CAPÍTULO 5 - SEM NECESSIDADE PARA UM ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO .

Okayama, Residência dos Masaki: Um minuto antes de surgir o carro aonde estava Calerom e companhia - prestes a colidir na frente da cozinha, onde Sasami estava cozinhando..

Na terma onsen dimensional construída no banheiro pela Washu, as três garotas (Ryoko, Aeka e a própria) tentavam relaxar como podiam.

- Ai, que pena, como o tempo passa tão rápido... Mal começamos a semana e hoje é sábado. - Suspira preguiçosamente Ryoko, nua, enquanto toma sua tigelinha de sakê, estando com o seu corpo esguio parcialmente mergulhado nas águas mornas da terma.

- O tempo é uma medida estabelecida pela humanidade, cara Ryoko. As nossas sensações psicológicas internas é que alteram a percepção dele andar mais lento ou mais rápido. - Comenta Washu, que estava mergulhada perto dela, enquanto continuava digitando alguma coisa ininteligível no seu teclado subespacial.

- Bem, não entendi muita coisa, mas concordo com o que você disse, Washu. - Diz a pirata espacial, tomando outro gole da bebida feita de arroz fermentado.

- Humm... Acho que não é bem isto o seu problema, Ryoko-san... - Diz ironicamente Aeka, que estava enrolada numa toalha de banho, um pouco afastada das duas, descansando numa pedra lisa, enquanto toma um banho com o Sol artificial criado pela genial cientista.

- Será que me recordo de ter pedido a sua estúpida opinião? - Ryoko começa a ficar irritada com a intromissão de sua eterna rival na conversa.

- Acho que no seu caso, o tempo passa rápido demais simplesmente porque você não trabalha, ao contrário de mim, da Sasami-chan, da Mihoshi-san e da Kiyone-san. - Aeka não se faz de rogada e alfineta mais ainda a pirata espacial.

- Ah, é? E quem fica largando a faxina diária para ficar grudada no aparelho de karaokê e assistindo aquelas novelas? Seria eu? - Ryoko começa a erguer o tom de voz, enquanto termina de beber o sakê num trago pela boca da garrafinha de cerâmica.

- Oras, pelo menos eu ajudo na limpeza da casa, ao contrário de uma piratinha vagal que só fica assaltando a geladeira entre as refeições e não sai de perto do aparelho de videogame do Lorde Tenchi. - Sorri maliciosamente a princesa juraiana.

- Meninas, vamos parar com isto! Esta terma me custou dias de trabalho e não gostaria de vê-la destruída. - Diz Washu, séria, se referindo a um incidente anterior aonde uma confusão envolvendo as duas briguentas quase destruiu a sua criação máxima em termos de conforto e lazer.

- A gente não está brigando, Washu-chan! - Diz desdenhosamente Aeka sabendo que Washu não gostava de ser chamada de outra forma, enquanto apertava as bochechas da Ryoko. Da última vez que se esqueceu isto e acabou tratando Washu de uma maneira desdenhosa, ela foi transformada numa lesma espacial.

- É, só estamos expondo de forma aberta e civilizada nossas diferenças de... - Fala Ryoko num raro momento de concordância com sua rival amorosa enquanto tenta puxar o cabelo de Aeka..

De repente um bip começa a se ouvido do teclado de Washu e a tela de seu bizarro computador começa a emitir um alerta, chamando a sua atenção.

- O que? Pelas particulas subatômicas de Planck! Um teletransporte classe delta-C3 aqui por perto? Deixe-me ver... Velocidade média de 60 km/hora... veículo de médio porte... Local provável de colisão... A cozinha da casa do Tenchi-dono!... - Diz ela em tom de voz dramático.

- Washu-chan, o que significa?... - Aeka fica incrédula ao ouvir isto e um arrepio percorre a sua espinha ao se lembrar que Sasami havia saído mais cedo do banho para preparar a janta.

- Merda, só faltava essa! - Ryoko percebe o que a cientista maluca queria dizer e se prepara para agir.

Quase no mesmo instante, ouve-se um grito desesperado da cozinha. Era a voz de Sasami, completamente apavorada:

- Tenchi-niichan!!!

