CAPÍTULO 06 - SEM NECESSIDADE PARA REENCONTROS.

Enquanto Calerom e Sweety se encontravam com Tenchi e a turma nos arredores de Okayama, o cruzador de batalha da GP chamado Yagami havia partido a pouco mais de 2 horas atrás, tendo percorrido as órbitas de Urano, Netuno e Plutão - em buscas de pistas sobre o paradeiro da misteriosa nave foragida que aparecera no Sistema Solar.

A região da Via Láctea onde ficava a Terra tinha a fama de ser uma das mais atrasadas da galáxia, além de ser uma via fora de mão para ser considerada pelos viajantes espaciais, de modo que a gigantesca nave de patrulha não tivera dificuldades na viagem..

A policial da Galaxy Police Kiyone Makibi não desgrudava os olhos dos monitores da sua nave, enquanto mantinha o cruzador espacial em velocidade de cruzeiro. Ao seu lado, a sua eterna (e atrapalhada) parceira Mihoshi Kuramitsu - com o seu uniforme todo mal-vestido devido a pressa com que foi vestindo as roupas na hora de sair - dormia placidamente, irritando a sua colega.

- Droga, droga, droga! Já éramos para ter pelo menos detectado alguma pista ou vestígio de salto hiperespacial! Não pode ser... Os sensores da Yagami nunca me deixaram na mão! Se ao menos a preguiçosa da Mihoshi me ajudasse!... - Resmungava a temperamental garota de olhos azuis enquanto tentava inutilmente encontrar alguma pista nos radares de sua nave.

- Zzz.... Kiyone-chan.... Que delícia! Quero mais sorvete... - Murmurava docemente Mihoshi, sonhando que estava com a amiga fazendo um delicioso piquenique num bucólico e tranqüilo planeta turístico.

- Vou dar mais uma volta. Se não encontrar a pista da nave daquele maldito pirata, eu juro que... Epa?

Um bip soa, indicando uma comunicação urgente por parte da central da GP. Kiyone rapidamente sintoniza o sistema de captação de mensagens e a tela superior do painel de comando se abre. Uma figura familiar aparece: Um senhor de meia-idade, com cabelos parcialmente grisalhos, bigode e aparência cansada, vestindo uniforme. Era o superior imediato da atrapalhada dupla de detetives espaciais.

- Olá, oficiais Kiyone Makibi e Mihoshi Kuramitsu. Vejo que estão de prontidão. - Comenta o chefe da atrapalhada dupla, pensando no que elas aprontariam de novo.

- Kiyone se apresentando, senhor! - Responde a corajosa oficial, batendo continência ao seu superior imediato.

- ZZZzzz.... - Os nervos da morena parecem ficar à mostra ao ver a sua colega ainda desacordada, não sabendo se ficava com vergonha ou se chutava a loira de cabelos ondulados.

- Mihoshi?... Você.... Está bem? - Ao ver a loira dormindo, o veterano comandante faz uma cara de surpresa enquanto Kiyone sacode-a com força.

- Uahhhh.... Oi, olá, chefe! Ai que soninho! - Boceja a atrapalhada detetive, espreguiçando-se na sua poltrona.

- Hummm... Tem dormido bem ultimamente, oficial Mihoshi? - Pergunta o velho oficial, fazendo força para não dar uma bronca na loira que era neta do comandante supremo da corporação.

- Até que sim, apesar de que só posso tirar 8 horas de sono diárias e uma soneca após o almoço... Os bicos que fazemos na Terra para pagar o aluguel do apê cansam um bocado!

- MI-HO-SHI! - Grita Kiyone, irritada pela dupla demonstração de ingenuidade e preguiça de sua parceira.

- Epa... foi mal! Perdão, Kiyone! Não foi por querer... Buááá! - Mihoshi, emotiva como sempre, percebe a mancada que fizera e imediatamente seus olhos enchem-se de lágrimas.

- Bem, como vocês sabem, a nossa nave experimental "Devilhunter", que foi roubada pelo famigerado pirata espacial Calerom há poucos meses atrás, foi vista pela última vez na área onde fica o Sistema Solar. Ficamos de passar as coordenadas exatas do provável local de seu salto hiperespacial para vocês. - Responde o comandante, indo direto ao assunto.

- B-bem, não precisa se preocupar, senhor... A gente está vasculhando as rotas externas das órbitas de Urano, Netuno e Plutão, se bem que... - Tenta explicar Kiyone, imaginando que tipo de "bomba" iria receber da Central da GP, já que este tipo de comunicação urgente era quase sempre sinal de encrenca.

- Podem anotar? 3o Quadrante, coordenadas 215x, 419y e 614z. Boa caçada e caso tiverem uma pista concreta, entrem em contato conosco. Ah, para sua informação, a Princesa Sweety do Planeta Shandar encontra-se seqüestrada, em poder do perigoso facínora. Façam de tudo o possível para resgatá-la sã e salva. Uma recompensa de Cinco milhões em créditos juraianos está sendo oferecida pelo Rei Malkin a título do resgate de sua amada filha, sem incluir a que está sendo oferecida pela corporação. Aguardo contato. Até mais. - Dito isto, o super-paciente oficial superior da desastrada dupla de detetives espaciais encerra a transmissão.

- Cinco... milhões de créditos juraianos??? Ai, Kami-sama, isto é... - Os olhos de Kiyone brilhavam só de pensar na quantidade fabulosa de dinheiro, e em suas pupilas se podia ver claramente um par de cifrões.

Imediatamente a policial galáctica se vê em sua imaginação com lindos trajes de festa, tirando férias num lugar paradisíaco, fazendo compras gigantescas em shopping-centers luxuosos, comendo do bom e do melhor em restaurantes de luxo e morando numa linda mansão flutuante com piscina, obviamente sem a sua atrapalhada parceira por perto.

- Kiyone-chan, posso fazer uma pergunta? - Pergunta timidamente Mihoshi, toda encolhida na poltrona, e com as pontas dos dedos indicadores tocando entre si, com medo de levar outra bronca.

- Fale, Mihoshi. - Responde secamente Kiyone, um pouco desapontada por ter sido interrompida em seu devaneio.

- Esta quantia de dinheiro que o chefe falou dá para consertar a nossa TV portátil que queimou anteontem? Eu queria assistir o meu anime favorito!... - Implorava a loira de cabelos encaracolados, sentindo saudades do seu desenho predileto, após a televisão ter sido danificada em mais uma de suas trapalhadas fenomenais.

- Mihoshi! Só você mesmo para dizer uma coisa destas! Se a gente pegar o desgraçado do Calerom e resgatar a princesa, nós ficaremos ricas, não, milionárias!

- Sério?

- Com este dinheiro, a gente pode até pensar em tirar umas férias no sistema Cancun, hospedando-se numa suíte imperial de um hotel dez estrelas! E ainda vai sobrar dinheiro para a gente se aposentar da GP sem se preocupar com nossas contas nunca mais! Nós... - Diz Kiyone, visivelmente empolgada pela caçada que teria início. Como elas eram as oficiais titulares do Sistema Solar, a prioridade pela captura do pirata espacial seria delas, o que aumentava as chances de receberem sozinhas a recompensa.

- Espere aí, Kiyone, as coordenadas que o chefe nos deu me parecem familiares... Será que? - Interrompe novamente a jovem Kuramitsu, checando o computador à sua frente, com um ar totalmente simplório.

- Deixa de falar besteiras, Mihoshi! Eu tenho quase certeza de que estamos perto de nosso alvo! Vamos checar agora no computador de bordo... Parece se tratar de um quadrante que a gente ainda não checou.... Epa! Espera aí!... - Kiyone fica inicialmente irritada com o que julgava ser um comentário tolo de sua parceira e ela mesma decide checar as informações passadas no computador da Yagami, mas uma expressão de surpresa, seguida de puro desalento altera novamente o seu humor para pior.

- O que foi Kiyone-chan? - Pergunta Mihoshi, pondo a mão no ombro de sua parceira.

- Droga! Droga! Droga! O local da coordenada do ponto de saída do salto hiperespacial da Devilhunter coincide com o do 3o planeta do Sistema Solar! Como pude ser tão burra? - Responde a estressada policial de cabelos verdes socando novamente a tela do computador.

- E que planeta é este? - Como sempre, o raciocínio de Mihoshi não acompanha a sua beleza e a pergunta irrita mais a sua companheira de bordo.

- A Terra, Mihoshi! A TERRA! "Kami-sama, que pecado eu cometi em minha vida para merecer tremenda penitência? Oh, dai-me forças!..." - A esta altura, o único e maior desejo de Kiyone era poder voltar para Okayama o mais rápido possível e descarregar o seu stress na terma onsen inventada pela Washu.

- Nossa, só faltam eles terem pousado em Okayama, perto da casa do Tenchi. - Comenta Mihoshi, coçando a sua cabeleira loira.

