Eram 1:30 da manhã e Roy ainda procurava alguma solução. Até que finalmente teve uma idéia... já que ele não sabia mesmo o que fazer então era só ligar pro grande amigo Maes Hughes, que provavelmente iria pensar em algo. Imediatamente pegou o telefone e ligou pro outro Coronel.
"Alô. Gracie! Tudo bom? O Hughes está? Ah sim, estamos no meio da madrugada, me desculpe, é que é urgente. Oi Maes, eu tô com... sei que é madrugada, mas é muito urgente! Sabe as aulas de dança? É... não estou sentindo evolução da turma... claro que é um problema importante! Não consigo pensar em nenhuma forma de melhorar a situação, por isso te liguei pra pedir um conselho... trocar de professor não é sugestão! Pare de brincadeiras que é sério, eu e a Riza não estmos nos dando bem... Não ria que isso não é uma coisa normal! Eu preciso é de uma idéia, vamos lá... huuumm... sei... é, tem razão, pode funcionar... então está acertado, conto com sua colaboração, até amanhã."
Quando saiu, pra trabalhar, Roy tinha a clara noção que seu horário de serviço serviria apenas para colocar em prática o plano de melhorar o desempenho da turma.
No final da tarde o Coronel avisou que sairia mais cedo. Explicou-se apenas para Hawkeye, dizendo que precisava preparar as aulas. Ela fez aquela cara de quem sabia que era só desculpa pra sair antes do horário, mas enfim, aquilo não era novidade mesmo e com Mustang fora do quartel se sentiria até mais aliviada. Aquela aula de dança além de não ter adiantado muito só a fizera se sentir como uma menina boba. Passou o dia insegura. Não sabia o que Roy pensava quando olhava pra ela, se ele tinha comentado algo com alguém ou, pior ainda, tinha a sensação de que os rapazes andavam aos cochichos pelos cantos e não conseguia deixar de pensar que era por culpa do Coronel. Como não queria ser indiscreta e perguntar sobre o que conversavam, ficou se torturando com aquela dúvida o tempo todo.
Mas agora, sem Roy por perto, ela pode relaxar um pouco, colocou as idéias no lugar e percebeu o quão infantil estava sendo. Justo ela, Riza Hawkeye, dado muito crédito a sua imaginação, Fantasiar coisas, ficar ansiosa por conta de aulas de dança... nada daquilo fazia sentido. Riu de si mesma. Decidiu então parar de agir feito uma menina boba, à noite com certeza estaria "mais relaxada" como o Coronel havia pedido que ficasse.
Mal sabia Riza que surpresa encontraria quando chegasse na aula mais tarde. Ed e Al também não faziam idéia das armações do Coronel.
"Onii-san.."
"Que é, Alphonse? Já disse que não vou me arrumar e que não vou praquela aula idiota."
"Pois eu gostei muito da noite de ontem."
"Claro, não foi você que ficou o tempo todo escutando "Como o Coronel dança bem" ou "Será que ele já tem par pro festival?" , eu dou é graças a Deus que não aprendi nada ontem."
"Nii-san... se este for o problema, pode dançar hoje com a tenente Ross, você vai ver como vai ser bem melhor."
"Al... Você não entende, eu tô me sentindo um idiota, com certeza a Winry acharia isso se estivesse lá também. Acho que essas aulas não vão adiantar de nada..."
Alphonse fez um breve silêncio.
"É, não vou forçar a barra, se você está dizendo isso é porque deve ser muito mais constrangedor do que imagino. Eu nunca te vi desistir de nada, se vai desistir disso é porque é humanamente impossível. Talvez a Winry nem se importe tanto, já que Eu vou aprender a dançar e posso fazer isso por ela."
O mundo seria um lugar muito melhor se todos tivessem irmãos como Alphonse. Era incrível a sua capacidade de discretamente aconselhar as pessoas. Claro que Edward captou a mensagem, e agora se sentia um belo de um covarde. Mas o que seu irmão mais novo queria que fizesse? Que fosse contra sua própria natureza?