- Sasami-chan, não! NÃÃÃOOO!!!- Aeka fica desesperada, e começa a chorar, sem saber o que fazer direito.

- Droga! - Com um gesto, a impulsiva Ryoko se teletransporta rapidamente para a cozinha, sem se importar com o fato de ainda estar nua e molhada.

- Vamos indo, Aeka! - Com um clique no teclado, Washu sai da terma, flutuando e fazendo o mesmo com a assustada Aeka. Como que por milagre, as roupas de ambas aparecem, vestindo automaticamente seus corpos. Na fração de segundo seguinte, a princesa juraiana e a cientista maluca desaparecem da terma.



Tenchi também ouvira o grito desesperado de Sasami do seu quarto e sai correndo, quase tropeçando nos degraus da escadaria. Ele estava literalmente com o coração na mão e se preparava para o pior, quando repentinamente encontra com o seu avô.na porta da cozinha. Sem pensar muito, ele entra e...

Literalmente cai no chão com um enorme jato de sangue saindo do nariz. O seu rosto estava literalmente roxo diante da cena inusitada.

Sasami havia se encolhido na frente do fogão, diante da tragédia iminente. Ela estava totalmente paralisada de pavor, só que ao invés do violento impacto do veículo surgido do nada, ela sente um par de braços envolvendo o seu delicado corpo e o da pequena Ryo-Oh-Ki, bem como um toque quente, mas protetor.

- Ryoko Neechan?! - Diz ela ao sentir a presença da pirata espacial, que apesar de suas eternas desavenças com a sua irmã mais velha, queria o seu bem.

- Miauuu?! - Exclama Ryo-Oh-Ki diante de sua mestra.

- Sasami! Ainda bem! Ué?! Já era para ter... - Diz Ryoko, serntindo-se aliviada a princípio, só que totalmente desconcertada pelo impacto que não ocorreu.

A pequena princesa e a cabbit reparam que Ryoko estava as protegendo com o seu próprio corpo, assim que se teleportara da terma para a cozinha na velocidade de um raio. E nenhuma das duas se incomodou com o fato dela estar ainda nua e meio molhada.

A jovem de cabelo espetado olha pela janela e vê o causador da confusão, um típico automóvel de passeio japonês com pelo menos dois tripulantes dentro.

Mas como este veículo aparecera sem fazer barulho, e, o que ainda era mais desconcertante, de um ângulo totalmente improvável, já que por aquele lado, na frente somente tinha o lago que circundava a residência dos Masaki e era impossível para um carro percorrer a estreita ponte de madeira?

E o que era mais surpreendente, o veículo estava suspenso, flutuando a mais de um metro e meio de altura acima do solo, tendo parado a menos de trinta centímetros antes de se colidir com a parede da cozinha.

Ryoko vê pela janela dois vultos enormes do lado de fora e deixa escapar um suspiro misto de alívio e frustração. Então foram eles que...

Logo em seguida, aparecem Aeka e Washu no recinto da cozinha. Ainda sem reparar no pobre Tenchi desmaiado (por causa da visão da nudez da Ryoko) e o impassível Katsuhito diante da porta, a irmã de Sasami sai correndo em direção a ela, quase aos prantos:

- Sasami-chan! Você está bem? Oh, eu jamais me perdoaria se você sofresse qualquer coisa!... - Diz a Primeira Princesa de Jurai, visivelmente preocupada.

- Está tudo bem, Aeka-neechan! A Ryoko-neechan protegeu a mim e a Ryo-Oh-ki-chan... - Explica Sasami, um pouco mais calma.

- Eu sou grata a você por ter protegido... Ryoko? O que você faz aqui pelada deste jeito? Vá se vestir, sua exibicionista! - Aeka a principio agradece à pirata espacial por ter protegido sua irmãzinha, mas no instante seguinte percebe que ela está nua em pêlo e o seu orgulho ferido fala mais alto.

- Humpf. É assim que me agradece, Aeka? Enquanto você ficou se descabelando sem saber o que fazer, eu agi. Se ficasse que nem você se preocupando com o que vestir, sua irmãzinha já estaria... - Diz Ryoko com visível tom de crítica na voz.

- Não se atreva a falar deste modo comigo, sua... - Vocifera Aeka.