- É. Não duvido nada mesmo... Espere um pouco, por acaso você ativou o rastreador de sinais eletrônicos da Yagami quando nós decolamos? Se estas coordenadas estiverem corretas, era para a gente ter detectado os sinais do salto hiperespacial assim que a gente decolou... - Comenta Kiyone, acabando-se de lembrar de um procedimento de rotina que ela sempre costumava fazer, mas que deixara a cargo de sua distraída e aloprada colega, para que a mesma começasse a se acostumar com os sofisticados controles do cruzador espacial.

- Ai, como sou esquecida! É mesmo! Acho que liguei o nosso rádio FM por engano ao invés do rastreador! Espera aí... Puxa, já deve ser a hora daquele meu programa favorito, "Os Melhores Clips de Space-Rock da Semana!". Não quer ouvir junto comigo? - Diz a garota de pele amorenada, olhando para o seu relógio.

- "Começo a achar que a recompensa de cinco milhões de créditos juraianos é totalmente insuficiente para compensar o sofrimento de ter uma parceira como a Mihoshi". - Pensa a azarada detetive espacial, quase ao ponto de ter um ataque de nervos.

Enquanto a loira coloca um estranho visor tridimensional e uns fones de ouvido sobre sua farta cabeleira, começando a balançar os ombros e os braços ao som de um videoclip favorito seu, a resignada oficial Kiyone Makibi ajusta os controles do Cruzador Yagami em direção ao terceiro planeta do Sistema Solar, ou melhor, Terra.

A gigantesca nave pintada de vermelho e amarelo responde instantaneamente aos comandos sofisticados de seu sistema de navegação, muda de rumo, e roncando os seus potentíssimos propulsores, inicia o longo caminho de volta para a casa.

Abatida e decepcionada, a policial de cabelos verdes-escuros se deixa dominar por um vago sentimento até então adormecido nela.

Sem ser notada pela Mihoshi, ela lentamente retira a faixa vermelha que trazia enrolada na testa, segurando-a com sua mão esquerda e procura relaxar, ajustando os controles de sua poltrona. Em seguida, ela aperta a faixa no seu peito, junto do seu coração, cerrando os seus olhos num misto de ternura, esperança e angústia..

Uma miríade de lembranças antigas e recentes começa a invadir a sua mente até que - vencida pelo cansaço do dia e pelas noites mal-dormidas da semana - as suas pálpebras começam a ficar mais e mais pesadas. Finalmente, a jovem policial de cabelos longos se deixa vencer pelo mundo dos sonhos, entregando-se ao negro abraço da inconsciência.

*****

Enquanto isto, a milhões de quilômetros ali, o jantar de final de semana estava bem animado na residência dos Masaki.

Apesar da ausência das duas oficiais-residentes da Galaxy Police, a animada refeição contava com os reforços dos cavaleiros juraianos Asaka e Kamidake, bem como da inesperada aparição de Cal Rome (Ou melhor, Calerom) e da Princesa Sweety.

Todo o pessoal estava reunido em volta da enorme mesa de refeições da sala de jantar, apreciando e comendo os deliciosos pratos feitos pela Sasami e pelo Tenchi.

Apesar da demora (provocada pelo quase-acidente do carro desgovernado da atrapalhada dupla de viajantes espaciais e que resultou na queima do Yakisoba de Sasami), ninguém reclamara, apesar de ser quase onze da noite: Três tipos diferentes de deliciosos sushis, uma panela lotada de missoshiru com tôfu, uma farta porção de yakisoba com frutos do mar, salada de pepino japonês, peixe frito e generosas tigelas de arroz branco lotavam a mesa, além de numerosas garrafas de refrigerantes e cerveja abertas.

As porções eram fartas e mesmo que a desastrosa dupla de detetives espaciais chegasse atrasada, ainda iria ter comida para todos. Até porque a pessoa que mais detonava os pratos da Sasami não estava no momento - a Mihoshi, embora sua parceira Kiyone também comesse bem.

Tenchi e Sasami comiam em silêncio, saboreando cada prato devagar e com vontade, enquanto o idoso Katsuhito degustava um sushi lenta e metodicamente, dentro do absoluto espírito de austeridade que caracterizava o seu modo de vida.

Os convidados Cal Rome e Sweety - apesar de terem jantado antes, no restaurante francês que escolheram horas atrás - faziam força para acompanhar o pessoal.

A jovem princesa do planeta Shandar não queria fazer feio por questões de boa educação e etiqueta - embora ela já não estivesse com muito apetite e estranhasse um pouco o sabor e a textura das comidas servidas - em especial o arroz mole e grudento à moda oriental e o exótico prato chamado Sushi. Mas, vencida a estranheza inicial, ela passou a lambiscar os deliciosos pratos da segunda princesa juraiana.

E o pirata espacial que se fazia passar por um inofensivo mercador, porque ainda estava com fome mesmo. Até ele chegar na Terra só havia ingerido duas pequenas barras de rações concentradas nas últimas 24 horas - enquanto estivera sendo caçado sem trégua pelas naves de patrulha da GP.

E a refeição naquele restaurante de luxo - que foi tragicamente interrompida pela polícia, que tinha vindo prendê-los por furto - custou os olhos da cara para se poder dizer que tinha valido a pena.

Como sempre, Washu não largava o seu teclado portátil enquanto experimentava uma e outra coisa do seu prato, enquanto que Aeka (visivelmente chateada e constrangida pela presença de sua antiga rival) experimentava apenas um pouco de tudo, como convinha a uma nobre treinada na etiqueta juraiana, sem falar no seu medo de ganhar uns quilinhos extras.

Ryoko, ao contrário, mostrava a sua legendária falta de modos na mesa, devorando os sushis um após o outro e chegava a impressionar a jovem Sweety pela facilidade com que esvaziava garrafas e mais garrafas de bebida alcoólica, sem ao menos ficar tonta, tomando alternadamente diferentes marcas de cerveja e sakê, numa mistura que poucos agüentariam fazer naquele ritmo.

Os cavaleiros Asaka e Kamidake comiam com vontade, achando a comida de sua atual mestra Sasami absolutamente saborosa, como era previsível. Embora os dois não fossem gulosos, a pequena segunda princesa continuava lotando os seus respectivos pratos, numa demonstração de simpatia e amizade por seus protetores.

À medida que os sushis foram desaparecendo dos pratinhos, a conversa começou a ganhar espaço na mesa de jantar.

- Asaka-kun vai ter um tempinho hoje para mim? - Sorria inocentemente Sasami, aludindo ao desafio feito ao ex-cavaleiro de Jurai, tempos atrás, de ganhar uma partida de um conhecidíssimo jogo de luta 3D contra sua mestra.

- Como queira, Lady Sasami. Contudo, devo-lhe dizer que as minhas chances aumentaram dramaticamente, depois de ter treinado pesado no domingo passado! Desta vez eu... - Responde entusiasmadamente o veterano cavaleiro, mostrando um olhar confiante.

- "Ei, Asaka, não que queira ser chato, mas... Aquele menininho de 7 anos que te derrotou no fliperama no início da semana disse que o seu ponto fraco era não defender voadoras e chutes altos..." - Comenta o seu jovem parceiro Kamidake, cochichando no seu ouvido.

- "Eu, sei, nobre Kamidake, mas a esperança é a última que morre. Além do mais, eu aprendi aquela técnica secreta que pode..." - O veterano cavaleiro de Jurai não se dá por vencido e ainda tinha esperanças de sobrepujar um dia a sua Lady Sasami, embora esta jogasse videogame quase todos os dias, quando tinha uma folga, estando muito mais treinada do que ele.

- Sasami, não convém a uma jovem princesa de Jurai ficar até tarde da noite, ainda mais importunando o cavaleiro Asaka, que deve estar cansado por causa de seu trabalho semanal. - Comenta Aeka, em um tom severo e exigente, enquanto ela discretamente terminava de jantar, evitando de olhar tanto para Ryoko como para Sweety.

- Mas, irmã, eu... Deixa, deixa! - Implora Sasami com o seu jeitinho habitual, com um olhar suplicante.

- Eu estou pensando no seu bem. Você é ainda uma criança e precisa dormir cedo. Já disse que... - Mas a sua irmã mais velha se mantém irredutível, ainda mais porque estava irritada com a presença próxima da princesa Sweety.

- Aeka, você está certa. Mas acho que, como amanhã é o dia de folga da Sasami, ela pode dormir um pouco mais tarde. - Tenchi, como de costume, resolve defender a jovem segunda princesa de Jurai, olhando serenamente para Aeka, deixando-a envergonhada, enquanto Ryoko inconscientemente amassa uma lata de cerveja por puro ciúme, ao ver o "clima" entre os dois.

- Lorde Tenchi, eu estou falando isto para o bem de minha irmã. Não quero que ela se torne uma jovem problemática no futuro como a folgada da .. . - Aeka tenta manter as aparências, mas o brilho do seu olhar demonstra que Tenchi havia vencido a discussão como sempre. Sem outra alternativa, ela resolve então descontar na sua eterna rival.