Alphonse por sua vez descera pro saguão do hotel. Aproveitou pra conversar um pouco com outros hóspedes que, assim como ele, esperavam a semana do festival de Central City. Matou assim o pouco de tempo que faltava até a hora de sair. Quando deu o horário ainda olhou pra escadaria, na esperança de ver seu irmão. Mas será que a cabeça dura de Edward estivesse ainda mais dura?
"Ei, Al, o que você ainda está fazendo aí dentro? Desse jeito além de tudo eu vou ter que aguentar piadinhas idiotas do Coronel sobre como não conseguimos chegar na hora certa."
"Nii-san? Como foi que vo.."
"Você fica aí tão absorto de papo pro ar que nem repara mais nada, já tem uns cinco minutos que desci e estou esperando, vamos?"
"Ah, sim! Vamos!"
"Só mais uma coisa, eu que danço com a tenente Ross hoje."
Al apenas sorriu em consentimento. Encaminharam-se então para a casa do Coronel. Na conversa durante o percurso Ed ficou abismado como seu irmão estava empolgado com a tal aula, achando que ia melhorar seu desempenho com as garotas. Como é que ele poderia estar pensando numa coisa daquelas? Mas a verdade é que, de certa forma, os objetivos dos irmãos Elric não eram tão diferentes assim.
Já estavam chegando à casa de Roy quando avistaram Riza.
"Hoeee, Hawkeye-san!" chamou Alphonse.
Ela atendeu ao chamado e sorriu para os seus companheiros de classe.
"Olá rapazes! Como estão?"
"Ansiosos pela aula!" Respondeu entusiasmado, Alphonse.
"Fale somente por você, Al. Não posso dizer que estou muito satisfeito de ter o Mustang como professor."
"Não se preocupe, Edward, eu vim preparada para eventualidades." E ela levantou um pouco a blusa pra mostrar a arma na cintura.
"Obrigado pela gentileza, Tenente." Disse o menino sinceramente.
A essa altura já estavam as portas da casa de Roy. Tocaram a campainha e foram recebidos por um anfitrião bastante animado.
"Oras, vocês três chegaram juntos... e pontualmente! Riza, você por um acaso foi tirar os meninos da cama?"
"Claro que não" protestou Ed "Pode ser seu costume, mas o resto das pessoas não tem por hábito dormir até a hora do jantar..."
"Tem razão, Full Metal, você não poderia ter tido uma noite tão boa a ponto de precisar dormir até a hora do jantar."
"Aham... Não, Senhor, eu não passei no hotel, encontrei os meninos ali na esquina. Mas será que poderíamos entrar?" Riza agora avaliava o Coronel como se notasse algo estranho em seu comportamento.
"Ah, sim, vamos... entrem. Mas sem essa de senhor, ok, RIZA?"
"Certo, ROY." Agora ela tinha quase certeza que o Coronel estava alegre demais. Suas suspeitas poderiam estar erradas, mas ela ficaria de olho nele.
Assim que entrou na casa, Riza percebeu que não era só Roy que estava ligeiramente diferente, O ambiente também não estava normal. Estava mais barulhento, com a música um pouco mais alta e diversas vozes podiam ser ouvidas. Os meninos também repararam nisso.
"Coronel, é impressão minha ou tem mais gente pra aula de hoje?"
"Na realidade, Alphonse, eu considerei que pra aprender os movimentos mais básicos, já que não teremos muito tempo, é melhor uma aula bem mais prática."
De posse dessa nova informação, os três recém chegados ficaram estáticos ao entrar no salão e constatarem que realmente havia mais convidados além da Tenente Ross e sua prima.
"Hey pessoal, vejam quem acabou de chegar!"
"Hoeee, Edo-kun, Alphonse-kun, Riza-san. Olhem só, minha Elysia-chan não ficou linda nesse vestidinho?" E Maes Hughes se apressou pra mostrar a filha no seu lindo vestido rodadinho amarelo., enquanto sua esposa sorria ao seu lado.
Os três loiros acenaram com a cabeça confirmando a beleza da pequena Elysia. Depois de cumprimentar o casal, se dirigiram à rodinha em que estavam os demais numa animada conversa regada, ao que tudo indicava, de muita cerveja. Havoc, ao lado da senhorita Lancôme, dava a impressão de que em outra vida fora um pavão. Era provável que só estivesse estufando o peito pra impressionar a moça, mas de longe só parecia uma coisa engraçada mesmo. Mas não era só ele que tentava aparecer pra alguém. O Sargento Borch também lutava pela atenção da Tente Maria Ross. Havia ainda a devoradora de livros Shiezca, que observava atenta Breda e Fuery que disputavam uma partida de alguma coisa num tabuleiro.