- Aeka neechan, por favor, a Ryoko neechan fez isto com a melhor das intenções. - Sasami tenta defender a pirata espacial, como sempre fazia quando percebia que sua irmã estava excedendo.

- Sasami! eu... - Aeka tenta contra-argumentar, mas fica encabulada quando percebe a presença de mais gente do lado de fora.

- Hummm... Então estava certa. Não é de se admirar que o carro tenha parado antes de colidir com a cozinha... - Murmura Washu enquanto termina de analisar a cena com o seu teclado, detectando dois feixes poderosos de energia segurando o veículo recém-aparecido.

- Heh. Tem razão, minha cara Washu-chan. Realmente os guardiões fizeram um trabalho eficiente. - Comenta Katsuhito, com a sua habitual calma, mais uma vez.

Enquanto isto, os guardiões de Aeka, Asaka e Kamidake, conversam entre si enquanto percebem a aproximação de seus equivalentes humanos.

- Puxa, foi por um triz, meu caro Asaka. - Comenta o Kamidake robótico em seu habitual tom jovial de voz.

- Realmente. Uma maneira bem incomum de se iniciar uma noite de sábado. - Responde seu companheiro, bem mais sério e esperiente.

- Mas é bem melhor do que enfrentar ameaças alienígenas ou segurar eventualmente algum monstro fugitivo do laboratório da cientista Washu. - Conclui Kamidake, se referindo aos incidentes "triviais" que costumavam acontecer na casa dos Masaki depois da volta das garotas.

- Isto com certeza. - Responde Asaka robótico.

De repente, da estrada, aparecem correndo os cavaleiros juraianos Asaka e Kamidake, que haviam percebido o perigo ao verem o estranho veículo aparecer do nada e correr em direção à casa dos Masaki.

Ambos os lendários guerreiros haviam se preparado para usar seus poderes jurai, da distância que se encontravam, só que ficaram mais tranqüilos quando viram seus similares robóticos darem conta do recado.

- Belo trabalho, rapazes. Eu mesmo não teria feito melhor. - Diz o Asaka humano, para seus similares robóticos, vestindo no momento uma camisa xadrez azul-escuro, calça jeans, sapatos pretos e uma jaqueta de couro. Ele estava ofegante, ainda mais que carregava uma mochila contendo um videogame e vários CD-ROMS dentro da mesma, com os quais esperava derrotar sua mestra Sasami..

- Não há de que, caro colega. Percebemos sua aproximação, mas como estávamos próximos, achamos por bem agir o mais depressa. - Responde seu equivalente robótico, programado para ter a mesma personalidade do antigo cavaleiro..

- Lady Sasami, você está bem? Nós... - Grita o cavaleiro Kamidake, que estava no momento usando uma camiseta estampada estilo turista, calça esporte de cor clara e tênis, além de carregar um pequeno carrinho de feira contendo algumas compras e comida para sua mestra.

- Está tudo bem, Kamidake. Ninguém ficou machucado. - Responde Sasami.

- Oh, graças a Deus! Eu jamais me perdoaria se ocorresse algo com Lady Sasami.. - Diz o Kamidake humano em seu estilo .dramático habitual.

- Realmente, seria uma grande tragédia para nossos corações, meu caro antecessor. - Complementa o Kamidake robô, acionando uma luzinha brilhante em seu botão.

- Verdade, meu jovem amigo. - Diz o Asaka robótico

- Bem, pelo visto, está tudo certo. Vamos todos relaxar e nos confraternizar por este feito tão... - Comenta o Asaka humano.

- Ei, Tá certo que está tudo bem, mas poderia nos fazer um favor? - Grita uma voz irritada dentro do veículo suspenso no ar.

- Como quiser, cavalheiro. - Responde Asaka robótico.

- Quero que deixem a gente ficar no chão! - Continua a voz impaciente.

- Tudo bem, às suas ordens.

- Descendo...

Os Asaka e Kamidake robóticos desligam seus poderosos feixes de campo de força - justamente aquilo que impediu do carro se espatifar na cozinha dos Masaki, provocando uma tragédia - e o carro cai abruptamente no chão, de tal forma que os pneus acabam saindo violentamente dos eixos, mas sem machucar ninguém por perto.

