensurdecedor. A última coisa que ela vê é um carro surgindo do nada, indo em alta velocidade colidir com a cozinha, juntamente no ponto aonde ela estava. Ela larga imediatamente o garfo e a estápula com os quais estava mexendo o yakisoba e só tem tempo para gritar de forma dramática:

- Tenchi Niichan!!!

- Miauuuuu!!! - Mia Ryo-Oh-Ki, de forma desesperada.

Notas do Capítulo:

Mâitre: O mâitre em restaurantes de luxo é o funcionário encarregado de recepcionar fregueses, indicar eventuais mesas vagas, além de receber as contas do mesmo;

Ienes: Para se ter uma idéia do dinheiro que Calerom e Sweety gastaram nas compras, aqui vai a conversão da quantia em ienes para reais:

Compra na Loja de Roupas: 400.000 Ienes ou R$10.680,00 Reais.

Conta do Restaurante: 50.000 Ienes ou R$ 1.335,00 Reais

Custo do Vinho que Calerom tomou: 40.000 Ienes ou R$ 1.068,00 Reais

O que sobrou de dinheiro no fim: 10.000 Ienes ou R$ 267,00 Reais.

Escrito por: Calerom

Última Revisão: 26/12/2003

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