Assim que terminaram de fazer aquele primeiro social, Riza, Edward e Alphonse imediatamente cercaram o Coronel com olhares inquisidores, querendo uma resposta praquilo tudo.
"Calma... Podem ter certeza que no final da noite vocês vão me agradecer. Podem confiar em mim." Mas nem ao menos Alphonse se sentiu seguro para apoiá-lo. "Agora se me dão licença,. Vou buscar mais umas cervejas e uns petiscos."
"Er... Roy, só por curiosidade, está bebendo desde que horas?"
"Não se preocupe, Riza, ainda dá tempo pra você me alcançar."
"Te alcançar é fácil, porque você sempre cai antes de todo mundo. Eu só não quero que você esteja passando mal na hora que começarmos a dançar." #Por um segundo Riza teve a impressão de que tinha dito algo de muito errado. Os três homens ao seu redor estavam de olhos arregalados. Surpresos ou assustados, ela não saberia dizer. Mas mesmo pego com a guarda baixa, Roy não deixou de emendar rapidamente.
"Como eu disse, você não precisa se preocupar." E saiu transpirando um bem estar visível.
"Tenente, eu não acredito..." Finalmente Ed se pronunciou inconformado "Até você caindo na lábia desse cara?"
"Oras, Ed, não é bem isso... é que..." Mas ela nem teve tempo pra terminar a resposta. Uma morena, alta, bela, de longos cabelos lisos interrompera a conversa.
"Olá! Vim saber o que vocês estão fazendo aqui longe das outras pessoas."
"Ah, oi senhorita Lancôme, a gente só estava conversando mesmo, nem sabíamos que a noite de hoje seria uma festa." Al era sempre tão educado...
"Bom, quem me avisou foi a minha prima, parece que foi algo de última hora... você é o grandão Alphonse, certo? Pena que não tivemos tempo de conversar ontem..." Foi o suficiente pra Al fazer a sua carinha de típica (º w º) mas a morena continuou, parecia que queria chegar em algum lugar "E você..." fez um leve esforço para se lembrar "Edward... ontem foi tão divertido, não foi?" Na impossibilidade de concordar com aquela afirmação Ed só disse "É.". E finalmente Angeline se dirigiu a Riza.
"E a senhorita Hawkeye, eu queria tanto te conhecer, afinal de contas, você é tão íntima do Coronel Mustasng..."
"Bom, posso dizer que temos um ótimo relacionamento de chefe e subordinado."
"Ah, não precisa de tanta discrição hoje... aposto, por exemplo, que você sabe quem vai acompanhá-lo no festival."
Então Riza sacou as verdadeiras intenções daquela abordagem. Não era a primeira vez que alguém se aproximava dela para obter informações sobre o Coronel.
"Bom, ele não comentou nada a esse respeito comigo. Mas olhe senhorita Lancôme, Havoc está lhe chamando."
Angeline mal virou a cabeça pra ver se era verdade.
"Ah, ele é tão insistente..."
"Bom, ele é uma ótima pessoa, acho que você deveria ver o que ele quer contigo." Sorriu, Riza.
"Sim, sim... de fato, então depois conversaremos mais,"
Mal a "senhorita Lâncome" deu as costas e os três já se puseram a fofocar.
"Tá vendo, Tenente, o tipo de mulher que essa cara atrai? Você não deveria se misturar com isso."
"Nii-san! Que coisa feia! Você não deveria se meter assim na vida alheia."
"Quem ajuda amigo é..."
"Pois você só está atrapalhando a vida dela. Riza-san, não dê ouvidos ao meu irmão. Eu sei que o Coronel gosta de você e... desculpe me intrometer assim.. mas, mas.. eu também acho que você gosta dele."
"Que viagem Al... duvido que a Tenente fosse se apaixonar por um cara feito o Mustang." Edward insistia em se manter incrédulo."