Neste instante, todos que estavam dentro da cozinha saem da casa para ver o que estava acontecendo lá fora.

- Asaka, Kamidake! Só mesmo vocês poderiam ter impedido isto! Oh, muito obrigada! - Exclama Aeka, visivelmente agradecida com os seus guardiões que a acompanhavam desde a infância.

- Não há de quê, Lady Aeka. - Diz sobriamente Asaka robótico.

- Proteger a família Jurai é nosso dever, mas em todo o caso, nossos antecessores teriam feito o mesmo. - Comenta o Kamidake artificial.

- Asaka-kun. Kamidake-kun! Que saudades! Sejam bem vindos de volta! - Exclama Sasami, mais calma, correndo para abraçar seus cavaleiros protetores.

- Olá pessoal, como foram de serviço nesta semana? - Fala Tenchi ainda na porta da cozinha.

- Boa noite, Milorde Tenchi, Princesas Aeka e Sasami e a todos. Perdoem-nos pelo atraso, mas tivemos que...- Desculpa-se humildemente o cavaleiro Kamidake .

- Fazer as compras da semana no supermercado. - Complementa o cavaleiro Asaka.

- Hummm... - Somente Washu fica desconfiada, teclando algo em seu computador invisível, cujos sensores apontam para o veículo caído no chão.

- Ainda bem que tudo terminou bem... Mas, quem seria os tripulantes do automóvel? - Comenta Katsuhito, realmente intrigado. Automóveis que surgiam do nada não eram nada comuns por ali. .

De repente, a porta do semi-estourado carrinho se abre, e duas figuras cansadas, com as roupas amarrotadas de suor aparecem. As suas sacolas de roupas também desabam do porta-malas. Tratam-se de Calerom e Sweety.

- Ai, por pouco a gente quase se dana, Sweetie. - Diz Calerom chamando sua namorada pelo apelido, ainda meio zonzo pela queda abrupta ao sair do veículo.

- Mas tudo bem, querido... Vamos... ?! - Comenta Sweetie, batendo com a mão esquerda na sua calça, para espanar um pouco a poeira da estrada.

Uma série de pensamentos ecoavam nas mentes de todos os presentes:

Tenchi: "Essa não! Isto não pode estar acontecendo DE NOVO!"

Katsuhito: "Como eu imaginava, as novidades chegaram."

Sasami: "Nossa, que moça linda! Nunca vi olhos verdes que nem os dela!"

Aeka: "N-n-não po-pode s-ser!!!"

Ryoko: "Epa! Mais convidados para a festa?... Mas, espera aí... Acho que vi este cara de algum lugar!"

Ryo-Oh-Ki: "Miauuu?"

Washu: "Vou ter que averiguar o incidente depois no meu laboratório. Estes dois aí não parecem ser deste planeta"

Asaka Humano: "A aura desta moça... Ela parece ser diferente dos terráqueos"

Kamidake Humano: "A linda jovem de olhos verdes parece .ser uma pessoa boa e honesta, mas aquele seu acompanhante... Em todo o caso, vou ficar de olho neles"

Asaka Robô: "Aguardando reação e ordens de Lady Aeka"

Kamidake Robô: "Por enquanto nenhum procedimento hostil detectado. Contudo, devemos garantir a proteção das princesas de Jurai."

O tenso silêncio é quebrado por Tenchi que dá um sorriso meio encabulado para os visitantes e faz uma pergunta:

- Oi, olá! Precisam de ajuda? Quem são vocês?

- Bem, o meu nome é Cal Rome. Sou um viajante espacial e esta é minha namorada Sweety. Bem, desculpem-me pelo ocorrido, mas nós estávamos perdidos e... - Diz Calerom, visivelmente embaraçado. Contudo, ele decide usar um nome falso, como era habitual no seu comportamento de vigarista espacial.

- Princesa Sweety de Shandar... Mas... como? - Sorri Aeka, mas no instante seguinte ficando com vergonha ao ver uma velha conhecida que não via há muitos anos.

- Princesa Aeka de Jurai? - Sweety também fica surpresa ao reconhecer a princesa do reino estelar vizinho ao seu.

De repente todas ficam surpresos quando a jovem de cabelos roxos e kimono vermelho/branco fica de frente para a moça vestida com roupas terrestres, cabelos castanhos e de olhos verdes.

