Capítulo V
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Neste solo repousam cadáveres famintos, sem nome,
Que nutrirão sua alma perturbada com sangue disforme
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Novo dia, mais uma manhã como todas as outras. Ou talvez não. Pelas suas contas, restavam apenas três dias para colocar seu plano em prática, não podia perder mais tempo com isso.
Precisava fazer uma visita a um velho amigo. Certamente ele teria o que procurava.
-Ora, é a segunda vez nesta semana, Alberich! Que bicho te mordeu para aparecer tanto por aqui, meu rapaz? – perguntou Cirius, ao vislumbrar a figura esguia entrar pela taverna.
Alberich caminhou até o balcão, onde seu caneco de hidromel já havia sido servido.
-Negócios, Cirius. E preciso de sua ajuda para dar cabo deles.
-O que essa cabeça privilegiada está tramando, Alberich?
-Por enquanto é segredo, Cirius... Mas garanto que se colaborar comigo, sua recompensa será muito grande.
Os olhos do taverneiro brilharam, ele se inclinou para poder conversar melhor com o rapaz. Alberich tomou mais um gole de sua bebida, observou o entorno para se certificar de que ninguém os ouviria.
-Eu sei que você, Cirius, é um homem de muitos contatos, que consegue tudo o que precisa ou lhe pedem com facilidade...
-Sem querer me gabar, mas é verdade.
-Então, para um homem como você não seria difícil conseguir um "presentinho" para seu amigo aqui, não?
-Que tipo de presentinho?
Alberich inclinou-se e falou baixo, diretamente no ouvido de Cirius. E acabou por contar-lhe também o que pretendia. O velho homem assustou-se de início, balançou a cabeça em sinal de reprovação.
-Isso é loucura, Alberich! Já pensou se o pegam no pulo?
-Não vai acontecer, Cirius... Existem muitos trouxas no Valhalla que poderiam ser facilmente acusados de cometer uma loucura dessas. E pense na sua recompensa, meu caro amigo...
-Está feito! Me procure amanhã que certamente já terei em mãos o que me pede.
-Obrigado, Cirius.
O rapaz já ia saindo da taverna quando o homem o chamou de volta, com um sorriso malicioso nos lábios.
-E aquela bela garota com quem dividiu uma mesa há alguns dias? Tem encontrado-a por aí?
Alberich limitou-se a sorrir meio de lado, sem abrir a boca para responder. Acenando para o taverneiro, ganhou a saída depressa e voltou ao palácio. Ou melhor, à clareira que se tornara seu mundo particular.
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Na rocha onde costumava se sentar para observar o mar gelado de Asgard, Hilda estava de joelhos. De olhos fechados, rezava para Odin, pedia uma direção. Em três dias, seria empossada como a mais nova governante daquela terra e tinha medo de assumir tamanha responsabilidade.
-Hilda?
Abrindo os olhos, a princesa virou-se e deu de cara como Siegfried observando-a. Cavalheiro, ele lhe estendeu a mão para que Hilda pudesse se levantar.
-O que faz aqui, Siegfried?
-Estava de passagem pela colina quando a vi por aqui... Hilda, não havíamos combinado que durante os dias que faltam para sua posse você ficaria no palácio, descansando?
-Eu sei, mas não condigo ficar quieta... É como se Odin quisesse me dar um aviso, ou algo assim... Um aviso de que alguma coisa está para acontecer.
-Deixe isso para uma outra hora, Hilda... Venha, eu a levarei de volta ao Valhalla.
Oferecendo seu braço à princesa, Siegfried a acompanhou no caminho de volta. E não deixou de pensar, apreensivo, que suas suspeitas de que alguma coisa poderia acontecer a ela poderiam não ser tão infundados.
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Caminhando de cabeça baixa, Alberich chegou à clareira. E notou que havia mais alguém por ali, observando o entorno.
-Impressionada? – ele questionou Gwyneth, ao vê-la encarando uma de suas ametistas.