- A "folgada da Ryoko"? Pô, vê se toca, Aeka. A sua irmã é muito mais adulta e responsável do que você, que nem serve para lavar pratos nesta casa! - Como sempre, a jovem de cabelos cinza-azulados espetados responde à altura, enquanto esvazia de um só gole uma latinha de cerveja de pura raiva ao escutar o azedo comentário direcionado indiretamente a ela.

- Puxa, como você se ofende fácil, sua piratinha neurótica! - A princesa juraiana olha para Ryoko com um olhar de falsa piedade, o que deixa a ex-pirata espacial com mais raiva, enquanto Sweety reprime uma risadinha.

- Pe-pessoal, por favor, a gente tem visitas... E a-acho que a Kiyone-chan e a Mihoshi-chan podem chegar a qualquer momento. - Tenchi repara no nervosismo das duas eternas rivais e tenta acalmar os ânimos antes que a sala de jantar vire uma arena de batalha.

- "Kiyone? Aqui??? Droga! Será que..." - Calerom gela a espinha e dá uma tossida só de ouvir o nome da oficial da Galaxy Police... Trazendo à tona recordações há muito tempo esquecidas.

- Querido, o que foi? Engasgou com alguma coisa? - Estranhava Sweety ao ver o rosto de seu parceiro todo vermelho.

- É mesmo. Por onde elas estão andando? - Pergunta Katsuhito, enquanto tomava vagarosa e metodicamente a sua cerveja gelada.

- Estão saindo da órbita de Plutão e indo para Netuno agora. - Comenta Washu, sem tirar os olhos de seu notebook futurístico.

- Plutão??? - Tenchi arregala os olhos, apesar de saber que Mihoshi e Kiyone tinham que patrulhar toda a área do Sistema Solar.

- Exato. Acabei de detectar no meu computador os sinais deixados pela Yagami e com a ajuda do programa direcional que instalei a bordo do cruzador no final do ano passado, consegui estimar a sua rota. Pela velocidade atual, elas devem chegar no máximo daqui a uma hora. - Diz a genial cientista, sorrindo com um certo ar de superioridade.

- "Tenho que pensar num plano. Se aquela gata me pegar aqui eu tô..." - Pensa "Cal Rome" olhando nervosamente para o seu relógio intergalático.

- Bonito o seu computador... Onde você comprou, Washu? - Sweety se interessa pela conversa e resolve puxar papo com a garotinha de cabelos vermelhos que era muito mais velha do que ela.

- Por favor, me chame de Washu-chan, querida! Infelizmente, este modelo que uso ainda não existe no mercado, pois fui eu que fiz! Além do mais, ele está cerca de 7 gerações na frente dos computadores usados pelo Império Jurai e pela GP. - Diz Washu com os olhos brilhando de contentamento como se fosse uma criança sapeca, enquanto Sweety fica constrangida.

- Puxa, você deve ser muito inteligente! - Só que longe de se sentir ofendida pelo imenso ego da garota de cabelos avermelhados, Sweety começa demonstrar uma admiração genuína pela genialidade da cientista juraiana, coisa que jamais faria com a sua rival Aeka.

- Eu sou apenas a maior mente científica que apareceu neste universo, minha jovem! E pode escrever que não vai aparecer ninguém que chegue perto do meu intelecto tão cedo! Ahahah - Washu sente-se envaidecida e solta uma gargalhada de contentamento.

- Washu! Washu é a maior! Ela é genial!!! - Aparece a Washu "A" dos ombros de sua mestra para elogiá-la, tocando uma marchinha.

- Ninguém pode com a Washu! Ela é o máximo!!! - Responde a Washu "B", agitando dois leques estampados com a bandeira do Japão.

- Nossa, que gracinhas! Estas bonequinhas são também suas? - Sweety se encanta ao ver o pequeno show feito pelas marionetes cibernéticas de Washu.

- Bem... eu... Pode se dizer que sim. Criei as Washus A e B para me darem uma força quando estou meio "down"... As vezes mesmo um gênio como eu tem suas crises existenciais. - Sorri, meio encabulada a cientista, se lembrando das curiosas circunstâncias em que criara suas acompanhantes robóticas.

- Ei, espere ai, dona! Você falou alguma coisa a respeito de Jurai e da GP? Como você sabe...- Intervém "Cal Rome" na conversa, enquanto está com um um peixe na boca à moda "Sanosuke Sagara", sem a menor cerimônia.

- Hummm, mais respeito comigo, senhor "Cal". Eu não sou nenhuma dona e posso garantir que sou muito mais conservada do que sua trisavó. Eu fui a ex-presidente da Academia Espacial de Ciências há 700 anos terrestres atrás. Só que infelizmente houve um "pequeno" desentendimento e os meus colegas não gostaram do teor de minhas humildes invenções... Daí, acabei indo parar aqui na Terra. - Diz Washu, parando de sorrir e falando num tom de voz um pouco mais sério do que de costume. Apenas Sweety, Tenchi e Katsuhito notam uma certa ponta de tristeza no olhar da cientista.

Em seguida, sem que ninguém perceba, a astuta jovem de cabelos vermelhos aperta uma tecla de seu computador.

O monitor transparente analisa a estrutura física e aa aura energética do suposto mercador espacial Cal Rome, revelando a sua verdadeira identidade para Washu, através do cruzamento das informações com o apocalíptico banco de dados que a sua máquina trazia na memória - coisa que ela deixara preparada quando dera uma passada no laboratório antes do jantar ficar pronto e a Mecha-Washu havia lhe contado tudo o que vira pelo computador.

Só que por algum motivo, ela resolve manter sigilo sobre a sua descoberta. Precisaria antes conversar com Tenchi em particular e talvez com Katsuhito sobre isto.

- Isto sem contar que ela ficou presa num baita de um cristal numa caverna perto daí e os trouxas dos aldeões acreditavam que ela era uma assombração, um youkai... Sabe, aquelas monstruosidades que andavam soltas numa época chamada Sengoku Jidai... "Embora eles não tenham exagerado muito neste detalhe" - Como sempre, Ryoko se intromete na conversa alheia sem medir as suas palavras, estando meio "alta" pelo efeito da bebida.

- Ah é, vai fofocar aquele incidente de novo? Experimente isto! - A jovem de cabelos avermelhados fica um pouco nervosa e resolve apertar uma das teclas de seu poderoso notebook subespacial.

- Washu, o que está fazen... Squirkkkk! - Antes que reaja, a pirata espacial é encolhida e se transforma novamente na criatura mitológica chamada "kappa", exatamente como na primeira vez em que ela libertou acidentalmente a cientista do lugar onde estava confinada, na Caverna dos Masaki.

Na ocasião, a linda e assanhada pirata foi castigada pela cientista de cabelos avermelhados por ter sacudido demais o cristal onde estivera presa, ao tentar usá-lo como arma numa briga com Aeka pela posse de Tenchi.

- Mas... O quê?! - Grita Aeka, estupefata pelo resultado instantâneo da metamorfose.

- Não, não de novo! - Exclama Tenchi

- Squirk, squirk!!! - Ryoko fica desesperada, tentando falar para Washu fazê-la voltar ao normal, mas naquela forma (como uma criatura verde com bico e nadadeiras de pato, casco de tartaruga, e um buraco na parte superior da cabeça) apenas consegue emitir uns grasnados incompreensíveis.

- Kawaii, Ryoko-neechan!!! - Exclama Sasami, totalmente encantada com a forma do bichinho em que a pirata de cabelos espetados se transformara.

- Ai, que gracinha! Parece um bichinho de pelúcia! - Diz Sweety acariciando a cabeça do estranho ser com bico de pato e casco de tartaruga, que fica totalmente sem jeito.

- Hohohohoho, ei Ryoko, sabe que você fica mais bonitinha e mais simpática nesta forma? Pelo menos assim você deixa de falar tantas boba...- Refeita da surpresa inicial, Aeka zomba de sua pobre adversária, se divertindo com a cena.

- NHAC! - A pirata espacial se sente ofendida e dá uma bicada na mão esquerda da princesa juraiana.

- Ai, esta doeu, seu monstrinho...!

Enquanto uma furiosa Aeka persegue Ryoko ao redor da cozinha, Tenchi se levanta e vai ao local onde a genial cientista estava sentada, intercedendo em favor da jovem pirata.

- Washu-chan, por favor, perdoe a Ryoko, eu acho que ela estava um pouco "alta" e acabou falando o que não devia...

- Fique frio, Tenchi-Dono, programei o cronômetro do meu Alterador Orgânico Molecular para reverter a transformação daqui a dez minutos. Logo ela volta ao normal.

- Squirk!!! - Protesta a pobre jovem de cabelos espetados, sem saber o que fazer.