Num rápido exame, percebia-se que a jovem Sweety era ligeiramente mais baixa do que Aeka, apesar de terem a mesma idade aproximada.

Para a surpresa do próprio Calerom, Tenchi e de todos, ambas as princesas se abraçam como se fossem velhas amigas íntimas, e trocam os famosos três beijinhos de saudações.

- Princesa Sweety, Há quanto tempo! - Diz Aeka, enquanto deixa escorrer lágrimas de saudade e de contentamento.

- Princesa Aeka, que saudades! - Sweety faz o mesmo.

- "Puxa, pelo menos as duas são amigas... Mas a Aeka-san nunca me disse que tinha uma colega princesa..." - Pensa Tenchi enquanto vê a cena.

- "Caramba! A Sweetie era colega da filha do maioral lá de Jurai? Putz, e agora?" - Pensa Calerom, totalmente desconcertado.

Só que para surpresa de todos, depois dos abraços e beijinhos protocolares, as duas se afastam discretamente, ficando uma de frente para a outra.

Aeka cruza os braços e o seu olhar terno e cheio de saudades muda para uma expressão de profundo desprezo e ironia.

- Nossa! Minha "querida" Sweetie! Nunca imaginei que a casa real de Shandar iria decair tanto a ponto da sua princesa-herdeira ficar vagando por aí, como se fosse uma cigana sem teto pelo espaço... Hohohohoho! - A princesa Juraiana começa a debochar de sua colega, com sua irritante risada.

- Minha "doce" Aeka, é de se lamentar que a Dinastia Jurai tenha entrado num processo de tamanha decadência a ponto de sua representante máxima ter que se esconder numa colônia atrasada como esta. Ahahahahah! - Sweety também não se deixa humilhar e faz uma expressão de pura zombaria contra sua antiga rival.

- Pois é... Apesar de nossos planetas serem aliados há milênios, é uma pena só de pensar que o sábio e benevolente Rei Malkin terá de passar um dia o trono para uma pirralha mimada e de pouca classe como você, que vivia se metendo em confusões nas suas viagens estelares. - Ironiza Aeka.

- Humpf. E o que dizer do glorioso Planeta Jurai, quando ele passar a ser desgovernado por uma "patty" histérica e chata como você? É uma pena que seu poder e glória que duraram milênios, acabarão quando uma incompetente como você subir ao trono... - Sweety resolve devolver, mostrando que não demonstrava a menor simpatia pela colega.

- Ai, agora você me encheu, meu docinho açucarado de puro veneno!

- Olha só quem fala, minha princesinha delicadinha como um gorgossauro raivoso numa loja de cristais!

O clima fica subitamente pesado e tanto os cavaleiros de jurai como seus equivalentes robóticos notam uma aura negra e escura envolvendo ambas as princesas. Um raio de pura eletricidade e raiva percorre o olhar que as duas trocam, a ponto de gerar faíscas. O Asaka robótico tenta comentar alguma coisa para impedir as duas de brigar, mas Aeka e Sweety fuzilam-no com seus olhares, a ponto deste resolver ficar quieto.

- Ei, meninas... Por favor... Agora não é hora de... - Tenta argumentar Tenchi, com uma gotona de constrangimento na cabeça, mas sem sucesso.

- Ei, Sweetie, fica fria! Nós não podemos brigar com os nossos salvado... - Calerom tenta fazer o mesmo com sua namorada.

- Lorde Tenchi, eu simplesmente não posso deixar esta princesinha de subúrbio me insultar desta forma! A minha honra ofendida exige reparação imediata! - Esbraveja Aeka, mostrando todas as suas veias na testa.

- Amor, deixe-me ao menos uma vez tirar satisfações com esta patty de 5a categoria que vive me irritando! - Comenta Sweety preparando-se para entrar em posição de combate.

- Mas pessoal, vamos... - Tenchi ainda insiste em buscar um entendimento.

- Tenchiii, você sabia que em briga de mulheres, o homem não entra? Se bem que senti firmeza naquela jovem... Ela me lembra muito o meu estilo. - Subitamente Ryoko se teleporta e ainda seminua (somente coberta com uma toalha achada por acaso), se agarra ao pescoço do pobre rapaz, provocando-o, com suas carícias.