-Não é bem essa a palavra correta. Diria curiosa... O que são esses cristais de ametista?
-São a morada definitiva de todos aqueles que ousam me desafiar... Todos os meus inimigos estão aqui, enfeitando meu mórbido jardim.
-Terrível... Mas como conseguiu essa proeza?
-Eu não sou um homem qualquer, Gwyneth... Minha descendência não é somente nobre, mas também guerreira. Todos os meus antepassados foram guerreiros deuses.
-Já ouvi falar dos guerreiros deuses... Homens poderosos que usam seus cosmos para lutar por Asgard.
Aproximando-se da ametista onde se encontrava apenas um feixe de ossos, Gwyneth sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquele rapaz era ousado, sem dúvida, mas também poderia ser perigoso. Porém, era o único que poderia ajudá-la.
-Alberich, eu estava pensando...
-Sim?
-Já tem uma resposta à proposta que lhe fiz?
-Não ainda... Eu gostaria de saber mais detalhes antes de lhe dizer qualquer coisa.
-Entendo... Então, por que não me procura hoje à noite, na taverna de seu amigo Cirius? Poderemos conversar melhor, mais à vontade...
-Certamente, Gwyneth.
Tornando a colocar o capuz de sua capa sobre seus cabelos, Gwyneth despediu-se de Alberich. Não sem antes roubar-lhe um outro beijo, só que desta vez rápido e, pasmen, casto.
-Até a noite, Alberich... Eu estarei esperando por você, ansiosamente.
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A tarde passou devagar para Alberich. Nervoso, excitado e tudo o mais que poderia ser, ele contava as horas para a noite chegar e poder ir se encontrar com Gwyneth.
Não tinha idéia do que ela pretendia, mas ele sabia muito bem o que queria. Não deixaria que as coisas entre eles ficassem apenas em um beijo, certamente poderia tirar maior proveito da situação.
Pensando assim, tomou um longo banho, vestiu-se com uma das melhores roupas que possuía e ajeitou os cabelos, embora a franja teimasse em cair sobre seu olho direito. Apenas um detalhe sem importância.
Na taverna, Gwyneth estava devidamente instalada em uma mesa discreta nos fundos, já servida por Cirius. Os olhos cor de rosa não paravam quietos um minuto, de olho na porta de entrada. Suspirando, ela sacou de uma pequena bolsa um espelhinho e conferiu se tudo estava no lugar, inclusive o decote de sua blusa.
-Será que a fiz esperar muito?
Era Alberich, sorrindo-lhe por cima do espelhinho. Gwyneth indicou-lhe a cadeira, mas o rapaz não se sentou.
-Aqui não é o melhor lugar para conversarmos. Me acompanhe, por favor.
Puxando-a pelo braço, Alberich indicou a Cirius que iriam subir para o primeiro andar. Entraram por um dos quartos, o rapaz trancou a porta enquanto Gwyneth sentava-se sobre a cama.
-Por que me trouxe até aqui, Alberich? O que esta sua mente está planejando?
-Por enquanto, apenas uma conversa...
Sentou-se ao lado da garota, acendendo as velas de um candelabro sobre a mesa de cabeceira. Na leve penumbra, o ambiente parecia assustador e misterioso, os olhos verdes de Alberich brilhando intensamente.
-Uma conversa? Sobre o quê?
-Sua proposta... Agora que estamos sozinhos, você pode me contar o que pretende.
-Não agora, Alberich... Temos a noite toda para isso...
Dizendo isso, Gwyneth puxou Alberich para junto de si, beijando-o de maneira mais sensual e selvagem que a primeira, mordendo seus lábios quase até sangrarem.
Antes mesmo de qualquer envolvimento mais íntimo, os vidros da janela embaçaram com o calor que emanava daquele quarto...
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Ai, no próximo capítulo vem o clímax da encenação... Já pedi coragem para a Yui, que revisou o capítulo, e peço para todas vcs também!