Os minutos se passam e finalmente a infeliz pirata espacial volta à sua forma humana. Embora a sua vontade fosse esganar a petulante cientista de cabelos avermelhados, ela sabe que o seu imenso poder de pouco adiantaria para enfrentar a tecnologia mirabolante de Washu, de modo que resolve descontar a sua raiva engolindo de uma só bocada um enorme sushi "Temaki" de uma vez só, em seguida, bebendo de bico uma garrafa inteira de sakê "Bishoujô".

- Ei, Cal, aonde se meteu o Dan-Oh-Ki? Desde que a gente veio aqui, não vimos mais ele e... - Cochicha a jovem princesa de Shandar no ouvido de seu parceiro

- Fique fria, Sweetie. Do jeito que aquele pulguento é, deve estar arranjando uma confusão por aí... - Limita-se responder o não tão convincentemente disfarçado pirata espacial, enquanto bebe despreocupadamente um copo de cerveja.

- Dan-Oh-Ki, quem é ele? - Pergunta Tenchi, movido pela curiosidade.

- Ah, ele é... - "Cal Rome" iria responder ao rapaz, só que ele é interrompido por um miado selvagem.

MIAURRRRR!

Tenchi e todos os presentes ouvem dois rosnados simultâneos vindos da despensa - que ficava num anexo fora da cozinha, além de um ruído típico de briga entre felinos.

Coincidentemente Ryo-Oh-Ki - que costumava sempre jantar junto com Sasami - não estava na cozinha, tendo saído minutos atrás para fora.

Preocupados, Tenchi, Sasami e Calerom saem da sala de jantar e ainda tem tempo de ver a pequena cabbit de pelo marrom-escuro dar uma surra em um outro ser semelhante, só que de pelo amarelo-laranja e rajado de preto.

- Ryo-Oh-Ki-chan! Pare, por favor! - Implora Sasami, ao ver a normalmente pacífica cabbit detonando o intruso com ferocidade.

- Miaaau? - Ryo-Oh-Ki cessa o espancamento, largando o mascote de Calerom totalmente arrebentado no chão e pulando na cabeça da segunda princesa de Jurai. Este havia pago muito caro a sua ousadia ao roubar as deliciosas cenouras da despensa.

- Dan, seu vadio piolhento! Quantas vezes eu não disse para parar de fuçar aquilo que não é seu? - Grita "Cal Rome", para salvar as aparências perante os anfitriões, já que sabia perfeitamente que o seu gatoelho jamais obedecia quando ele queria.

- Um outro cabbit? Eu pensava que só existiam a Ryo-Oh-ki e o Ken-Oh-ki. - Comenta Tenchi, coçando a cabeça, intrigado, notando o quanto o Dan-Oh-Ki era enorme de gordo.

- Nossa, ele é maior do que o Ken-Oh-Ki da Nagi... Oi, tudo bem? O meu nome é Sasami e aiii!!! - Ao lembrar-se do "namorado" da Ryo-Oh-Ki, de propriedade da caçadora de recompensas espacial, Sasami tenta se aproximar do temperamental gatoelho, só que este fica irritado e tenta arranhá-la. Por sorte, Calerom a afasta a tempo

- Miauuuu! - Só que ao ver a sua jovem amiga ameaçada, Ryo-Oh-Ki dá um salto e dá uma unhada bem dolorida no focinho do cabbit folgado.

- Seu depósito de pulgas ambulante! Nunca faça mais isto com a garota! - Calerom começa a dar um sermão apontando o dedo para a cara de seu gatoelho, só que no instante seguinte se arrepende disto.

- NHOC!

- Ai... quando eu te pegar, seu... - Segurando o dedo indicador totalmente inchado pela dolorosa mordida, Calerom tenta correr atrás de Dan-Oh-Ki, enquanto todos olham para ele, com gotas na cabeça.

- Você se machucou, querida? Ai, já disse pro meu namorado que ele deveria botar aquele cabbit no olho da rua! Ele só serve para comer, dormir e aprontar confusão! - Pergunta preocupada Sweety - que viera correndo ao ouvir a confusão - para a jovem irmã de sua rival.

- Obrigada, mas não foi nada. Acho que ele não está acostumado a estranhos...- Comenta Sasami, mostrando-se calma. Era parte do seu temperamento jamais guardar ressentimentos de quem quer que fosse, gente ou animal.

- O Dan-Oh-ki sempre foi deste jeito, Sasami: Anti-social, preguiçoso, mal-humorado, glutão e temperamental ao extremo. Admiro o fato do Cal tê-lo mantido como parceiro durante todos estes anos! - Comenta Ryoko sorrindo, acabando de se teleportar até o local e ao mesmo tempo agarrando Tenchi pelas costas antes que ele consiga fugir.

- Ryoko-neechan? Você conhecia o Dan-Oh-Ki-chan? - Sasami olha a rival de sua irmã, intrigada.

- Ryoko, mas, então quer dizer que... você já conhecia o senhor Cal Rome? - Pergunta Tenchi à sua "amiga", tentando inutilmente se desvencilhar de suas carícias.

- Podemos dizer que sim, Tenchiii. A gente já se topou há anos atrás e chegamos a trocar uns tirinhos no espaço. Até que ele não era uma má pessoa, apesar de certos... deslizes - Responde a jovem adolescente alienígena, apertando ainda mais o pescoço de Tenchi com os seus braços, astutamente omitindo o fato de que ela e o "mercador espacial" já foram parceiros de pirataria.

- Peraí, o Cal nunca falou de você, Ryoko! Então vocês já se conheceram? Quando? Onde? - Pergunta Sweety, subitamente enciumada com a aventureira do espaço, que fica na dela.

- Ei, eu explico, Sweetie. Conheci a Ryoko em uma expedição de pirat... digo... uma exploração arqueológica há uns 3 ou 4 anos atrás. Tá certo que ela é meio folgada, mandona, pavio curto e adora uma bebedeira ocasional, mas no fundo ele é gente boa! - Responde o pirata espacial enquanto dá um sorriso pouco convincente para a sua namorada.

Logo atrás, Tenchi tenta impedir que uma irritada Ryoko acerte Calerom com uma marreta de amassar "mochis" que pesava mais de 15 quilos.

- Você e sua mania de guardar seus segredinhos... Por que não me contou isto antes? Custava alguma coisa ou aconteceu algo a mais entre vocês? - A jovem princesa de Shandar cruza os braços e vira o rosto, insatisfeita com a explicação de seu namorado.

- Fica fria, amorzinho. Isto que te contei é tudo verdade! Só fomos colegas! Um belo dia, eu fui para um canto, a Ryoko foi para outro, e nunca mais a gente se viu... Até o dia de hoje. - Responde Calerom em um tom de voz mais sério, temendo parecer pouco convincente.

- Está bem. Mas me diga, vocês já... tiveram alguma coisa antes de me conhecer? - Pergunta Sweety, atraindo a atenção da pirata espacial, que até então estava se divertindo com a discussão da dupla.

- Você quer dizer, fazer "algo a mais"? Como ir a um motel, um drive-in, uma festa do cabide, uma... - Ryoko fica admirada pela franqueza da jovem e resolve se vingar dos "elogios" recebidos da parte de Calerom, apimentando a conversa.

- Ryoko, por favor! - Tenchi fica subitamente corado como um pimentão, arrancando sorrisos da Sasami e da Ryo-Oh-Ki.

- Bem... não, querida. Nossas divergências pessoais eram profundas demais para criar um clima romântico. - Responde Calerom com uma gotona na cabeça, enquanto olha para Sweety, que ainda estava enciumada.

- "Você é um mentiroso incorrigível, né, senhor Cal Rome"? - Pergunta sarcasticamente a garota de cabelos cinza-azulados usando novamente o seu elo telepático na mente do pirata disfarçado.

- "Peraí, Ryoko, me dá um tempo! A Sweety é minha namorada há poucos meses e não deu tempo de contar todos os detalhes! Depois não tínhamos privacidade suficiente para conversar sobre isto, porque vivíamos correndo das banheiras voadoras da GP!" - Calerom faz uma careta de desgosto e tenta responder, temendo que o seu caso com Sweety não durasse muito caso, sua ex-chefe contasse todos os seus segredos sujos...

- "Sei, sei". - Responde Ryoko telepaticamente, enquanto dá uma risadinha da cara de desespero de seu ex-comparsa de pirataria, parecendo-se divertir com isto.

- "Por favor, não conta para ela aquele caso que tive na colônia 0969... Pelo amor de Deus! Eu juro que não foi o que parece!" - Implora o bucaneiro espacial, arregalando os olhos e gesticulando muito para sua ex-chefe - apesar de não falar verbalmente nada - o que faz Sasami, Tenchi e Ryo-Oh-ki estranharem a sua reação.