- "Ryoko, Aqui? Mas... como?" - Calerom finalmente percebe que está diante de sua ex-chefe, e ainda por cima nua. Ele simplesmente não resiste e cai duro no chão com uma cara de bobo alegre e com o rosto completamente vermelho, arrancando gotonas na cabeça de todos.

- Humpf, a conversa não chegou tão baixo aí, Ryoko. Pensa que eu sou surda? Como se não bastasse você andando pelada por aí tentando provocar o meu querido Lorde Tenchi... - Diz Aeka já começando a ativar seus poderes Jurai, que foram despertados durante a luta decisiva entre Tenchi e Kagato.

- Ora, sua... - Ryoko começa a se irritar e prepara uma bola de energia alaranjada na palma de sua mão.

- Aiiiiiii!!!!! - De repente, um grito desesperado de criança ecoa a partir da janela da cozinha.

- Sasami! - Aeka desiste de lutar e fica assustada com o grito. Será que...?

- Sasami-chan! - Exclama Tenchi.

- O quê? - Dizem todos os demais.

- Ai, Kami-sama! Eu esqueci de apagar o fogo por causa da confusão e olha o que deu? O jantar ficou totalmente queimado!!! - Fala Sasami visivelmente envergonhada, mostrando o yakisoba totalmente escurecido e grudento no fundo da panela. Uma fumaça mal-cheirosa impregnava o ar da cozinha.

Todos os presentes caem novamente com enormes gotas na cabeça.

Mais tarde, a turma toda está reunida na enorme casa. Na cozinha, Sasami tenta preparar a toque de caixa os sushis - cujos ingredientes que ainda ficaram intactos - enquanto Tenchi faz uma nova porção de Yakisoba, a partir da comida trazida pelo Kamidake humano.

Para passar o tempo, os Asaka e Kamidake humanos passam o tempo jogando shôgi (xadrez japonês) na sala de visitas, enquanto que Washu volta ao seu laboratório, tentando descobrir o motivo do misterioso teletransporte.

Ryoko volta no seu quarto, para vestindo o seu tradicional vestido azul listrado com rabo de gato enquanto uma ofendida e emburrada princesa Aeka está assistindo TV em volume alto, sem se importar com as visitas e a sua etiqueta Jurai.

No momento, apenas Katsuhito cumpre o papel de anfitrião, conversando com a Princesa Sweety e com o suposto "Cal Rome", ou melhor, Calerom...

- Então vocês são viajantes espaciais? Como vieram parar na Terra? - Pergunta Katsuhito com naturalidade, enquanto serve aos visitantes uma garrafa de cerveja gelada, acompanhada de alguns sembeis (biscoitos tradicionais japoneses).

- Bem... É que a nossa nave entrou em pane e tivemos que fazer um pouso forçado em seu planeta - Tenta-se justificar Calerom, enquanto enche o seu copo e sem saber que estava diante do lendário Yosho, aquele que quase foi Rei de Jurai há 700 anos atrás.

Estranhamente ele não estava ligando muito para o sumiço de Dan-Oh-Ki, que desaparecera desde o momento do impacto. Quanto a Mulligan - antes dele e Sweety saírem do carro - o computador havia se transformado num inocente rádio de pilha, ficando a tiracolo.

- Puxa, o senhor é muito gentil, senhor Katsuhito... Sei que é estranho receber visitas inesperadas, ainda mais de outro planeta... - Comenta docilmente Sweety, voltando ao seu humor habitual, já que a chata da princesa juraiana estava longe.

- Não seja por isto, nós aqui estamos acostumados... - Diz Katsuhito oferecendo a tigela de sembeis.

- E como! - Comenta Tenchi enquanto está cozinhando, enquanto faz uma cara de "Esta não! Outra vez de novo???"...

- Mas, como aconteceu o problema no carro de vocês? - Pergunta Katsuhito, visivelmente interessado. Não era todo dia que alienígenas apareciam na Terra usando roupas terrestres e ainda mais dentro de um carro japonês feito no final do século Vinte.