"Bom, Alphonse-kun, o meu relacionamento com o Coronel é profissional, claro que depois de tanto tempo nasceu uma amizade e temos muita consideração um pelo outro. Mas de minha parte ao menos, não é mais que isso..." Até parece... Ela disse aquilo com muita tranquilidade na voz ,mas Alphonse tinha quase certeza que havia entusiasmo no olhar dela "... "Mas... por que você afirmou dessa maneira que o Coronel gosta de mim?"
Alphonse teve de se segurar pra não demonstrar sua satisfação em saber que estava certo e até a ficha de Edward começou a cair.
"É que, assim, no dia que eu fui pedir que ele nos desse aula, o Coronel só aceitou porque eu disse que iria te convencer a ir no Festival com ele. " Al tentava ao máximo dizer coisas que não prejudicassem Roy.
"Sim, claro, ele queria sair com a Riza, mas chamou essa Angeline pra ajudar nas aulas, sei não..."
"Nii-san! Que coisa... ele não sabia que eu tinha convencido Riza. Aposto que foi a maior surpresa quando ela apareceu."
"Se foi..." Edward lembrava direitinho da hora que Riza aparecera pra aula do dia anterior e de como fora divertido fazer graça com a cara de Roy naquele momento.
"Meninos, não briguem, eu sei me cuidar." Riza levava os argumentos em consideração, apesar da súbita vontade de rir vendo Al e Ed bancarem o anjinho e o diabinho. Se fosse uma competição, pode-se dizer que Al levava a dianteira, mesmo que ela não quisesse admitir.
"Sabe mesmo, Tenente? Tô te achando caidinha demais por esse Coronel e ele não te merece. Você merece alguém melhor, tipo... tipo..." Edward procurou rapidamente em seus pensamentos alguém que combinasse com a Tenente, mas a única imagem que lhe vinha na mente era a de Roy e Riza juntos. "... você combina mais tipo com..."
"Com ninguém!" Disse a loira num impulso.
"Ah, não precisa ser tão dura consigo mesma..."
"Mas que cochicho todo esse de vocês, hein?" Roy, um copo d'água e um prato de tira-gostos chegavam pra atrapalhar a conclusão do papo.
"Nós falávamos sobre as aulas de dança." Disfarçou, Riza.
"Sim, sobre como elas não são grande coisa."
"Full Metal... me pareceu que Riza e Alphonse se saíram muito bem, se você não conseguiu aprender alguma coisa, não é culpa minha, vai ver você não leva jeito, digamos, é como crescer! Vai que você só não nasceu pra isso."
"Ah não, de novo não." Al já ficou logo desanimado com os rumos que a conversa iria tomar.
A vontade de Edward era transformar seu automail em faca, perfurar o fígado do Coronel e enquanto Roy morresse lentamente, Edward cortaria seus dedos e depois arrancaria seus olhos! Era o mínimo que sua ira exigia. Mas aí se lembrou que Riza estava com uma arma na cintura e que antes mesmo que pudesse perfurar o fígado já estaria com uma bala na cabeça. Então teve uma idéia bem mais legal. Segurou toda a sua raiva, fez uma cara de desdém e falou:
"Vê, Tenente, o que eu te disse sobre ele? Completamente imaturo e infantil, você não poderia ter uma prova maior do quanto que esse Coronel não vale a pena." Saber por meio de Al que Roy gostava da tenente foi um trunfo e tanto. Era impossível ter certeza, mas Edward era capaz de apostar que naquele momento Roy se remoía com dúvidas sobre o que Riza estaria pensando sobre ele.
"Full Metal..." Ed não tinha acertado o fígado, mas parecia ter pegado uma veia, a voz do Coronel demonstrava que era ele agora quem tentava não transparecer o nervosismo "Você não é ninguém pra falar de imaturidade e infantilidade." E agora ele também podia apostar que o Coronel havia mordido a isca.
"Pelo menos eu não tenho quase 30 anos. E eu estava justamente falando pra tenente Hawkeye aqui que o motivo de você ter ganhado o posto de Coronel só podia ser por conta dela." Edward oscilava entre uma cara de adulto ou de desdém, mas queria mesmo era rir muito "E mais ainda. Que acho um desperdício uma pessoa como ela ser subordinada de um cara como você, ela merece algo melhor."