- "Ah, aquela noite em que você ficou bêbado até quase cair em pé, resolveu sair com duas mulheres que nunca viu antes e acabou acordando pelado e sem grana no dia seguinte num quartinho suspeito? Vou pensar no seu caso!". - Ryoko se faz de difícil e resolve tirar mais uma casquinha dos casos mal-resolvidos de Calerom, embora a sua impressão em relação a Sweety ter melhorado muito, passando a ter simpatia por ela.

- Ei, o que aconteceu que está todo mundo parado? - Estranha Tenchi ao observar a "conversa sem palavras" entre os dois piratas espaciais.

- Naaaaada, Tenchiii. Eu estava pensando numa coisa engraçada! - Sorri Ryoko, piscando um de seus belos olhos dourados.

Aproveitando o fato de Ryoko tê-la deixado em paz, Calerom aproveita para pegar Dan-Oh-Ki pela nuca e botá-lo para fora da casa com um bom pontapé, pois temia que o seu gatoelho aprontasse mais uma das suas. Ele sentia que a coisa iria engrossar se Kiyone chegasse, mas não podia pensar em fugir sem uma nave intacta. Mas ele poderia fazer um de seus infalíveis esquemas...

Enquanto isto, a conversa entre Sweety, Ryoko e Tenchi prosseguia do lado de dentro da despensa. Sasami varria o chão coberto de talos de cenouras comidas, sem se deixar desanimar pela enorme quantidade devorada, enquanto Ryo-Oh-Ki estava furiosa e inconformada com o assalto às suas queridas cenouras. Embora ela e Dan-Oh-Ki se conhecessem desde a época em que Calerom e Ryoko foram parceiros de pirataria, a simpática cabbit nunca se deu bem com o mascote do imediato de sua mestra - embora o gatoelho amarelado vivesse flertando ela e ganhando uns arranhões em seu focinho por isto.

- Poderiam ao menos dizer o que vocês estavam pensando? - Pergunta Sweety, ao mesmo tempo intrigada e enciumada, por ter percebido que seu namorado e a garota alienígena eram velhos conhecidos de tempos passados.

- Você se chama Sweety, não? Saiba que é uma garota de sorte por ter fisgado um cara tão interessante como o Cal. Sem falar que ele é um excelente piloto, bom de briga, bastante esperto e que sabe viver a vida como poucos - Ryoko surpreendentemente resolve por os pingos nos "is" e elogia a jovem de olhos verdes.

Embora ainda achasse que Sweety tivesse gostado do seu ex-companheiro de roubos por ser boazinha e inocente e não tanto pelas "qualidades" de Calerom, a pirata espacial gostou de saber que a princesa Shandariana não era nem um pouco fã da sua rival Aeka, abrindo a possibilidade de se fazer algumas futuras "alianças".

- Ah, obrigada. O Cal as vezes faz umas loucuras, mas ele é realmente uma boa pessoa! - Sorri Sweety, enquanto as suas faces delicadas ficavam coradas de timidez. Apesar dela não apreciar muito o jeito meio estabanado e boca-livre de Ryoko, começara a admirar a sua franqueza de opiniões, sua esperteza e coragem.

- Só tome cuidado para não deixar as asinhas dele crescerem... Ele é um pouco danado, como todo homem e sabe como eles são... - Diz Ryoko sorrindo, enquanto cochicha uma frase inaudível nos ouvidos da princesa Shandariana, que arregala os olhos.

- Ah, sei... Vou pensar em seu conselho, Ryoko. - Diz Sweety, que após a surpresa inicial, sorri, piscando o seu olho direito para a nova amiga.

- Ei, o que estão cochichando? - Pergunta Calerom, botando o pescoço do lado de dentro da despensa.

- Confidências de mulher, senhor viajante espacial. - Diz a princesa, dando o troco de volta ao seu parceiro, mostrando que sabia se entrosar facilmente com outras pessoas, exceto certa aristocrata juraiana.

Neste momento, Aeka aparece subitamente no pequeno depósito, ignorando a presença de "Cal Rome" e fica chateada ao ver Ryoko e Sweety conversando como se fossem velhas amigas. Em seguida, ela discretamente faz um sinal para que Tenchi - que estava mais perdido do que cego em tiroteio na conversa - o acompanhe.

Deixando os demais conversando piadas e amenidades, o neto de Katsuhito começa a seguir a jovem princesa num passeio noturno pelo jardim, enquanto uma enciumada Ryoko observa o casal à distância pela janela, rangendo os dentes.

- Aeka, aconteceu alguma coisa? - Pergunta Tenchi, sabendo que Aeka somente tomava a iniciativa em procurá-lo quando o assunto era sério.

- L-Lorde Tenchi, desculpe-me importuná-lo por algo irrelevante, sei que está cansado e com sono, mas... estou um pouco inquieta. - Diz Aeka, com um olhar tímido, e visivelmente corada pelo fato de poder estar ao lado de seu amado.

- O que foi? Poderia me contar?

- Olha, eu não conheço o senhor Cal Rome, mas parece-me que ele é uma pessoa até razoável, apesar dele ser meio... rústico. Mas, preciso lhe dizer uma coisa urgente sobre aquela menina, a princesa Sweety...

- Ah, tá. Vocês já se conheciam, certo?

- E-ela parece ser uma pessoa amável e gentil, com todos... M-mas não se deixe enganar pelas aparências! Ela se faz de santa na frente de todo mundo, mas é uma danadinha irresponsável! Conheci-a muito bem desde quando a gente era criança! - Diz a jovem princesa, passando do acanhamento inicial para a indignação pura.

Em seguida, Aeka começa a relatar um dos seus primeiros encontros com a primeira princesa de Shandar, em forma de flashback:

[Início do Flashback - Versão da Aeka]

A cena inicial mostra uma pequena e doce Aeka - em versão infantil - empinando uma bela pipa num gramado cheio de flores do planeta Jurai. Ela andava despreocupadamente, admirando o seu brinquedo, que flutuava ao vento, impulsionado por uma brisa suave.

De repente, ela percebe uma sombra se aproximando rapidamente e ela é obrigada a se jogar no chão, sujando o seu belo vestido na terra. O cordão de sua pipa é cortado pela asa de uma moto-foguete voadora que aparece do nada!

- Aiii! Socorro! A minha pipa, não! - Exclama, chorosa a pequena princesa de Jurai, enquanto vê o seu brinquedo ser levado pelo vento até cair num lago próximo, afundando em seguida.

- Oiêêê, desculpa, assustei você? Qual o seu nome? Eu sou a Sweety, a Primeira Princesa de Shandar! - No instante seguinte aparece atrás de Aeka, a figura de uma garotinha loira de olhos verdes, mas com ar inteiramente sapeca e que estava dirigindo a moto-foguete que rompeu o fio da pipa.

- E-eu sou Aeka, princesa de Jurai. A minha pipa... - Diz humildemente a garotinha de cabelos púrpura, enquanto uma tímida lágrima escorre de seus olhos vermelhos, o que atrai a zombaria de Sweety.

- Que foi, chorando por causa de uma pipa cafona e antiquada como aquela? No meu planeta as crianças pobres nem usam mais aquilo! - Diz Sweety com um ar de convencimento e superioridade.

- M-mas, a-aquela pipa, foi feita pelo meu pai.... E-eu g-gostava muito dela.... - Respondia com a cabeça baixa a jovem princesa juraiana, a ponto de chorar.

- Tadinha.... , mas não chora não, migucha. Venha cá, suba na minha moto voadora que vou te mostrar o que é diversão de verdade! - Sorri Sweety, fingindo consolar a pobre Aeka.

- M-mas, não é perigoso pilotar isto? E-eu... - A inocente garotinha hesita, pensando nas conseqüências.

- Ah, deixa de ser certinha, Aeka-chan. Você vai adorar! - Sweety desce de seu perigoso veículo espacial e "convence" Aeka a sentar na garupa, subindo ela em seguida na parte da frente.

- P-por favor, eu não estou acostumada a andar nisto.... p-pare!

- Vamos partir! Iahuuuuu! - A sapeca princesa de Shandar não se faz de rogada e em seguida acelera a moto voadora a toda, assustando Aeka por causa da rapidez, subindo centenas de metros em apenas 2 segundos.

Totalmente apavorada e sentindo vertigens, Aeka tenta inutilmente convencer a aloprada Sweety a descer no solo, mas esta recusa, fazendo mais e mais manobras radicais, "loopings" e piruetas, deixando a jovem princesa de jurai completamente tonta e sentindo um medo que nunca tinha acontecido antes.

O final do relato mostra uma pobre e chorosa Aeka caída de bunda na parte rasa da lagoa, enquanto um feioso sapo espacial coaxa em cima de sua cabeça. Voando em cima, Sweety parece zombar de sua nova "amiguinha":

- Puxa, você não gostou de nosso passeio, querida? Mas que falta de coragem! Bem, preciso ir andando... Até mais!

[Final do Flashback]

- Puxa, mas a Sweety era tão levada assim, Aeka? - Comenta o jovem Masaki, pensativo no que a garota de cabelos violeta tinha acabado de dizer.