- Bem... Quando a nossa nave caiu, tivemos que arranjar algumas roupas mais apropriadas na cidade e um veículo terrestre, para não assustar os habitantes locais. Só que a gente não estava acostumada a lidar com os carros daqui e... Sinto muito pelo quase acidente... A gente não... - Diz Calerom, omitindo certos detalhes comprometedores.

- Tudo bem, o que importa é que estão vivos... Qual é a sua profissão, meu jovem? - Sorri Katsuhito, ao mesmo tempo em que analisa a aura do pirata espacial com seus sentidos jurai super-apurados.

- Bem.. eu... eu... - Calerom hesita, visivelmente embaraçado por estar sentindo inconscientemente os poderes jurai de Katsuhito.

- Cal é um mercador e piloto espacial! Eu o Conheci faz uns seis meses atrás numa viagem e a gente começou a namorar logo em seguida... - Sorri Sweety, ao perceber o embaraço de seu parceiro.

- E você é herdeira da casa real de Shandar... Interessante, como é o seu planeta? - Katsuhito puxa conversa, fazendo uma pergunta genérica, embora como Yosho, já tivesse conhecido o planeta aliado de Jurai mais de uma vez.

- Bem, o meu planeta é desértico e é diferente daqui, por ser recoberto por imensos desertos de dunas de areia e rochas... As Florestas e os oásis são raros... E somente poucos lugares favorecem a vida humana... - Comenta Sweety, enquanto deixa uma discreta lágrima de saudades escorrer de seus olhos ao se lembrar da sua terra natal e de seu povo.

- Só que em compensação, aquele lugar é rico em recursos geológicos e minerais e é um dos planetas mais prósperos da Galáxia, talvez até mais do que Jurai. - Diz Ryoko - com uma cara de sabida - subitamente se teletransportando e flutuando a trinta centímetros do chão, se juntando à conversa.

- Mas... Como você sabe disto a respeito de Shandar? - Pergunta Sweety, que nunca tinha ouvido falar de Ryoko, embora ela fosse uma pirata perseguida até pelas forças armadas que seu pai comandava.

- Bem... Eu cheguei a visitar o seu planeta uma vez, há muito tempo atrás, sem falar no fato de ter "conversado" com muitos mercadores. Então, você é a filha do Rei Malkin... Como vai o seu velho, minha querida? - Sorri Ryoko.

Naturalmente a esperta pirata "esqueceu" de mencionar o DETALHE de que, na única vez que foi visitar Shandar foi para assaltar o palácio imperial - tendo roubado parte do tesouro do pai de Sweety neste ataque surpresa. A jovem princesa nunca soube dos detalhes desta investida, por estar estudando em outro planeta naquele momento.

- Bem... Acho que ele e mamãe estão bem... Apesar de não nos vermos, há algum tempo. - Diz Sweety com expressão levemente melancólica por estar cheia de saudades e mal sabendo que o seu pai havia estipulado uma recompensa fabulosa pela captura de Ryoko e Calerom - vivos ou mortos - após o ataque na capital de Shandar.

- Querida, você era conhecida da princesa Aeka de Jurai há tanto tempo? - Pergunta Calerom, visivelmente embaraçado por estar diante de sua ex-chefe, a qual não via desde aquele dia em que foram emboscados pela armada da GP no sistema Pegasus, batalha esta que custou a vida de muitos piratas colegas deles, a fuga de Ryoko e o desaparecimento temporário de Calerom.

- Sim, é verdade, querido, embora nunca tenha dito para você... Por causa de certos detalhes desagradáveis que me dão raiva só de pensar neles. - Sweety volta a demonstrar certa dureza no olhar só de pensar na risada irritante da sua suposta aliada espacial.

- Quanto a isto, eu concordo... Aquela princesinha é simplesmente insuportável. Hummm... Será que nós não vimos antes? - Diz Ryoko com um ar falsamente pensativo, enquanto sorri maliciosamente para Calerom.

- Bem... sou um viajante espacial. Quem sabe...

De repente Ryoko pisca um de seus olhos cor de mel e sem que Sweety perceba, ela usa um de seus poderes - o de criar um elo telepático com uma pessoa ou ser que tenha afinidade. Apenas Katsuhito percebe o fato com os seus poderes Jurai, mas nada comenta, se limitando a tomar o seu copo de cerveja.