Al e Riza se mantinham como meros espectadores e se alguém perguntasse, não negariam que estavam se divertindo. Mas Edward não era tão bom com joguinhos assim, deu muita bandeira e Roy parecia já ter sacado a armadilha.
"Interessante seu ponto de vista, Full Metal, vou lembrar dele da próxima vez que tiver de fazer algum relatório sobre suas pesquisas. Agora... será que poderíamos falar de assuntos realmente interessantes? O que vim de fato fazer aqui foi cobrar mais empenho de meus alunos."
"Mas Coronel, você disse que hoje seria uma festa..."
"Eu disse que seria uma aula bem mais prática, Alphonse. Agora me observem que vocês devem aprender um elemento essencial, o primeiro de tudo é convidar a moça pra dançar. Muita coisa depende disso, entenderam? Por mais liberal ou independente que ela seja, esse gesto cavalheiro sempre agrada. Vejam só: " E se dirigiu para Riza.
"Olá Senhorita, me concederia o prazer dessa dança?" Antes mesmo que ela pudesse responder, Roy já emendou com pose de professor:
"Mas vocês não precisam ser tão formais se não precisar passar a idéia de extremo cavalheirismo. Basta só ..." E mais uma vez virou-se pra Tentente, estendeu a mão com uma expressão maliciosa e "Quer dançar?" Novamente o mestre olhou para os alunos "Em todo caso essa é a hora de torcer pra que ela aceite, saibam que nem mesmo eu posso ter certeza da resposta., partindo das mulheres, tudo é imprevisível Mas, continuando..." E dessa vez olhou vacilante para a loira à sua frente "Então, Riza, vamos dançar? Por favor diga que sim, senão serei um professor desmoralizado..."
Nem Edward pode evitar de sorrir. Por um momento a lendária camaradagem masculina o fez torcer pela resposta positiva de Riza. Enquanto isso, Alphonse aguardava ansioso pelo desfecho.
"E no caso do convite não ser aceito?" Ela desafiou, adquirindo um falso ar de arrogância.
"Aí meninos, vocês terão duas opções. Na primeira você pode até insistir um pouco, mas para não ficar com cara de idiota, então você logo sorri meio sem graça, agradece e já parte pra próxima, já que só consegue alguma coisa quem tenta." Roy não só dizia como também encenava sua teoria, de maneira que quando disse a última palavra virou-se como se fosse embora.
"Ei, espera que ainda não respondi, era só um exemplo pra enriquecer a aula."
"Sim, calma que você não me deixou chegar na segunda opção." Voltou Roy à rodinha. "Mas meninos, não levem em consideração isso que acabou de ocorrer, normalmente as damas não voltam atrás quando decidem pelo não." Riza apenas sorriu e balançou a cabeça, o Coronel continuou: "Mas digamos que vocês queiram muito dançar com a garota, mesmo tendo ela rejeitado a sua proposta. Então só haverá um jeito, você vai pedir insistentemente. As chances de vitória não são muito altas, mas toda tentativa é válida. Ah... isso é tão constrangedor, façam isso somente se ela valer a pena." Olhou fingindo que suplicava "Riza, por favor, só uma dança. Prometo que não vou insistir mais depois."
"Oras, Coronel, eu estava no outro caso. No que a dama aceitaria cordialmente na primeira tentaiva. Afinal... eu jamais desmoralizaria um professor."
"Ah, ótimo, odiaria ter de fazer uso das minhas prerrogativas de chefe e te ordenar a dançar comigo... Então rapazes, acho que esse exemplo foi bem produtivo. Agora é só colocar a criatividade em ação e treinar bem. A tarefa de vocês é convidar uma das moças do salão. Boa Sorte."
"Tenente Hawkeye, me concederia o prazer de uma dança?" Edward falou sem hesitar, com um sorriso de deboche no rosto.
"Ah, eu adoraria, Edo-kun, mas já me comprometi com outra pessoa."
"Que pena, achei que tinha sido só um exemplo. Eu ainda acho que..."
"Nii-san, você foi dispensado. Agora vamos fazer o que o professor pediu." Alphonse puxou logo Ed e rumaram pra outra rodinha da festa.