- Você não viu nada ainda, Lorde Tenchi. Eu sugiro dispensar o mais rápido possível ela enquanto é tempo. Se você deixar aquela menina metida ficar nesta casa, eu te garanto que ela vai aprontar alguma maluquice!

- Tá certo... - Suspira o rapaz colegial, de pura resignação.

Enquanto Tenchi e Aeka caminhavam dando voltas pela casa, comentando os assuntos do dia - na varanda da casa dos Masaki, Calerom, Sweety, Ryoko e Sasami (junto com uma sonolenta Ryo-Oh-ki na sua cabeça) dialogavam entre si.

- É verdade que você conheceu a minha irmã desde criança, Sweety-neechan? - Pergunta inocentemente a jovem segunda princesa juraiana.

- Ah, quem me dera se Aeka fosse doce, humilde e bondosa como você, minha querida Sasami! - Sorri melancolicamente Sweety enquanto acaricia Ryo-Oh-Ki e os longos cabelos azuis da menina.

- Hum.... por falar nisto, como era a Aeka naquele tempo, Sweety? - Pergunta Ryoko, enquanto que com o canto do olho esquerdo certifica-se que a sua rival esteja suficientemente longe para não interromper a conversa.

- Acho que seria uma boa você falar como foi o seu encontro com a primeira princesa de Jurai, docinho! - Comenta Calerom, interessado.

- Ai, não gosto de falar nisto... Eu me lembro que, apesar de meu planeta natal e Jurai serem aliados... A Aeka nunca foi com a minha cara, sem motivo de minha parte... Desculpe-me dizer isto, Sasami, mas é a verdade. - Responde Sweety ostentando um ar de tristeza e ligeira angústia.

- Mas, como foi mesmo o seu primeiro contato com ela, fofa? - Pergunta Ryoko, visivelmente curiosa para saber dos detalhes, pois adorava uma fofoca.

- Bem, foi assim...

[Início do Flashback - Versão Sweety]

O início da versão de Sweety mostra ela - com 7 para 8 anos de idade - em visita oficial ao Reino de Jurai. Enquanto os seus pais estavam se reunindo com os anfitriões num enorme salão decorado, ela brincava serenamente num gramado florido, não muito longe do palácio real dos Juraianos.

A jovem princesa Shandariana estava totalmente entretida, brincando com uma pequena nave espacial de brinquedo dirigida por controle remoto, que fazia piruetas e manobras diversas.

No instante seguinte, a sua tranqüilidade é interrompida pela figura arrogante e antipática da Aeka (versão mirim) que chega na sua frente, fazendo uma cara de poucos amigos:

- Ei, o que está fazendo aqui? Esta é uma propriedade particular! Eu sou Aeka, a Primeira Princesa de Jurai e não posso permitir tamanho desrespeito nos meus domínios! - Diz a altiva garota de cabelos violeta, apontando o dedo de forma ameaçadora para a inocente princesa de Shandar.

- E-eu me chamo S-sweety, filha do rei Malkin... E eu estou em visita no seu planeta... Estava apenas brincando... - Responde jovem de olho verdes, assustada com a reação irada de Aeka.

- Uhnnnn.... Princesa Sweety? Hohohohoho! Como uma fedelha como você pode dizer que é filha do rei de Shandar? Isto é uma piada! - Debocha Aeka, dando uma de suas irritantes gargalhadas.

- M-mas é verdade... E-eu só queria brincar... - Diz Sweety, sentindo-se totalmente intimidada.

- Ah, mas aqui é proibido brincar aqui sem a MINHA permissão! Me passe este controle remoto! - Aeka aponta para o controle do brinquedo, lançando um olhar maldoso.

- M-mas...

- Anda, eu disse!

- Tá bom...

- Ai, que nave feiosa! Não sabia que tinham brinquedos tão feios e antiquados em Shandar! Olha só como uma especialista como eu é capaz de fazer. - Comenta Aeka ao ver o singelo brinquedo, começando a mexer os controles de qualquer jeito.

- Ei, espere... Assim você pode estragá-lo... - Sweety percebe que o brinquedinho estava começando a ficar fora de controle e inutilmente pede para Aeka parar de mexer o controle remoto com muita força.

- Hohohoho.... Agora é tarde demais! - Sem hesitar, Aeka arrebenta um dos botões do controle que controlavam a nave, deixando-a totalmente instável

- Por favor, não estrague a minha nave!

- Ah, esta coisa horrorosa é sua? Olha só o que vou fazer com ela!

- Não, por favor!

Aeka não dá ouvidos aos apelos da princesa e começa a apertar os botões restantes do controle remoto freneticamente, até que o frágil dispositivo quebra. Desgovernada, a pequena nave de brinquedo de Sweety cai num lago próximo.

- Buáááá! O meu foguete...

- O azar é seu! Quem mandou comprar um brinquedo de terceira categoria? Bem, tenho mais o que fazer, tchau!

Enquanto uma desolada Sweety chora ajoelhada no gramado, olhando para o brinquedo afundado no lago, uma malvada e sorridente Aeka se afasta, correndo e pensando na próxima traquinagem que iria fazer.

[Final do Flashback]

- E-eu juro que s-sempre tentei me dar bem com a princesa Aeka, mas... ela é tão dura, tão orgulhosa e por causa desta e outras coisas, perdi minhas esperanças de fazer amizade com ela! - Comenta Sweety, discretamente soltando uma lágrima.

- Buáááá.... snif.... Que história triste! Agora eu começo a entender o porque de você sempre querer pilotar naves espaciais! - Diz Calerom chorando de forma exagerada e usando vários lenços de cores diferentes que pareciam não ter mais fim, saindo dos bolsos de sua calça.

- Eu sei como você se sente... Acredito em sua história. Eu lamento por toda a tristeza e sofrimento que aquela patty histérica trouxe na sua vida! - Diz Ryoko, soltando lágrimas de crocodilo e acariciando levemente os cabelos de Sweety.

- Puxa, Sweety-neechan... A sua história é muito parecida com as que a Ryoko-neechan conta para a gente sobre a minha irmã - Comenta inocentemente a jovem Sasami, sem demonstrar se acreditou ou não na versão da princesa de olhos verdes. .

- Parecidas? Como assim? - Pergunta a jovem princesa de Shandar, intrigada.

- A Ryoko-neechan de vez em quando fala algumas histórias de como ela se encontrou com a minha irmã no passado. O engraçado é que elas nunca batem com as que Aeka-neechan contam falando sobre ela. - Responde Sasami com certo tom de seriedade na sua voz.

- Mas, Sasami, se as minhas histórias batem com as que a Ryoko diz, isto quer dizer que nós duas estamos a verdade e que a Aeka certamente.... - Tenta argumentar Sweety, procurando convencer o pessoal da sua versão dos fatos.

- Eu não acredito que você, madame Sweety, esteja contando de novo as suas lorotas sem pé nem cabeça a respeito de minha amável e adorável pessoa para os outros! - Uma voz um pouco estridente e nervosa se faz ouvir a poucos metros da onde o grupo estava reunido.

- Minha "doce" princesinha Aeka, já voltou do seu passeio noturno com este inocente jovem? Fico admirada da imensa quantidade de mentiras perversas que você deve ter falado a meu respeito... - Sweety não se dá por vencida e responde à altura, conhecendo o temperamento da rival.

- E não satisfeita de contar calúnias sobre minha pessoa, ainda está tentando atrair a vigarista da Ryoko para... - Aeka estava ficando irritada pelos comentários de Sweety, e em seguida nota o sorriso cínico da pirata espacial, acenava a cabeça afirmativamente, concordando com tudo que a princesa shandariana dizia.

- Ei, qualé, Aeka, você vem e pega o MEU Tenchi sem dar satisfações e vai saindo por aí contando suas memórias distorcidas? Isto é algo que não posso tolerar! - Ryoko fica realmente nervosa com o comentário anterior e o fato de ver Tenchi junto com sua rival faz o sangue subir à cabeça

- Não enche, Ryoko, ou quer que eu chame meus guardiões para te prender como fiz naquela vez? - Responde Aeka.

- Pode vir quente que eu estou fervendo, princesinha de araque! Você e aqueles tocos cheios de cupim não me metem medo. - Diz Ryoko com fúria no olhar, arregaçando as mangas de seu vestido.

- E-ei, parem com isto, meninas... a gente... - Diz Tenchi, temendo outra batalha iminente. A última havia lhe custado dois dias de intensos reparos na cozinha e no jardim.

- Ryoko-neechan, Aeka-neechan! Por favor... - Implora Sasami, sabendo do que as duas briguentas eram capazes quando estavam decididas a rodar a baiana.

- Ei, turma, a conversa tá boa, mas não vamos provocar uma guerra neste...