- "Olá, Cal, ou devo dizer, Calerom Devilhunter..." - Diz Ryoko telepaticamente para seu ex-subordinado.

- "Ora, então me reconheceu, querida Ryoko? Há quanto tempo..."- Responde Calerom com um sorriso amarelo. Ele conhecia a extensão dos poderes de sua ex-chefe e era evidente que os temia.

- "Né, seu desgraçado? Você me some no meio daquela batalha infernal do sistema Pegasus há 3 anos atrás e agora vem dar uma de gostoso vindo para cá com esta guria?" - Responde Ryoko com certo tom de raiva, mas também de ironia, ao conhecer os hábitos boêmios de seu comandado.

- "Calma, boss, Eu não tive culpa por ter sumido. O Dan-Oh-Ki foi gravemente ferido na luta e tive que me refugiar por meses comendo o pão que o diabo amassou num planetóide gelado, isolado da civilização. Só então pude voltar à ativa, mas você tinha sumido. A minha vinda para este... este... planeta foi tudo um acidente. Hoje, a gente teve que fazer um salto hiperdimensional aleatório para fugir dumas lata-velhas da GP e viemos parar por aqui...." - Tenta-se defender Calerom, com suor frio escorrendo de sua testa.

- "E como teve a coragem de trazer a jovem principe-herdeira de Shandar? Certamente vocês não se conheceram numa viagem de turismo. Aonde você raptou ela, seu cafajeste? No mínimo você deve ter..." - Comenta maliciosamente Ryoko em seu estilo boca-livre tão peculiar a ela.

- "Esta é outra história. Depois te conto, mas juro pelas rugas de minha mãe que ela está aqui por sua livre e espontânea vontade!" - Protesta Calerom, ficando vermelho como um pimentão.

- "Tudo bem, vou guardar o teu segredinho sujo, mas você terá que me dar amanhã os detalhes ou conto para todo mundo quem você é... Eu a-do-ro fofocas!" - Conclui Ryoko o seu diálogo mental, com um ar sapeca. Na verdade ela estava mais contente do que zangada por ter reencontrado seu antigo parceiro de roubos e saques, embora seu cérebro ardiloso dissesse que logo a sua tranqüilidade na Terra estaria para acabar...

- "Tá bom, tá bom, boss..." - Responde Calerom sem muita opção por saber que Ryoko - quando queria alguma coisa - muito raramente desistia, por mais insignificante que fosse.

Só que então Sweety nota que Calerom e Ryoko estão olhando entre si por vários segundos sem trocarem palavras e faz uma pergunta, meio desconfiada:

- Posso saber o que vocês dois estão pensando agora? - Pergunta Sweetie, olhando fixamente em ambos ao mesmo tempo. Katsuhito nada diz, discreto como sempre.

- Epa!? Errr... Hã... Nada, não, querida, é que eu pensei que a Ryoko fosse uma velha conhecida minha, mas eu acho que... - Tenta desconversar Calerom, sem muito sucesso.

- O seu namorado me lembra muito um conhecido meu, cara princesa. - Comenta Ryoko se fazendo de desentendida, com a mais típica cara de Pau..

- Ah, tá...

Aeka estava constantemente trocando de canal, entediada pela falta de variedade de na programação noturna. Mas ela estava verdadeiramente chateada pelo fato de seu querido e amado Lorde Tenchi estar ocupado na cozinha, ajudando sua irmãzinha Sasami e pela inesperada (e inoportuna) vinda da sua ex-rival Sweety.

Sem muita escolha, ela decide desligar a TV, no exato momento em que o seriado daquela noite estava sendo interrompido por uma transmissão urgente:

"Interrompemos a nossa programação para dar um aviso urgente à população de Okayama. Há poucas horas atrás, o caixa eletrônico localizado no Shopping Tatebayashi foi saqueado por uma dupla de ladrões. Os dois desconhecidos foram vistos dando golpes com o dinheiro roubado numa loja de roupas e num restaurante. Ao serem abordados pela polícia, ambos os delinqüentes resistiram à prisão e fugiram, causando o caos pelas ruas da cidade, além de roubar um veículo Daihatsu ano 96, placa 013-013-013. Quem tiver informações, favor ligar para..."