"Coronel, devo admitir que você é um bom professor." Disse Riza enquanto acompanhavam os irmãos Elric deixarem o lugar. Sorriu pro seu par, não havia dúvidas que com aquele clima de brincadeira ela estava bem relaxada. "E, que engraçado, só agora reparei que está bebendo água." Na realidade ela já tinha reparado desde o minuto que ele voltara da cozinha.
"É que tenho uma aluna especial pra quem preciso ensinar certos passos. É melhor fazer isso bem lúcido pra não passar nenhum vexame."
Então, pra dar fim àquela conversa mole, Roy conduziu Riza ao centro da sala e bailaram ao som da valsa rápida que tocava. Hughes e Gracie ficaram satisfeitos de não serem mais o único casal dançando.
"Nii-san! O que foi agora, por que empacou?"
"Al, repara só... A tenente Ross nesse exato momento está sendo disputada pelo sargento Borch e não quero me interferir... A senhorita Lancôme eu não queria chamar..."
"Correção, Ed, você nem poderia chamar, parece que o tenente Havoc finalmente conseguiu tirar a Angeline pra dançar. Huuuummmm aposto que ela está na categoria que o Coronel mencionou, de mulher que vale a pena."
"Duvido muito." Ironizou Edward.
"Ai, nii-san, você está terrível hoje! Bom, vamos ver... porque não chama a Shiezca?"
Alphonse tinha visto Shiezca quietinha ao lado da mesa de Go, acompanhando o jogo. Sua idéia original seria ir lá e convidá-la., mas pra ajudar o irmão, achou melhor sugerir que Edward o fizesse."
"A Shiezca? Bom, é que eu... eu... eu não sei, não é tão fácil assim!"
"Mas você convidou a Riza com bastante confiança."
"Só que a situação era diferente. E também... a Shiezca é amiga da Winry! Vai que ela conta pra outra o que eu ando fazendo."
"Ed, a Winry não vai ficar com ciúmes da Shiezca. Que idéia..."
"Mas e se ela comentar que eu sou péssimo pra dançar?"
"Ai ai, não vou ficar aqui perdendo tempo com isso. Quer saber, eu mesmo vou chamar a Shiezca pra dançar."
Ed foi surpreendido com a atitude do irmão, sabia que ele estava empolgado com tudo, mas não imaginava que já tinha tanta confiança. De verdade Alphonse não estava tão seguro, mas isso não o impediria de fingir que estava. Se aproximou da mesa de Go vacilante, mas não podia voltar já que queria dar o exemplo pro irmão mais velho. Em outras ocasiões jamais teria problemas em conversar com Shiezca, mas naquele instante parecia tão complicado... discretamente puxou um assunto:
"Er... como está o jogo"
"Breda leva uma grande vantagem..."# Shiezca cochichou bem baixinho "Acho difícil Fuery virar."
Go era um jogo complicado até pra quem conhece bem. Como Alphonse passou quase que toda sua vida tentando recuperar o próprio corpo, então não teve muito tempo disponível pra aprender a jogar. Mas Shiezca tinha olhos vidrados e parecia entender bastante. Alphonse só concordou com um "Ahhhh...".
Ficou ali uns dois minutos sem dizer mais nada. De vez em quando olhava pra Ed, queria algum tipo de socorro, mas só encontrava um olhar zombeteiro. O que o deixava ainda mais nervoso. Esperou outros cinco minutos, que pareciam umas quatro horas, durante os quais repetia mentalmente "quem não tenta não consegue", "use sua criatividade", "se der errado é só partir pra próxima" Até que finalmente...
"Shiezca-san... você poderia me fazer um favor?"
"Claro, Alphonse –kun." Era a primeira vez que tirava os olhos do jogo e agora os tinha prestativamente em Al.
"É que bem... eu... eu gostaria de dançar um pouco., então eu queria saber se... de repente, não sei... quem sabe você poderia, bom, você sabe... ser o meu par?" Ufa... até que enfim ele conseguira dizer.