Calerom não tem tempo de completar a sua frase, pois tanto Aeka como a sua ex-chefe fitam ele com uma expressão de puro ódio capaz de gelar a alma mais corajosa. O pirata espacial sua frio, engole em seco, dá uma risadinha sem graça, e fica na sua.

- E quanto a você, minha querida e doce Sweety, eu fico admirada do fato de você ter saído do seu desertinho calorento aonde vive, apenas para me insultar e insultar este lindo planeta com a sua presença escandalosa e inútil. - Diz Aeka apontando acusadoramente o dedo para a princesa-herdeira de Shandar

- O QUÊ? Ora, sua pattyzinha de subúrbio, eu não posso mais tolerar seus insultos de baixa categoria! - Sweety finalmente sai do sério e agora fica realmente furiosa com a aristocrata de Jurai.

- Aeka, eu não gostaria estragar esta noite, mas se quiser uma luta, vai tê-la. - Ryoko fica furiosa e usando seus poderes inatos, o seu traje habitual muda por completo - alterando-se para a sua veste de batalha vermelha e negra que há tempos não usava. Uma potente faísca elétrica de pura energia é visível no seu punho direito fechado.

- Espere, Ryoko-chan, esta luta é minha! Aeka, eu te dou um prazo de dez segundos para engolir as suas mentiras doentias. Não posso permitir que você continue trazendo desonra para esta galáxia! - Diz Sweety, se preparando para uma luta iminente.

- Ah, então é assim? Vocês duas ficaram amiguinhas de repente??? Mas não pensem que me metem medo... Asaka! Kamidake! Dêem uma lição nesta princesinha de subúrbio!

Um tenso momento de silêncio anuncia o início da briga. Os guardiães robóticos de Aeka surgem instantaneamente e se posicionam à frente de sua mestre, protegendo-a, antes que Ryoko pense usar um de seus raios.

- Nada pessoal, princesa Sweety... - Diz o guardião Asaka.

- Mas apenas cumprimos ordens. - Complementa Kamidake.

A um comando mental de Aeka, os guardiães projetam um poderoso campo de força em forma de bolha, aprisionando a jovem de olhos verdes numa redoma impenetrável, que flutua a um metro de altura do solo.

Ryoko fica estupefata, já que o ataque foi preciso - a poucos metros da onde estava - e ela sabia melhor do que ninguém que era muito difícil sair daquela prisão invisível.

- Hohohoho, como está se sentindo agora, minha cara Sweety? Admita, você não é de nada! - Aeka ri, acreditando ter vencido a luta.

- Aeka-neechan, por favor, pare, antes que vocês se machuquem! - Sasami tenta implorar inutilmente à Aeka, pedindo para que libertasse a jovem princesa.

- Aeka, pare com isto! - Grita Tenchi, mas Aeka nada responde, continuando dar a sua risada característica..

- Isto é uma covardia muito grande, dondoca dos quintos dos infernos! Se quer uma briga de verdade, vamos, me enfrente! - Diz Ryoko, se preparando para entrar em ação.

- Espere aí, amiga Ryoko. Eu posso me cuidar de si mesma. - Responde calmamente Sweety para a jovem de cabelos azuis, ainda dentro da redoma.

- Sweety, mas, você... ? - Ryoko hesita, mas percebe pelos seus sentidos super-apurados que a jovem de cabelos castanho-claros não estava tão indefesa.

- Ora, mas o que as duas dondocas estão falando? - Comenta ironicamente Aeka, não notando a súbita variação de energia ao seu redor.

Os Asaka e Kamidake robóticos percebem a aura de Sweety crescendo de brilho e poder - a ponto de impressionar Tenchi, Sasami, Calerom e a própria Ryoko. Os brincos das orelhas da jovem shandariana começam a emitir uma luz fortíssima e o seu cabelo muda de tonalidade, tornando-se mais brilhante e eriçando-se por completo.

No instante seguinte, a sua aura se transforma numa espécie de cristal vermelho de múltiplas faces e finalmente libera uma onda de choque fortíssima, jogando os pobres guardiões de Aeka para longe.

- Uaiiiiii! Asaka, ela repeliu o nosso campo de força!

- Definitivamente não é o nosso dia, Kamidake.

Aeka mal tem tempo para se proteger, ativando o seu campo de força pessoal de energia Jurai, que apenas é o suficiente para impedir que ela saísse voando como os seus infelizes guarda-costas.

- Sweety, mas... como? - Exclama incrédula a orgulhosa princesa juraiana, enquanto bate o seu kimono com a mão direita para tirar um pouco da poeira causada pela onda de choque.

- Assim como você possui os seus ridículos poderes; nós, da casa real de Shandar, possuímos a nossa fonte milenar de força, minha cara princesinha. Por que imagina que o meu planeta ficou a salvo das invasões externas por milênios? - Diz Sweety, finalmente liberta e totalmente envolta numa aura vermelho-brilhante, ostentando um olhar de inteira autoconfiança.

- Ora, sua garotinha mimada... Eu ainda não usei o meu poder total! Mas se quiser experimentar... - Responde Aeka, dando um sorriso irônico.

- Coff... Coff... o que aconteceu, Ryoko?. - Pergunta o jovem Tenchi Masaki, tentando se levantar do chão, enquanto Calerom tinha ido parar num dos arbustos do jardim.

- Não sei direito, mas que senti firmeza naquela garota senti, Tenchi... - Responde a pirata espacial, flutuando com a ajuda de seus poderes, decidindo esperar um pouco, após ver a performance da princesa shandariana.

A situação se torna crítica de verdade. Aeka fita Sweety com raiva no olhar e esta também fuzila os olhos vermelhos da sua "colega" juraiana.

Sorrindo maquiavelicamente, Aeka faz surgir vários pequenos troncos flutuantes ao redor de sua rival e estes soltam poderosas raízes que imobilizam os braços e as pernas da jovem princesa de Shandar.

Em seguida, obedecendo a uma ordem mental da garota de cabelos violeta, os troncos emitem poderosas descargas de energia, eletrocutando Sweety, que grita de pura dor.

- Ughhhhnnnn! A-Aeka, s-sua...

- Você pensou que meus poderes Jurai servem só para a defesa? Depois desta você vai ter que chamar pelo seu papai! Hohohohoho!

- Aeka! Eu...! Ryoko fica furiosa ao ver tamanha demonstração de covardia e imediatamente prepara uma bola de energia, pensando em atirá-la contra a sua eterna rival. Só que Tenchi percebe e segura no braço direito dela.

- Ei, o que foi Tenchiii? Me deixa... - Protesta a jovem pirata, desconcentrando-se momentaneamente.

- Ryoko, não faça... O quêêê?

Num certo momento, Sweety pára de se contorcer por causa das descargas elétricas emitidas pelos troncos flutuantes e, dando um sorriso de puro desprezo, imediatamente rompe as raízes que prendiam os seus pulsos - para surpresa da sua adversária.

Com os olhos cerrados e uma expressão serena no rosto, ela faz um gesto como se estivesse rezando, e todos os troncos são repelidos, caindo inertes no chão.

- Eu também sei atacar, minha cara Aeka. Experimente isto! Stardust Beam! - Sweety faz uma porção de gestos rapidamente com as mãos e entrelaça os seus dedos, apontando-os para a sua rival.

- Eu não acredito!!! - Exclama Aeka.

Foi tudo muito rápido. A aura de Sweety muda de cor, passando para um vermelho-rubi vivo e de seus dedos entrelaçados sai uma poderosa rajada formada por uma infinidade de cristais pontiagudos - todos eles afiadíssimos e numa quantidade incontável.

Aeka aciona o seu escudo de energia Jurai para se defender e consegue rebater a poderosa técnica de sua rival - apesar que ela sente fortemente o impacto, tendo caído no chão no final do ataque. A rajada de cristais explode no meio do lago dos Masaki, causando uma explosão violenta.

- Ahahah, Gostou disto, sua patty metida? - Desta vez é a vez de Sweety rir da humilhação que a sua adversária sofrera.

- Ah, é? Se me pensa que pode derrotar com estes ataques ridículos, sua... - Responde Aeka tentando se levantar.

- Se está com ciuminho de meus poderes, tente fazer melhor!



Neste momento, os Asaka e Kamidake humanos - que, ao ouvir os ruídos da luta, se apressaram primeiro em socorrer os guardiães robóticos que haviam caído a centenas de metros dali por causa do contra-ataque de Sweety. - eles chegam ao local do insólito combate, ficando ao lado de uma aflita Sasami.

- Lady Sasami, o que houve? - Pergunta Kamidake, ofegante.

- Alguém, por favor, pare as duas! - Grita Tenchi enquanto Aeka e Sweety trocam golpes e mais golpes, estremecendo o solo e as árvores próximas.

- É isto mesmo! Esta briga está passando dos limites... - Responde Calerom, hesitando em usar seus poderes.

- Asaka-Kun, Kamidake-Kun, por favor, segurem a Aeka Neechan e a Sweety neechan até que elas se acalmem! - Pede Sasami, com olhar aflito.

