CAPÍTULO 07: SEM NECESSIDADE PARA DUELOS.

Planeta Jurai, estamos na capital do maior império da galáxia, situado num imenso vale preenchido por árvores de existência milenar. Apenas o imenso palácio imperial era feito de pedra e do resistentíssimo mineral tektite. Os demais prédios e edificações eram de madeira. Ou melhor, esculpidos nos troncos ultra-resistentes das gigantescas árvores que preenchiam o berço da milenar civilização.
Prédio do Ministério das Informações. Numa sala espaçosa e sobriamente decorada, o todo-poderoso Ministro Onishi estava muito ocupado. Mal tinha acabado a reunião secreta do qual fizera parte e ainda tinha muito a ser feito.
Ele havia sido encarregado pelo Generalíssimo Togo - comandante em chefe das forças militares do império - para enviar uma equipe de espionagem à Colônia 0315 (Terra) a fim de rastrear o paradeiro das princesas Aeka e Sasami, para que preparasse o terreno para a frota do Almirante Yamamoto capturar as duas e ao maldito terráqueo Tenchi, tão logo a conspiração do qual fazia parte iniciasse em breve.
Sentado em sua elegante poltrona de cor negra, o alto e calvo chefe da espionagem juraiana analisava em suas mãos alguns relatórios de seus informantes, contendo pesquisas secretas sobre dados referentes aos principais clãs da nobreza local, bem como o grau de lealdade de cada uma delas.
Estas informações eram vitais para o sucesso da conspiração tramada por ele e seus colegas, que visava a ressuscitar o cavaleiro decaído Kagato, pondo-o de volta ao poder. E cabia ao ambicioso e manipulador Onishi escolher as cartas vencedoras deste jogo de manipulações e intrigas.
Ele sabia que somente podia contar com os militares e os membros de seu ministério, afora o misterioso Dr. Marble da Academia Galática de Ciências - que se prontificara a ajudar os conspiradores, buscando uma maneira de trazer o renegado Kagato de volta ao mundo dos vivos. A maioria dos ministros civis, bem como o regente provisório, eram leais ao clã do qual Aeka e Sasami faziam parte e os nobres locais somente iriam se definir a favor dos conspiradores se o plano tivesse sucesso.

Quando o império Jurai começou a se formar, os seus quatro principais clãs forjaram um complexo sistema de alianças e casamentos, de modo que um não sobrepujasse o outro. O processo de escolha do herdeiro ao trono passava em primeiro lugar pelo fato do pretendente possuir descendência direta dos antigos e lendários reis. E em segundo, pelo grau de pureza do seu poder jurai latente, o que era confirmado pelas árvores sagradas que existiam na sala do trono. Até a algum tempo atrás, Aeka era a primeira na linha sucessória, devido as suas origens, embora tivesse sido superada por Tenchi, que provou ser o descendente direto do lendário Yosho - descendente direto da linhagem da dinastia original - além de possuir um poder Jurai inquestionável. Só que o rapaz terrestre não tinha muitas ambições quanto a isto e concordou somente em tomar uma decisão quando atingisse a maioridade. Só que havia quem não aprovasse isto. Embora a Terra fizesse parte do Império Jurai - na visão deles, evidentemente - os aristocratas daquele planeta desprezavam os "estrangeiros impuros" nascidos em outros sistemas e havia um preconceito velado com a perspectiva do glorioso planeta ser governado por um plebeu terráqueo, embora ele tivesse provado ter o legítimo poder Jurai em seu sangue. Era esta justamente a circunstância que os conspiradores esperavam poder contar, para que o golpe de estado tivesse sucesso. Eles não se podiam dar ao luxo de repetir os mesmos erros de um ano atrás. Erros estes que foram cometidos subestimando a existência do lendário Yosho - dado como desaparecido há séculos - e de seu neto, um humilde rapaz da Terra chamado Tenchi Masaki.
Enquanto os seus "colegas" militares contavam com imensas frotas estelares e armamento de última geração como fonte de seu poder, o ardiloso e traiçoeiro Onishi contava com duas armas: sua rede de informação - infiltrada em quase todos os planetas e sistemas, inclusive na GP - e a sua habilidade de fomentar intrigas e discórdias, tanto entre aliados como nos inimigos. Ele pessoalmente não simpatizava muito com o general Togo e com o ex-almirante Nagumo, mas os três concordaram em esquecer suas diferenças pessoais do passado para visar um objetivo em comum: a tomada do poder.
O ministro das informações estava acabando de formular um plano em sua astuta mente, quando um toque de campainha de sua porta interrompe por um instante seus pensamentos ambiciosos, trazendo-o de volta à realidade.

- Sim, pois não? - Diz ele com certa rispidez ao seu ajudante de ordens.
- Senhor Ministro, os agentes que o senhor mandou convocar já chegaram. Quais são suas ordens?
- Sim. Mande-os entrar.

O ajudante de ordens presta uma continência e em seguida a enorme porta - blindada e protegida eletronicamente - se abre, permitindo a passagem de quatro agentes de espionagem juraianos.
Só que eles não eram agentes comuns. Na realidade, eles eram os melhores de sua especialidade. Eram integrantes do esquadrão de elite do Ministério, os homens de confiança de Onishi. Os Especiais. O veterano chefe da inteligência Juraiana sorri com satisfação e se levanta de seu assento para recepcionar sua equipe. O que parece ser o líder deles se adianta, e estende a sua mão direita para cumprimentar o seu superior, após ter recebido autorização para quebrar o protocolo.
Seu nome era Hayato e tinha a patente de Major, conquistada a duras penas mais pelo seu talento e habilidade do que os habituais pistolões e favoritismos existentes nas altas patentes militares. Bem alto para os padrões juraianos, ele era de porte musculoso, porém ágil e dono de penetrantes olhos negros, bem como de uma cabeleira revolta e espetada. Naquele momento usava um uniforme negro sem insígnias e um par de óculos escuros de um formato exótico. À sua direita estava uma linda garota de porte franzino e aparentemente frágil. Era a Capitã Yukime, a segunda no comando do esquadrão. Dona de um sorriso encantador e de maneiras gentis, contudo, o seu olhar transbordava energia e determinação. Era a mais inteligente da equipe e compensava a sua pouca familiaridade em combate com um conhecimento vasto de táticas e técnicas de espionagem.
Logo atrás de Yukime estava uma figura muito alta, robusta e possuidora de músculos proeminentes. Seu nome era Kojou e era o especialista em combate do grupo, pertencente à raça de homens felinos que era aliada de Jurai. Ele era encarregado de fazer a força bruta triunfar quando outros recursos falhavam. A sua massa muscular era impressionante e intimidadora. Sem mencionar o fato dele ser um mestre em várias formas de luta armada e desarmada.
Finalmente, a figura mais desconcertante do grupo. Um ser alienígena baixinho, magricela e de feições cansadas e inexpressivas como uma máscara de teatro. Seu nome verdadeiro era desconhecido, sendo só identificado com o codinome de NN. Embora não tivesse nada que o destacasse frente aos demais, este agente possuía uma habilidade valiosíssima para sua equipe: tinha a capacidade de moldar as feições de seu rosto e corpo, sendo apto a fazer-se passar por qualquer pessoa e adotar qualquer disfarce, bem como alterar seu timbre de voz.

- Muito bem, senhores, eu os chamei porque tenho uma missão para vocês. - Diz Onishi enquanto arquiteta o próximo passo a ser tomado em seu cérebro.