"Er... Alphonse- kun" Agora ela é que parecia atordoada e nervosa, Shiezca não era propriamente o tipo de moça que costumava ser retirada pra dançar uma valsa "É que eu..." Ela olhou pra mesa de Go e confirmou que ninguém as ouvia, Breda e Fuery estavam concentrados demais pra escutar conversa alheia., "É que... sito muito, Al..." Alponse já ficou apreensivo, a primeira tentativa dele e já seria frustada? "... mas é que eu não sei dançar. Eu na verdade... nunca dancei antes." E olhou pro chão envergonhada.
"Ah, Shiezca-san! Não tem problemas, eu também não sei direito... então... é uma chance pra gente treinar e aprender!"
"Não sei... é que eu fico muito envergonhada."
"Por favor, Shiezca-san. Você não precisa se preocupar."
"Bem..." ainda havia hesitação em sua voz "...tudo bem então Alphonse-kun, já que você insiste, mas saiba que eu sou um desastre"
"Como eu disse, você não precisa se preocupar." Ao que tudo indicava, Alphonse havia aprendido bem mais do que pensava.
Enquanto isso, Edward observava surpreso. Não é que seu irmão mais novo tinha conseguido? Mas e agora o que ele faria? Não poderia ser deixado pra trás assim. E seu orgulho de irmão mais velho, ficaria como? Olhou outra vez pra Maria Ross, mas parecia que ela também cedera, e agora o sargento Borch também conduzia uma dama pelo salão. Ed basicamente estava sobrando na história. Até que reparou que havia sim uma dama disponível pra dançar. Foi até a moça e ajoelhou-se diante dela para fazer o pedido.
"A Senhorita me concederia o prazer desta dança?"
"Oi tio Ed?" A linda menina de vestido amarelo rodado não entendera bem a mensagem.
"Você pode dançar comigo ali no meio? Que nem seu pai e sua mãe?" Ele estava certo que a garota valia a pena.
"Mas você é muito grande."
E ela valia mesmo! Edward não poderia ter escolhido um par melhor. Bem que Winry deveria aprender alguma coisa com aquela pequenina. Era como se tivesse ganhado uma competição, pois sua expressão estava claramente vitoriosa. Estava tão feliz que pegou Elysia no colo e não lhe oportunidade de contestação.
"Não tem problema, Elysia-chan, garanto que você é uma ótima dançarina."
Assim o balanço da aula foi positivo. Roy era um professor excelente e Riza não podia reclamar. Alphonse parecia ir tão bem que até ensinava alguns macetes para Shiezca e Ed, mesmo com o desfalque da diferença de tamanho, ao menos conseguia ganhar um pouco de ritmo ao balançar Elysia-chan.
Mas a fofíssima filha de Maes Hughes não resistiu muito tempo e logo foi necessário que seus pais a levassem pra dormir. Em seguida foi a vez de Maria Ross e sua prima deixarem a festa, levando consigo Shiezca e os irmãos Elric, já que estava muito tarde para todos eles ficarem na rua.
E então, quando no recinto restaram apenas o Coronel e seus leais subordinados, os oficiais ainda aproveitaram pra beber mais. Infelizmente a diversão não durou muito, pois alguns deles, incluindo o superior, exagerara um pouco na dose. Riza então preferiu encerrar a reunião antes que não sobrasse ninguém da equipe pra trabalhar no outro dia.
Continua...
Ps. Hey galera, demorou muito mesmo, mas o capítulo saiu... mas se serve pra diminuir minha culpa, é o maior capítulo que já escrevi em toda minha vida.
Eu sei que o final pareceu meio abrupto, havia bem mais coisas que gostaria de narrar, incluindo uma "dança da vassoura", gente caindo pelo chão e claro: Riza tendo de pagiar o Roy. Só que quando o Ed puxou a Elysia pra dançar ficou com tanta cara de fim de capítulo e já estava tão grande que se fosse pra ter mais 10 páginas, ia ficar com cara do final do Senhor do Anéis.
Observações:
# Na página de abertura do capítulo 53 do mangá, há uma imagem do Roy com os colegas bebendo... só que enquanto todo o resto sorria o Coronel já tinha caído faz tempo heheh então, enquanto fazia o capítulo, não conseguia parar de pensar na cena e na noção de que o Roy cai antes de todo mundo.
#Go é um jogo oriental de tabuleiro, muito complicado... mas existem informações de que Breda é um exímio jogador disso.