- Vamos fazer o possível. - Responde Asaka, assumindo posição de combate e fazendo aparecer do nada a sua lança, bem como seu uniforme de cavaleiro.

- É para já, milady Sasami. - Diz Kamidake, fazendo o mesmo .

- Eheheh, como disse, Tenchiii.... senti firmeza naquela garota! Até que ela está se saindo muito bem... - Comenta a pirata espacial, se divertindo com a luta. Pela primeira vez na vida, ela não precisava sujar suas mãos contra Aeka.

- Isto não tem graça nenhuma, Ryoko! Se elas continuarem, vão acabar se machucando! - Comenta Tenchi, indignado com a falta de seriedade da alienígena.

- Por que a gente não aproveita e não vamos para a floresta fazermos uma... rapidinha?

- Ryoko!

Sem dar mais ouvidos para os presentes, uma Aeka fula da vida lança uma rajada energética usando o seu poder Jurai total. E Sweety contra-ataca usando novamente a sua técnica Stardust Beam, só que mais poderosa.

Porém, antes que as duas rajadas se choquem, o cavaleiro Asaka bloqueia - com muita dificuldade - o poderoso golpe da princesa juraiana absorvendo-a com a ponta de sua lança ; enquanto que seu companheiro Kamidake anula os efeitos do Stardust Beam de Sweety.

Os lendários guerreiros são obrigados a usar toda a experiência acumulada de combate que possuíam para conter os efeitos das técnicas das duas briguentas, que eram mais do que suficientes para destruir até um edifício.

- O quê?... Cavaleiro Asaka, solte-me! Eu ordeno que me liberte para dar uma lição naquela irresponsável! Ela precisa ser castigada exemplarmente para deixar de ofender a honra de Jurai e a minha! - Esperneia Aeka, tendo sido imobilizada pelo Asaka humano, que fez isto a contragosto.

- Sinto muito, milady Aeka, mas é nosso dever proteger em primeiro lugar a sua integridade física e de todos os presentes. - Responde o veterano cavaleiro, constrangido por estar segurando uma garota em seus braços, ainda mais sendo uma legítima princesa juraiana.

- Você deve ser o lendário Kamidake que o meu pai tanto falava... Mas fique longe disto, cavaleiro de Jurai! Esta luta é minha e de Aeka! E preciso dar uma lição de humildade naquela pattyzinha com TPM crônica! - Grita Sweety, enquanto Kamidake tenta contê-la, com muita dificuldade.

- Compreendo os seus sentimentos, linda jovem, mas essa disposição agressiva não combina com a sua personalidade. - Diz o jovem cavaleiro juraiano, reparando o quanto Sweety era bonita.

- L-linda? Bem... pelo menos disse alguma coisa que valeu a pena. - Conforma-se Sweety dando um suspiro, ligeiramente envergonhada.

- Ei, cara, pare de cantar a minha garota ou você vai levar uma na moringa, viu! - Responde Calerom, totalmente furioso, ainda preso nos galhos do arbusto aonde caíra quando a luta começou.

- Oh, oh... Acho que a luta de vocês acabou causando algumas baixas, além dos prejuízos materiais de sempre... - Aparece Washu no local da briga, flutuando no ar com os seus poderes, enquanto examina algo no monitor de seu notebook subdimencional.

- Não pode ser! - Responde Calerom arregalando os olhos ao notar algo de diferente enquanto as duas briguentas estavam trocando golpes e mais golpes.

- Mas... - Ryoko tenta falar alguma coisa, mas dá uma olhada na direção que o seu ex-subordinado estava vendo e entende o que tinha acontecido.

- O que você quer dizer com isto, Washu-chan? - Pergunta Tenchi.

- Olhe em direção ao lago. Eu nem precisei fazer os meus cálculos... Aliás, já deu uma hora, não?

Nesta altura, todos os presentes estavam com suas atenções voltadas para o lago da residência dos Masaki. Inclusive o imperturbável Katsuhito, que tinha saído do interior da casa, para voltar aos seus aposentos, no templo que ficava montanha acima.

Por causa do combate travado entre as duas princesas, ninguém havia notado a chegada de visitas familiares, exceto Washu com o seu infalível computador portátil, e o avô de Tenchi, com seus sentidos Jurai super-apurados.

Era para ser mais um pouso de rotina no lago dos Masaki, mas o impacto da técnica "Stardust Beam" lançada por Sweety fez com que a Yagami afundasse parcialmente dentro dela, depois da sua cabine de comando ter sido severamente atingida pela explosão resultante.

Um dispositivo de teleporte automático havia salvado as suas integrantes da morte certa, apesar delas terem ficado zonzas com o impacto da rajada de cristais perfurantes.

- Ai... Ui... Kiyone-chan!... Buáááá.... O meu radinho portátil... - Choramingava Mihoshi, logo após pousar os seus pés em terra firme, após ter sido teletransportada de forma milagrosa pelo dispositivo implantado pela Washu. Seu uniforme estava em frangalhos e ela segurava um fone de ouvido com apenas metade do fio numa das mãos e um rádio em pedaços noutra.

- O que falta para completar esta trágica semana??? Minha pobre Yagami... (chuif) Oh, Kami-sama, me ajude!... - Dizia uma Kiyone cambaleante e com os olhos girando, nem querendo olhar para trás para ver o estrago causado pela misteriosa explosão em sua nave favorita.

- Kiyone-neechan! Mihoshi-neechan! - Exclama Sasami dando um suspiro de alívio, correndo em direção da desastrosa dupla de policiais.

- Hã... Olá, como foram de viagem? - Pergunta Tenchi sem saber direito o que falar, visivelmente envergonhado.

Aeka e Sweety param de discutir, olhando para as duas recém-chegadas, com visível ar de espanto e constrangimento - ao ver a gigantesca nave afundada e as duas agentes da GP praticamente irreconhecíveis, como tivessem voltado de uma guerra.

- Finalmente chegaram... - Comenta o Asaka robótico, já refeito do golpe que levara da princesa Shandariana.

- Será que ainda dá tempo para a sobremesa? - Pergunta o seu colega Kamidake, reparando neste detalhe.

- "N-Não p-pode ser! K-kiyone!... Aqui??? " - Exclama Calerom enquanto tenta se esconder atrás do arbusto onde estava escondido.

Notas do Capítulo:

01 - Considere que uma unidade de crédito juraiano equivale a um dólar americano para efeitos desta fic;

02 - Yakisoba: Prato popular japonês, consistindo de macarrão frito com molho de soja acompanhado de verduras picadas e carne.

03 - Sushi: Bolinho de arroz enrolado com uma tira de alga marinha prensada (nori) e recheado com ingredientes variados: omelete de ovo em tiras, vagem, raiz forte, pepino, kani-kama e outros. O "Temaki" é um sushi de enormes dimensões, com uma folha inteira de nori enrolada como se fosse um cone e recheado com os items acima descritos;

04 - Missoshiru: Caldo de pasta de soja aquecida em água fervente. Muito usado como entrada de refeições e um rápido café da manhã. Dependendo do gosto pessoal, ele pode ser reforçado com cebolinha picada, peixe, macarrão e outros ingredientes;

05 - Tôfu: Queijo de soja de consistência mole e sem sabor, servido geralmente com molho de soja (shôyu) acrescido de gengibre e/ou raiz-forte picada. As vezes entra como acompanhamento do Missoshiru;

06 - No Tenchi Muyo TV, Washu havia sido confinada na mesma caverna em que Ryoko estava no OVA. Embora a tradução americana fale que os camponeses consideravam-na um "goblin", a dublagem original não deixa dúvidas, falando claramente o termo "youkai". Esta caverna existe de verdade e fica nos arredores de Okayama (região sul do Japão). A aparição da Washu e o incidente da transformação da Aeka e Kyoko em kappas ocorre no episódio 5 da série;

07 - O sakê "Bishoujô" (garota bonita) apareceu num dos episódios da série, quando o avô e o pai de Tenchi ficaram bêbados ao tomarem uns goles.

08 - As versões japonesas e americanas usam o termo "cabbit" (cat+rabbit) para designar a espécie da Ryo-Oh-ki, enquanto a tradução brasileira usa a palavra "gatoelho". Optei por empregar os dois como sinônimos;

09 - No original, Aeka costuma chamar Tenchi de "Tenchi-Sama" (senhor Tenchi ou Lorde Tenchi). E Washu o trata como "Tenchi-dono" (forma arcaica, usada somente para se referir respeitosamente a personagens ilustres);

10 - Para a fabricação de "mochis" (uma espécie de bolinho de arroz amassado, usado muito para comemorações de ano-novo), utiliza-se um enorme martelo de madeira.

11 - Por favor, leiam e comentem esta fic!

Escrito por: Calerom

E-Mail: myamauchi1969@yahoo.com.br

Última Versão: 27/02/2004.